O papel dos fungos no câncer

Fatos verificados
bicarbonato de sódio

Resumo da matéria -

  • Pesquisas demonstram que os fungos podem migrar do intestino para o pâncreas, onde podem contribuir para o desenvolvimento do câncer de pâncreas. Em modelos humanos e ratos de laboratório, os tumores pancreáticos contêm 3.000 vezes mais fungos do que o tecido pancreático normal
  • Os tumores pancreáticos apresentaram quantidades muito maiores de um gênero fúngico comum chamado Malassezia. O uso de um medicamento antifúngico mostrou-se eficiente em retardar o crescimento do tumor
  • Os fungos presos no pâncreas parecem acelerar o crescimento do tumor, ativando a LLM (lectina ligadora de manose), uma proteína do fígado que ativa um mecanismo imunológico envolvido no combate a infecções
  • Tumores sólidos excretam ácido, e a disseminação de células cancerígenas é estimulada pelas condições ácidas nos tecidos circundantes. O ácido é um subproduto do metabolismo da glicose, o que corrobora com uma pesquisa que mostra que o câncer se alimenta e é acelerado por uma alimentação rica em açúcar
  • Pesquisas anteriores sugerem que o bicarbonato de sódio pode ser útil para inibir as metástases do câncer. O produto também parece aumentar a eficiência de outros tratamentos contra o câncer

Por Dr. Mercola

Muitas vezes, até mesmo as teorias mais improváveis podem ser validadas cientificamente caso haja tempo suficiente. Isso é demonstrado pelas manchetes recentes que declaram que fungos e bactérias podem estar desempenhando um papel no desenvolvimento de certos tipos de câncer. Além disso, há pesquisas anteriores que mostram que o bicarbonato de sódio pode ser uma ferramenta útil no tratamento da doença.

Em 2011, o ScienceBasedMedicine.org envergonhou o Dr. Oz por me receber em seu programa. Uma das "razões" apresentadas para isso foi que eu havia publicado informações sobre uma nova hipótese, a ideia de que o câncer poderia ser causado por fungos comuns e poderia ser tratado com bicarbonato de sódio.

Dois dos primeiros defensores dessa hipótese foram Tullio Simoncini e Mark Sircus. Como era de se esperar, eles não tiveram sucesso em suas tentativas de fazer com que a comunidade médica tradicional levasse a sério a hipótese e acabaram sendo difamados e marginalizados por promover essas idéias.

Portanto, imagine minha surpresa quando, no dia 3 de outubro de 2019, o New York Times publicou um artigo intitulado "Fungos presentes no pâncreas podem causar câncer". O artigo relatou as conclusões de um estudo publicado na edição de outubro de 2019 do prestigiado periódico Nature. De acordo com o estudo:

"A disbiose bacteriana acompanha a carcinogênese em doenças malignas como o câncer de cólon e fígado. Recentemente, ela também foi associada à patogênese do adenocarcinoma ductal pancreático (ADP). No entanto, o microbioma não foi claramente associado à tumorigênese.

Aqui, mostramos que os fungos migram do lúmen intestinal para o pâncreas e que isso afeta a patogênese do ADP. Os tumores ADP em humanos e ratos de laboratório exibiram uma presença de fungos cerca de 3.000 vezes maior do que o tecido pancreático normal."

O microbioma fúngico pode ter um papel crucial no câncer de pâncreas

Mais especificamente, o microbioma (fúngico) encontrado nos tumores pancreáticos mostrou-se distintamente diferente do microbioma encontrado no intestino e em tecidos saudáveis do pâncreas.

Segundo os pesquisadores, os tumores de ADP tinham quantidades muito maiores de um gênero fúngico comum chamado Malassezia. Matar o microbioma com um medicamento antifúngico provou-se uma ação protetora, desacelerando o crescimento do tumor. Como relatado pelo Medical News Today:

"A equipe descobriu que o tratamento dos ratos de laboratório com um potente medicamento antifúngico chamado anfotericina B reduziu o peso do tumor em 20 a 40%. O tratamento também reduziu a displasia ductal, um estágio inicial do desenvolvimento do câncer de pâncreas, em 20 a 30%.

O tratamento antifúngico também aumentou o poder de combate ao câncer da gemcitabina, um medicamento quimioterápico padrão, em 15 a 25%..."

