Bactérias intestinais: a chave para uma boa saúde

microbioma

Resumo da matéria -

  • Pesquisadores descobriram que pessoas que fizeram uma dieta de 26 semanas com uma alta presença de certos micróbios perderam em média 5 quilos de gordura corporal, quase 2 quilos a mais do que o grupo placebo
  • Outro estudo examinou o potencial dos probióticos na prevenção e tratamento do câncer colorretal associado à doença inflamatória intestinal
  • Ratos de laboratório foram tratados com substâncias químicas para estimular a inflamação e, onde o probiótico Lactobacillus reuteri foi administrado, os tumores foram muito menores e menos numerosos
  • Os 100 trilhões de micróbios em seu corpo afetam sua saúde geral. Escolhas inteligentes de estilo de vida ajudam bastante a preservar a saúde intestinal ideal

Por Dr. Mercola

Caso você esteja tentando perder peso e fazendo mudanças sérias na dieta, mas ainda assim não está progredindo, um fator importante pode estar impedindo seu sucesso. De acordo com uma nova pesquisa, o problema pode ser a falta de uma microbiota intestinal otimizada. Pesquisas da University of Copenhagen, na Dinamarca, descobriram que a proporção entre dois tipos de micróbios intestinais, Prevotella e Bacteroides, evidenciam essa premissa.

Durante 26 semanas, 62 indivíduos com circunferências de cintura acima do recomendado foram divididos em dois grupos, no qual um recebia uma dieta típica da Dinamarca e outra com pouca gordura e alto teor de fibras, que incluía frutas, grãos e vegetais. Ao final do estudo, amostras de fezes revelaram que as pessoas que fizeram a dieta rica em fibras com uma alta relação Prevotella/Bacteroides (relação P/B) perderam em média 5 quilos de gordura corporal, quase dois quilos a mais do que o outro grupo.

Como observou o New York Times, aqueles que fazem a dieta regular com uma alta taxa de Prevotella perdem 2 quilos, enquanto o grupo cuja dieta tinha uma baixa ingestão de Prevotella perdeu 2,8, o que foi entendido como estatisticamente insignificante. Em suma, os pesquisadores concluíram que "indivíduos com uma relação P/B alta parecem mais suscetíveis a perder gordura corporal em dietas ricas em fibras... do que em indivíduos com baixa relação P/B".

O segredo para perder peso, bem como a diferença, segundo o autor principal, Mads F. Hjorth, professor adjunto da University of Copenhagen, é que a perda de gordura, não de massa muscular, é o que gera resultados significativos. Hjorth admitiu que embora estudar o microbioma, o ecossistema de microrganismos do intestino, tenha trazido poucos resultados práticos, suas descobertas mais recentes podem ser utilizadas como uma ferramenta prática para perder peso e melhorar a saúde geral.

Além da perda de peso, os probióticos também ajudam a prevenir e tratar o câncer colorretal

Cientistas do Reino Unido examinaram com atenção a forma como a introdução de probióticos pode alterar os microbiomas intestinais e constataram que eles não apenas ajudam a prevenir a formação de tumores, mas também tratam os já existentes. Na verdade, sua pesquisa, publicada no American Journal of Pathology, descobriu que a bactéria intestinal Lactobacillus reuteri pode tratar o câncer colorretal, o terceiro câncer mais comum nos EUA, empatado com o câncer de pele.

Vários estudos, incluindo um feito na Malásia e pelo menos uma revisão intensiva de muitos estudos direcionados ao assunto já determinaram vários fatores que aumentam a incidência de câncer colorretal, como o diagnóstico de doença inflamatória intestinal, alguns fatores genéticos, a falta de exercício, a ingestão de carne vermelha e baixo consumo de vegetais e frutas, independentemente do tabagismo, sobrepeso ou obesidade.

O resultado do estudo publicado no American Journal of Pathology, liderado pelo Dr. James Versalovic, professor de patologia e imunologia do Baylor College of Medicine em Houston, é que o microbioma intestinal tem uma grande participação na sua saúde geral, inclusive desempenhando um papel importante no desenvolvimento de câncer colorretal.

Embora muitos mecanismos envolvidos não sejam conhecidos até o momento, pesquisas indicam que os probióticos podem desempenhar um papel importante na prevenção do câncer. O Lactobacillus reuteri, um probiótico de ocorrência natural em mamíferos, parece ser capaz de reduzir a inflamação intestinal.

