Por Dr. Mercola
A visão é um dos seus cinco sentidos, e protegê-la possui um grande impacto na sua saúde física e mental geral. Seus olhos são órgãos complexos, que captam a luz refletida pelo objetos no ambiente. Estruturas nos olhos se dobram e mudam de forma para que o cérebro possa interpretar os arredores.
A luz entra primeiro pela córnea, que é uma cobertura transparente sobre o olho. Ela serve para proteger o olho e "dobrar" a luz para que ela passe através da pupila escura, no centro da sua íris (a parte colorida do olho). Para regular a quantidade de luz, a íris pode ficar maior ou menor, o que faz com que a pupila pareça menor ou maior.
A luz passa através da lente, que também curva os raios para focalizá-los na retina, na parte de trás do olho. Essa estrutura possui pequenas células nervosas sensíveis à luz, chamadas cones e bastonetes. Os cones são sensíveis à cor, e ficam no centro da retina, perto da mácula.
Já os bastonetes detectam a intensidade da luz, não registrando cores. Eles estão localizados a parte externa da mácula, estendendo-se até a borda da retina. Os cones e bastonetes convertem a luz em impulsos elétricos e os enviam para o cérebro, onde uma imagem é formada.
O que causa a perda de visão?
A perda ou deficiência visual tem um impacto no bem-estar físico e mental de uma pessoa. A Academia Americana de Oftalmologia escreve que indivíduos com deficiência visual apresentam maior risco de certas condições, como depressão, retraimento social e acidentes.
Pessoas com perda de visão também podem apresentar um risco maior de condições crônicas de saúde, como pressão alta, doença cardíaca, insuficiência renal, perda auditiva e artrite. À medida que a população envelhece, também aumenta o número de pessoas com deficiência visual ou cegueira.
As principais causas de deficiência visual parecem aumentar com a idade. Estas incluem cataratas, degeneração macular relacionada à idade, glaucoma e retinopatia diabética. A perda da visão noturna pode não receber tanta atenção quanto outras condições oculares, mas é bastante comum em pessoas mais velhas.
Em alguns casos, a dificuldade de enxergar à noite começa por volta dos 40 anos, e frequentemente pode ser associada a acidentes de carro envolvendo indivíduos mais velhos. Existem várias razões pelas quais as pessoas podem ter visão noturna prejudicada, incluindo alterações relacionadas à idade e doenças oculares:
Pupilas menores — Com o envelhecimento dos músculos que controlam a pupila, a área que permite a entrada de luz nos olhos não reage tão rapidamente, ou pode não ser tão forte. Se a pupila não se dilatar o suficiente, você não terá luz suficiente para enxergar. Isso faz com que seja difícil para a visão se adaptar para enxergar o que está do lado de fora do para-brisa após olhar para o painel iluminado do carro. |
Lente ocular — Com a idade, a lente do olho endurece e pode ficar menos transparente. Isso faz com que não passe luz suficiente, especialmente durante a noite. |
Bastonetes — Os bastonetes na retina são necessárias para a visão, mas podem se deteriorar com o envelhecimento. |
Miopia — Isso pode dificultar a visão da estrada durante a noite durante a condução. |
Medicamentos — Alguns podem diminuir a capacidade da pupila de se adaptar às mudanças nas condições de luz. |
Deficiência nutricional — Uma deficiência de vitamina A pode prejudicar sua visão noturna. |
Retinite pigmentosa — Esta é uma doença hereditária que causa comprometimento permanente da visão noturna e da visão periférica. Eventualmente, ela pode causar perda significativa da visão mesmo em condições de luz normais. |
Recarregue seus olhos com uma luz de comprimento de onda longo
Em uma pesquisa pioneira em seres humanos, uma equipe da University College London, liderada por Glen Jeffery, foi capaz de melhorar a visão em declínio usando uma terapia luminosa simples.
Os pesquisadores buscavam melhorar a visão do grande número de idosos que sofrem de declínio físico e deficiência visual. Em 2020, a equipe escreveu que havia 12 milhões de pessoas no Reino Unido acima dos 65 anos, número que deve aumentar em outros 8 milhões até 2050.
Eles estimam que todos terão algum grau de comprometimento devido ao envelhecimento dos cones e bastonetes na retina. Jeffery explica que a retina dos olhos tem uma maior demanda de energia e mais mitocôndrias do que outros tecidos do corpo, incluindo o coração. Em um comunicado à imprensa, ele disse:
"À medida que você envelhece, sua visão decai significativamente, principalmente após os 40 anos. Sua sensibilidade retiniana e sua visão de cores se deterioram gradativamente e, com o envelhecimento da população, essa é uma questão cada vez mais importante. Para tentar conter ou reverter esse declínio, procuramos 'resetar' as células envelhecidas da retina através de pequenas rajadas de luz de ondas longas".
A equipe recrutou 24 pessoas com idades entre 28 e 72 anos. Cada uma recebeu um dispositivo que emitia uma luz vermelha a 670 nanômetros. Como comentado por Jeffery, as mitocôndrias têm a capacidade de absorver a luz em comprimentos de onda maiores, de 650 nm a 1.000 nm, para aumentar a produção de energia.
No entanto, comprimentos de onda acima de 670 são difíceis de serem enxergados pelo olho humano, o que poderia potencialmente afetar a conformidade. Como resultado das altas demandas de energia, as mitocôndrias na retina envelhecem mais rapidamente do que em outras áreas do corpo. Isso causa uma redução significativa na função. Os participantes levaram para casa um dispositivo, que eles usaram por três minutos por dia durante duas semanas.
