Por Dr. Mercola
Nós estamos lidando com uma epidemia mundial de diabetes. Estima-se que 30,3 milhões de pessoas, quase 1 em cada 10, têm diabetes tipo 2. Outros 84 milhões de adultos, cerca de 1 em cada 3, são pré-diabéticos, e a maioria sequer sabe disso. A pré-diabetes é definida como uma elevação da glicose no sangue acima de 100 miligramas por decilitro (mg/dl), mas inferior a 125 mg/dl, momento no qual ocorre o Diabetes tipo 2.
Porém, níveis de açúcar acima de 90 mg/dl em jejum sugere uma resistência à insulina, e o trabalho do falecido Dr. Joseph Kraft, autor de "Diabetes Epidemic and You: Should Everyone Be Tested?", sugere que 80% dos americanos são, de fato, resistentes à insulina, o que significa que já estão bem próximos de ter diabetes.
Essas são péssimas notícias. A boa notícia é que o diabetes tipo 2 tem cura e essa cura não custa um tostão. Na verdade, ela ajuda a economizar dinheiro. Em seu livro, "The Diabetes Code: Prevent and Reverse Type 2 Diabetes Naturally", o Dr. Jason Fung explica em detalhes como lidar com esse problema excepcionalmente comum.
Fung é nefrologista (especialista em rins) e atuava em Toronto. Dois anos atrás, nós falamos sobre o jejum em uma entrevista, que é uma das intervenções mais poderosas contra o diabetes tipo 2 e a resistência à insulina. Fung também foi um dos especialistas que revisou meu livro, "Fat for Fuel", que integra parte de seu trabalho.
Por que identificar a resistência à insulina é tão importante?
Há dois tipos de diabetes: o tipo 1, que é tratado com insulina, e o 2, que está relacionado ao estilo de vida. O diabetes tipo 2 é responsável por 90% a 95% de todos os casos de diabetes e é o assunto da nossa discussão.
A prevalência do diabetes tipo 2 começou na década de 1980, em um momento no qual a obesidade ainda não havia se tornado uma tendência significativa. Porém, com o aumento da obesidade, aumentaram também os casos de diabetes tipo 2.
No final das contas, diabetes é apenas um sintoma. A resistência à insulina, que causa disfunção mitocondrial, também provoca câncer, doenças cardíacas, Alzheimer e outras doenças degenerativas, tudo porque seu corpo não consegue queimar gordura como combustível primário.
Quando seu corpo depende principalmente do açúcar como combustível, são geradas mais espécies reativas de oxigênio (ROS), que danificam as mitocôndrias de suas células.
Por que o jejum resolve a resistência à insulina, a causa do diabetes?
O jejum é usado há milhares de anos para nos manter saudáveis. Após entender o que é a resistência à insulina e o diabetes tipo 2, você perceberá por que abster-se de alimentos por um período de tempo pode ser uma intervenção tão poderosa.
Ao contrário das doenças infecciosas, não é possível tratar doenças metabólicas com medicamentos, pois as doenças metabólicas, como o diabetes, tem como causa o nosso estilo de vida, a começar pela alimentação. Como explicado por Fung:
"Pessoas com diabetes tipo 2 são geralmente obesas, com grandes medidas abdominais... isso acontece por conta de uma síndrome. Por estarem cheias de glicose, as células não conseguem receber mais.
É por isso que as pessoas desenvolvem resistência à insulina. A insulina tenta mover a glicose para dentro da célula, mas a célula já está cheia... Trata-se de um mecanismo de transbordamento...
É por isso que o fígado fica cheio de gordura. Nosso fígado tenta se livrar do excesso de glicose transformando-o em gordura... Assim, diabetes e resistência à insulina têm a mesma fonte: o excesso de açúcar. Essa é a conclusão.
A partir do momento em que compreendemos que o problema é o excesso de açúcar, a solução já não pode ser aplicar mais insulina em células sobrecarregadas. A chave é nos livrar de todo o açúcar. O primeiro passo é não colocar mais açúcar no seu corpo. O segundo é queimar o que já está nas suas células."
Por que os exercícios não são capazes de substituir o jejum?
Para evitar ingerir açúcar, é importante adotar uma dieta cíclica com pouco carboidrato e bastante gordura, detalhada no meu livro "Fat for Fuel". O jejum intermitente é uma ótima ferramenta para queimar o açúcar já presente no seu corpo. Exercícios não são a solução para o diabetes e não podem substituir o jejum.
Lembre-se: nenhum exercício pode compensar uma má alimentação. O motivo para isso é que nós não temos resistência à insulina apenas nos músculos, mas sim em todos os tecidos e órgãos. Para eliminar o excesso de glicose, nossas células precisam "passar fome" temporariamente.
Praticar exercícios é sempre importante, mas eles só queimam o glicogênio dos músculos. Não há nada que os exercícios possam fazer com relação à gordura do fígado. Como Fung observa, "é preciso queimar excessos de nutrientes. É por isso que, historicamente, as pessoas chamam esse processo de limpeza ou desintoxicação, pois é disso que se trata”.
Em seu trabalho, Fung usou o jejum por muitos anos e já viu seus grandes resultados em primeira mão. "Nós recebemos pessoas com casos graves de diabetes que tomam centenas de unidades de insulina por dia. Em duas ou três semanas, retiramos toda essa insulina e revertemos completamente alguns quadros de diabetes em dois meses.