No estudo, os pesquisadores administraram L. reuteri em ratos de laboratório com deficiência de histidina descarboxilase (e utilizaram alguns como grupo placebo) para regular e observar sua respostas imunológicas. O DSS, uma substância que estimula a inflamação, foi utilizado junto com o azoximetano, um produto químico cancerígeno, para induzir a formação de tumores. Os estudos com os ratos de laboratório foram realizados 15 semanas depois.

Procedimentos do estudo e a prova positiva dos probióticos

Usando a tomografia por emissão de pósitrons para procurar tumores, os cientistas observaram que os ratos tratados com probióticos tinham menos tumores e seus tumores eram menores do que os dos ratos do grupo placebo.

O Medical News Today explica:

"Em ratos adultos, observou-se que a ausência de uma enzima chamada histidina descarboxilase (HDC) tornou os animais consideravelmente mais suscetíveis ao desenvolvimento de câncer colorretal associado à inflamação do intestino. O HDC é produzido pela L. reuteri e ajuda a converter L-histidina, um aminoácido que atua na síntese de proteínas, em histamina, que é um composto orgânico envolvido na regulagem da resposta imunológica".

Dois outros itens foram considerados significativos nos estudos: cepas inativas de L. reuteri com deficiência de HDC não exibiram efeitos protetores, enquanto a cepa ativa do probiótico diminuiu a inflamação causada pelo DSS e o azoximetano administrados aos ratos de laboratório. Versalovic resumiu os testes:

"Nossos resultados sugerem um papel significativo da histamina na supressão da inflamação intestinal crônica e na tumorigênese colorretal (formação de tumores). Também demonstramos que as células, tanto microbianas quanto mamíferas, podem compartilhar metabólitos ou compostos químicos que juntos promovem a saúde humana e previnem doenças".

No estudo em questão, parece que os cientistas não sabem ao certo a função da histamina em humanos com relação ao câncer, o que é interessante, pois entre 2.113 pessoas com câncer colorretal, dados "sugeriram" que aqueles com níveis mais altos de HDC tinham uma melhor taxa de sobrevida. A equipe afirmou que os probióticos ajudam a converter a L-histidina em histamina, que pode ser usada para reduzir as taxas de câncer colorretal e auxiliar o tratamento. Versalovic concluiu:

"Estamos prestes a utilizar os avanços na ciência dos microbiomas para facilitar o diagnóstico e o tratamento de doenças humanas. Ao introduzir micróbios que fornecem substâncias vivas ausentes, podemos reduzir o risco de câncer e suplementar estratégias de prevenção de câncer com base na alimentação".

A administração de micróbios mais jovens e o aumento da longevidade

Estudos com peixes apresentaram a ideia de que micróbios intestinais injetados em indivíduos mais velhos também podem oferecer mais vitalidade e vigor, além de aumentar a expectativa de vida. O killifish, um dos vertebrados de vida mais curta do mundo, que nada em lagoas formadas por estações chuvosas no Zimbábue e Moçambique, foram os sortudos receptores de micróbios intestinais de peixes ligeiramente mais jovens. O resultado foi que os micróbios aumentaram a expectativa de vida dos peixe.

Uma equipe de pesquisa do Max Planck Institute for Biology of Ageing, em Colônia, Alemanha, providenciou para que os peixes mais velhos, com cerca de 9,5 semanas de vida, ingerissem os micróbios intestinais pertencentes a peixes com apenas 6 semanas de vida. A publicação Nature relatou:

"Os micróbios transplantados recolonizaram com sucesso os intestinos dos peixes que os comiam e prolongaram suas vidas. O tempo médio de vida desses animais aumentou em 41% quando comparado aos peixes expostos a micróbios de animais de meia idade e 37% em comparação a peixes que não receberam qualquer tratamento.

Às 16 semanas de vida, o que é considerado velhice para o killifish, os indivíduos que receberam micróbios intestinais de peixes jovens se mostraram mais ativos do que outros peixes da mesma idade, com níveis de atividade mais parecidos com os de peixes que viveram apenas 6 semanas".

O Bulletproof 360 equiparou o conceito à ciência de ponta que combate o envelhecimento usando uma "técnica experimental" chamada parabiose, uma ciência que supostamente tem 150 anos de idade e conecta os sistemas vasculares de animais jovens e velhos para verificar como a troca de sangue pode afetar a saúde, comportamento e qualquer outro aspecto.

