Por Dr. Mercola
Talvez o açúcar seja um dos produtos mais perigosos que podem ser ingeridos, pois é a causa de um vício difícil de superar. O mais assustador é que ele pode ser encontrado em praticamente qualquer alimento processado. Ele se esconde sob vários nomes diferentes e afeta seu corpo de maneiras que os cientistas sequer compreenderam totalmente. Embora a mídia e as associações médicas alertem sobre o excesso de gordura e sal, pouco se fala sobre o excesso de açúcar na alimentação do brasileiro.
A triste verdade é que muitos estudos feitos ao longo de décadas demonstram os danos causados pelo açúcar, mas a indústria conseguiu ocultar muitas dessas evidências e ainda hoje alega que o açúcar não causa efeitos negativos à saúde e ao peso.
Os alimentos que você consome têm um imenso impacto no cérebro, na saúde intestinal e no metabolismo celular, tudo o que afeta sua saúde e a capacidade diária de ser produtivo em casa e no trabalho. Historicamente, o açúcar era consumido apenas em ocasiões especiais. Hoje, ele é encontrado em quase tudo o que você come, menos nos alimentos naturais.
O açúcar domina os alimentos processados como lanches, bebidas, molhos, pães, condimentos e carnes. Até mesmo papinhas para bebês estão repletas de açúcar, o que ativa o centro de recompensa do cérebro da criança, causando vício.
Pesquisas demonstram que o açúcar refinado em quantidades excessivas promove a disfunção mitocondrial. As mitocôndrias fornecem energia para as células e, quando esse processo não funciona dentro da normalidade, o corpo pode passar por diversas disfunções. Pesquisadores confirmaram que, não importa quão saudável você esteja antes de começar a se alimentar mal, ainda pode ter sua função celular danificada pelo açúcar.
O açúcar causa alterações metabólicas que fazem mal para a saúde
Em um estudo da University of Surrey, os pesquisadores pediram a dois grupos de homens que mudassem seus hábitos alimentares por três meses. No começo, um grupo exibia indícios de esteatose hepática não alcoólica (NAFLD); o outro grupo não. Um grupo passou 12 semanas consumindo 650 calorias de açúcar todos os dias, enquanto o outro consumiu apenas 140. Os pesquisadores acompanharam os níveis de gordura no sangue e no fígado de cada participante.
E a descoberta que eles fizeram não foi de se surpreender. Aqueles que ingeriram 650 calorias de açúcar por dia durante 12 semanas apresentaram níveis muito mais altos de gordura no sangue e no fígado. A pesquisa foi planejada como um estudo randomizado e cruzado, o que significa que cada participante seguiu duas dietas em uma ordem diferente e aleatória. O pesquisador Bruce Griffin, Ph.D, professor de metabolismo nutricional da University of Surrey, veio a público falar sobre os resultados:
"As descobertas da nossa equipe corroboram para a hipótese de que consumir grandes quantidades de açúcar pode alterar o metabolismo de gordura de uma forma capaz de aumentar seu risco de ter uma doença cardiovascular".
O metabolismo de gordura é o processo de decomposição e transporte da gordura pelas células do corpo através do sangue. Os resultados também demonstraram que quando os homens que iniciaram o estudo com baixos níveis de gordura no fígado adotaram uma alimentação rica em açúcar, seus exames de sangue, a situação do fígado e metabolismo da gordura ficaram semelhantes aos dos homens que sofriam de NAFLD. Essa condição está associada à obesidade e afeta até 25% dos norte-americanos.
O objetivo dos pesquisadores era determinar o papel do açúcar no metabolismo do fígado e a forma pela qual ele afeta a saúde cardiovascular. Eles descobriram que ambos os grupos, de homens com e sem NAFLD, apresentaram alterações no metabolismo da gordura associadas a doenças cardiovasculares.
No passado, a esteatose hepática era um problema exclusivamente dos adultos. No entanto, evidências sugerem que a doença já é uma realidade diária de quase 10% das crianças entre 2 a 19 anos. A culpa, naturalmente, é de uma alimentação rica em açúcar, que já começa na infância. Infelizmente, essas crianças correm um risco muito alto de ter doenças cardiovasculares, a menos que sua alimentação seja alterada.
