Por Dr. Mercola
O alecrim é um arbusto perene nativo do Mediterrâneo conhecido por seus usos culinários e terapêuticos. Seu aroma pungente e sabor acentuado o tornam bastante popular na culinária francesa, italiana entre outras, e tem sido usado há séculos como uma ferramenta para fortalecer a memória.
Um membro da família da hortelã, assim como o orégano e manjericão, o alecrim é tão versátil na medicina quanto na culinária. Com potentes propriedades antibacterianas e antioxidantes, o alecrim é frequentemente usado para ajudar a estender o prazo de validade de alimentos perecíveis, e o extrato de alecrim é aprovado como antioxidante natural para a preservação de alimentos na União Europeia.
Entre seus diversos usos farmacologicamente validados na medicina estão as propriedades anticancerígenas, antidiabéticas, anti-inflamatórias e hepatoprotetoras, mas ele também é notável por sua capacidade de melhorar a função cognitiva. De fato, dizem que na Grécia antiga, os estudantes usavam guirlandas de alecrim enquanto estudavam, e mascavam a erva para melhorar a memória.
"Herball", uma referência clássica sobre plantas escrita pelo botânico inglês John Gerard e publicada em 1597, descreveu o alecrim como um "conforto" para o cérebro, útil para melhorar a memória e os sentidos internos, sendo "particularmente bom para as enfermidades da cabeça e do cérebro". Numerosos estudos recentes defendem o potencial do alecrim de melhorar a saúde do cérebro, cortesia de diterpenos polifenólicos como o ácido carnósico.
Pequenas quantidades de alecrim já geram benefícios cognitivos
Talvez o mais interessante sobre o alecrim é que os benefícios foram demonstrados mesmo em quantidades relativamente baixas, como as utilizadas na culinária. Em um estudo com 28 adultos com idade média de 75 anos, folhas de alecrim secas em pó foram misturadas com suco de tomate para estudar seus efeitos na função cognitiva em idosos. Os participantes receberam suco sem alecrim, que serviu como placebo ou com uma dose de:
- 750 miligramas (mg) (0,15 colher de chá)
- 1.500 mg (0,3 colher de chá)
- 3.000 mg (0,6 colher de chá)
- 6.000 mg (1,2 colher de chá)
Mesmo a dose mais baixa levou a melhorias na velocidade da memória, o que pode ser um preditor da função cognitiva durante o envelhecimento, em comparação com o placebo, enquanto a dose mais alta levou a um comprometimento da memória. Isso sugere que o uso de alecrim em doses "culinárias" pode ser o ideal para o seu cérebro.
"Em conclusão, o pó de alecrim na dose mais próxima do consumo culinário normal demonstrou efeitos positivos na velocidade da memória... O resultado aponta para o valor de estudos futuros sobre os efeitos de baixas doses de alecrim na memória e cognição a longo prazo", observaram os pesquisadores.
Além disso, os participantes também relataram subjetivamente "comprometimento significativamente menor do estado de alerta em comparação com o placebo" na dose mais baixa, que segundo os pesquisadores "fortalece ainda mais as descobertas, principalmente porque há pesquisas sugerindo que o humor é um fator subjacente à função cognitiva".
Alecrim protege o cérebro dos radicais livres
O ácido carnósico é um dos ingredientes ativos do alecrim, e os pesquisadores acreditam que ele ajuda a proteger o cérebro impedindo os danos causados pelos radicais livres, que podem levar a derrame e condições neurodegenerativas.
De fato, pesquisadores da Universidade Iwate, no Japão, descobriram que o ácido carnósico ativa uma via de sinalização que protege as células cerebrais dos radicais livres, e é ativado pelo dano causado pelos radicais livres, o que significa que é inócuo até ser necessário. Os pesquisadores detalharam esse processo impressionante no jornal Advances in Experimental Medicine and Biology:
“O ácido carnósico, um dos principais componentes fenólicos do alecrim, é um pró-eletrófilo ativado especificamente pelo estado patológico do estresse oxidativo, resultando na sua conversão da forma hidroquinona em quinona oxidada, antes de ativar a via Keap1/Nrf2 que leva à indução genética do elemento de resposta antioxidante (ARE) e produtos gênicos que protegem contra o estresse oxidativo".
