Sanitários inteligentes usarão impressões anais

Fatos verificados
Sanitários inteligentes

Resumo da matéria -

  • Considerado pelos cientistas que criaram a tecnologia como um "sanitário inteligente de precisão da saúde", o dispositivo tira uma fotografia do seu ânus, coleta a digital na descarga e examina suas fezes e urina
  • Uma inteligência artificial examina as informações que são enviadas para a nuvem e contata seu médico em caso de preocupações
  • Essa tecnologia, que teve um financiamento de US$ 6,9 milhões por parte do National Cancer Institute, representa diversas áreas que podem comprometer sua privacidade e informações médicas
  • Teste os seguintes parâmetros de modo a examinar sua saúde através de suas fezes e urina, antes de colocar mais uma tecnologia wireless no seu lar

Por Dr. Mercola

O intuito das tecnologias inteligentes é deixar que o seu celular ou dispositivo pense no seu lugar. Só que estes pesquisadores da Stanford Medicine elevaram esse conceito a um novo nível e pretendem desenvolver um vaso sanitário que examina os seus excrementos toda vez que você usa o banheiro.

Os dispositivos inteligentes são capazes de fazer diversas coisas que seu computador realiza: se conectar à internet, fazer uso de softwares e se adaptar a uma série de circunstâncias momentâneas. Tais tecnologias costumam ter sensores, bancos de dados e acesso à internet sem uso de cabos.

As tecnologias inteligentes foram uma verdadeira bênção em termos de melhorar os sistemas de segurança domiciliares, permitindo um monitoramento pelo computador em conexão direta com autoridades locais. O objetivo original dessa tecnologia era facilitar a vida dos cidadãos idosos. Por isso, foi chamada de gerontecnologia e teve início no comecinho dos anos 90.

Por volta dos anos 2000, essa automação inteligente das residências ficou mais popular e acessível. Hoje em dia, qualquer pessoa é capaz de conectar uma tecnologia inteligente em sua casa através de dispositivos adquiridos em lojas de informática e de softwares que são instalados no computador ou smartphone.

Tais sensores aferem a temperatura, umidade, iluminação, movimentação ou ruído. Os dispositivos são conectados por uma rede de controle, e o sistema instalado no computador coleta as informações e reage segundo uma série de regras predefinidas. De modo essencial, essas mesmas funções compõem a base do novo sanitário inteligente.

O sanitário inteligente de precisão da saúde examina os seus resíduos

Segundo a Universidade de Stanford, seu sanitário de "precisão da saúde" é capaz de "identificar variados sinais de enfermidade através do exame automatizado das fezes e urina". Esse sanitário inteligente não é daqueles que erguem a tampa ou dão descarga de modo automático, mas foi criado para identificar marcadores de doenças na urina e nas fezes.

Podendo ser instalado em um vaso sanitário comum, o produto utiliza como ferramentas sensores de movimento e uma câmera que captura a impressão anal da pessoa que se senta para fazer suas necessidades. O pintor Salvador Dali é quem inspirou a ideia usar a impressão anal como identificação, tendo descoberto que "o ânus possui 35 ou 37 vincos que são tão únicos quanto as impressões digitais".

No sanitário inteligente em pleno funcionamento, sensores e câmeras capturam o material residual, identificam a força e o fluxo de urina, e examinam o teor das fezes. Além da impressão anal, o sanitário inteligente conta também com um leitor de digitais situado no botão de descarga, para que os dados sejam atribuídos à pessoa correta.

Os cientistas instalaram recursos que aferem os fatores da urina, tais como o teor de proteínas e a contagem de leucócitos. Já as fezes são avaliadas através da Escala de Bristol para Consistência de Fezes, e o tempo total que a pessoa passa evacuando também é registrado. Os cientistas pretendem coletar dados suficientes no intuito de identificar questões graves de saúde que possam ser evidentes nos excrementos, como é o caso do câncer de cólon.

Após a descarga, os dados e as imagens são transmitidos de modo criptografado para um servidor em nuvem, ondem permanecem privados.

