Por Dr. Mercola
Por apresentar uma elevada taxa de mutação, o vírus da gripe pode desenvolver resistência aos remédios. Contudo, pesquisas revelam que derivados do ácido úsnico têm a capacidade de inibir a reprodução do vírus da gripe com eficácia em modelos de laboratório e em animais.
O vírus influenza provoca uma doença respiratória que é contagiosa e mais conhecida como gripe. Provocando enfermidades que variam de leves a graves, esse vírus afeta o nariz, a garganta e, por vezes, os pulmões. Os sintomas consistem em febre, tosse, dores musculares e no corpo, fadiga e tosse e dor de garganta. As crianças infectadas pela gripe podem sofrer vômitos e diarreia.
Há quatro tipos de vírus da gripe, que recebem em seu nome as letras A, B, C e D. O vírus Influenza D não infecta pessoas, mas adoece o gado. Os vírus Influenza A, B e C são que infectam os seres humanos. O vírus Influenza A é o único capaz de causar uma pandemia. Os vírus Influenza A e B podem causar epidemias, enquanto o vírus Influenza C costuma provocar apenas uma enfermidade leve.
A maioria das gripes em seres humanos é causada pelos vírus Influenza A e B, cada qual classificada e subclassificada em termos de sequenciamento genético. Todos os anos, especialistas tentam equiparar a vacina contra a gripe às estimativas sobre as cepas de vírus esperadas no país.
Os Centros para Prevenção e Controle dos EUA estimam que 3% a 11% da população apresente gripe sintomática a cada temporada, muito embora os contágios tenham sido quase inexistentes na temporada de gripe de 2020-2021. Porém, o normal é que até 20% da população apresente gripe assintomática ou sintomática. Dependendo da temporada, a estimativa é que o número de mortes por gripe sofreu uma variação de 12.000 a 61.000 todos os anos de 2010 a 2020.
Tendo em vista que vírus da gripe é capaz de contagiar milhões de pessoas todos os anos, os cientistas buscam desenvolver um tratamento antiviral que seja seguro e eficaz para reduzir o fardo decorrente de tais enfermidades. Contudo, como discorro mais abaixo, os resultados não chegam aos pés da promessa.
O ácido úsnico ajuda a inibir o vírus da gripe sem estimular uma resistência
A primeira vez que o ácido úsnico foi isolado aconteceu em 1844. Desde então, ele tem sido estudado com afinco como um dos poucos metabólicos de líquens com disponibilidade para comercialização. Em muitos países, o líquen pertence à medicina popular. Os primeiros estudos na Nova Zelândia sobre a atividade biológica do líquen resultaram na identificação do ácido úsnico "como o principal componente de ação antimicrobiana, citotóxica e antiviral".
Mais tarde, deu origem ao estudo do ácido úsnico e de seus derivados contra o vírus da gripe H1N1 pandêmica. Os resultados dos testes com isômeros do ácido úsnico e seus derivados apontam que seu uso deve ser considerado contra o vírus da gripe.
Os pesquisadores também testaram o ácido úsnico contra o contagioso vírus influenza A, vindo a descobrir que poderiam aumentar sua atividade alterando-o com chalconas. Os cientistas usaram essa importante classe de flavonoides para criar os derivados e:
“...melhorar sua atividade farmacológica, adquirir seletividade para certo receptor ou enzima com diminuição simultânea de determinados efeitos adversos, ou até para aprimorar a farmacocinética do candidato principal".
Com a alteração por chalconas, os derivados do ácido úsnico mostraram uma atividade biológica contra o vírus da gripe, tanto em laboratório como em modelo com animais. Os resultados comprovam a atividade contra uma ampla variedade de cepas testadas pelos pesquisadores.