Açúcar: o grande responsável por uma parte significativa das principais causas de morte
Em seu livro, "The Case Against Sugar", Gary Taubes, jornalista investigativo, compara a pequena quantidade de pessoas diagnosticadas com diabetes nos anos 80 (momento em que o açúcar não era difundido na dieta) com os dias atuais, nos quais uma em cada 3 pessoas sofre com a doença.
Em matéria de consumo diário, basta o açúcar de 150 ml de refrigerante para aumentar o risco de obesidade, diabetes tipos 2, pressão alta e doenças cardiovasculares. O U.S. Food and Drug Administration (FDA) estima que a maioria dos norte-americanos consome 16% de açúcar diariamente, cerca de 30 colheres de chá ao dia, o equivalente ao triplo da quantidade recomendada. Isso é a mesma coisa que comer 35 sacos de açúcar (de 2,5 kg) por ano.
Os fabricantes aproveitaram as propriedades viciantes de açúcar para aumentar as vendas de seus produtos, e usam o xarope de milho com alto teor de frutose para aumentar seus lucros. O xarope de milho rico em frutose (HFCS) não é apenas mais barato, mas também gera um pico de açúcar muito maior no corpo.
Os corpos das crianças não conseguem lidar com a quantidade de açúcar presente nos doces, alimentos processados e bebidas adoçadas, e todos os vários anos de consumo do açúcar danificam suas mitocôndrias e seu metabolismo celular. Esses danos foram associados a várias das principais causas de morte no mundo, incluindo:
Doença cardíaca |
Hipertensão |
Aterosclerose |
Câncer |
Acidente vascular cerebral |
Diabetes |
Doença hepática crônica |
Mal de Parkinson e Alzheimer |
O açúcar aumenta o risco de depressão
O açúcar também está associado ao aumento do risco de depressão. Isso não é novidade. Como o açúcar pode afetar o cérebro, faz sentido que ele desregule seu humor e comportamento. Vários estudos descobriram uma relação entre o aumento da ingestão de açúcar e o aumento nas taxas de depressão.
O açúcar gera mudanças de humor através de vários mecanismos. Para começar, ele aumenta a resistência à insulina, que desempenha um papel importante em sua saúde mental. A longo prazo, cria uma reação inflamatória crônica no corpo. Em uma análise transcultural, pesquisadores concluíram que os preditores alimentares de depressão e esquizofrenia são muito semelhantes aos que predizem diabetes e doenças cardíacas. Todos eles envolvem uma resposta inflamatória crônica, da qual o açúcar é o principal responsável.
A ciência já descobriu uma ligação forte entre o vício em açúcar e disfunções de humor, incluindo a depressão. Em um estudo criado para acompanhar os hábitos alimentares e condições médicas de 8.000 pessoas com mais de 22 anos, foi descoberto que homens que consumem 67 gramas ou mais de açúcar por dia têm 23% mais chances de receber um diagnóstico de depressão em cerca de cinco anos, quando comparados àqueles que consumiam 40 gramas ou menos. Nenhum dos participantes havia iniciado qualquer tratamento para doenças mentais até a data inicial do estudo.
O efeito do açúcar para a saúde mental parecia independer do status socioeconômico, atividade física, consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo ou outros hábitos alimentares. Os resultados desse estudo são notáveis e devem ser levados a sério. Os resultados estão alinhados com estudos anteriores, embora a metodologia do estudo não permita que os pesquisadores trabalhem com causa e efeito. O consumo excessivo de açúcar pode desequilibrar as substâncias químicas do cérebro que afetam o humor, aumentando o risco de depressão e ansiedade.
O açúcar afeta neurotransmissor que aciona o sistema de recompensa no cérebro da mesma forma que os narcóticos, podendo desencadear uma reação violenta e viciante. Já que o vício e os transtornos de humor foram associados, e o açúcar gera poderosas mudanças de humor associadas ao vício, pesquisadores que analisaram os efeitos bioquímicos e neurológicos do açúcar concluíram que ele pode ser tão viciante quanto a cocaína para algumas pessoas.
