Por Dr. Mercola
Ivor Cummins é um engenheiro bioquímico com experiência em engenharia de dispositivos médicos e já liderou equipes na busca por complexas soluções de problemas. Em seu site, TheFatEmperor.com, ele oferece orientações sobre como usar a ciência para transformar sua saúde.
Seu pai, que faleceu por conta de uma doença cardíaca, também enfrentou uma demência vascular por cerca de 15 anos. No total, Cummins acredita que seu pai perdeu cerca de 20 anos de vida saudável, que poderiam ter sido conservados caso ele tivesse acesso a mais informações.
De acordo com as estatísticas apresentadas por Cummins, cerca de 30% das pessoas viviam mais de 70 anos em 1925. Desde então, nossa expectativa de vida melhorou. Nos dias de hoje, uma porcentagem bem maior de pessoas vive bem aos 80 e 90, em comparação com 1925.
No entanto, Cummins acredita que, com modificações apropriadas na nutrição e no estilo de vida, poderíamos viver bem mais do que 100 anos e, o que é mais importante, permanecer saudáveis por muito mais tempo do que acontece hoje em dia.
Como Cummins aponta, não adianta viver mais e passar todo esse tempo doente, incapaz de aproveitar a vida. Para ele, o processo de aterosclerose é o principal obstáculo para o prolongamento da nossa saúde. O enrijecimento das artérias é a causa número um de doenças cardíacas.
Ao fazer certas mudanças no estilo de vida, você pode impedir ou pelo menos estabilizar a progressão da doença, evitando assim os ataques cardíacos.
Compreendendo o índice CAC
Segundo observado pelo American College of Cardiology, a tomografia computadorizada do abdome "é a forma de estimar o risco de alguém desenvolver doenças cardíacas ou sofrer um ataque ou derrame". O motivo para isso é que os depósitos de cálcio nas artérias sinalizam o acúmulo de placa, que enrijece e estreita as artérias com o passar do tempo.
Quanto mais espessas as artérias, mais alto é o índice CAC. Cummins cita pesquisas que demonstram que ter um índice CAC zero na meia idade significa que você tem um risco muito baixo (1,4%) de ataque cardíaco na década seguinte.
Uma pontuação entre 1 e 100 aumenta seu risco para 4,1%, 101 a 400 sobe o risco para 15%, enquanto uma pontuação alta entre 400 e 1.000 coloca seu risco em 26%. Acima de 1.000, o risco de ataque cardíaco nos próximos 10 anos é de 37%.
Em outras palavras, embora a idade seja normalmente vista como o principal fator de risco para doenças cardíacas, o índice CAC tem precedência na identificação do risco real, transcendendo outros fatores. Assim, caso você interrompa a progressão da calcificação, isso diminuirá o risco futuro de doenças cardíacas. Quanto mais cedo isso for feito, melhor.
O que faz com que as doenças cardíacas progridam?
Para evitar a progressão aterosclerótica, é preciso saber quais são os fatores determinantes dessa condição. Cummins comparou dados de calcificação entre homens brancos ocidentais e indígenas.
As diferenças são incríveis. Os índios Tsimane, até mesmo os de idade mais avançada, praticamente não exibiram qualquer calcificação. Apesar disso, seus corpos tinham a mesma contagem de partículas de proteína de baixa densidade LDL (um fator de risco bem documentado de doenças cardíacas e foco da palestra da Cummins) que os homens brancos.
