Óleo de semente preta para inflamação crônica

Fatos verificados
Óleo de semente preta

Resumo da matéria -

  • O óleo de semente preta pode ser considerado um tratamento alternativo à base de ervas no combate contra o COVID-19
  • Os compostos bioativos possuem um efeito anti-histamínico e propriedades anti-inflamatórias que regulam de maneira ineficaz a ativação do fator regulador do interferon 3 e promovem a autofagia
  • Os pesquisadores levantam a hipótese de que vários dos terpenos (terpenoides) no óleo são semelhantes com a estrutura da cloroquina, podendo atuar como um ionóforo de zinco; evidências também sugerem que um composto pode bloquear os receptores ACE2, que o vírus utiliza para liberar RNA viral na célula
  • O óleo de semente preta possui diversos usos medicinais tradicionais, incluindo como antidiabético, antimicrobiano, broncodilatador e antioxidante

Por Dr. Mercola

O óleo de semente preta tem sido utilizado há anos devido a seus benefícios terapêuticos. Desde o início da pandemia, os pesquisadores vêm examinando o efeito que ela pode ter no COVID-19. As sementes são derivadas da planta Nigella sativa (N. sativa) que cresce no sul da Europa, sudoeste da Ásia e Oriente Médio. As pessoas responsáveis pela medicina tradicional usaram as sementes de diferentes formas.

A semente preta é escura como carvão, possui uma superfície opaca e em forma de minúsculas castanhas-do-pará. Os componentes bioativos incluem timoquinona, α-hederina, alcaloides e ácidos graxos ômega-6.

O óleo de semente preta tem sido muito utilizado também para fins dermatológicos. Por exemplo, uma revisão da literatura no Journal of Dermatology & Dermatologic Surgery, descobriu que o óleo de semente preta pode estimular a cicatrização de feridas em animais criados na fazenda e reduzir o impacto do vitiligo em lagartos.

Em um estudo clínico realizado em humanos, loção infundida com 10% de óleo de Nigella sativa reduziu a acne vulgaris, após dois meses de uso, com 67% dos pacientes satisfeitos e 28% pouco satisfeitos com os resultados obtidos.

Na pesquisa recente, os cientistas presumem que o óleo pode ter benefícios promissores no tratamento e prevenção do COVID-19. No entanto, embora o uso a curto prazo para o tratamento possa ser favorável, é aconselhável evitar seu uso a longo prazo para prevenção.

O óleo de semente preta pode ser uma alternativa eficaz no tratamento do COVID-19

O óleo de semente preta tem sido utilizado para ajudar no equilíbrio da resposta inflamatória do organismo, bem como reduzir o estresse oxidativo, inflamação e isquemia. Com descobertas recentes, um grupo de pesquisa encontrou os ingredientes ativos em N. sativa foi "aconselhável para o combate da pandemia COVID-19 emergente".

O artigo sugere que os ingredientes ativos, sobretudo a timoquinona, α-hederina e nigelidina, podem ser considerados como um tratamento fitoterápico alternativo no combate ao COVID-19. O artigo analisa as diversas formas em que os ingredientes ativos do óleo de semente preta podem ser considerados benéficos para a saúde.

Por exemplo, os pesquisadores revisaram estudos anteriores, que demonstraram as ações dos ingredientes ativos no óleo de semente preta sobre o sistema imunológico, podendo ajudar na redução da gravidade do COVID-19. Os compostos ativos possuem um efeito anti-histamínico significativo observado em estudos realizados em animais, já a timoquinona desregula a ativação do fator regulador do interferon 3, desempenhando um papel importante nas respostas imunes inatas.

A autofagia é um mecanismo responsável pela regeneração das células danificadas do organismo. Os dados mostraram que COVID-19 atrapalha a autofagia e que os agentes farmacológicos utilizados ​​para induzir tal processo, podem ter um efeito antiviral. Um estudo de 2018, indicou que a timoquinona promove autofagia no músculo cardíaco.