Açúcar em excesso é tóxico para o corpo
O Dr. Robert Lustig, professor de endocrinologia pediátrica da Universidade da Califórnia em San Francisco (USCF), discute no vídeo acima o papel do açúcar na dieta da sociedade nas últimas décadas e como esse produto pode envenenar o seu corpo. O açúcar estimula a liberação da dopamina, um neurotransmissor que atua em muitas vias importantes, principalmente a via mesolímbica.
O forma que a dopamina afeta seu cérebro nessa área muda com o vício e aumenta sua percepção de motivação ou prazer. São essas substâncias químicas que fazem o açúcar parecer tão gostoso e que os fabricantes usam para influenciar seu comportamento alimentar. Porém, assim como outras drogas viciantes, o açúcar não é saudável. Sem qualquer valor nutricional, o açúcar é o ingrediente mais tóxico da alimentação ocidental.
O xarope de milho, que nada mais é do que frutose processada, é outra forma de adição de açúcar aos que causa ainda mais danos do que a glicose ou o açúcar refinado, pois se transforma numa mistura de glicose e frutose. Kimber Stanhope, Ph.D., bióloga nutricional pesquisadora da University of California Davis, demonstrou em um estudo que a frutose não age como a glicose no corpo.
Nesse estudo, os participantes deveriam tomar bebidas adoçadas com frutose ou glicose por dez semanas. Por mais que ambas as bebidas possuíssem a mesma quantidade de calorias, o grupo escolhido aleatoriamente para tomar as bebidas com frutose tiveram um aumento na quantidade de lipídeos associados com problemas cardiovasculares, incluindo a resistência à insulina e gordura visceral, que está profundamente associada a doenças metabólicas.
Já o grupo da glicose não teve quaisquer mudanças negativas. Segundo os autores, "os dados sugerem que a frutose aumenta especificamente o DNL, promovendo dislipidemia, diminuindo a sensibilidade à insulina e aumentando a adiposidade visceral em adultos com sobrepeso/obesidade”.
Com o aumento cada vez maior dos planos de saúde, sua melhor saída é abandonar o açúcar
Muitas das instituições mais respeitadas em todo o mundo já fizeram pesquisas que confirmam que o açúcar é o principal fator na crescente incidência de doenças crônicas, contribuindo para as principais causas de morte, como problemas cardíacos e câncer. Caso queira reduzir suas despesas médicas, a melhor opção é sempre evitar o açúcar ao máximo ou até mesmo eliminá-lo da sua alimentação.
Embora consumir alimentos orgânicos seja a melhor coisa que você pode fazer pela sua saúde, sempre é importante ler os rótulos para tomar decisões esclarecidas sobre o teor de açúcar que cada produto adiciona à sua alimentação. Não se esqueça de que vários açúcares podem passar despercebidos no rótulos por conta de nomes diferentes. Abaixo, temos uma lista de alguns dos açúcares mais comuns, mas há vários outros nomes para o açúcar além dos listados aqui.
É importante saber que os rótulos dos alimentos listam os ingredientes em ordem de quantidade. Ou seja, os primeiros itens sempre serão os mais abundantes nos alimentos. Lembre-se de que pode haver diferentes tipos de açúcares em diversas posições da lista, e que o total combinado desses açúcares pode levar esse ingrediente para a primeira ou segunda posição. Você notará que alguns desses nomes começam com "xarope" ou terminam com "ose", que os identifica como açúcares.
Suco de fruta concentrado |
Açúcar evaporado |
Açúcar cristal |
Melaço |
Xarope amanteigado |
Suco de fruta |
Mel |
Xarope de alfarroba |
Caramelo |
Xarope de arroz integral |
Xarope de milho desidratado |
Cristais da Flórida |
Xarope de açúcar invertido |
Xarope de ácer ou bordo (maple syrup) |
Melado |
Xarope refinado |
Xarope de sorgo |
Sucanat (contração de "Sucre de Canne Naturel", açúcar de cana natural) |
Xarope bruto (do refino de açúcar, melaço) |
Açúcar mascavo |
Malte de cevada |
Xarope de milho |
Dextrina |
Dextrose |
Malte diastático |
Etil maltol |
Glicose |
Glicose em pó |
Lactose |
Xarope de malte |
Maltose |
D-ribose |
Xarope de arroz |
Galactose |
Maltodextrina |
Açúcar de confeiteiro |