Por Dr. Mercola
Almofadas do sofá, carpetes, colchões, coisas de crianças, eletrodomésticos e tapetes de yoga são apenas alguns exemplos de fontes que podem expor você a compostos químicos tóxicos de retardantes de chamas, muitos dos quais foram associados a sérios riscos à saúde, como:
- Infertilidade
- Defeitos de nascimento
- Atraso no desenvolvimento neural e QI reduzido, problemas de comportamento em crianças
- Problemas hormonais
- Câncer
De fato, os retardantes de chamas foram identificados como um dos 17 grupos de compostos químicos que devem ser evitados com “prioridade máxima” para reduzir o câncer de mama. Esses compostos também contaminam animais de estimação e a vida selvagem.
A recomendação é a de optar por alternativas orgânicas ou “verdes” dos retardantes de chamas, não importa em qual produto sejam aplicados: um móvel, roupas, brinquedo de criança ou tapete de yoga.
Essa com certeza é a alternativa mais fácil, já que os fabricantes não precisam revelar quais compostos químicos utilizam em seus produtos para cumprir as normas de segurança contra incêndios. Produtos feitos com lã, algodão orgânico ou ceda são alternativas excelentes para os colchões, roupas de cama e tapetes de exercícios convencionais, pois esses materiais são retardadores de chamas naturais.
Os retardantes de chamas prejudicam a fertilidade
De acordo com uma pesquisa recente, mais de 80% das mulheres que sofrem com a infertilidade tinham três tipos de retardantes de chamas organofosforados (PRFs) em suas urinas. Mulheres com altos níveis desses compostos químicos também tinham chances 40% menores de conceber após um ciclo completo de tratamentos de fertilização in vitro (FIV), se comparadas com mulheres com níveis mais baixos.
Mais especificamente, 87% das mulheres tinham níveis detectáveis de bis (1,3-dicloro-2-propil) fosfato, 94% tinham fosfato de difenil e 80% tinham isopropilfenil fenil fostafo em seus sistemas. De acordo com a coautora da pesquisa, Courtney Carignan, PhD, “essas descobertas sugerem que a exposição aos PRFs pode ser um de vários fatores de risco para a falta de sucesso reprodutivo”.
Uma pesquisa mais antiga já havia relacionado os PRFs com a infertilidade, mostrando que os compostos químicos interferem com hormônios reprodutivos. Embora o estudo em questão tenha se concentrado em mulheres, outros estudos associaram a exposição aos PRFs à falta de mobilidade espermática em homens.
Os retardantes de chamas não funcionam como anunciados
Apesar da indústria afirmas que esses compostos são necessários para salvar vidas, praticamente não há evidências sugerindo que eles funcionam como anunciados.
Pelo contrário, há cada vez mais evidências mostrando que eles tornam os incêndios domésticos mais perigosos e mortais, principalmente para os bombeiros que ficam expostos repetidamente aos vapores tóxicos. Por exemplo, mulheres bombeira com idades de 40 a 50 anos da Califórnia têm seis vezes mais chances de desenvolver câncer de mama do que a média nacional.
De acordo com a indústria química, mobílias com retardante de chamas aumentam o tempo de fuga em até 15 vezes em casos de incêndio. Essa afirmação vem de um estudo utilizando um retardante de chamas poderoso, estilo NASA, que providenciou 15 segundos extras de tempo de fuga. Mas esse não é o mesmo tipo de composto químico utilizado na maioria das mobílias.
Testes mostraram que a maioria dos retardantes de chamas mais utilizados não fornecem quaisquer aumentos significativos no tempo de fuga, enquanto, na verdade, aumentam a toxicidade da fumaça. Ironicamente, essas toxinas têm muito mais chances de matar as pessoas do que o próprio fogo.
Existem vários retardadores de chamas no mercado, e nenhum deles parece ser seguro
Já mencionei vários tipos diferentes de retardadores de chamas, dos quais todos foram associados a problemas de saúde.
Na verdade, embora a indústria afirme que está tentando desenvolver e passar a utilizar compostos químicos mais seguros, as evidências sugerem que essas afirmações não passam de uma estratégia para ganhar tempo, pois os novos produtos acabaram sendo tão perigosos quanto os mais antigos.
É como disse Arlene Blum, uma química da Universidade da Califórnia e diretora executiva do Instituto de Política da Ciência Verde, em 2015:
“Estamos brincando com substâncias tóxicas. Quando, após uma grande quantidade de pesquisas e testes, descobrimos que um composto é perigoso, a tendência é substituí-lo com um composto similar. É o mais fácil a se fazer. No entanto, a história mostra que os substitutos podem ser tão perigosos quanto os antigos.”
Em 2015, uma aliança entre grupos de segurança de consumidores, trabalhadores e médicos apelaram à Comissão de Segurança de Produtos de Consumo dos EUA (CPSC) para banir TODOS os compostos organohalogenados, utilizados com mais frequência em retardantes de chamas encontrados em produtos de crianças, móveis, colchões e estojos para guardar dispositivos eletrônicos. Essa classe de compostos químicos inclui:
- Bifenilos policlorados (PCBs), banidos em 1977 por causar problemas à saúde
- PBDE (O PentaPBDE e OctaPBDE deixaram de ser produzidos em 2005, após ser descoberto que são tão perigosos quanto dos PCBs. O DecaPBDE deixoude ser produzido voluntariamente em 2013, mas ainda pode ser encontrado em vários produtos)
- Fosfato de tris, listado como uma substância cancerígena na Proposição 65 da Califórnia, associado a doenças cardíacas, obesidade e câncer.