O falecido Sam Gambhir, pesquisador e chefe do departamento de radiologia de Stanford na época em que o estudo teve início, esclareceu o propósito do sanitário inteligente: não é para substituir a ida ao médico, mas monitorar o que o corpo elimina, identificar o que não é comum e enviar informações sobre qualquer suspeita de modo automático para o seu médico.

A vida de Gambhir, que faleceu de câncer em 2020, foi dedicada a descobrir métodos para identificação precoce de doenças. Em abril de 2020, num comunicado de imprensa de Stanford, era evidente sua empolgação com o potencial para coleta de dados através do sanitário inteligente, quando afirmou: "O sanitário inteligente é a forma perfeita de tirar proveito de uma fonte de dados que costumam ser ignorados — e quem o utiliza não precisa fazer nada de diferente". Gambhir fez uma comparação do sanitário inteligente com outros sistemas de monitoramento da saúde:

"A questão do sanitário inteligente é que você não tem como tirá-lo, ao contrário dos dispositivos de uso pessoal. Todo mundo usa o sanitário — não há escapatória — e isso aumenta seu valor como um dispositivo que identifica doenças."

O monitoramento do DNA de vírus nos efluentes

Não é novidade o uso de exames em efluentes para obtenção de informações acerca de uma comunidade ou indivíduo. Um exemplo são os pesquisadores que examinam efluentes de fezes e urina em estações de tratamento de água em busca de drogas ilegais, e isso auxiliou a polícia a monitorar tendências e identificar novas drogas nas comunidades.

No intuito de elevar a conscientização acerca do impacto que as drogas excretadas causam no meio ambiente, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA propôs essa ideia pela primeira vez em 2001. No começo de 2020, dados do maior projeto europeu para análise de efluentes confirmaram dados de outras equipes que apontavam para a expansão do mercado de cocaína no leste europeu.

Desde o início da pandemia de COVID-19, em exames humanos, cientistas também encontraram o vírus SARS-CoV-2, causador da COVID-19, nas fezes de pessoas que vieram a óbito pela doença. Cientistas de um estudo descobriram que, em um paciente infectado, a carga viral presente nas fezes era maior que em suas secreções respiratórias.

Em dois outros pacientes, eles encontraram vírus vivos. Para os pesquisadores, isso é indício de que o "vírus infeccioso nas fezes é uma manifestação comum da COVID-19", podendo representar um possível vetor da doença.

Eles também destacaram um estudo de 2004, publicado logo após o surto de SARS-CoV-1 e o qual revelava que as fezes aerossolizadas de uma rede de esgoto defeituosa havia sido um provável contaminante que causou um surto no complexo habitacional Amoy Gardens, o qual deixou 321 pessoas doentes, 187 das quais se encaixavam na disseminação padronizada.

Pesquisadores de um outro estudo encontraram RNA em oito das 22 superfícies testadas em dois quartos de hotel após dois hóspedes contraírem COVID-19. Segundo a amostragem, as fronhas e lençóis apresentavam maior carga viral. Muito embora o quarto tenha sido examinado apenas três horas após o exame positivo, não foi encontrado nenhum vírus vivo nos quartos do hotel. Os cientistas observaram que:

"…monitorar o esgoto em busca de vestígios de um patógeno possibilita a eficaz vigilância de comunidades inteiras, conferindo um sinal sensível da presença do patógeno na população e do aumento ou diminuição da transmissão".

Para os cientistas, a vigilância dos efluentes pode apresentar diversos benefícios, tais como:

  • Acompanhamento da dinâmica de transmissão de doenças em comunidades inteiras
  • Evasão das tendências dos indicadores epidemiológicos
  • Coleta de dados de todos os indivíduos, bem como daqueles sem acesso a cuidados de saúde
  • Exames precoces de diagnóstico
  • Obtenção de informações quase em tempo real sobre a prevalência das doenças

O sanitário inteligente será mais inteligente do que você imagina

O uso das tecnologias inteligentes na avaliação de suas fezes e urina levanta muitas questões, tal como o acesso às suas informações médicas particulares. Para início de conversa, os indivíduos que usarem esse dispositivo inteligente precisa arquivar suas impressões digitais na empresa, uma vez que utiliza tanto a impressão digital quanto a anal para associar as informações a um indivíduo específico.

