A especiaria que pode prolongar sua vida

Fatos verificados
Pimenta malagueta

Resumo da matéria -

  • A pimenta malagueta é um tipo de fruto da família Solanaceae que está relacionada ao prolongamento da vida, pois diminui o risco de mortalidade por todas as causas e mortes associadas ao coração e ao câncer
  • Para os cientistas, seus benefícios para a saúde se devem à capsaicina, o agente bioativo que causa aquela sensação de calor na pela ou na boca; a capsaicina está presente nas sementes e na membrana interna de cor branca
  • Após uma avaliação da personalidade de apreciadores do ardor da pimenta malagueta, descobriu-se que algumas são atraídas por alimentos picantes e talvez não tenham tanta sensibilidade à picância como outras pessoas
  • A capsaicina oferece benefícios como promover a saúde cardíaca no longo prazo e o emagrecimento, combater a proliferação das células de câncer e aliviar dores

Por Dr. Mercola

Em uma revisão dos registros de saúde de mais de 570.000 participantes de quatro estudos grandes, os pesquisadores da Cleveland Clinic chegaram à conclusão de que as pessoas que consumiam pimenta malagueta com regularidade apresentaram uma diminuição de 26% do risco de mortalidade por fontes relacionadas ao coração, 23% por câncer e 25% da mortalidade por todas as causas, em comparação com aqueles que nunca ou quase nunca consumiam a pimenta.

Essa diminuição do possível risco de morte é significativa, podendo impactar pessoas que sofrem de doenças cardíacas e câncer. As estatísticas atualizadas de 2020 revelam que as doenças cardiovasculares continuam sendo a maior causa de morte no mundo. Foi atribuída a 859.125 mortes em 2017 e, a cada ano que passa, toma mais vidas do que as doenças respiratórias crônicas e todos os tipos juntos de câncer.

É claro que a pimenta malagueta não é a solução para todas as pessoas, o importante é ver que só aumentam as evidências científicas de que é possível assumir o controle da saúde com alterações consistentes no estilo de vida.

A pimenta malagueta pode prolongar sua vida

A pimenta malagueta está muito presente nos alimentos mexicanos ou no famoso curry indiano. Dados preliminares da “Scientific Sessions 2020”, uma conferência virtual da American Heart Association, indicam que os indivíduos que consomem pimenta malagueta com regularidade podem viver mais.

Para os pesquisadores, isso se deve às propriedades antioxidante, anti-inflamatória, anticâncer e de medicação da glicose, notoriamente presentes na pimenta malagueta. Tais fatores podem cumprir seu papel na diminuição do risco de doenças cardiovasculares ou câncer.

Antes de chegar a essa afirmação, a equipe de pesquisadores avaliou 4.729 estudos, com a inclusão de quatro estudos grandes que tiveram desfechos de saúde na China, EUA, Irã e Itália. Qual não foi a surpresa deles ao ver que estudos anteriores comprovavam que o consumo regular de pimenta malagueta pode diminuir o risco geral de mortalidade por todas as causas.

Dr. Bo Xu, autor sênior da análise, fez o seguinte comentário: “Isso ressalta que os fatores nutricionais podem cumprir um papel importante para saúde geral”. Xu, cardiologista da Cleveland Clinic, falou em umcomunicado para a imprensa:

“Nós ficamos surpresos ao perceber que, nos estudos já publicados, a ingestão regular de pimenta malagueta estava relacionada à diminuição do risco geral por todas as causas, DCV (doença cardiovascular) e mortalidade por câncer. Porém, continuam desconhecidos os motivos e mecanismos precisos que explicam nossas descobertas.

Por isso, não se pode afirmar de modo conclusivo que aumentar o consumo de pimenta malagueta é capaz de prolongar a vida e diminuir a morte, especialmente por questões cardiovasculares ou câncer. São necessárias mais pesquisas, em especial de evidências provenientes de estudos randomizados e controlados, para confirmar tais descobertas iniciais."

Xu adverte sobre a existência de diversas limitações, como o fato de que os quatro estudos continham somente informações limitadas acerca da saúde e fatores causadores de confusão, os quais podem afetar os resultados. Ele salienta também que as quantidades e variedades de pimenta malagueta ingeridas pelos participantes no decorrer dos estudos foram diferentes. Os pesquisadores dão continuidade à análise dos dados e pretendem publicar uma revisão da literatura médica.