Por outro lado, o repovoamento do tumor com Malassezia acelerou seu crescimento, exceto quando foram utilizados os gêneros Candida, Saccharomyces ou Aspergillus. Isso sugere que o Malassezia é o principal culpado por trás desse tipo de câncer. Quando outros gêneros foram introduzidos, o crescimento do tumor foi muito mais lento.

"Também descobrimos que a lectina de ligação à manose (LLM), que se liga aos glicanos da parede do fungo para ativar a cascata do sistema complemento, é necessária para a progressão oncogênica, enquanto a exclusão da LLM ou C3 no compartimento extra-tumoral... tem uma ação protetora contra o crescimento do tumor", observam os autores, concluindo que:

"Coletivamente, nosso trabalho demonstra que os fungos patogênicos promovem a ADP, impulsionando a cascata do sistema complemento através da ativação da LLM".

Em suma, os fungos presos no pâncreas parecem acelerar o crescimento do tumor ativando a LLM (lectina de ligação à manose), uma proteína do fígado que desencadeia a cascata do sistema complemento, um mecanismo imunológico envolvido no combate a infecções.

O problema é que esse mecanismo também pode promover o crescimento das células após a infecção ter sido contida. Em casos nos quais a LLM foi inibida, o crescimento do tumor também foi.

É importante levar em conta o microambiente

Conforme relatado pelo New York Times, até muito recentemente, o pâncreas era considerado um órgão estéril, o que torna essas descobertas ainda mais surpreendentes. O New York Times declarou:

"Há um crescente consenso científico no sentido de que os fatores no "microambiente" de um tumor são tão importantes quanto os fatores genéticos que aceleram seu crescimento.

"Temos que deixar de focar apenas nas células tumorais para pensar em todo o ambiente no qual o tumor vive", disse o Dr. Brian Wolpin, pesquisador de câncer gastrointestinal do Instituto de Câncer Dana-Farber, em Boston.

O tecido saudável, as células imunológicas, o colágeno e outras fibras que sustentam o tumor, bem como os vasos sanguíneos que o alimentam, auxiliam ou impedem o crescimento do câncer.

Os micróbios são mais um fator nos muitos que afetam a proliferação do câncer. A população de fungos no pâncreas pode ser um bom biomarcador para o risco de câncer, além de ser um possível alvo para futuros tratamentos.

"Essa é uma grande oportunidade de intervenção e prevenção, algo que realmente não temos no câncer de pâncreas", disse Christine Iacobuzio-Donahue, pesquisadora do câncer de pâncreas do Memorial Sloan Kettering, Nova York."

O fato de essa pesquisa estar sendo levada a sério é ilustrado por sua ampla cobertura na mídia. Conforme relatado em um artigo da Nature News and Views:

"O microbioma é um fator historicamente subestimado na saúde e nas doenças humanas, mas seu papel em ambos é essencial. Organismos inofensivos chamados comensais, incluindo fungos, habitam as superfícies mucosas como os revestimentos do intestino, nariz e boca, podendo ativar processos inflamatórios como parte da reação do sistema imunológico a lesões ou infecções…

Além disso, tem se tornado cada vez mais aparente a relação entre o microbioma intestinal e os cânceres humanos, incluindo o câncer colorretal e esofágico".

O bicarbonato pode ser mais poderoso que você imagina

Em 2012, Mark "Marty" Pagel Ph.D., professor adjunto de engenharia biomédica da Universidade do Arizona, recebeu uma doação de US$ 2 milhões para descobrir se o consumo de água com bicarbonato de sódio pode ajudar no tratamento de pacientes com câncer de mama.

Curiosamente, embora o uso de bicarbonato de sódio no tratamento do câncer tenha sido considerado um dos piores tipos de charlatanismo por céticos e críticos, o Hospital do Câncer da Universidade de Arizona estuda seu uso há quase duas décadas. Conforme relatado pela publicação Cancer Active em 2017:

"...em 2003, Raghunand demonstrou como tomar bicarbonato de sódio gerou uma alcalinização da área ao redor dos tumores de câncer, resultando na cessação de novas metástases...