Sabe-se também que os diterpenos de alecrim inibem a morte celular neuronal e são de natureza multifuncional, oferecendo proteção neuronal orientada a antioxidantes contra a inflamação cerebral e a formação de beta-amiloide, o que pode ter um efeito na doença de Alzheimer.
A quantidade de ácido carnósico nas folhas secas geralmente varia de 1,5% a 2,5%, embora quantidades maiores tenham sido registradas. Sabe-se que fatores ambientais, incluindo a exposição à luz solar e à água, afetam a concentração de ácido carnósico e outros diterpenos no alecrim.
Pode o alecrim ajudar a prevenir ou tratar a doença de Alzheimer?
Empresas farmacêuticas promoveram o uso off-label de medicamentos anti-inflamatórios inibidores da COX-2 para o tratamento da doença de Alzheimer, mas o alecrim faz isso de forma natural. "Se um inibidor sintético da COX-2 pode impedir a doença de Alzheimer, um inibidor natural da COX-2 também deveria", disse o falecido Jim Duke, membro emérito do Conselho de Administração do Conselho Botânico Americano. O alecrim contém vários inibidores naturais da COX-2, incluindo:
Apigenina |
Carvacrol |
Eugenol |
Ácido oleanólico |
Timol |
Ácido ursólico |
Uma revisão de 2011 também concluiu que "o ácido carnósico [no alecrim] pode ser útil na proteção contra a neurodegeneração induzida por beta-amiloide no hipocampo", e reduziu a morte celular em certas regiões do cérebro.
É possível que os compostos presentes no alecrim, incluindo não apenas o ácido carnósico, mas também o carnosol e o ácido rosmarínico, possam proteger contra uma série de distúrbios neurológicos, incluindo o Alzheimer e outras formas de demência, Mal de Parkinson, epilepsia e enxaqueca, escreveram pesquisadores da Natural Bio-Active Compounds, que observaram:
"... R. officinalis L. [alecrim] e seus metabólitos bioativos têm um papel protetor contra vários distúrbios neurológicos por afetar a agregação de beta-amiloide (A-β), a morte celular neuronal, acetilcolinesterase (AChE), neuroinflamação, atividade da β-secretase (BACE-1), status redox mitocondrial, etc.
Com base na natureza multifuncional devido aos metabólitos secundários bioativos efetivos, o R. officinalis pode ser uma excelente fonte terapêutica alternativa contra muitas doenças neurodegenerativas.”
Um estudo de 2013 publicado na Food Chemistry aponta que o alecrim tem um longo histórico na tradição do tratamento de dores de cabeça devido aos potentes compostos anti-inflamatórios e analgésicos que ele contém.
Para utilizar o óleo essencial de alecrim no alívio da enxaqueca, experimente adicionar uma ou duas gotas a uma xícara de chá, copo de água ou prato de sopa. Você também pode misturar duas gotas de óleo essencial de alecrim e duas gotas de óleo de hortelã a uma colher de chá de óleo de coco para massagear a testa, as têmporas e a nuca.
Adultos saudáveis podem se beneficiar do estímulo cerebral do alecrim
O alecrim também pode ser útil para melhorar a função cognitiva em adultos saudáveis. Em um exemplo, oito adultos saudáveis consumiram 250 mililitros de água de alecrim ou água mineral pura antes de realizar uma série de tarefas cognitivas.
Múltiplos efeitos benéficos estatisticamente significativos foram observados entre aqueles que bebiam água de alecrim, incluindo níveis aumentados de sangue desoxigenado no cérebro, uma indicação de que o alecrim pode facilitar a extração de oxigênio durante períodos de demanda cognitiva — algo até então desconhecido.
