Por Dr. Mercola
Peter Sullivan, mestre em ciência da computação com ênfase em interação humano-computador, é o fundador da Clear Light Ventures, uma organização dedicada a aumentar a conscientização sobre os efeitos da exposição a campos eletromagnéticos (CEM ou, do inglês, EMF – EletroMagnetic Fields) na saúde.
Antes de fundar a Clear Light Ventures, em 2007, ele trabalhou para diversas empresas do Vale do Silício, incluindo a Netflix, onde sua carreira ascendeu de solucionador de problemas em suporte ao cliente para desenvolvedor de software.
“Minha paixão em meados dos anos 90... era tecnologia pessoal... eu tinha todos os aparelhos eletrônicos”, diz Sullivan. “Eu já até tinha um pouco de tecnologia wearable em meados dos anos 90… Eu estava escrevendo artigos sobre isso em Stanford. Eu estava exposto a isto mais cedo do que a maioria das pessoas.
Além disso… quando eu estava trabalhando na Interwoven, eu estava próximo a uma base militar… a Estação da Força Aérea de Onizuka. Acontece que havia um radar espacial sob este cubo azul. Eu estava ficando realmente mal devido ao radar espacial... Eu estava fazendo tudo certo em termos de saúde. Eu estava comendo bem. Eu estava exercitando. No entanto, minha saúde continuava piorando.
Eu continuei tendo problemas de fadiga, etc. Eu diria que a exposição que as pessoas estão recebendo agora, eu estava recebendo, provavelmente, cerca de 10 anos atrás. Levei muito tempo para descobrir... Estamos todos cometendo esse erro e fazendo suposições...
Eu disse: “Eu preciso ser objetivo. Eu não quero ser aquela pessoa que não olha para si mesmo.” Comecei a incluir os CEM nos fatores ambientais e de saúde que eu estava observando... Eu fiz isso porque comecei a sentir as coisas. Meu cérebro estava me dizendo: “Tudo isso é ótimo. É muito legal”, enquanto meu corpo dizia: "Não estou gostando disso…”
Eu estava ouvindo um zunido de microondas... Se você chegou neste ponto em que a luz piscando está te irritando ou se o barulho está começando a se tornar um problema, você não gosta do barulho do ventilador e esses tipos de coisas... você provavelmente está entrando neste reino, especialmente se você está tendo problemas de sono.”
Buscando a raiz dos problemas
Em 2009, ele se empenhou bastante para avaliar todas as suas exposições, incluindo exposições a toxinas, luz, ruído, qualidade do ar e assim por diante. No final, ele descobriu que a exposição elétrica, de longe, era o principal fator. Ele também descobriu que as maiores cargas em seu sistema imunológico estavam na sua boca. Ele tinha obturações de mercúrio, um canal radicular e cavitações.
Quando esses problemas dentários foram abordados, sua sensibilidade aos CEMs melhorou. “Não sinto mais dor [devido à exposição a campos eletromagnéticos]”, diz ele, mas ainda pode sentir que um ambiente com CEMs muito fortes não é ideal. Em sua pior fase, entre 2009 e 2013, ele sentia os efeitos simplesmente passando de carro dirigindo próximo a uma torre de celular. “Eu sinto algo na minha cabeça”, diz ele.
A ajuda chegou na forma do biólogo da construção Alex Stadtner, que fundou a Healthy Building Science Inc. Sullivan começou a trabalhar com ele em 2009, aprendendo sobre campos magnéticos, campos elétricos e radiação. Outro professor importante foi o Dr. Sam Milham, que escreveu o livro “Dirty Electricity”.
Os quatro principais tipos de CEM
Existem quatro tipos principais de CEM aos quis estamos expostos:
- Campos elétricos CA a 60 Hz (o componente “E” de CEM) da fiação e aparelhos eletrodomésticos (especialmente os não aterrados; cabos que têm apenas dois pinos em vez de três)
- Campos magnéticos CA a 60 Hz (o componente “M” de CEM) de linhas de energia, problemas na fiação da casa, corrente nos caminhos de aterramento e de motores e transformadores (“fontes pontuais”)
- Frequências de rádio (RF) de telefones celulares, medidores inteligentes, Wi-Fi e Bluetooth em praticamente tudo hoje em dia
- “Eletricidade suja” de picos de tensão transitórios de 2 a 100 KHz
Embora você possa avaliar todos eles, não há um medidor único que considere todos esses CEMs. Para uma avaliação mais abrangente da sua exposição, você precisará de mais de uma métrica.
