A artemisinina da Artemisia annua inibe o SARS-CoV-2

Fatos verificados
Artemisia

Resumo da matéria -

  • O tratamento contra a malária feito com a planta chamada Artemisia annua se mostra uma promessa no tratamento da COVID-19
  • Um remédio artesunato, que contém duas substâncias encontradas na Artemisia annua: a artemisinina e a di-hidroergotamina, é um tratamento de ponta contra a malária
  • O pré-tratamento com os extratos de artemisinina, a artemisinina sintética e o remédio artesunato inibiram a infecção do SARS-CoV-2 em um estudo in vitro. Em termos de tratamento e a partir da perspectiva clínica, o artesunato pode ser o único sobre o qual valha a pena manter as pesquisas
  • A artemisinina possui atividade antiviral confirmada, apesar de os mecanismos de ação do artesunato contra o SARS-CoV-2 ainda serem desconhecidos
  • Avisando que ele pode aumentar a resistência das variações dos parasitas da malária contra a droga, a Organização Mundial da Saúde se declarou uma oposição aos produtos com base em artemisinina. Por isso, as pessoas que vivem em áreas afetadas pela malária devem ser cautelosas ao usar esse remédio fitoterápico

Por Dr. Mercola

O tratamento feito com a planta Artemisia annua vem sendo muito considerado por sua eficácia no tratamento da COVID-19. Outros nomes para essa planta incluem Artemisia Chinesa e Losna verde.

Essa planta com séculos de história de uso na medicina popular, apresentou muitos benefícios para a saúde em pesquisas nas últimas décadas. Por sua descoberta sobre a artemisinina e a di-hidroergotamina, que têm propriedades que ajudam a combater a malária, o cientista chinês Tu Youyou recebeu um Prêmio Nobel Parcial em Fisiologia ou Medicina.

"O remédio artesunato, popular contra a malária, foi desenvolvido a partir daquelas substâncias e ainda é utilizado como uma primeira linha de tratamento para a doença hoje", como afirma a Universidade de Kentucky.

Artemisinina: Um remédio viável contra a COVID-19?

Ela possui propriedades anti-câncer, além de ter um longo histórico de alta eficácia como antiparasita. Além disso, a Artemisia annua pode ajudar contra o SARS-CoV-2 por ter atividades antivirais.

"A artemisinina é muito potente na inibição da capacidade do vírus causador da COVID-19 (SARS-CoV-2) de se multiplicar enquanto ainda possui um índice de segurança excelente", de acordo com uma matéria publicada em 2008 pela Mateon Therapeutics.

Os pesquisadores da Universidade de Kentucky estão explorando seus usos para o tratamento da COVID-19, assim como os pesquisadores na Dinamarca e Alemanha, após testar os efeitos antivirais em um laboratório por alguns anos. De acordo com a Universidade de Kentucky:

"De modo surpreendente, quando extraídas com etanol absoluto ou água destilada, os resultados mostraram que as folhas da planta forneceram mais atividade antiviral do que o próprio fármaco - isso significa que tomar um café ou chá com adição de Artemisia annua pode ser mais eficaz do que tomar o remédio."

Os pesquisadores decidiram testar a artemisinina em pacientes diagnosticados com COVID-19, com base nessas descobertas. Alguns dos primeiros estudos em seres humanos, programados para investigar o extrato misturado ao café e ao chá, assim como o medicamento artesunato, foram feitos pelo UK HealthCare.

Em colaboração com o Kentucky Tobacco Research & Development Center, os pesquisadores da Universidade de Kentucky fundaram a empresa chamada ArtemiFlow para desenvolver e produzir o medicamento. Outra empresa está fazendo o marketing do chá e do café de artemisina para ajudar a levantar fundos para as pesquisas, chamada ArtemiLife.

O mecanismo de ação continua desconhecido

Os detalhes sobre o mecanismo de ação ainda precisam ser descobertos. Como explica a C&EN:

"A artemisinina explora a necessidade de hemoglobina do parasita no sangue do hospedeiro, quando está combatendo a malária. O parasita libera complexo de porfirina de ferro heme a partir da hemoglobina enquanto digere a proteína.

