Por Dr. Mercola
Se você tem lido minha newsletter, sabe que cosméticos e produtos de higiene pessoal costumam apresentar resultados positivos para produtos químicos tóxicos. Agora, um novo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Notre Dame descobriu que mais da metade dos cosméticos americanos comuns testados contêm altos níveis de compostos industriais associados a várias condições de saúde, incluindo câncer.
Um produto químico encontrado em um número “alarmante” de produtos de lojas populares como Target, Ulta, Sephora e Bed, Bath and Beyond foi o flúor, que faz parte da sopa de letrinhas conhecida como produtos químicos perfluorados, abreviados como PFC. Os produtos químicos perfluorados incluem perfluorocarbonos e outras substâncias per- e polifluoroalquílicas, conhecidas como PFAS, mas também chamadas de PFOA e PFOS.
Os PFAS às vezes são chamados de “produtos químicos de Teflon” ou “produtos químicos não deterioráveis”, dado que não se degradam no meio ambiente. Eles são usados pelos fabricantes para tornar os produtos resistentes à água, óleo, gordura e manchas. Eles também são encontrados em espuma de combate a incêndios.
Segundo o National Institute of Environmental Health Sciences, existem mais de 4.700 produtos químicos PFAS e o número continua a aumentar à medida que a indústria inventa novas formas. Impelidos pela pressão do FDA, a DuPont e a 3M eliminaram por si mesmos dois dos milhares de produtos químicos PFAS, PFOS e PFOA, no início dos anos 2000.
Embora esses dois produtos químicos não sejam mais fabricados nos EUA, a documentação do FDA revela que "descontinuado" não significa de fato "não estar sendo usado" em nenhum lugar. Na verdade, existem usos limitados de PFOS e a EPA em curso, que afirmam:
“Embora o PFOA e o PFOS não sejam mais fabricados nos Estados Unidos, eles ainda são produzidos ao nível internacional e podem ser importados para os Estados Unidos em bens de consumo como carpetes, couro e vestuário, têxteis, papel e embalagens, revestimentos, borracha e plásticos.”
Isso significa que, embora a fabricação desses produtos químicos tóxicos possa ter sido interrompida nos EUA, eles ainda podem voltar ao país através de produtos fabricados em outros lugares. E, quando se trata de cosméticos, a pesquisa de três anos da Universidade de Notre Dame, publicado na Environmental Science & Technology Letters, indica que o problema dos produtos químicos PFAS em maquiagem é um problema contínuo, incluindo a falta de rotulagem.
Produtos químicos não deterioráveis encontrados em quase metade dos cosméticos testados
Para avaliar o impacto ambiental potencial do PFAS na maquiagem, os pesquisadores da universidade compraram 231 produtos cosméticos em oito categorias adquiridas nos EUA e Canadá. As categorias incluíram produtos e bases para lábios, olhos, rosto e sobrancelhas, máscaras e corretivos.
Os pesquisadores compraram cosméticos em lojas em Indiana e Michigan e os testaram para flúor. Embora as listas de ingredientes não mostrassem PFAS pelo nome, os cientistas descobriram que uma série de produtos continham precursores de substâncias químicas nocivas, incluindo flúor, em:
- 56% das bases e produtos para os olhos
- 48% dos produtos labiais
- 47% das máscaras
Muitos dos produtos que testaram positivo também foram rotulados como "longa duração" ou "resistente ao desgaste". Os pesquisadores não identificaram empresas de cosméticos específicas, em vez disso chamaram o problema de "generalizado".
O flúor é um produto químico PFAS que contamina o abastecimento de água e pode se bioacumular no corpo. Os pesquisadores também descobriram que os produtos testaram positivo para álcool, metacrilato e ésteres de fosfato que são precursores dos PFAs, também conhecidos por serem prejudiciais à saúde humana.