Que tipo de diferenças no estilo de vida podem explicar essas discrepâncias? Segundo Cummins, os homens dessa tribo indígena têm:
- Uma dieta natural, sem alimentos processados, com boas proporções entre ômega-3 e ômega-6
- Baixos níveis de glicose e insulina
- Ausência de diabetes, síndrome metabólica ou síndrome de hiperinsulinemia
- Nenhum caso de hipertensão
- Nenhum caso de obesidade centralizada
Estratégias para cuidar do coração
Caso você queira proteger seu coração e levar uma vida saudável até a aposentadoria, Cummins define os fatores abaixo como os mais importantes. Como você pode ver a seguir (ou em sua palestra), todos os fatores levam à aterosclerose. Para evitar doenças cardíacas, você deve:
Evitar picos de glicose e resistência à insulina |
Evitar agentes inflamatórios |
Manter uma pressão saudável |
Limitar o estresse oxidativo |
Tratar deficiências de minerais e vitaminas |
Evitar o excesso de ferro |
Evitar a exposição a metais pesados e tratar qualquer intoxicação por metais pesados |
Tratar problemas autoimunes |
Evitar e tratar infecções |
Parar de fumar |
Fatores que influenciam os efeitos do LDL
Cummins apresenta um modelo baseado na trajetória de queda de um avião. Há vários sistemas de defesa e, para que uma queda ocorra, uma falha deve aparecer em cada camada externa do sistema. Isso também pode ser aplicado às doenças cardíacas. Para que ocorra um ataque cardíaco, frequentemente são necessários vários fatores.
Talvez você já conheça a teoria de que níveis altos de partículas LDL podem ser um grande fator de risco de doenças cardíacas. Cummins alerta que, caso alguma mudança na dieta faça seus níveis de LDL subirem muito rapidamente, é melhor investigar. Para avaliar se a alta contagem de partículas LDL é realmente um problema, é preciso levar em conta os seguintes fatores:
• LDL oxidado na corrente sanguínea — De acordo com Cummins, pesquisas recentes demonstram que o dano ao LDL no sangue gera LDL oxidado. O LDL oxidado entra na parede arterial através do receptor LOX-1, contribuindo assim para o processo aterosclerótico.
Porém, o LDL intacto "parece não participar do processo de maneira significativa", diz Cummins. Portanto, mesmo que você tenha um LDL particularmente alto, ainda é preciso saber se ele está oxidado ou não. A lista acima (de estratégias que protegem coração) envolve processos que evitam a oxidação do LDL.
• Glicocálice danificado — Os glicocálices são pequenas saliências parecidas com pelos no interior da artéria, que atuam como uma peneira para o LDL. Eles regulam muitos componentes que determinam quais partículas terão permissão de atravessar a parede da artéria.
O artigo "Hypothesis: Arterial Glycocalyx Dysfunction Is the First Step in the Atherothrombotic Process" detalha o papel do glicocálice. De acordo com Cummins, os cientistas identificaram os seguintes fatores como prejudiciais ao glicocálice, que também correspondem à lista de estratégias de prevenção de doenças cardíacas acima:
Dietas ricas em açúcar e alimentos processados |
Pressão alta |
Estresse oxidativo |
LDL oxidado (não o LDL intacto) |
Tabagismo |
Morfologia arterial |
• Endotélio danificado — O endotélio é uma camada unicelular no interior da artéria que lida com o os LDL danificados que atravessa a parede arterial. (Em sua palestra, Cummins explica as duas maneiras pelas quais o LDL pode entrar na parede arterial).
Há alguns fatores que danificam o endotélio, permitindo que o LDL danificado o atravesse. Novamente, a maioria dos itens da lista de coisas a evitar para proteger seu coração também pode causar danos ao endotélio:
Proteína C-reativa |
LDL oxidado |
Indução oxidante |
Espécies reativas de oxigênio |
Entrada de lipopolissacarídeos por infecções e síndrome do intestino permeável, que causa uma reação imune |
Fator de necrose tumoral |
Angiotensina II |
Interleucina-I 7 |
• Reatividade proteoglicana — Os proteoglicanos são estruturas semelhantes a pelos que ficam no interior da parede arterial e podem prender as partículas de LDL, causando sua oxidação. O que faz com que as partículas LDL fiquem presas?
Segundo Cummins, pesquisas demonstram que o fator principal não é o tamanho da partícula de LDL. Pessoas que tiveram ataques cardíacos, que sofrem de diabetes tipo 2 e apresentam resistência à insulina têm mais reatividade proteoglicana, e Cummins acredita que sua lista (acima) cobre a maior parte dos problemas que esses grupos enfrentam.