Pesquisadores sugerem que devem ser realizados estudos adicionais para determinar se a timoquinona possui um efeito semelhante no COVID-19. O caso de COVID-19 grave é caracterizado por excesso de citocinas que podem exigir cuidados intensivos. Estudos feitos em animais, demonstraram que o composto bioativo α-hederina possui atividade anti-inflamatória, podendo diminuir também os níveis de histamina.

Pesquisadores relataram com base em um estudo, que a timoquinona ajudou a inibir duas enzimas que produzem leucotrieno inflamatório e prostaglandinas. Os pesquisadores sugerem que tais ações podem potencialmente tornar os compostos ativos em N. sativa útil no tratamento e prevenção de infecções virais SARS-CoV-2.

Por fim, em sua revisão das comorbidades associadas ao COVID-19, os pesquisadores descobriram que N. sativa pode ter um efeito positivo contra diabetes, hipertensão, doenças cardíacas, doenças autoimunes, autoinflamatórias e infecções bacterianas associadas ao COVID-19.

Após feita uma revisão, os pesquisadores sugerem que mais experimentos com os compostos ativos encontrados no óleo de semente preta são necessários, para poder ser determinado se eles possuem de fato um potencial preventivo ou podem fornecer uma nova modalidade de tratamento.

Combinações de zinco ajudam no tratamento de COVID-19

Pesquisas a respeito de medicamentos que podem influenciar COVID-19 incluíram antivirais. Um desses antivirais em estudo é o favipiravir. Dados mostram que o medicamento foi aprovado e tem sido utilizado para infecções de gripe no Japão. No final de 2020, um estudo publicado no PNAS revelou que, quando administrado em doses altas em animais (hamster), o favipiravir tinha uma atividade antiviral promissora contra o SARS-CoV-2.

No entanto, um estudo de docking molecular (docagem molecular) publicado na Biological and Medicinal Chemistry, revelou que os compostos bioativos nigelidina e α-hederina encontrados no óleo de semente preta conseguiram inibir o SARS-CoV-2 com um potencial maior do que favipiravir, cloroquina e hidroxicloroquina.

A evidência de um segundo artigo que revisou os efeitos biológicos dos compostos ativos no óleo de semente preta, sugeriu que a timoquinona pode bloquear os receptores ACE2, sendo onde o SARS-CoV-2 se liga à célula e libera o RNA viral no citoplasma.

Ao contrário do que o estudo realizado em animais (hamster) PNAS descobriu, esses pesquisadores levantaram a hipótese de que a cloroquina, e seu derivado hidroxicloroquina, também pode interferir na capacidade do vírus de se ligar aos receptores ACE2.

Esse é um caminho que os pesquisadores sugerem que o óleo de semente preta pode ser usado no tratamento de COVID-19. Outro modo é através do ionóforo de zinco. O organismo utiliza o zinco de diversos modos para beneficiar o sistema imunológico, sendo eles:

  • Proliferação e ativação de células NK (Natural Killer), macrófagos, neutrófilos, além de células T e B
  • Mediando a proteção contra espécies reativas de oxigênio produzidas durante uma resposta inflamatória
  • Impedindo a atividade de RNA polimerase dependente do RNA recombinante necessária para replicar SARS-CoV-2
  • Inibindo o processamento da Replicase de RNA

Portanto, mover o zinco para o citoplasma é fundamental para ajudar na prevenção da replicação do vírus SARS-CoV-2 e, assim, impedir de maneira efetiva que as células infectadas possam infectar também outras celulas.

A suplementação feita por zinco por si só não é 100% eficaz, visto que o zinco não pode se mover de maneira fácil através da parede celular. Ele precisa de outro composto para fornecer o transporte. O segundo composto é denominado ionóforo de zinco. A aplicação de zinco com um ionóforo demonstrou melhores resultados em pacientes hospitalizados por COVID.

A pesquisa identificou vários ionóforos de zinco, incluindo cloroquina, hidroxicloroquina, quercetina e EGCG. Os cientistas sugeriram que vários dos terpenos no óleo de semente preta, como a nigelimina, são semelhantes em estrutura à cloroquina. Eles trazem a probabilidade de que isso pode significar que eles podem funcionar como se fosse um ionóforo de zinco.