Além disso, aqueles que consumiram alecrim tiveram um aumento médio de 15% em comparação ao grupo placebo quando se tratava de realizar tarefas de memória de trabalho. Os benefícios foram descritos como semelhantes aos demonstrados anteriormente pela inalação do aroma do óleo essencial de alecrim. O autor do estudo Mark Moss, da Universidade Northumbria do Reino Unido, disse em um comunicado de imprensa:
"O alecrim oferece uma série de possíveis aplicações interessantes para a saúde, desde atividades antioxidantes e antimicrobianas até hepatoprotetoras e antitumorigênicas...
Os resultados desta pesquisa mostram que há melhorias estatisticamente confiáveis na função de memória devido à ingestão da... água de alecrim. Na verdade, eu diria até mesmo que as doses agem como um turbo para o cérebro".
Até mesmo o cheiro de alecrim pode melhorar a cognição
Se você não gosta do sabor do alecrim, ainda pode obter um efeito rápido simplesmente inalando o seu perfume. O aroma do óleo essencial de alecrim levou a uma melhoria significativa do desempenho, qualidade da memória e nos fatores de memória secundária em um estudo envolvendo 144 pessoas.
O aroma característico de alecrim vem do 1,8-cineol, que também é encontrado nas folhas de louro, absinto, sálvia e eucalipto. É possível que o 1,8-cineol, um monoterpeno comum encontrado em muitos óleos essenciais, seja responsável por alguns de seus benefícios aromáticos, pois está associado ao desempenho em tarefas cognitivas.
Quando 20 voluntários realizaram uma série de problemas matemáticos e outras tarefas cognitivas enquanto em um cubículo onde era difundido um aroma de alecrim, seu desempenho melhorou em relação às concentrações mais altas de 1,8-cineol, cujos níveis foram medidos por meio de exames de sangue. Tanto a velocidade quanto a precisão melhoraram em associação com as concentrações de 1,8-cineol.
"Essas descobertas sugerem que os compostos absorvidos pelo aroma de alecrim afetam a cognição e o estado subjetivo de forma independente por diferentes vias neuroquímicas", explicaram os pesquisadores, incluindo Moss.
Um pequeno estudo de 2009 também descobriu que 28 dias de aromaterapia envolvendo óleos essenciais de alecrim, limão, lavanda e laranja ajudaram a melhorar a função cognitiva, especialmente em pacientes com Alzheimer, sem efeitos colaterais.
Para que mais o alecrim é bom?
Além do cérebro, o alecrim também oferece uma série de benefícios adicionais que se estendem por todo o corpo. Esta erva poderosa pode melhorar a saúde do coração, inclusive após um ataque cardíaco, afetando favoravelmente o peso corporal e a dislipidemia. O alecrim também oferece qualidades para aliviar a dor e o potencial de combater infecções, além de proteger o fígado, combater a proliferação de células tumorais e até reduzir o estresse e a ansiedade.
De fato, o alecrim "pode controlar distúrbios fisiológicos de forma semelhante ou superior aos medicamentos usuais", de acordo com uma revisão no Journal of Biomedical Science. Embora você possa encontrar alecrim de várias formas, de extratos e suplementos a chás e óleos essenciais, uma das melhores maneiras de aproveitar os benefícios desta planta perene é cultivá-la em seu próprio jardim. Então, você terá acesso a alecrim fresco sempre que precisar.
Felizmente, o alecrim é fácil de cultivar e não precisa de muito cuidado. Ele cresce mais rapidamente em climas quentes, portanto, você deve plantá-lo com pelo menos um metro de distância entre os pés para que ele tenha espaço para crescer. Se você mora em regiões de clima mais frio, com temperaturas que abaixo de 0, convém cultivar seu alecrim em um vaso trazê-lo para dentro de casa durante os meses de inverno.
Ao colher o alecrim, corte as pontas dos ramos mais macios, pois são melhores para cozinhar. É fácil arrancar as folhas quando as hastes estiverem secas simplesmente passando os dedos ao longo do caule. Sinta-se à vontade para usar o alecrim generosamente na cozinha, bem como difundir o óleo essencial em sua casa, especialmente quando sentir que seu cérebro precisa daquele empurrãozinho.