• Efluxo de lipoproteínas de alta densidade (HDL) danificado — Normalmente, o HDL é visto como um fator protetor, mas isso não é inteiramente verdade. Conforme explicado por Cummins, o HDL ajuda a remover o colesterol da parede arterial.
Desde que o HDL possa dar conta do colesterol recebido, impede-se o acúmulo. O problema é quando o HDL é insuficiente para cumprir essa tarefa. A importância e o impacto do HDL são detalhados no artigo "HDL Cholesterol Efflux Capacity and Incident Cardiovascular Events".
Os pesquisadores mediram não apenas o nível de HDL, mas também sua funcionalidade real nos participantes da pesquisa. Pessoas com um HDL altamente funcional exibiram um risco muito menor de doenças cardíacas. "Esta é a verdadeira história do HDL", diz Cummins. Então, como a funcionalidade do HDL acaba sendo reduzida? Bom, isso acontece quando uma pessoa não aborda os itens da lista de Cummins.
A dieta cetogênica é parte da solução
Em suma, os fatores de risco que Cummins lista (altos níveis de glicose e insulina, inflamação, pressão alta, estresse oxidativo etc.) danificam suas artérias, permitindo que o LDL cause doenças cardíacas. No entanto, no último meio século, a comunidade médica focou quase exclusivamente no colesterol, ignorando as causas principais.
Infelizmente, como apontado por Cummins, a mídia tem sido cúmplice na criação de notícias e informações falsas sobre as mudanças de estilo de vida que podem tratar com eficácia essas causas, como a cetose nutricional. O incidente que ficou conhecido como "keto crotch", que foi orquestrado para afugentar as pessoas da dieta cetogênica.
Para prolongar sua vida saudável (não apenas a vida em si), Cummins ressalta que é preciso tratar as causas principais tão cedo quanto possível.
A dieta cetogênica cíclica pode ajudar a resolver grande parte desses problemas, aliviando inflamações, normalizando a glicose, a insulina e a pressão. Além de fazer uma dieta low-carb, Cummins também recomenda:
- Eliminar óleos vegetais industrializados e alimentos processados da sua alimentação.
- Consumir peixes com baixo teor de mercúrio e otimizar seu ômega-3.
- Consumir alimentos integrais, incluindo ovos, manteiga e outras gorduras saudáveis.
- Exposição solar regular (tome cuidado com queimaduras de pele).
Recomendações de diagnóstico
Em suma, Cummins recomenda exames laboratoriais regulares. Caso seu médico diga que seu risco de doenças cardíacas é baixo, é possível que você não precise de um exame CAC.
Caso os exames laboratoriais indiquem um risco alto, é preciso diminui-lo imediatamente. O exame CAC é o melhor para pessoas com riscos medianos, que querem se prevenir para o futuro.
Caso seu índice CAC esteja baixo, ter um estilo de vida saudável e refazer o exame a cada cinco ou sete anos pode ajudá-lo a manter-se saudável. Níveis medianos indicam que você precisa fazer mudanças no seu estilo de vida para diminuir o risco de doenças cardíacas. Caso você ainda não tenha implementado essas estratégias de prevenção, esse é o momento.
Caso seus níveis estejam altos, Cummins recomenda que você faça exames de sangue mais especializados como A1C, GGT, ferritina, homocisteína e outros para identificar onde está o problema.
Nesse caso, após dois anos, você pode refazer o teste para ter uma ideia da sua situação e saber se as mudanças surtiram efeito. Se não for o caso, você precisará descobrir o que está fazendo de errado e o que mais pode tentar.
Níveis altos deixam muito pouco espaço para cometer erros. É importante implementar o máximo possível de estratégias e mudanças no estilo de vida, atendo-se a elas.
Lembre-se de que nosso corpo pode curar-se de uma maneira incrível. Como Cummins aponta, hoje em dia, nós sabemos muito sobre o que é necessário para ter uma boa saúde, principalmente se compararmos nosso conhecimento de hoje com o que tínhamos décadas atrás. A chave é implementar esse conhecimento.