Assim, dados recentes mostraram que os ingredientes ativos encontrados no óleo de semente preta podem ter maior potencial no tratamento de COVID-19 do que os medicamentos antivirais, podem atuar como um ionóforo de zinco e ajudar a bloquear os receptores ACE2 que o vírus utiliza para infectar as células.

O óleo de semente preta tem usos medicinais tradicionais

N. sativa é um medicamento popular e tradicional, tendo uma longa história de uso em diversos tipos de doenças e enfermidades. A medicina tradicional utiliza o óleo de semente preta como diurético, antidiarreico, estimulante do apetite, analgésico, redução da pressão arterial, tônico hepático e no tratamento de doenças de pele. Porém, a pesquisa também explorou a atividade farmacológica do óleo de semente preta e descobriu que ele possui muitas propriedades, incluindo:

Antidiabético

Anticancerígena

Imunomodulador

Analgésica

Antimicrobiana

Anti-inflamatória

Antiespasmódico (previne a ocorrência de espamos)

Broncodilatador

Hepatoprotetor

Protetor renal

Gastroprotetor

Antioxidante

As atividades imunomoduladoras do óleo de semente preta ajudam a regular o sistema imunológico, sendo talvez outra maneira de tratamento para COVID-19. Além dos estudos realizados com óleo de semente preta, os pesquisadores também separaram os ingredientes bioativos e avaliaram seu benefício potencial contra a SARS-CoV-2.

Uma revisão de dados sobre a timoquinona foi publicada em fevereiro de 2021, em que os pesquisadores revisaram a bioatividade do composto encontrado em pesquisas anteriores. Eles escreveram que a timoquinona aumentou a atividade e o número de células NK, macrófagos, linfócitos e supressores de citocinas.

Além disso, eles citam pesquisas anteriores, que mostraram que o ingrediente ativo tinha potencial antiviral contra diversos outros problemas, como: vírus da imunodeficiência humana, coronavírus, vírus de Epstein-Barr, citomegalovírus e hepatite C. Além disso, eles revisaram um estudo egípcio, onde a timoquinona demonstrou atividade antiviral em uma cepa de SARS-CoV-2 isolada em pacientes e o efeito inibitório que a mesma possui sobre a protease viral, que pode reduzir a replicação viral.

Um estudo da Arábia Saudita avaliou a eficácia do óleo de semente preta como suplemento em pacientes com COVID-19 leve, com cerca de 18 a 65 anos. O grupo de intervenção consumiu 500 mg de cápsulas moles de gel duas vezes ao dia, durante 10 dias, além de seu tratamento padrão.

Os resultados iniciais foram publicados em ensaios clínicos. A medição do desfecho primário foi a porcentagem dos participantes que apresentaram recuperação clínica durante 14 dias após o início do tratamento. A equipe constatou que 62,1% dos participantes que receberam o óleo de semente preta demonstraram recuperação do COVID-19 leve, enquanto 36% do grupo de controle se recuperaram em 14 dias.

Considere utilizar o óleo a curto prazo em benefício à saúde

A Front Line COVID-19 Critical Care Alliance (FLCCC), lista o óleo de semente preta como uma alternativa para prevenção e tratamento de COVID-19. Eles enfatizam que ainda não existe uma "um caminho fácil" no tratamento de COVID-19:

“… Vários agentes terapêuticos têm se mostrado promissores na prevenção e no tratamento dessa doença, incluindo: ivermectina, vitamina D, quercetina, melatonina, fluvoxamina, corticosteróides, curcumina (açafrão), Nigella sativa e terapia antiandrogênica.”

A equipe recomenda consumir N. sativa com mel, pois ambos possuem efeitos antimicrobianos, antivirais, imunomoduladores e anti-inflamatórios com perfis de segurança comprovados. Eles listam N. sativa e mel no protocolo de prevenção de crianças, adolescentes e como alternativa no tratamento precoce feito em casa.