A presença e a quantidade desses produtos químicos eram preocupantes. Tão importante quanto isso foi a revelação de que apenas um dos produtos testados listava produtos químicos PFAS no rótulo do ingrediente. Graham Peaslee foi o investigador principal. Em uma conversa a um jornalista do The Washington Post ele afirmou:
“Ficamos chocados ao ver os níveis presentes em alguns desses produtos ... Não há como um consumidor médio ler um rótulo e entender o que há no produto que acabou de comprar. Eles não podem confiar no rótulo e isso pode ser consertado.”
Embalagens de alimentos e água potável estão contaminadas
Uma crença comum é que se um produto for lançado no mercado e vendido ao público, deve ser seguro. Em 2020, 33 cientistas assinaram uma declaração de consenso para implorar aos legisladores que tomem “ações rápidas para reduzir a exposição” aos plásticos em embalagem de alimentos. Nele, eles incluíram 1.200 pesquisas revisadas por pares para apoiar sua declaração. Um desses plásticos é o PFAS.
Quase 10 anos atrás, haviam 6.000 produtos químicos autorizados que podiam ser usados em embalagens de alimentos. Jane Muncke, do Food Packaging Forum, e uma das colaboradoras da declaração de consenso, afirma que o último número é de quase 12.000.
O Environmental Defense Fund escreveu sobre o processo do FDA que levou à aceitação de plásticos em contato com alimentos. Eles esclareceram alguns equívocos, entre eles:
- Os fabricantes afirmam que qualquer coisa em contato com alimentos, como PFAS, deve ser revisado antes de ser comercializado e vendido — Na verdade, os fabricantes usam uma brecha na regra "reconhecida como segura" (GRCS) que visa isentar ingredientes comuns, como vinagre e bicarbonato de sódio, para contornar a revisão do FDA de seus produtos químicos.
- O FDA exige estudos toxicológicos aprofundados antes de permitir que produtos químicos entrem em contato com alimentos no mercado — na realidade, tudo que uma empresa precisa fazer é fornecer os dados químicos, toxicológicos e ambientais que possui.
- As tableas de dados dos fabricantes são claras e concisas — Ao contrário, em uma revisão da EDF de 31 solicitações aceitas pela FDA, a quantidade de informações variava, mas os dados de toxicidade eram pobres.
- O FDA analisa a segurança do produto — A verdade é que, visto que uma substância em contato com alimentos é permitida, não há processo para avaliar mais evidências de que o produto químico pode ser perigoso e a agência não tem o dever de reavaliar a decisão.
Esses perigos também atingem a água potável. O EWG encomendou um teste em várias de cidades dos EUA que mostrou que a contaminação foi muito subestimada. Os cientistas do EWG acreditam que a família de produtos químicos PFAS pode ser:
“… Detectável em todos os principais suprimentos de água nos EUA, quase em todos os que usam água de superfície. Os testes do EWG também encontraram produtos químicos da família PFAS que não são testados em água potável.”
Uma colaboração entre o Consumer Reports e o The Guardian analisou o abastecimento de água de 120 pessoas que se ofereceram para enviar amostras de água de todos os E.U.A.. O grupo representou uma tabela de comparação de cada uma das 10 regiões jurisdicionais da EPA. A análise mostrou que das 120 amostras de água, 118 apresentavam níveis elevados de PFAS ou arsênio, além de níveis detectáveis de chumbo.
Segundo o relatório da Consumer Reports, existem sistemas de filtração que podem limpar os contaminantes e "ainda assim, eles não estão sendo usados de maneira uniforme pelo fornecimento de água das comunidades".
Uma análise publicada pelo EWG mostrou que havia 2.337 locais em 49 estados com contaminação PFAS conhecida. Embora continuem a aumentar as evidências demonstrando que os produtos químicos não deterioráveis são perigosos, a EPA não está inclinada a proteger a saúde do consumidor. Segundo o EWG, o EPA:
"... Lançou o chamado plano de ação PFAS, 42, que é muito inadequado. O plano da EPA não abordará as fontes contínuas de poluição de PFAS, não limpará a poluição deixada por eles e nem mesmo exigirá relatórios de liberações tóxicas de PFAS.”
