Por Dr. Mercola
Desde o início da pandemia de COVID-19, ficou bem claro que nem todos são tão susceptíveis ao vírus causador. Vários fatores influenciam a propensão à doença caso tenha sido exposto ao vírus, incluindo outras comorbidades e estilo de vida em geral.
O tipo sanguíneo, porém, é outro fator que pode estar envolvido. Algumas pesquisas sugerem que ele pode tornar uma pessoa mais ou menos propensa a certas doenças, como o COVID-19.
Como não é possível mudar nosso tipo sanguíneo, é importante focar nas estratégias que podem influenciar nosso risco de forma positiva, como otimizar os níveis de vitamina D, ter uma alimentação apropriada e controlar o peso corporal. Dito isso, um estudo publicado na Blood Advances descobriu uma proteína na superfície do SARS-CoV-2, chamada domínio de ligação ao receptor, que tem uma preferência clara em se vincular ao sangue tipo A encontrado nas células respiratórias.
O básico sobre tipos sanguíneos
O sangue é caracterizado pelo tipo de antígeno que contém. Os antígenos são proteínas nos glóbulos vermelhos e todos os humanos têm um dos seguintes tipos de sangue: A, B, AB ou O. Um terceiro antígeno, chamado fator Rh, pode estar presente ou ausente em seu sangue. Caso esteja presente, você é Rh positivo. Do contrário, é negativo.
"Quando os antígenos entram em contato com substâncias desconhecidas para o corpo, como certas bactérias, desencadeiam uma reação do sistema imunológico. O mesmo tipo de reação pode ocorrer durante uma transfusão de sangue caso o tipo sanguíneo do doador seja diferente do receptor. Nesse caso, as células sanguíneas podem causar complicações fatais", diz o Dr. Douglas Guggenheim ao Penn Medicine.
É por isso que, antes de 1901, momento no qual não havia conhecimento dos diferentes antígenos, a transfusão de sangue era muito perigosa. Quando diferentes tipos de sangue são misturados durante a transfusão, isso resulta em reações tóxicas. Na superfície de um glóbulo vermelho, há um, dois ou nenhum antígeno. Isso categoriza os tipos sanguíneos da seguinte forma:
- Grupo A — apenas o antígeno A nos glóbulos vermelhos (e anticorpo B no plasma)
- Grupo B — apenas o antígeno B nos glóbulos vermelhos (e anticorpo A no plasma)
- Grupo AB — ambos os antígenos A e B nos glóbulos vermelhos (mas nenhum anticorpo A nem B no plasma)
- Grupo O — sem os antígenos A nem B nos glóbulos vermelhos (mas contém os anticorpos A e B no plasma)
Os antígenos A / AB / B / O e Rh são transmitidos de ambos os pais para os filhos através da genética.
Pessoas com sangue do tipo A são mais propensas a ter COVID-19?
O sangue do tipo O é o mais comum, enquanto cerca de 33% dos caucasianos, 24% dos afro-americanos, 27% dos asiáticos e 29% dos latino-americanos têm sangue do tipo A+. O tipo de sangue A- é muito mais raro, encontrado em apenas 7% dos caucasianos e 2% ou menos dos afro-americanos, asiáticos e latino-americanos.
Em um estudo, os pesquisadores tentaram entender como a proteína na superfície da SARS-CoV-2 interage com as células respiratórias e glóbulos vermelhos de vários tipos. Eles observaram: “O RBD do SARS-CoV-2 compartilha similaridade de sequência com uma antiga família de lectinas conhecida por se ligar a antígenos de grupos sanguíneos”. Os testes revelaram que o SARS-CoV-2 RBD reconhece e se liga preferencialmente ao antígeno do tipo A encontrado nos pulmões.
Conforme o estudo, o “SARS-CoV-2 RBD liga o grupo sanguíneo A expresso nas células epiteliais respiratórias com o grupo sanguíneo A e SARS-CoV-2.” Embora o estudo não demonstre de forma definitiva que o tipo sanguíneo A contribui para a infecção por SARS-CoV-2, as descobertas podem oferecer algumas informações sobre o motivo pelo qual pessoas com tipo sanguíneo A parecem ter um risco maior de ter COVID-19 e infecções por outros coronavírus como SARS-CoV.
O autor do estudo, Dr. Sean Stowell, do Hospital Brigham and Women's, da Harvard Medical School, explicou em um comunicado de imprensa:
“É interessante que o RBD viral de fato prefira o tipo de antígenos do grupo sanguíneo A presente nas células respiratórias, que é como o vírus infecta a maioria dos pacientes.
O tipo de sangue é um desafio, visto que ele é herdado e não podemos mudá-lo durante a vida. Mas é importante entender como o vírus interagem com os grupos sanguíneos das pessoas, o que nos pode levar a descobrir novos remédios ou formas de prevenção".
Tipo sanguíneo pode prever o risco de COVID-19
Estudos relacionados ao genoma identificaram que o locus responsável pelo tipo sanguíneo pode ser um fator genético capaz de prever o risco de infecção por SARS-CoV-2. Na verdade, em uma edição de outubro de 2020 da New England Journal of Medicine, os pesquisadores relataram: “fomos capazes de identificar um grupo de genes 3p21.31 como um locus de suscetibilidade genética em pacientes com COVID-19 com insuficiência respiratória e confirmamos um possível envolvimento do sistema ABO.”
Em um estudo de caso de COVID-19 em Wuhan, China, mulheres com tipo sanguíneo A apresentaram de novo uma maior suscetibilidade ao COVID-19. Resultados semelhantes foram confirmados utilizando dados de 14.112 indivíduos testados para SARS-CoV-2 com tipo sanguíneo conhecido no New York Presbyterian (NYP).
