Por Dr. Mercola
O ferro é um nutriente essencial e parte integral de centenas de funções biológicas, incluindo o transporte de oxigênio, síntese de DNA e metabolismo de energia. Quase todas as células do seu corpo contêm ferro. Plantas, bactérias, animais e até células cancerosas não podem sobreviver sem ele.
As plantas usam o ferro para produzir clorofila, enquanto os animais e os humanos precisam dele para produzir a hemoglobina, a proteína presente nos glóbulos vermelhos responsável pelo transporte de oxigênio. Aproximadamente 6% do ferro em seu corpo é utilizado como componente das proteínas, e 25% dele é armazenado como ferritina.
Ter muito, ou muito pouco, pode trazer consequências graves. No entanto, o que muitas pessoas e médicos não percebem é que o excesso de ferro é mais comum do que a deficiência.
Os médicos podem verificar se há deficiência de ferro no que se refere à anemia, mas a sobrecarga de ferro é um problema muito mais comum. Homens adultos e mulheres que não menstruam correm o risco de ter níveis perigosamente altos de ferro. Quando não tratado, o excesso de ferro pode danificar seus órgãos e contribuir para o desenvolvimento de doenças cardíacas, diabetes, doenças neurodegenerativas e câncer.
Níveis elevados de ferro estão associados a uma vida mais curta
Pesquisadores relacionaram o excesso de ferro a várias condições médicas, e hoje já se sabe que as pessoas envelhecem em ritmos diferentes dependendo da quantidade de ferro no corpo. Cientistas europeus reuniram dados de um banco de dados internacional para testar essa teoria.
O conjunto de dados foi equivalente a cerca de 1,75 milhão de tempos de vidas. Eles analisaram o número total de anos vividos (expectativa de vida), o número total de anos marcados por boa saúde (expectativa de saúde) e a vida até uma idade avançada (longevidade). Os pesquisadores identificaram 10 loci na amostra genética que parecem influenciar o envelhecimento.
A maioria dos loci foram associados com doenças cardiovasculares. Com base em análises estatísticas, os dados sugeriram que "os genes envolvidos no metabolismo do ferro no sangue são parcialmente responsáveis por uma vida longa e saudável".
A nova informação é muito interessante, pois sugere um caminho modificável para explicar o envelhecimento biológico e as diferenças nas taxas de doenças crônicas entre as pessoas. Os pesquisadores observaram que os altos níveis de ferro podem "reduzir a capacidade do corpo de combater infecções na velhice", o que pode ser outra razão pela qual a idade é normalmente um fator na gravidade das doenças infecciosas.
Segundo Paul Timmers, da Universidade de Edimburgo, os dados também oferecem uma explicação razoável para a associação entre carne vermelha e doenças cardíacas. Embora o colesterol tenha sido responsabilizado no passado, nenhuma associação foi encontrada entre colesterol e doenças cardíacas em um número crescente de estudos. Timmers comentou:
"Estamos muito entusiasmados com essas descobertas, pois elas sugerem fortemente que altos níveis de ferro no sangue podem reduzir nossa quantidade de anos de vida saudáveis, e manter esses níveis sob controle pode prevenir danos relacionados à idade.
Especulamos que nossas descobertas sobre o metabolismo do ferro também possam começar a explicar por que quantidades muito altas de carne vermelha, rica em ferro, na dieta têm sido associadas a condições relacionadas à idade, como doenças cardíacas”.
O excesso de ferro prejudica a função mitocondrial
Pesquisadores já sabem desde meados da década de 1990 que, quando o ferro está ligado a uma proteína, como a hemoglobina, ele desempenha um papel fundamental no metabolismo e no crescimento celular. Mas, quando livre, ele dá início a uma reação que produz radicais hidroxila livres a partir do peróxido de hidrogênio. Eles estão entre os radicais livres mais prejudiciais para o corpo, causando uma grave disfunção mitocondrial.
Os radicais livres da hidroxila danificam as membranas celulares, proteínas e DNA. Outras pesquisas mostraram que o excesso de ferro também promove a apoptose e a ferroptose em cardiomiócitos. A apoptose é a morte celular programada de células doentes e esgotadas, e como o próprio nome sugere, a ferroptose se refere à morte celular que depende do ferro e é especificamente controlada por ele.
Os cardiomiócitos são células musculares do coração que geram e controlam as contrações rítmicas desse órgão. Em suma, isso nos diz que o excesso de ferro pode prejudicar a função cardíaca. Estas são duas maneiras pelas quais a sobrecarga de ferro pode levar à cardiomiopatia, que é uma das principais causas de morte em pacientes com hemocromatose.
O excesso de ferro também afeta a pressão arterial e outros marcadores de doença cardiovascular, bem como o controle glicêmico em indivíduos com síndrome metabólica. Um estudo foi realizado com 64 participantes com diagnóstico de síndrome metabólica. Os participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos. Aqueles no primeiro grupo doaram sangue no início do estudo, e novamente após 4 semanas.
Os pesquisadores regularam a quantidade de sangue doada e o nível de ferro de cada pessoa. Eles mediram a pressão arterial sistólica, a sensibilidade à insulina, a glicose plasmática e a hemoglobina A1c. O grupo que doou sangue apresentou redução significativa da pressão arterial sistólica e níveis mais baixos de glicose no sangue, hemoglobina A1c e frequência cardíaca. Não houve efeito na sensibilidade à insulina.
Em um estudo anterior, os cientistas removeram sangue de indivíduos com gota crônica. Doze participantes com hiperuricemia doaram sangue ao longo de 28 meses para manter seu corpo com a menor quantidade de ferro possível, sem induzir anemia. Os dados mostraram uma redução acentuada no número e na gravidade dos ataques de gota. A remoção do sangue também foi considerada segura e benéfica.