Porém, em vez de usar sangue, os cientistas usaram fezes na troca de micróbios do killifish, o que também é conhecido como terapia de transplante fecal, já que eles, assim como os humanos, possuem um conjunto comparável de bactérias intestinais boas e não tão boas. É difícil avaliar como os peixes se sentem no geral, mas eles pareciam mais animados e ativos ao receber os micróbios mais jovens.

A importância das bactérias boas e ruins no intestino

Quando o microbioma intestinal está equilibrado, sua função geral promove um aumento de energia por conta das melhoras na saúde. Quando o microbioma carece de bactérias saudáveis, como relatam os pesquisadores, as pessoas perdem desempenho e se sentem fisicamente esgotadas.

Não é de se surpreender que o microbioma possa se alterar à medida que envelhecemos. Seu corpo é composto por cerca de 100 trilhões de micróbios que, quando adequadamente equilibrados, protegem seu intestino, sistema imunológico e, consequentemente, sua saúde geral. Esse mecanismo funciona da seguinte forma:

"Os microrganismos intestinais ajudam a digerir os alimentos, e o subproduto dos micróbios que os consomem (sim, é bizarro, mas funciona) pode ser útil para a sua saúde. Cerca de 75% do seu suprimento de vitamina K é produzido no intestino por bactérias intestinais. As bactérias intestinais também ajudam o corpo a produzir sua própria vitamina B e a absorver a vitamina B de fontes alimentares".

Muitos fatores podem alterar a saúde intestinal para melhor ou para pior, incluindo os listados na tabela abaixo:

Alimentação

Exposição a germes

Estresse

Medicamentos

Consumo de álcool

Peso

Além disso, há mais um fator que pode afetar o equilíbrio das bactérias intestinais: a idade. Note que, com exceção da idade, todos os outros fatores podem ser controlados. Caso você já tenha ficado maravilhado com a forma como uma criança consegue passar horas brincando ou um universitário é capaz de passar várias noites estudando sem grandes efeitos colaterais, isso ocorre em grande parte por conta do microbioma intestinal.

O fato é que a saúde intestinal dos idosos tende a ser muito diferente da de pessoas muito mais jovens e altera os níveis de energia, função cognitiva, força muscular e imunidade, confirmam os estudos relacionados. A boa notícia é que bactérias intestinais saudáveis podem fazer toda a diferença na forma como você envelhece. Tomar atitudes inteligentes com relação à lista acima não é apenas importante para sua saúde hoje, mas também para suas chances de viver por mais tempo e ser saudável na velhice.

"Renovando" seu intestino

Sua saúde geralmente é resultado direto de comportamentos nos quais você se envolveu na semana passada, no ano passado e até décadas atrás, dependendo da sua idade. Os cientistas associaram doenças como Parkinson e fadiga crônica aos organismos microscópicos e bactérias do trato gastrointestinal. Medicamentos podem desregular seu corpo, incluindo efeitos causados por interações de remédios, que muitas vezes geram efeitos colaterais graveis e problemas de saúde.

Na verdade, não são os genes que determinam a longevidade, como alguns acreditam. Pesquisas apontam de forma decisiva fatores ambientais como os responsáveis pelas doenças que assolam tantas pessoas.

É a expressão dos genes que conta, e esta é fortemente influenciada por suas escolhas de vida. Até 90% do risco de câncer deve-se a fatores mutáveis como os itens listados acima, enquanto apenas 10% podem ser atribuídos a defeitos genéticos, afirma um estudo.

Nutrir suas bactérias intestinais é uma das etapas mais cruciais para ter uma boa saúde, e isso pode ser feito através da ingestão de alimentos tradicionalmente fermentados, como iogurte de animais terminados a pasto, kefir e legumes fermentados, que você pode preparar em casa, bem como alimentos que contenham fibras, como nozes e sementes, frutas, legumes e outros alimentos que promovem uma melhor saúde digestiva.

Suplementos probióticos também podem ser benéficos para a saúde intestinal. Evitar o açúcar, bem como alimentos processados e embalados, contribui bastante para equilibrar e otimizar sua saúde intestinal. Quanto mais você cuida da saúde intestinal, mais isso ajuda a aumentar sua energia, melhorar o sono, equilibrar seus níveis de estresse, diminuir o risco de câncer e outras doenças, além de auxiliar na perda de peso. Fazer pequenas alterações hoje fará grandes diferenças no seu desempenho, cognição e saúde.