A sensibilidade dos seus cones e bastonetes foram testadas antes e depois da intervenção. Eles descobriram que participantes com menos de 40 anos não apresentaram diferença significativa na sensibilidade. No entanto, indivíduos com mais de 40 anos apresentaram melhora significativa no contraste de cores e na capacidade de enxergar com pouca luz. Jeffery concluiu:
"Nosso estudo mostra que é possível melhorar significativamente a visão deteriorada em indivíduos idosos usando breves exposições simples a comprimentos de onda da luz que recarregam o sistema de energia em declínio nas células da retina, de forma análoga a recarregar uma bateria.
A tecnologia é simples e segura, usando uma luz vermelha profunda de um comprimento de onda específico, que é absorvida pelas mitocôndrias na retina que fornecem energia para a função celular. Nossos dispositivos custam cerca de 12 libras para serem fabricados, portanto a tecnologia é altamente acessível a todo o público".
Vida em espaços fechados aumenta o risco de poluição luminosa
É importante lembrar que nem toda luz é igual. De fato, a luz artificial na hora errada do dia pode afetar significativamente a qualidade do sono. Isso é chamado de poluição luminosa, e pode resultar em uma privação do sono que afeta o sistema imunológico. Existem consequências graves para a privação de sono, incluindo obesidade, pressão alta, diabetes, ataque cardíaco e depressão.
Um dos efeitos colaterais de passar horas em ambientes fechados é a falta de exposição ao sol. A luz brilhante emitida pelas luzes LED e pelos postes de iluminação pública não são de espectro total: a luz de espectro total vem do sol.
Os hormônios e funções corporais operam em um ritmo circadiano, ligado a um ciclo de dia-e-noite com duração de 24 horas. Seus hormônios que regulam a digestão, o metabolismo e o sono são afetados pelo ritmo circadiano. Por fim, seu ritmo circadiano é afetado pela exposição à luz solar.
Por exemplo, o hormônio melatonina deve aumentar à noite para incentivar o sono de qualidade. A exposição à luz solar intensa pela manhã ajuda a regular a liberação de melatonina e afeta o ciclo do sono. Em um recente artigo de pré-impressão, pesquisadores sugerem que os bloqueios instigados pela COVID-19 mitigaram o papel protetor da luz ultravioleta do sol em até 95%.
Existe uma ligação entre a luz azul e os ritmos circadianos. O sol fornece um espectro completo de luz, incluindo a luz azul. Uma redução na intensidade da luz solar durante os meses de inverno pode suprimir a melatonina e resultar em sentimentos de apatia, sonolência e, em alguns casos, depressão.
Além de reduzir sua exposição à luz de espectro total, incluindo a luz infravermelha de 650 nm a 1000 nm, passar muitas horas em ambientes fechados normalmente aumenta a sua exposição à luz azul. Embora a luz azul nas primeiras horas do dia ajude a interromper a produção de melatonina, a exposição contínua após o pôr do sol tem efeitos deletérios na saúde.
Luz vermelha, luz azul
Com a produção e distribuição de luzes LED com baixo consumo de energia, muitas pessoas ficam expostas por mais horas à luz azul, sem equilíbrio de luz vermelha ou infravermelha. Por esse motivo, as lâmpadas incandescentes são mais seguras, pois emitem luz vermelha e infravermelha próxima ao comprimento de onda mais longo, e emitem apenas um pouco de azul.
O dano causado pela luz azul na retina é conhecido há anos. Em um estudo publicado em 1995, os pesquisadores escreveram: "A exposição do olho à luz intensa, particularmente a luz azul, pode causar danos irreversíveis e dependentes de oxigênio na retina".
Mais recentemente, dados de um estudo envolvendo animais sugeriram que a luz azul aumenta os danos na retina e a morte celular apoptótica. Neste estudo, o dano induziu maior morte celular de cones do que de bastonetes. A luz azul emitida por lâmpadas LED é o principal componente que preocupa os cientistas em relação à visão e à saúde da retina.
Especialistas descobriram que o componente da luz azul nas lâmpadas LED de alta eficiência energética é "a principal causa de dano retiniano", induzindo "estresse oxidativo e lesão retiniana", bem como "morte de fotorreceptores por necrose e apoptose".
Como usar a luz em casa
Pesquisadores da Oregon State University, em colaboração com a Ohio State University, descobriram que a exposição prolongada à luz azul também pode afetar seu cérebro, mesmo quando a luz azul não está brilhando através dos seus olhos.
Existem algumas etapas importantes que você pode tomar para proteger sua visão e sua saúde geral. Embora seja importante obter a luz azul logo de manhã para interromper a produção de melatonina, é igualmente importante reduzir a exposição após as 19h, quando o sol naturalmente começa a se pôr.
Existem várias maneiras de fazer isso, dependendo de suas preferências pessoais. Muitos dispositivos digitais possuem softwares que podem reduzir a emissão de luz azul pela tela. Se você fizer isso em todos os dispositivos eletrônicos e substituir todas as luzes LED por lâmpadas incandescentes, não precisará de óculos com filtro de luz azuis em ambientes fechados.
No entanto, se você não tiver controle sobre a iluminação, é importante considerar o uso de óculos de proteção após as 19h. Isso ajudará a regular o relógio interno e reduzir os danos aos olhos.
A iluminação externa da rua e os despertadores são outras maneiras pelas quais você é exposto à luz após o anoitecer. A qualidade do seu sono está ligada ao descanso na escuridão total. Considere remover todos os dispositivos emissores de luz e usar uma máscara de dormir e persianas que escurecem o ambiente.
Por outro lado, durante o dia, é importante obter uma exposição solar sensata para a saúde ocular e para ajudar a aumentar sua produção de vitamina D. Se você achar difícil adormecer e se manter dormindo, talvez seja necessário fazer mais algumas alterações usando as estratégias sugeridas em "As 33 principais dicas para otimizar sua rotina de sono.”