O organismo costuma converter o parasita em uma forma cristalina mais benigna, como a heme é tóxica para o parasita. Como afirma Paul O'Neil, um médico farmacêutico da Universidade de Liverpool: "A artemisinina corrompe as vias de desintoxicação heme".

O pesquisador de Harvard sobre a malária Dyann F. Wirth afirma que, se artemisinina tem algum efeito contra o SARS-CoV-2, é provável que se baseie em um mecanismo diferente que usa para combater o parasita da malária."

Resultados positivos em estudos in vitro

Em 5 de outubro de 2020, foi publicado no servidor de pré-publicação bioRxiv um estudo in vitro pesquisando sobre a eficácia de tratamentos à base de artemisinina contra o SARS-CoV-2.

A pesquisa foi realizada em uma colaboração entre os pesquisadores da Alemanha, Dinamarca e Hong Kong, liderados por Kerry Gillmore, Ph.D., do Planck Institute for Colloids and Interfaces em Potsdam, Alemanha.

Foram avaliados três extratos de artemisinina, assim como a artemisinina sintética pura, o artesunato e arteméter. Uma amostra de variação alemã de SARS-CoV-2 obtida em Munique foi utilizada durante os testes iniciais sobre a atividade viral.

Uma amostra da variação de SARS-CoV-2 dinamarquesa de Copenhague foi usada durante os testes da fase de resposta de concentração. Essas duas variações parecem ser "mais próximas do que a maioria das variações de SARS-CoV-2 que circulam no mundo do que a variação de Wuhan."

Resumindo, o pré-tratamento com os extratos de artemisinina, a artemisinina sintética e o remédio artesunato inibiram a infecção do SARS-CoV-2 em células de Vero e células do hepatoma humano Huh7.5. Dito isso, em termos de tratamento e a partir da perspectiva clínica, o artesunato pode ser o único sobre o qual valha a pena manter as pesquisas.

A Organização Mundial da Saúde desaconselha o uso

A OMS até se posicionou contra os produtos à base de artemisinina, enquanto o mundo está ansioso para adicionar outro remédio à lista de tratamento para a COVID-19. Conforme relata um artigo da C&EN de 27 de maio de 2020:

"O presidente de Madagascar Andry Rajoelina é um dos maiores defensores do remédio fitoterápico contra o novo coronavírus, ele vem promovendo o Covid-Organic, um tônico que contém A. annua que o Malagasy Institute of Applied Research desenvolveu…

Por três principais razões, as autoridades de saúde estão preocupadas com esses remédios fitoterápicos. Primeiro, não há evidências da prevenção ou da cura da COVID-19 por A. annua...

Segundo, efeitos colaterais como tontura, perda de audição e vômito foram reportados em trabalhos preparatórios como chás, tônicos ou cápsulas fitoterápicas que continham compostos bioativos da A. annua com adição da artemisinina.

Terceiro e talvez o mais preocupante de todos: a popularização de extratos fitoterápicos à base de A. annua poderiam impulsionar as variações das malárias como Plasmodium falciparum, que são resistentes ao remédio.

Uma exposição a doses subterapêuticas de artemisinina em A. annua pode ser o suficiente para matar alguns parasitas no corpo de pessoas que morem em regiões onde há endemia de malária, mas não todos. O que pode fazer com que as ACTs vitais [combinação de terapias à base de artemisinina] não sejam eficazes é a morte dos parasitas mais fracos, dando lugar para que seus irmãos resistentes aos remédios se proliferem."

A resistência à artemisina é um problema significativo nao sudeste asiático, onde a Artemisina cresce e é usada com frequência, de acordo com Pascal Ringwald, que lidera a unidade de resistência a medicamentos do Programa Global contra a Malária da OMS.

Em lugares onde a malária é muito rara, como nos Estados Unidos e em outros países ocidentais, esse risco tende a ser menor. "Os cientistas entrevistados pela C&EN concordam que, embora esse uso vá contra as recomendações da OMS, não causa riscos de acelerar a resistência porque são raros os casos de malária nos EUA", de acordo com a C&EN.