Qual é o ingrediente secreto?

A capsaicina é o composto bioativo presente na pimenta malagueta e é responsável por seu sabor picante. É também a possível explicação mencionada pelos pesquisadores aos benefícios descobertos.

A pimenta malagueta é um tipo de fruto que pertence à família Solanaceae. Na família Solanaceae, também temos o tomate, a batata, a berinjela, a pimenta caiena e a páprica. Trata-se de um arbusto nativo da América Central que chega a 1 metro de altura.

A capsaicina pode ser encontrada nas sementes e na membrana interna esbranquiçada, que você vê quando abre a pimenta. A capsaicina é produzida pela planta para se proteger do ataque fúngico. Quanto mais capsaicina, mais quente e picante é a pimenta. Apesar de ser incolor e inodora, a substância faz seu cérebro acreditar que as partes do seu corpo onde ela encosta está quente.

É essa sensação de queimação que você experimenta quando come uma pimenta, não se trata de um sabor. Em vez disso, a capsaicina estimula os nervos, os quais enviam duas mensagens ao cérebro: calor e estímulo intenso. A sensação de queimação se deve à combinação de ambas as mensagens.

Como discutirei em seguida, embora não faltem benefícios aos alimentos com capsaicina, o consumo de pimenta não é uma solução para todos, visto que algumas pessoas não possuem tolerância à substância ou ao sabor. Como tudo na vida, a máxima "quanto mais, melhor" nem sempre se aplica. O excesso de capsaicina é capaz de provocar náuseas e vômitos, diarreia e queimação no trato gastrointestinal.

A conexão com a capsaicina

É a capsaicina a responsável por diversos dos benefícios da pimenta malagueta. Há centenas de variedades de pimentas de diversos formatos, tamanhos, cores e intensidade de sabor. A medição do calor se baseia no trabalho de Wilbur Scoville em 1912, que desenvolveu um teste para medir a picância e o calor da pimenta, a chamada Unidade de Calor Scoville.

Como diversos fatores podem influenciar a percepção do calor, as unidades de medida são usadas em tudo o que contém pimenta. Em seus primeiros testes, Scoville contou com um painel de provadores, e as unidades de medida baseavam-se na diluição da mistura de pimenta antes da perda da sensação de calor.

Na atualidade, o teste utiliza a cromatografia líquida de alto desempenho para medir a concentração de capsaicina. A escala vai de zero a 2,2 milhões. O pimentão comum, por exemplo, tem zero unidades de calor Scoville (SHU da sigla em inglês). As pimentas bananas vão de zero a 500 SHU e a pimenta Anaheim pode chegar a 2.500 SHU. A pimenta japeño vai de 2.500 a 8.000 SHU e a pimenta serrano chega a 23.000 SHU.

Se você prefere pimentas mais ardidas, a pimenta dragão-de-komodo vai de 1,4 a 2,2 milhões de SHU enquanto a pimenta malagueta mais ardida do mundo, a Carolina Reaper, pode passar dos 2,2 milhões de SHU. A capsaicina medida pura pelos cientistas contém 16 milhões de SHU.

Os sprays de pimenta para autodefesa usam a capsaicina como ingrediente ativo. Ele queima a pele mediante contato e sua SHU vai de 2 a 5,3 milhões, de acordo com o fabricante. Contudo, é essa mesma substância que as pessoas usam para criar seus pratos picantes que oferecem tantos benefícios para a saúde de quem os ingere com regularidade.

Na década de 80, o professor de psicologia da Universidade da Pensilvânia, Paul Rozin, estudou a pimenta malagueta e as pessoas que faziam uso dela, citando o fato como um tipo de "masoquismo do bem". O termo descrevia como alguns indivíduos apreciam emoções negativas quando não existe qualquer ameaça verdadeira à segurança destes, por exemplo, andar numa montanha-russa ou ver um filme de terror.

A adição de gengibre aumenta a atividade anticâncer

Muitos foram os estudos sobre a capsaicina, sendo de causar surpresa a quantidade de benefícios para a saúde que tais estudos relacionaram à substância. Um exemplo é que capsaicina é capaz de promover a saúde do coração a longo prazo. Em um estudo com roedores que tinham pressão alta, foi observado um alívio nos animais após o consumo de alimentos misturados com capsaicina.

