O teste de olfato pode ser mais preciso que a febra para a COVID?

Fatos verificados
Teste de olfato

Resumo da matéria -

  • Estudos mostraram que o número de pacientes positivos para COVID-19 com alterações na capacidade olfativa varia de 25% a 41%
  • Um estudo mostrou que apenas 30,7% tiveram febre quando internados com COVID-19. Alguns especialistas estão solicitando que um teste de olfato seja incluído nas sessões
  • A COVID-19 frequentemente afeta o olfato e o paladar, mas ainda não é claro o motivo. O zinco pode estar relacionado
  • Use este teste simples em casa para avaliar seu nível de zinco. Se você optar por usar um suplemento de zinco, considere esta recomendação para reduzir o risco potencial ao seu sistema imunológico

Por Dr. Mercola

Como empresas e grupos não sabem se podem ou não se reunir, muitos passaram a fazer uma verificação dos sintomas na esperança de reduzir a exposição ao SARS-CoV-2. Isso geralmente consiste em fazer várias perguntas, como se você foi exposto a alguém com uma infecção ativa ou se apresentou sintomas.

O CDC recomendou que avaliações de temperatura sem contato fossem realizadas em abrigos de pessoas em situação de rua e acampamentos. No entanto, a Organização Mundial da Saúde e o CDC reconhecem que isso pode ser inadequado, pois indivíduos assintomáticos também podem ser capazes de espalhar o vírus.

Algumas empresas nos EUA instituíram verificações de temperatura para os associados retornando ao trabalho. A Amazon anunciou que estava fazendo isso para mais de 100.000 trabalhadores diariamente.

No entanto, em um estudo com 5.700 pessoas submetidas a internação hospitalar com COVID-19, os pesquisadores descobriram que apenas 30,7% apresentaram febre. O médico especialista em doenças infecciosas do Johns Hopkins Center for Health Security, Dr. Amesh Adalja, conversou com um repórter da Health, onde disse:

“A triagem para a febre pode fazer parte de um sistema mais amplo, mas o benefício marginal ainda não está claro. A prevenção da infecção pelo novo coronavírus é uma tarefa multifacetada. Mesmo com a triagem de entrada, ainda é muito importante lavar as mãos e ter boas práticas de higiene ao longo do dia. Para indivíduos em alto risco, também é importante que eles mantenham o distanciamento social mesmo quando os locais forem abertos".

Dados mostram que o olfato e o paladar debilitados predizem a COVID

Não há um estudo definitivo sobre o número de pessoas com COVID-19 que também apresentam febre. Uma nova pesquisa publicada no JAMA oferece um indício de que a febre pode não ser tão comum para o vírus quanto se acreditava originalmente.

Até que mais informações estejam disponíveis, os cientistas ainda estão dependendo dos dados da epidemia de SARS em 2003 para avaliar os pacientes com COVID-19. Em uma revisão de literatura publicada em 2009, após a SARS, os pesquisadores descobriram que a febre tinha um valor preditivo negativo, variando de 86,1% a 99,7%.

Isso significa que indivíduos sem febre provavelmente não tinham SARS. No entanto, o mesmo não pode ser dito para a COVID-19, pois muitas pessoas se tornam contagiosas antes mesmo de apresentarem febre, e outras podem sequer ter febre. Embora a tomada de temperatura possa capturar apenas uma pequena fração das pessoas com uma doença infecciosa, alguns especialistas estão sugerindo que a adição de um teste de olfato aos exames poderia ser mais eficaz.

Também é importante lembrar que você pode ter febre por outros motivos que não a COVID-19. Há um crescente corpo de evidências que sugere que as pessoas com o vírus têm uma taxa mais alta disfunção olfativa e gustativa, incluindo perda completa, chamada anosmia (perda do sentido do olfato) e ageusia (sabor). Andrew Badley é líder de um laboratório de vírus na Mayo Clinic. Ele falou com um repórter da Stat News, dizendo:

"Minha impressão é que anosmia é um sintoma anterior do Covid-19 em relação à febre, e algumas pessoas infectadas podem ter anosmia e nada mais. Portanto, este é potencialmente um teste mais sensível para pacientes assintomáticos".

Quais são os números?