Níveis assustadores de produtos químicos não deterioráveis foram encontrados no leite materno
Em um estudo publicado na Environmental Science & Technology, pesquisadores analisaram PFAS em um grupo de mulheres lactantes nos EUA. Os dados foram coletados a partir de um corte transversal de grupos socioeconômicos e diversos de mulheres, e ainda assim mostraram contaminação por PFAS em todas as amostras.
As amostras mostraram níveis variando de 50 ppt a mais de 1.850 ppt no leite materno feminino. Mesmo que ainda não existam padrões definidos para o leite materno, como comparação, o Environmental Working Group aconselha uma meta de água potável em 1 parte por trilhão (ppt) e a Agency for Toxic Substances and Disease Registry (ATSDR) recomenda 14 ppt para PFOS (um componente do PFAS) na água potável paara crianças.
É difícil avaliar os efeitos em bebês. A Dra. Sheela Sathyanarayana, co-autora do estudo e pediatra da Universidade de Washington, falou a um repórter do The Guardian.
Ela disse que pesquisas com crianças mais velhas e adultos mostraram que esses produtos químicos danificam o sistema imunológico e criam distúrbios hormonais. Isso é ainda mais problemático para bebês, pois seu sistema imunológico ainda não está bem desenvolvido.
As evidências do estudo também sugeriram que o desafio com a bioacumulação PFAS em pessoas está piorando. Conforme relatado no The Guardian, quando os dados do estudo atual foram comparados aos liderados pelo EWG em 2005, os pesquisadores descobriram que houve um aumento na quantidade de PFAS de nova geração no leite materno.
Como evitar produtos químicos PFAS tóxicos?
Em maio de 2015, mais de 200 cientistas de 40 países assinaram outra declaração de consenso chamada Declaração de Madrid. Os cientistas alertaram sobre os potenciais efeitos nocivos do PFAS, incluindo associações com toxicidade hepática, efeitos neurocomportamentais adversos, hipotireoidismo e obesidade.
Eles recomendaram evitar todos os produtos que contenham PFAS. Você encontrará mais dicas úteis adicionais no Environmental Working Group Guide para Evitar PFCS. Aqui estão vários itens que eu sugeri evitar no passado:
Pré tratamentos ou prevenções a manchas — Pare de usar esses tratamentos em roupas, móveis e carpetes. As roupas anunciadas como "respiráveis" são tratadas com politetrafluoroetileno, um fluoropolímero sintético. |
Produtos tratados com produtos químicos retardadores de chamas — Incluindo móveis, carpetes, colchões e itens para bebês. Em vez disso, opte por materiais menos inflamáveis, como couro, lã e algodão. |
Fast food e comida para levar — Embalagens também são um problema. |
Pipoca de micro-ondas — Os PFASs podem estar presentes no revestimento interno da sacola e podem contaminar o óleo da embalagem durante o aquecimento. Em vez disso, use pipoca de fogão "à moda antiga" não GMO. |
Panelas antiaderentes e outros utensílios de cozinha tratados — Opções mais saudáveis incluem panelas de cerâmica e ferro fundido esmaltado, elas são duráveis, fáceis de limpar e inertes, o que significa que não liberarão quaisquer produtos químicos nocivos na sua casa. |
Produtos de higiene pessoal contendo PTFE ou ingredientes “fluoro” ou “perfluoro” — O banco de dados EWG Skin Deep é uma excelente fonte para pesquisar opções de cuidados pessoais mais saudáveis. |
Água de torneira não filtrada — Suas escolhas para evitar PFAS ao beber água são limitadas. Você deve filtrar a água ou obter água de uma fonte limpa. Embora você possa pensar que optar por água engarrafada é seguro, é importante saber que os PFAS não são regulamentados em água engarrafada, então não há nenhuma garantia de que estará livre desses ou de outros produtos químicos.
A água engarrafada também aumenta o risco de exposição a produtos químicos plásticos perigosos, como o bisfenol A, que tem seus próprios riscos para a saúde. Os filtros de água mais comuns disponíveis em supermercados não removem PFASs. Você precisa de um sistema de filtragem de carbono de alta qualidade. |