Pesquisas adicionais demonstraram que o bicarbonato de sódio teve um certo efeito sobre os cânceres de mama e próstata, mas os resultados foram mistos com outros tipos de câncer… 2009, Robey et al demonstrou que tomar bicarbonato de sódio fez com que novas metástases parassem. Injetar o bicarbonato diretamente nos tumores causou a regressão do câncer...

Ed: No CANCERactive, temos uma visão simples e idêntica à do pesquisador americano Ralph Moss. Esta é uma pesquisa que todo paciente com câncer deve conhecer. Caso o consumo de bicarbonato de sódio possa refrear as metástases do câncer, ele deve ser considerado parte do Programa Integrado de Tratamento do Câncer, especialmente se realmente aumentar a ação dos medicamentos quimioterápicos".

Embora a equipe de Pagel tenha publicado vários estudos desde então, incluindo um detalhando as formas pelas quais o pH extracelular pode ser avaliado em tumores in vivo, eles ainda não publicaram nada no sentido de discutir o uso do bicarbonato de sódio como um complemento e um aliado no tratamento do câncer de mama.

O bicarbonato de sódio e o tratamento do câncer

Mais recentemente, um estudo publicado em 2018 concluiu que o consumo de bicarbonato de sódio pode melhorar a eficiência dos tratamentos convencionais contra o câncer. De acordo com essas descobertas, publicadas no periódico Cell, quando os tecidos são ácidos, as células cancerígenas podem ficar inativas, permitindo que elas se escondam do tratamento. Chi Dang, o principal autor do estudo, disse ao WhyY.org:

"Muitas das terapias que temos (quimioterapia, terapia direcionada) atuam em células ativas, que estão se dividindo. Ao despertar as células de seu estado inativo para um estado ativo, elas ficam mais vulneráveis ao tratamento contra o câncer".

O mesmo estudo também descobriu que, quando o pH é baixo, ele interrompe o relógio circadiano. "Agir contra a acidificação ou inibir a produção de ácido lático resgata totalmente a oscilação circadiana", descobriram os pesquisadores. A acidificação também suprime o alvo mecanicista da sinalização do complexo 1 da rapamicina (mTORC1), o que também tem seu papel no processo. Segundo os autores:

"Restaurar a sinalização mTORC1 e a tradução que ela controla resgata a oscilação circadiana. Nossas descobertas, portanto, revelam um modelo no qual o ácido produzido durante a reação metabólica celular à hipóxia suprime o relógio circadiano através da diminuição na tradução dos seus constituintes".

O WhyY.org expõe suas conclusões:

"O que descobrimos neste estudo é que existe um mecanismo muito rápido pelo qual o baixo pH ou o próprio ácido desativa uma chave de alternância nas células. Essa chave controla a capacidade da célula de produzir proteínas", disse Dang. Em outras palavras, isso impede a divisão celular.

À medida que seus processos diminuem, as células entram em hibernação, tornando-as invisíveis aos tratamentos contra o câncer. Dang e sua equipe queriam tentar reverter esse processo com uma solução simples: neutralizar o ácido com bicarbonato de sódio.

Eles testaram sua teoria adicionando bicarbonato de sódio à água potável de ratos de laboratório enxertados com tumores. "Nós descobrimos que as áreas inicialmente ácidas perderam acidez e se tornam mais ativas", disse Dang.

"Com isso, a alternância retorna, de modo que as células que estão em repouso agora podem ser despertadas. Isso permite que a quimioterapia e outros tratamentos encontrem e destruam as células cancerígenas..."

Opções de prevenção e tratamento do câncer

Embora não se tratem de evidências contundentes, eu diria que são ao menos intrigantes. Talvez algum dia haja evidências suficientes para justificar a terapia com bicarbonato de sódio na prevenção de certos tipos de câncer ou como complemento para melhorar a eficiência de outros tratamentos contra o câncer.

Enquanto isso, há muitas outras terapias que têm base científica mais sólida:

Limitar a proteína é outra estratégia que faz muito sentido, pois o excesso de proteína ativa o mTOR, que tem um papel importante no desenvolvimento do câncer. Outras estratégias de prevenção frequentemente ignoradas incluem a exposição ao sol e luz infravermelha, que, assim como a dieta cetogênica, ajudam a estruturar a água em suas células. Isso também pode ser importante para desvendar a cura para o câncer, de acordo com o Dr. Thomas Cowan, autor do livro"Cancer and the New Biology of Water."