Badley e seus colegas publicaram em abril um estudo no qual avaliaram as anotações clínicas de 77.167 pacientes que foram submetidos a testes de PCR para COVID-19. Eles compararam esses resultados com os registros eletrônicos de saúde dos pacientes, e descobriram que 2.317 eram positivos e 74.850 negativos.

A equipe identificou e analisou os sintomas associados ao COVID-19, incluindo febre e calafrios, dificuldade respiratória, tosse, dor muscular, diarreia e disfunção olfativa. Aqueles que apresentaram resultado positivo apresentaram 27,1 vezes mais chances de apresentar disfunção olfativa e paladar do que aqueles que foram negativos.

Este resultado foi significativamente maior do que qualquer outro sintoma analisado. Os mais próximos foram febre e calafrios, com uma probabilidade 2,6 vezes maior da pessoa ter o vírus. Em um estudo separado publicado no Fórum Internacional de Alergia e Rinologia, os pesquisadores fizeram uma revisão retrospectiva de pacientes que compareceram ao sistema do Hospital San Diego entre 3 de março de 2020 e 8 de abril de 2020.

Eles incluíram aqueles com uma infecção confirmada, que também tiveram uma avaliação da função do olfato e do paladar. Houve 128 pacientes que atenderam a estes critérios. Desses, 20,1% necessitaram de hospitalização. Em uma análise mais aprofundada, a equipe demonstrou:

“A admissão por COVID‐19 foi associada ao sentido intacto do olfato e paladar, aumento da idade, diabetes e parâmetros subjetivos e objetivos associados à insuficiência respiratória. Em uma análise ajustada, a anosmia esteve fortemente e independentemente associada ao atendimento ambulatorial...”

Os dados coletados de 220 participantes da pesquisa nos EUA mostraram que o sintoma de perda de olfato ou paladar era ainda maior. Dos entrevistados, 42% testaram positivo para COVID-19, e 58% não. A perda ou alteração do olfato ou paladar como primeiro ou único sintoma ocorreu em 37,7%.

Separadamente, foi realizada uma revisão da literatura para incluir 24 estudos de 8.438 pacientes positivos para COVID-19 confirmados em laboratório, de 13 países. Os pesquisadores encontraram uma disfunção do olfato em 41% e disfunção do paladar em 38,2% da população.

Por que o olfato e o paladar são afetados?

O Dr. Justin Turner, do Centro Médico da Universidade Vanderbilt, acredita que a prevalência de anosmia na população com COVID-19 é de 25%, e pode chegar a 80%, com base em relatos subjetivos dos pacientes. Ele também levantou uma hipótese de como isso ocorre. Ele acredita que a causa primária é uma reação inflamatória provocada pelo vírus dentro da cavidade nasal, próximo ao nervo olfativo. Ele explica:

“Na COVID-19, acreditamos que a perda do olfato é tão prevalente porque os receptores da doença expressos no tecido humano são mais comuns na cavidade nasal e nas células de suporte do tecido olfativo. Essas células de suporte circundam os neurônios responsáveis pelo olfato, e permitem que eles sobrevivam.”

A infecção do epitélio nasal também parece ser maior em adultos. Os autores de um estudo publicado no Journal of the American Medical Association associaram a baixa taxa de infecção em crianças (menos de 2%) à hipótese de que elas apresentam uma expressão mais baixa de receptores ACE2 do que os adultos.

Eles descobriram que a idade era um fator de risco baseado no número de receptores ACE2 na cavidade nasal, "o primeiro ponto de contato do SARS-CoV-2 com o corpo humano". Seu senso de paladar depende do olfato; portanto, faz sentido que, quando o olfato é alterado, você também tenha uma alteração no paladar.

Também me pergunto o quanto a insuficiência ou deficiência de zinco podem influenciar na perda do olfato. Os dados coletados para um estudo publicado no Fórum Internacional de Alergia e Rinologia mostraram que indivíduos que foram admitidos com formas mais graves da doença tinham os sentidos de paladar e olfato intactos. Um dos sintomas da deficiência de zinco é a perda do olfato.

Sabemos que o corpo usa zinco intracelularmente para interromper a replicação viral e retardar ou interromper a infecção. Será que os indivíduos que possuem mais zinco em suas células, utilizando-o para retardar a infecção, também demonstram sintomas de insuficiência ou deficiência de zinco, já que seu corpo usa o oligoelemento para combater o vírus?