Embora, a princípio, a ideia seja instalar esses sanitários em domicílio, tenham em mente que eles podem acabar sendo instalados em locais públicos, o que permitiria que outras pessoas monitorassem seus movimentos toda vez que você usar o sanitário, seja identificando você pela anal ou digital.

E tem mais: as informações sobre a sua saúde ficam armazenadas em nuvem, aumentando o risco de hackers terem acesso a elas e contribuindo para o roubo de identidade médica. Conforme acima discutido, a empresa pretende incorporar uma tecnologia para examinar o DNA e RNA nas fezes, bem como o uso de drogas e álcool, o que levanta a questão: Como essas informações podem vir a ser usadas?

Apesar de a empresa prometer que suas informações continuarão privadas (conforme abaixo discutido), sendo compartilhadas apenas com seu médico, é muito provável que as agências de planos de saúde e seguro de vida se sintam atraídas por tais informações como forma de determinar o preço e cobertura dos serviços. A justiça também pode demonstrar interesse pelos resultados do exame.

Esses são só alguns dos possíveis desafios que você pode enfrentar se permitir que informações acerca da sua saúde sejam transmitidas para a nuvem e acessadas no intuito de determinar se estas devem ser comunicadas ao seu médico.

As fotografias das suas partes baixas são consideradas imagens médicas?

Esse dispositivo também representa um evidente risco para a sua privacidade. Até o momento, os pesquisadores contaram apenas com participantes do sexo masculino, uma vez que a câmera fixa filmaria a genitália feminina. Os pesquisadores esperam que seu segundo protótipo gere dados mais precisos e tenha uma tecnologia que diminua o risco de que fotos "não tradicionais e incomuns" caiam em mãos erradas:

"Desde o início, entendemos com seriedade as preocupações acerca da privacidade de nossa abordagem. Nosso estudo para prova de conceito faz uso de imagens fotográficas do ânus do indivíduo, as quais podem ser não tradicionais e incomuns em comparação com as impressões digitais. Nós asseguramos de modo incondicional a segurança de todas as fotos e informações privadas dos nossos usuários por meio da transmissão de dados criptografados de uma ponta a outra.

Nós empregamos um algoritmo de correspondência de modelos para determinar a região de interesse (isto é, o ânus). Uma vez desenvolvido e validado por completo, este será autônomo e sem qualquer interação humana. As imagens fotográficas do ânus do indivíduo serão criptografadas por uma função hash e armazenadas em um dispositivo seguro.

Portanto, mesmo que a captura de imagem de uma usuária seja erroneamente estendida para a genitália, a imagem resultante estará criptografada e armazenada através de uma função hash, e sua reconstrução está fora da realidade."

Não é fácil imaginar como eles conseguirão "assegurar de modo incondicional a segurança de todas as fotos e informações privadas" quando bancos, lojas de varejo e até mesmo o governo federal, que são muito protegidos, são hackeados e têm suas informações roubadas.

Como usar as informações do seu sanitário

O tamanho, formato e cor das fezes conferem valiosas pistas acerca do seu estado de saúde. Isso é tão importante que, em 1997, Stephen Lewis e Ken Heaton, do hospital de ensino Bristol Royal Infirmary do Reino Unido, desenvolveram o que hoje chamamos de Escala de Bristol para Consistência de Fezes.

Para mais informações sobre o que observar no vaso sanitário após fazer cocô, leia o artigo "Como deve ser o seu cocô?". A cor e o cheiro da urina também são importantes indicadores sobre a sua saúde e bem-estar.

A função dos rins é filtrar o excesso de água e os resíduos do sangue que são solúveis em água, eliminando toxinas e substâncias que, de outra forma, poderiam levar ao seu adoecimento. Todos os dias, seus rins filtram quase 190 litros de água, o que equivale a cerca de 69 mil litros por ano.

É surpreendente que um único rim consiga cuidar disso com facilidade. A cor da urina também varia de acordo com seu nível de hidratação, medicação, alimentação e suplementação.