Como os níveis elevados de ferro se acumulam?
Homens e mulheres que não menstruam têm maior potencial de acúmulo de ferro, pois o corpo tem meios limitados de excretar o excesso de ferro. Com o distúrbio genético Hemocromatose, o corpo acumula níveis excessivos e prejudiciais de ferro. Quando não tratada, ela contribui para muitos dos distúrbios discutidos acima.
A hemocromatose é uma doença genética bastante prevalente nos americanos. É preciso herdar duas cópias da mutação (uma da sua mãe e outra do seu pai) para expressar a doença (e mesmo assim, nem todos os que possuem as duas cópias apresentam a doença). Em um estudo, pesquisadores estimaram que 40% a 70% das pessoas com os defeitos genéticos acabarão tendo sobrecarga de ferro.
Também é fácil extrair obter ferro demais da comida, especialmente quando ela é "fortificada" com ferro. O ferro é um aditivo nutricional comum encontrado em muitos suplementos multivitamínicos e minerais. Muitos alimentos processados também são fortificados com ferro.
Por exemplo, duas porções de cereal matinal fortificado podem fornecer até 44 miligramas (mg) de ferro, chegando por si só perigosamente próximo do limite superior de tolerância de 45 mg para adultos. No entanto, o limite superior de tolerância está bem acima da dose diária recomendada, que é de 8 mg para homens e 18 mg para mulheres na pré-menopausa. É fácil perceber como você pode ingerir muito ferro constantemente.
Outra causa comum para o excesso de ferro é o consumo regular de álcool. O álcool aumenta a quantidade de ferro que você absorve dos alimentos. Em outras palavras, ao beber álcool com alimentos ricos em ferro, você provavelmente absorverá mais do que o necessário.
Outros fatores incluem o uso de panelas e frigideiras de ferro, beber água de poços de solo rico em ferro, usar suplementos multivitamínicos e minerais ou comer alimentos processados.
Você pode ajudar a acabar com escassez de sangue ao mesmo tempo em que ajuda a si mesmo
A doação de sangue de rotina é uma das maneiras mais simples e rápidas de reduzir o excesso de ferritina e ferro no corpo. Sem falar que a doação de sangue também pode salvar a vida de alguém. A Cruz Vermelha americana coleta sangue em locais permanentes e móveis. De acordo com a organização, mais de 80% do que eles arrecadam vêm de doações de sangue em campus universitários e locais de trabalho.
Infelizmente, uma das consequências da COVID-19 foi uma redução no número de doações de sangue nos Estados Unidos. Isso levou a uma grave escassez. Chris Hrouda, que atua como presidente dos Serviços Biomédicos da Cruz Vermelha, expressou suas preocupações a um repórter do Press Herald:
“Segundo a nossa experiência, o público americano se reúne para apoiar os necessitados em tempos de escassez, e esse apoio é necessário agora mais do que nunca durante esta crise de saúde pública sem precedentes.
Infelizmente, quando as pessoas param de doar sangue, isso força os médicos a fazer escolhas difíceis sobre o atendimento aos pacientes, e é por isso que precisamos que aqueles que estão saudáveis e bem arregacem as mangas e deem o presente da vida a outrem.
Sabemos que as pessoas querem ajudar, mas podem estar hesitantes em fazer uma doação de sangue durante esse período. Queremos garantir ao público que a doação de sangue é um processo completamente seguro, e adotamos precauções adicionais em nossas doações de sangue e centros de doação para proteger todos os que vierem”.
A doação de sangue é uma forma segura e eficaz de controlar seus estoques de ferro e ajudar outra pessoa. A Cruz Vermelha responde às perguntas sobre suas exigências de elegibilidade em seu site. Eles recomendam que você espere pelo menos oito semanas entre as doações para que seu corpo possa restaurar completamente o seu volume de sangue.
Se você não puder doar sangue por algum motivo, como, por exemplo, um problema de saúde, considere a possibilidade de realizar a flebotomia terapêutica. Por mais que o sangue não seja usado para uma doação, eles podem ainda fazer o procedimento e, em seguida, descartar o sangue.
Se você não conseguir encontrar um local que realize estes serviços na sua comunidade, seu seguro de saúde normalmente pagará por flebotomias terapêuticas de rotina com receita médica. Em qualquer dos casos, quer doe o sangue, ou quer o descarte, a quantidade retirada é a mesma.
Para doar, basta ter cartão de doador de sangue, carteira de habilitação ou duas formas de identificação. Pessoas com pelo menos 17 anos, pesando pelo menos 50 quilos e em bom estado de saúde de forma geral são elegíveis.
Testes anuais de GGT e de triagem de ferro são aconselháveis
Outra forma de medir o impacto da toxicidade do ferro e o efeito na mortalidade é o teste de gama glutamil transpeptidase, às vezes chamado de gama-glutamil transferase (GGT). A GGT é uma enzima hepática envolvida no metabolismo da glutationa e no transporte de aminoácidos e peptídeos.
Ela pode ser usada como um marcador para o excesso de ferro livre e indicador de risco de doença renal crônica. Baixos níveis de GGT tendem a proteger contra altos níveis de ferritina.
Quando a ferritina e o GGT estão altos, você tem uma chance maior de ter problemas crônicos de saúde e/ou morte precoce. Como acontece com a maioria dos testes de laboratório, os valores de referências podem variar. No entanto, os intervalos laboratoriais normais estão frequentemente longe dos ideais e aqueles usados para GGT podem não ser adequados para a prevenção de doenças.