Para entender cada um deles um pouco melhor, você pode pensar em um campo magnético como linhas de campo geradas por um eletroímã. Esses campos passam direto pelo seu corpo. Já um campo elétrico pode ser pensado como um feixe de luz invisível, onde os elétrons se movem para tentar se aterrar.
“Muitas coisas emitem esses campos, como um abajur ao lado da sua cama, mesmo quando não está ligado. Você pode pensar nele como elétrons vazando da linha de energia”, diz ele. A radiação sem fio pode ser considerada como luz em uma frequência menor do que a que você pode ver, pulsando muito rapidamente. Se você pudesse enxergá-la, a veria piscando. Por fim, a eletricidade suja pode ser considerada como poluição de todos os outros campos.
Fontes comuns de CEM e o que você pode fazer a respeito
Na experiência de Sullivan, livrar-se de campos magnéticos como transformadores e caixas de energia e limpar a eletricidade suja tem sido muito útil. Sua geladeira é outra fonte comum de campos magnéticos. Sua opção, neste caso, é desligar o eletrodoméstico ou deixá-lo mais afastado. A cada duplicação da distância, você reduz sua exposição em cerca de 75%, diz Sullivan, e isso também vale para campos elétricos e de radiofrequência.
Assim como eu, ele recomenda se concentrar em limpar seu quarto para ter certeza que você dorme bem. De fato, um dos sintomas mais comuns da exposição excessiva a CEMs são os distúrbios do sono. “Eu gosto de garantir que as pessoas criem espaços para si mesmas – uma espécie de zona livre de eletrônicos – em torno de suas camas”, diz ele.
Uma das fontes mais comuns de campos magnéticos em um quarto seria um rádio-relógio com LED (light-emitting diode). Se você tiver um desses, mova-o para o outro extremo da sala, ou melhor ainda, use um relógio alimentado por bateria. Eu uso um relógio falante, projetado para cegos, para evitar que a luz interfira na minha produção de melatonina.
Em todo caso, evite usar o celular como despertador. Você deve evitar ter seu celular por perto enquanto dorme, a não ser que ele esteja desligado ou no modo avião.
Quanto aos campos elétricos, a fonte mais comum são os abajures ou lâmpada de cabeceira. “Mesmo quando não estão ligadas, pode estar vazando delas um grande campo elétrico”, alerta Sullivan. A fiação na parede e uma caixa de disjuntores do lado oposto da parede também são fontes comuns de campos elétricos.
Hoje, muitas casas também são equipadas com um medidor inteligente que, se posicionado do lado oposto da parede, pode ser um problema significativo. Nesses casos, você precisa mover sua cama ou mudar o cômodo de dormir.
Autismo e CEMs
Sullivan tem sido particularmente apaixonado por ajudar a comunidade autista a entender o impacto dos CEM, já que dois de seus próprios filhos se encontram levemente no espectro autista. Segundo ele, dois principais culpados pelo aumento das taxas de autismo são o glifosato e a exposição a CEM.
“Tratamos [nossos filhos] biologicamente. Eu tive um ótimo médico nessa área. Nós começamos a olhar para toxinas e metais tóxicos... [Os CEM] foram uma das últimas conclusões que eu cheguei. Quero que os pais percebam isso:” Não se fixe em uma única coisa. Não se fixe apenas nos CEM.
Eu quero que você olhe amplamente para todos esses fatores que estão impactando a saúde, que estão aumentando as taxas de autismo, problemas de desenvolvimento infantil e problemas crônicos de saúde em geral… Há muita fixação agora nos ingredientes das vacinas… mas as pessoas não estão olhando os 80.000 produtos químicos comerciados, poluição, CEMs e até mesmo questões de estilo de vida, como obter uma quantidade certa de sol e outros fatores.