Como testar a deficiência de zinco

O zinco é importante para todos os nossos órgãos e tipos de células, o que explica os vários sintomas associados à sua deficiência. Ele é necessário para aproximadamente 100 enzimas, e é crucial para sua função imunológica, cicatrização de feridas, divisão celular, crescimento e desenvolvimento. Os pesquisadores acreditam que a deficiência de zinco:

"...é surpreendentemente comum, afetando até um quarto da população nos países em desenvolvimento, mas também afetando populações distintas no mundo desenvolvido como resultado do estilo de vida, idade e fatores mediados por doenças".

Na América do Norte, a deficiência evidente é incomum, estando relacionada a ingestão inadequada ou aumento das perdas ou necessidades. Por exemplo, a biodisponibilidade é menor com uma dieta baseada em vegetais, e alguns descobriram que os vegetarianos precisam de 50% a mais da dose diária recomendada do que indivíduos que comem carne.

No entanto, não é incomum ter uma insuficiência de zinco leve ou moderada. Como o oligoelemento é importante na luta contra vírus, incluindo o SARS-CoV-2, convém fazer um simples teste de zinco em casa para determinar seu status.

No vídeo abaixo, o Dr. Donald Ozello demonstra um teste simples do paladar que pode dizer rapidamente o quão insuficiente ou deficiente em zinco você pode ser. Basta colocar duas colheres de sopa de uma solução de zinco em temperatura ambiente na boca e segurá-la. Os resultados serão baseados no que você sente após 10 segundos.

  • Grau 1 — Um gosto ruim imediato, o que significa que você não tem deficiência
  • Grau 2 — Um gosto moderadamente ruim, indicando que você tem uma deficiência leve
  • Grau 3 — Um sabor levemente desagradável ou residual, o que significa que você é deficiente
  • Grau 4 — Sem sabor, o que significa que você é severamente deficiente
Vídeo disponível apenas em inglês

Combine a quercetina e o zinco para um poderoso reforço imunológico

Para que o zinco funcione, ele deve primeiro entrar nas células. Seu corpo usa ionóforos de zinco, ou seja, substâncias que abrem a membrana celular para que ele atravesse. Medicamentos como a cloroquina e a hidroxicloroquina são ionóforos de zinco, o que provavelmente explica como eles afetam pacientes com COVID-19 quando estes medicamentos são combinados com zinco.

A boa notícia é que existem outras substâncias que têm a mesma ação sem os efeitos colaterais. Em um estudo de laboratório publicado em 2014, os cientistas avaliaram a quercetina e o galato de epigalocatequina (EGCG, encontrado no chá-verde) em relação a atividades biológicas que podem aumentar a captação celular de zinco. Eles concluíram:

"A atividade ionófora dos polifenóis alimentares pode ser a razão para o aumento dos níveis de zinco lábil desencadeados nas células pelos polifenóis e, portanto, muitas de suas ações biológicas".

A quercetina e o EGCG também têm a vantagem de inibir uma enzima usada pelo coronavírus para infectar células saudáveis. Além disso, a quercetina possui, por si só, potente atividade antiviral. Ao considerar a suplementação, é importante lembrar que o zinco em excesso pode aumentar os riscos para a saúde. Os efeitos colaterais agudos incluem náusea, vômito, diarreia, cólicas abdominais e dores de cabeça.

Outro fator importante relacionado à saúde imunológica é o equilíbrio de cobre e zinco; uma ingestão aumentada de zinco pode ser benéfica. Chris Masterjohn escreve que apenas 60 miligramas de zinco por dia podem ser suficientes para causar problemas. Essencialmente, o cobre reduz a atividade da superóxido dismutase, também chamada de SOD. Isso é crucial para sua defesa imunológica. Ele recomenda:

“O zinco ingerido para alcançar os pulmões deve ser usado preventivamente, e não ao primeiro sinal de sintomas, pois ele leva muito tempo para enriquecer as reservas sistêmicas de zinco.

Eu prefiro usar 1-3 pastilhas de zinco por dia de forma preventiva, para que os tecidos do nariz e da garganta estejam ricos em zinco ao encontrarem o vírus. Ao contrário do zinco ingerido, no entanto, as pastilhas projetadas para espalhar o zinco por esses tecidos podem ser tomadas rapidamente em resposta aos sintomas, pois sua capacidade de espalhar o zinco por esses tecidos não é limitada pelos transportadores intestinais.”