- TPP, associado à alteração de níveis hormonais, redução da concentração espermática e perturbações endócrinas.
- Firemaster 550, que substituiu os PentaPBDEs, associado a doenças cardíacas, obesidade e câncer.
Em junho deste ano, funcionários da CPSC produziram um documento de 537 páginas sobre o assunto, concluindo que há uma “falta de evidências” para apoiar as afirmações e o apelo da aliança.
Como resultado, recomendaram que a Comissão rejeite o apelo “por falta de evidência”. Uma audiência pública, na qual os interessados poderão apresentar sues comentários de forma oral, foi marcada para o dia 14 de setembro de 2017, às 10 a.m., em Bethesda, Maryland. Somente o tempo poderá dizer se os retardantes de chamas organohalogenados serão banidos ou não, mas essa esperança não parece muito promissora.
Como reduzir sua exposição aos retardadores de chamas tóxicos
A triste verdade é que você não terá ajuda para proteger a si mesmo e a sua família de compostos químicos tóxicos. Só porque um composto químico é permitido, não quer dizer que ele seja seguro. Uma quantidade absurda de 80.000 compostos químicos é utilizada em produtos e móveis domésticos, e poucos deles foram testados para avaliar se são seguros.
Listar produtos que deve evitar é quase impossível. A recomendação mais compreensiva é a de optar por alternativas orgânicas ou “verdes” dos retardadores de chamas, não importa em qual produto sejam aplicados. Dito isso, a seguir estão mais algumas orientações adicionais a ser consideradas, para ajudar a reduzir sua exposição aos retardadores de chamas:
• Identifique e substitua móveis perigosos — Produtos de espuma de poliuretano fabricados antes de 2005, como sofás, cadeiras, colchões e travesseiros, provavelmente contêm PBDEs. Inspecione tais produtos com cuidado, e substitua rasgos e/ou qualquer espuma que pareça estar quebrando. Mas evite reestofar seus móveis por você mesmo, pois o processo de reestofamento aumenta os riscos de exposição.
Fique atento a anúncios “livres de rugas”, pois isso geralmente significa que foram tratados por compostos perfluorados (PFCs) perigosos. Compostos químicos adicionados às roupas de cama para aumentar a maciez e/ou ajudar a prevenir contra o encolhimento também podem emitir gás formaldeído.
Caso esteja em dúvida, é possível testar uma amostra das suas almofadas de espuma de poliuretano de graça, pelos cientistas do Centro de Pesquisas Superfund da Universidade Duke. Isso é especialmente útil para avaliar os itens que você tem em casa, e ajudará a determinar quais produtos são perigosos e necessitam de ser substituídos.
• Tome cuidado ao remover carpetes velhos — Carpetes antigos são outra grande fonte de PBDEs, então tome precauções quando removê-los. Deve-se isolar o local do resto da casa para evitar que o composto se espalhe, e utilize um aspirador de pó de filtro HEPA para fazer a limpeza.
• Lave suas mãos após lidar com produtos protegidos contra incêndios produzidos antes de 2013 — Talvez você também tenha fontes mais antigas de PBDEs na sua casa, conhecidos como Deca. Esses compostos são tão tóxicos que foram banidos em vários estados dos EUA, como Vermont, Washington, Oregon e Maine. Em 2009, os dois fabricantes de DecaPBDE dos EUA concordaram voluntariamente em parar de produzir e importar o composto em 2013. No entanto, muitos produtos fabricados antes dessa data contêm o composto.
O DecaPBDE pode ser encontrado em eletrodomésticos como a TV e capaz de celulares, utensílios de cozinha, ventiladores, cartuchos de impressoras, dentre outros. É uma boa ideia lavar suas mãos após lidar com esses produtos, especialmente antes de comer e, pelo menos, tenha certeza de não deixar que crianças coloquem nenhum desses produtos na boca (como o controle remoto da TV ou o celular).
• Mantenha sua casa livre de poeira — Os compostos químicos dos retardantes de chamas são frequentemente encontrados na poeira das casas, então faça sua limpeza com um aspirador de pó com filtro HEPA e/ou com um pano úmido com frequência.
• Escolha produtos mais seguros — Quando for substituir produtos que contêm retardantes de chamas, procure por produtos dizendo claramente que são “livres de retardantes de chamas”, ou escolha produtos que contêm quantidades menores de materiais inflamáveis, como couro, lã e algodão. Isso é especialmente importante para produtos onde você irá se sentar, ou dormir, por várias horas durante o dia.
Recomendo que procure por colchões feitos com 100% de lã orgânica, que é naturalmente resistente às chamas, 100% de algodão orgânico, ou flanela, ou fibras de Kevlar (uma empresa que vende esse tipo de colchão é a Stearns & Foster). Existem várias boas opções no mercado. Uma alternativa simples para o seu tapete de yoga é um tapete de algodão, ou de tecido.