Os pesquisadores afirmam que a substância ativa os receptores vanilóides de potencial transitório 1 (TRPV1), promovendo o relaxamento dos vasos sanguíneos e a diminuição da pressão. A capsaicina também é capaz de promover uma função saudável do trato digestivo.

Os pesquisadores de um estudo chegaram a indicar que a capsaicina pode ser um agente gastroprotetor para pessoas que apresentam lesão da mucosa estomacal pela bactéria Helicobacter pylori ou que por aquelas que usam anti-inflamatórios não-esteroides (AINEs). A capsaicina é capaz de atuar contra o câncer, atacando a proliferação das células do câncer.

Na reunião de Biologia Experimental de 2019 em Orlando, na Flórida, os resultados de um estudo comprovavam que a capsaicina é capaz de diminuir a metástase no adenocarcinoma de pulmão, que compõe a maior parte dos cânceres pulmonares de células não pequenas.

Apesar de a capsaicina funcionar sozinha, evidências revelam um potencial maior quando usada com um ativo encontrado no gengibre puro: o 6-gingerol. Em um estudo com ratos que tinham tendência a desenvolver câncer de pulmão, pesquisadores chegaram à descoberta de que, quando era administrada uma combinação de capsaicina e 6-gingerol, esses animais apresentavam diminuição do risco de câncer pulmonar.

Durante o período de observação, todos os ratos aos quais a capsaicina foi administrada desenvolveram tumores de pulmão; metade dos ratos aos quais foi administrado o 6-gingerol desenvolveu tumores pulmonares, mas somente 20% dos ratos aos quais havia sido administrada a combinação de capsaicina e 6-gingerol desenvolveram câncer.

A capsaicina cumpre um papel no alívio das dores e no emagrecimento

O papel da capsaicina no alívio das dores se deve, em parte, ao fato de ela esgotar o suprimento de substância P. no corpo, uma substância química das células nervosas que está relacionado com a transmissão dos sinais de dor ao cérebro. A capsaicina também reduz a sensibilidade dos receptores sensoriais presentes na pele.

Por isso, é comum usar a capsaicina em cremes e curativos para alívio da dor graças à intensa sensação de queimação. Em um estudo de caso, os cientistas reconheceram que é mais frequente a avaliação da capsaicina para alívio da neuralgia pós-herpética por herpes zóster e em casos de neuropatia relacionada ao HIV.

No intuito de identificar se a capsaicina era eficaz contra outros tipos de dores neuropáticas, eles aplicaram o uso da capsaicina em homem que sofria de dor persistente em um ferimento causado pela explosão de uma bomba. O homem apresentou uma diminuição de 80% de seus sintomas após o uso de um curativo com capsaicina.

Quando adicionada à alimentação, a capsaicina também é capaz de promover o emagrecimento. Os participantes de um estudo publicado no Journal of Nutritional Science and Vitaminology passaram a ingerir 10 gramas de pimenta em uma refeição.

Após a refeição, os pesquisadores acompanharam o gasto energético dos participantes, chegando à conclusão de que a pimenta malagueta aumentava a oxidação dos carboidratos por até 150 minutos depois. Os cientistas comprovaram que o organismo é capaz de queimar 50 calorias a mais por dia mediante a ingestão regular de capsaicina e:

“…produziria níveis clinicamente consideráveis de emagrecimento em 1-2 anos. Apesar de os capsaicinoides não serem uma solução mágica para o emagrecimento, há evidências de que podem exercer um papel benéfico em um programa para o controle do peso".

Diversos estudos comprovam que a capsaicina também é capaz de diminuir o apetite. Segundo um estudo publicado no European Journal of Nutrition, a adição de capsaicina na refeição não provocou qualquer efeito na saciedade, porém diminuiu a produção do hormônio responsável pela ativação da fome, a grelina, 15 minutos depois da refeição.

Os participantes de um outro estudo, após 12 semanas de suplementação, passaram a comer menos e apresentaram uma diminuição da proporção entre cintura e quadril. Apesar de não ser uma solução mágica, a pimenta pode ser uma aliada para o seu arsenal de alimentos saudáveis e estilo de vida para assumir o controle da sua saúde.