Pessoas que não tem sangue tipo O parecem correr bem mais risco de infecção, enquanto aqueles que têm sangue AB e B têm o maior risco de intubação. Comparado ao tipo O, pessoas com sangue tipo AB correm mais risco de morrer por COVID.
“Estimamos que o tipo de sangue Rh negativo tenha um efeito protetor nos três resultados avaliados”, observaram os pesquisadores. “Nossos resultados se somam ao crescente corpo de evidências que apontam para o fato de que o sangue pode influenciar no COVID-19”. Uma revisão sistemática e meta-análise, que analisou 31.300 amostras, também encontrou uma ligação, com o tipo de sangue A tendo o maior risco de infecção por COVID-19 e o sangue O aparecendo como o menos propenso ao vírus.
Um estudo dinamarquês com mais de 500.000 pessoas também descobriu que o tipo de sangue O estava associado a um menor risco de infecção por SARS-CoV-2. A empresa de testes genéticos domiciliares 23andMe também divulgou os resultados preliminares de um estudo realizado por eles com informações de mais de 750.000 pessoas. Os resultados iniciais sugerem que o tipo sanguíneo de uma pessoa influencia sua suscetibilidade ao vírus.
A empresa relatou que a porcentagem de resultados positivos para COVID-19 por tipo sanguíneo foi de 4,1% para o grupo sanguíneo AB. As diferenças relatadas no estudo demostraram que pessoas com O têm entre 9% a 18% a menos de chance de ser infectado pelo vírus quando comparadas a pessoas que têm sangue A, B ou AB.
Em um outro estudo, pesquisadores descobriram que indivíduos com sangue O Rh positivo são o que estão mais protegidos. Porém, ainda são necessários mais estudos para confirmar que o tipo sanguíneo é um fator importante no COVID-19, visto que pelo menos um estudo não encontrou correlação entre ele e o COVID-19. Os pesquisadores destacam:
“Dada a natureza ampla e prospectiva de nosso estudo, bem como seus resultados nulos, acreditamos que associações importantes entre a SARS-CoV-2, o COVID-19 e o sistema ABO são improváveis e não serão fatores úteis associados à suscetibilidade ou gravidade da doença, seja no nível individual ou populacional".
O tipo sanguíneo também está associado a outras doenças
Embora o tipo sanguíneo e seu papel na infecção por COVID-19 ainda deva ser determinado, o tipo sanguíneo é conhecido por seu papel em outras doenças como hepatite B e dengue hemorrágica. Até mesmo doenças crônicas como diabetes, problemas cardíacos e declínio cognitivo podem ser afetadas pelo sistema ABO.
Por exemplo, pessoas com tipo sanguíneo B+ têm um risco 35% maior de ter Diabetes tipo 2 quando comparadas a pessoas do tipo O-. Quem tem sangue A e AB também estão em maior risco, quando comparadas àqueles com sangue O. O sangue AB+ traz um risco aumentado de 26%, o A, em 22% e o A+, em 17%.
Por isso, foi sugerido que o tipo sanguíneo pode influenciar os marcadores endoteliais ou de inflamação, bem como os níveis da molécula de adesão intercelular 1 (ICAM-1) e do receptor de TNF 2 (TNF-R2) solúveis no plasma, que têm sido associados ao aumento do Tipo 2 risco de diabetes.
Também é possível que o tipo sanguíneo seja um fator determinado pela genética que influencia a composição de sua microbiota intestinal, o que, por sua vez, afeta a saúde metabólica por meio do equilíbrio energético, do metabolismo da glicose e de inflamações menores.
Quanto ao comprometimento cognitivo, pessoas com sangue do tipo AB podem estar mais em risco por conta dos efeitos desse tipo de sangue em vias alternativas, como o complexo do fator VIII-von Willebrand (FvW). Dois grandes estudos de coorte com mais de 20 anos de acompanhamento também encontraram uma ligação entre o tipo sanguíneo e o risco de doença cardíaca coronária (CHD). De acordo com o estudo, publicado na Arteriosclerosis, Thrombosis and Vascular Biology:
“Na análise combinada de fatores de risco cardiovascular, quando comparados a participantes do grupo sanguíneo O, pessoas dos tipos sanguíneos A, B ou AB têm mais propensão a doença cardíaca coronária. No geral, 6,27% dos casos de CHD são atribuíveis à herança de um grupo sanguíneo não-O.”
Medidas protetivas contra doenças
Seja ou não o sangue importante na equação do COVID-19, o tipo sanguíneo não é algo que se possa controlar. Há, porém, outros fatores muito mais controláveis. Obesos, por exemplo, podem focar em perder peso, o que protege contra doenças virais, incluindo o COVID-19.
Eu recomendo que você adote uma dieta cetogênica cíclica, que envolve limitar de forma radical os carboidratos (substituindo-os por gorduras saudáveis e quantidades moderadas de proteína) até que você esteja próximo ao seu peso ideal, o que irá permitir que seu corpo queime gordura — e não os carboidratos — como a principal fonte de energia.
Isso inclui evitar alimentos ultraprocessados e limitar os açúcares a um máximo de 25 gramas por dia (15 caso você seja diabético ou resistente à insulina).
Exercite-se com regularidade e movimente-se durante suas horas acordado, visando passar menos de três horas por dia sentado. Melhore a qualidade do seu sono, seus níveis de vitamina D e cuide de sua saúde emocional.
O estresse crônico também pode aumentar seu ganho de gordura visceral com o passar do tempo, o que significa que lidar com seus níveis de estresse é imperativo para diminuir seus riscos de infecção. Cuidar da saúde e estilo de vida têm um efeito cumulativo que melhora sua resiliência contra vários tipos de doenças e infecções.