Tomar insulina piora o diabetes tipo 2
Isso não quer dizer que a cura seja fácil. Jejuar pode ser difícil quando você come várias vezes por dia. Mas é uma forma natural de permitir que seu corpo se cure por si só. Enquanto isso, tomar insulina é a pior coisa que uma pessoa com diabetes tipo 2 pode fazer. Como explicado por Fung:
"O que acontece é que a insulina permite que seu corpo use toda a glicose. Quando há excesso de glicose, ela simplesmente se transforma em gordura. Assim, todos esses pacientes ganham peso. E eles voltam e dizem: "doutor, você me disse para perder peso, mas eu ganhei dez quilos depois que comecei a tomar insulina. Como isso ajuda?"
A resposta é: não ajuda. Quando você ganha peso, seu diabetes piora, fazendo com que você precise tomar mais insulina e ganhe ainda mais peso como resultado. Isso gera um ciclo perigoso que muitos médicos não se atrevem a romper, pois continuam receitando insulina.
Isso não faz sentido, já que o problema é o excesso e a resistência à insulina. Em qualquer caso de diabetes tipo 2, os níveis de insulina são muito altos."
Como começar?
Muitas pessoas evitam o jejum ao máximo. Dito isso, o jejum intermitente pode facilitar muito o processo. Antes de jejuar cinco dias seguidos tomando apenas água, eu aumentei meu jejum intermitente diariamente até ficar 20 horas por dia sem comer durante alguns meses, mas um mês já é suficiente.
Nesse ponto, passar vários dias sem comer é fácil, pois o corpo ganha flexibilidade metabólica e queima gordura como combustível principal. A maioria das pessoas fica com fome no terceiro dia, mas isso não aconteceu comigo. Fung concorda, explicando:
"Essa é a questão. Quem se alimenta primariamente de carboidratos não consegue usar bem a gordura como combustível...
Assim, durante a transição de uma alimentação à base de carboidratos para uma dieta rica em gordura, o corpo não consegue armazenar glicogênio, o que o obriga a queimar gordura como combustível (seja aquela já armazenada no corpo ou proveniente da alimentação). Para o corpo, ambos são quase a mesma coisa, apenas triglicerídios.
Até mesmo jejuns de 24 a 36 horas têm vários benefícios. Isso porque você entra em um estado no qual começa a diminuir seu glicogênio e queimar gordura.
A autofagia começa entre 24 e 30 horas. Um dos outros benefícios que as pessoas comentam hoje em dia é o aumento da capacidade biológica.
Algumas pessoas, especialmente no Vale do Silício, fazem jejum porque ele aumenta a capacidade mental. O cérebro começa a funcionar melhore com mais clareza.
Ou seja, o jejum é uma forma gratuita de aumentar seu poder cerebral. Há vários tipos de jejum e diferentes formas de facilitá-los. Mas o importante é começar de algum lugar."
Como minimizar os efeitos colaterais
Praticar jejuns gradualmente mais longos também diminui a maior parte dos efeitos colaterais associados ao jejum, por meio da transição para uma dieta rica em gorduras e com baixo teor de carboidratos, a fim de ajudar seu corpo a se ajustar ao uso da gordura como sua principal fonte de energia.
A chamada "gripe cetogênica" geralmente está relacionada à deficiência de sódio. Por isso, recomenda-se o consumo de sal não processado e de alta qualidade todos os dias. Normalmente, eu coloco sal na mão para lamber durante o dia, já que, graças ao jejum, obviamente não posso colocá-lo na comida. Isso também reduz a probabilidade de cãibras musculares noturnas.
Dores de cabeça também são comuns quando você começa a fazer jejum de água. Esse sintoma também pode ser minimizado pela ingestão de sal. Uma alternativa à ingestão direta do sal é colocá-lo na água ou em um caldo de ossos.
Outro mineral importante é o magnésio. Ele é particularmente importante para os diabéticos, já que a deficiência de magnésio é muito comum entre pessoas com diabetes tipo 2. A falta desse nutriente também pode causar cãibras musculares.
Também é importante compreender que, ao tomar apenas água por vários dias, você liberar muitas toxinas presentes nos seus estoques de gordura, portanto, use uma sauna infravermelha e aglomerantes eficientes como chlorella, pectina cítrica modificada, coentro ou mesmo carvão ativado para eliminar essas toxinas liberadas do seu corpo e impedir a sua reabsorção.
Trabalhe com um médico experiente caso esteja tomando algum medicamento
Embora o jejum seja muito eficiente para tratar o diabetes tipo 2, é preciso utilizá-lo com cautela.
Se você faz uso de medicamentos controlados, especialmente para a glicose no sangue, é melhor falar com seu médico primeiro, pois sua glicose corre o risco de ficar muito baixa. Caso não pare de usar insulina durante o jejum, você pode ter problemas graves.
Por que você não precisa ficar com medo de passar fome?
Por último, um dos grandes medos relacionados ao jejum é ficar com muita fome e perder massa magra. Em seu livo, Fung explica por que esses medos são infundados.
Sua taxa metabólica é a energia que o corpo usa para manter os órgãos funcionando. Basicamente, o corpo precisa de um certo número de calorias por dia. As pessoas tendem a achar que pular uma refeição significa diminuir a taxa metabólica.
Na verdade, o que acontece é o oposto. Em estudos que analisam a taxa metabólica basal, a taxa metabólica das pessoas é 10% maior no final de um jejum de quatro dias do que no início. Ou seja, durante o jejum, seu corpo trabalha melhor, não pior. O motivo disso são os hormônios contra-reguladores. À medida que a insulina diminui, os hormônios contra-reguladores aumentam.
Alguns deles ativam seu sistema nervoso simpático (o chamado instinto de lutar/fugir). "Então, quando você jejua, todos esses hormônios aumentam, o sistema nervoso simpático funciona a toda, a adrenalina sobe e os hormônios de crescimento aumentam", diz Fung.