Estamos tentando fazer com que as pessoas percebam que não é uma coisa só... É [sobre] a carga total... Nossos corpos são tão resistentes que, quando você vê um sintoma, na verdade já teve várias coisas que falharam... Precisamos nos concentrar na contaminação… mofo, toxinas químicas, alguns dos procedimentos dentários de que falamos, e alergias alimentares. Há muita coisa acontecendo.
Eu acho que os dois fatores dos quais existe mais suspeita sobre este aumento seriam a tecnologia sem fio e glifosato... Já temos campos magnéticos e campos elétricos há cerca de 100 anos. Por que não temos autismo? O que mudou em meados dos anos 80 foi que mudamos para a telecomunicação celular digital.
Nós abandonamos os sinais analógicos, mais suaves, que as nossas células estavam acostumadas a lidar, para essas ondas digitais quadradas pulsadas que podem afetar os canais de cálcio e os receptores vibracionais no exterior da célula. Também mudamos para fontes de alimentação que passaram de AC para DC... chamadas de fontes de alimentação comutadas. Eles cortam a energia de um modo que cria pequenas correntes transitórias... Isso é basicamente eletricidade suja.
Em vez de ter uma onda senoidal contínua e suave, você recebe vários picos. E eles são biologicamente ativos. Eles são pequenos de uma perspectiva de potência... acho que esse é realmente o fator-chave...
Um celular no bolso é um grande fator de risco para danos ao esperma, incluindo danos no DNA. Existem cerca de 30 ou 40 estudos sobre isso… no autismo, parte do problema são mutações, que são não herdadas. Este é um gene que não estava no pai ou na mãe, e agora surge na criança. Estamos procurando por um desses fatores que possam causar novas mutações.
Um dos suspeitos, obviamente, é o celular no seu bolso. Principalmente do lado do pai. Assim, os pais precisam começar a assumir alguma responsabilidade pré-natal, ou pré-gravidez, para garantir que seus espermatozoides não sejam danificados ou sofram mutações. Isso é importante.
Exigindo tecnologias mais seguras
Infelizmente, com a introdução e implementação do 5G, a exposição aumentará exponencialmente em toda parte, incluindo na sua casa. Muitas pessoas acabarão com transmissores em um poste de eletricidade praticamente na porta de casa. Eventualmente, a exposição extrema será inevitável. A questão então se torna, podemos tornar a tecnologia mais segura?
Existem soluções práticas? Sullivan diz que sim, nós podemos e sim, existem.
“Você não pode lutar contra essas grandes indústrias. [Em vez disso], concentre-se no que você quer”, diz Sullivan. “O ideal não seria se essas coisas fossem realmente tão seguras quanto supúnhamos?
O primeiro passo é começar a evitá-los, especialmente à noite. Mas o passo 2 é… a tecnologia segura tem que se tornar uma exigência do mercado. Tem que ser algo que nós exigimos, especialmente em escolas e outros ambientes onde não podemos controlar [a exposição]. Temos que começar a pedir uma exposição reduzida.
Há um produto no mercado agora chamado Eco-WiFi. É um Wi-Fi especial em que o firmware foi adaptado para reduzir a frequência de beacon, que é a que fica dizendo: “Estou aqui. Estou aqui. Eu estou aqui.” e faz isso cerca de 10 vezes por segundo. Essa frequência pode ser reduzida.
para uma vez por segundo. Isso não diminui a velocidade do Wi-Fi. Apenas deixa o tempo para estabelecer a conexão com a rede um pouco mais demorado, de forma quase imperceptível. A radiação pode ser reduzida em 90% sinalizando uma vez por segundo, ou até duas ou três vezes por segundo.
Isso é uma coisa fácil de fazer. Acabei de descobrir também que há uma empresa, a Aruba, que se não me engano é uma empresa da Hewlett Packard (HP), que possui um ajuste para seu sistema de beaconing…
Podemos adotar certas atitudes por nossa conta para começar a reduzir as exposições, mas também gostaríamos de ter coisas que liguem e desliguem automaticamente, igual a tela do computador que apaga quando ele fica inativo para economizar energia. É necessário que existam protocolos e sinais para começar a reduzir essas frequências de beacon que vão e voltam.”