Embora o uso de óleo de semente preta a curto prazo possa ser eficaz no tratamento de COVID-19, seu uso a longo prazo para prevenção causar outros efeitos indesejáveis. Um estudo sobre composição química do óleo de semente preta, mostra que a maioria dos ácidos graxos são originados do ácido linoleico, uma gordura poli-insaturada ômega-6 (PUFA).

Como discuti em uma entrevista com Tucker Goodrich, o ácido linoléico (LA) talvez seja o principal fator de quase todas as doenças crônicas observadas no último século.

Embora seja considerado uma gordura essencial, ele funciona como um veneno para o metabolismo se consumido em excesso. Talvez você esteja obtendo uma quantidade excessiva dessa gordura, que pode ser de fato perigosa, de alimentos que possa ser considerado saudáveis. Como, por exemplo, azeite de oliva e frango, que contém grãos ricos em LA, aumentam seus níveis de ácidos graxos ômega-6.

Muitas pessoas estão cientes que a proporção de ômega-3 para ômega-6 é relevante e deve ser quase igual. Porém, não é tão simples quanto elevar os ácidos graxos ômega-3. Você precisa minimizar seus níveis de gordura ômega-6. Um relatório convincente feito na revista Gastroenterology, trouxe uma explicação lógica do pôr que alguns pacientes com COVID-19 desenvolvem falência de órgãos, podendo acarretar um risco de vida.

Dados indicam que as taxas de mortalidade parecem ser fortemente influenciadas pela quantidade de gorduras insaturadas que você consome, como o LA. Até os dias atuais, não existem estudos clínicos a respeito do tratamento que acreditam que possa ajudar na redução da taxa de falência de órgãos e admissões à UCI, sobretudo a administração de cálcio e clara de ovo. Parece que esses compostos podem ligar as gorduras insaturadas e reduzir danos aos órgãos vitais.

Reduza a ingestão de ômega-6 com cuidado

Por sorte, você pode analisar seu alimento para LA direto da sua própria casa. Tudo o que você precisa fazer é inserir com precisão sua ingestão de alimentos no Cronometer (um rastreador nutricional online e gratuito) e ele fornecerá a você sua ingestão total de LA. O jeito correto de fazer isso, é pesando com cuidado seu alimento utilizando uma balança digital de cozinha, para poder inserir o peso do mesmo com unidade de grama.

O Cronometer.com pode ser utilizado de modo gratuito como uma versão para desktop. Caso sinta necessidade de utilizar o celular (o que não é recomendado), será preciso adquirir uma assinatura. Eu, por exemplo, venho utilizando a versão para desktop nos últimos cinco anos, pois ela possui maior funcionalidade, permitindo evitar campos eletromagnéticos do meu telefone.

De certo modo é melhor inserir o alimento antes de consumi-lo. O motivo para isso é simples: é impossível eliminar os alimentos depois de já consumi-los, porém você pode eliminá-los de maneira fácil do seu menu, caso encontre algo que o leve além do limite ideal.

Após inserir o alimento do dia, vá para a seção "Lipídios" no canto inferior esquerdo. Para descobrir a quantidade de LA presente na sua dieta naquele determinado dia, você só precisa verificar quantos gramas de ômega-6 contém, já que cerca de 90% do ômega-6 que você consome é LA.

Portanto, é visto que o uso crônico de óleo de semente preta para prevenção contra COVID-19 de certo modo aumentará o risco de outras doenças crônicas, o que pode acarretar doenças graves. Se você estiver interessado em usar o óleo de semente preta, considere os extratos dos ingredientes bioativos e não o óleo em si.

Se você estiver interessado em usar o óleo de semente preta, considere os extratos dos ingredientes bioativos e não o óleo ao todo. A quercetina também tem propriedades antivirais, além de ser um ionóforo de zinco. Embora seja seguro consumir durante cerca de duas semanas quando estiver doente, é importante que se tenha cuidado com os suplementos de zinco, pois você pode compensar seu equilíbrio de zinco / cobre e afetar de maneira negativa seu sistema imunológico.