Além disso, um dos compostos alterados pela valina apresentou uma capacidade de diminuir a quantidade de mortes nos animais infectados, sem ativar o desenvolvimento de cepas resistentes do vírus da gripe. Tal alteração elevou as propriedades antivirais e diminuir o risco de toxicidade do tecido hepático, segundo a conclusão dos pesquisadores.
É importante considerar a toxicidade hepática com o uso do ácido úsnico. Pedidos de uso foram retirados por causa da hepatotoxicidade, segundo uma revisão de patentes de 2000 a 2017. O mecanismo de lesão apontado por resultados de estudos envolvendo animais apontam para a fosforilação oxidativa, o aumento do estresse oxidativo e a depleção da glutationa.
Na medicina moderna, a resistência antimicrobiana se põe como um desafio considerável, e é fato que o vírus da gripe pode sofrer mutações que o tornam resistentes aos medicamentos antivirais. Alguns derivados do ácido úsnico atuam contra diversas questões do combate à gripe: têm eficácia contra a gripe, não promovem o desenvolvimento de cepas com resistência e apresentam baixa toxicidade hepática, como as pesquisas comprovam.
O que é o ácio úsnico?
Metabólito secundário exclusivo a várias espécies de líquens, o ácido úsnico apresenta atividade antiviral, anti-inflamatória, antioxidante, antifúngica e antineoplástica, como os pesquisadores descobriram.
Apesar de não serem essenciais para a reprodução, crescimento ou desenvolvimento do organismo que os produz, os metabólitos secundários oferecem uma vantagem seletiva. Um exemplo é que os metabólitos secundários têm a capacidade de retardar o crescimento de organismos que competem pelo ambiente; os dos fungos geram antibióticos como a penicilina.
Por apresentar elevadas propriedades antibacterianas, o ácido úsnico passou a ser adicionado a cremes dentais, enxaguantes bucais, desodorantes e hidratantes. Também pode ser usado como conservante em cosméticos. Entre suas propriedades antibacterianas, podemos citar a inibição da formação do biofilme de staphylococcus aureus em dispositivos médicos, além de demais organismos gram-positivos.
Apesar de ser promovido para o emagrecimento, os suplementos de ácido úsnico comercializados hoje em dia têm sido associados à hepatotoxicidade grave. Seu uso tópico pode levar a reações alérgicas ou irritações localizadas. Em termos ambientais, pesquisas mostram propriedades anti-herbívoras e anti-insetos.
Estudos lançam dúvidas quanto à valia e segurança de remédios para a gripe como o Tamiflu
Na medicina convencional, a preferência para o tratamento da gripe são os medicamentos antivirais como Tamiflu (oseltamivir) e Relenza (zanamivir), apesar do risco de graves efeitos colaterais e de não haver a comprovação de seus benefícios. A verdade é que tais medicamentos eram estocados por muitos países, incluindo os Estados Unidos, para o tratamento e prevenção da gripe sazonal e pandêmica.
A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a classificar o Tamiflu como um medicamento "essencial" em 2010. Em 2014, o Dr. Mark H. Ebell, da faculdade de saúde pública da Universidade da Geórgia, chamou os eventos que envolvem o Tamiflu de "falha multissistêmica" em um editorial publicado no BMJ, tendo por base as decisões do CDC, OMS e EMA como a não publicação e reconhecimento da limitação dos dados disponíveis.
Mais tarde, o professor Tom Jefferson do Oxford Center for Evidence Based Medicine liderou uma revisão da Biblioteca Cochrane. Jefferson e sua equipe publicaram a única revisão da Cochrane baseada apenas em dados regulamentares que não foram publicados. Os resultados dessa revisão apontam que o Tamiflu encurtou, de fato, a duração dos sintomas da gripe, porém em menos de um dia.
Entre as lições aprendidas, estava a necessidade de que todos os dados disponíveis viessem a público e fossem disponibilizados para reanálises independentes. Ele também afirma que dinheiro gasto no estoque desses medicamentos é de pouca eficácia e seria melhor investido em outras prioridades da saúde pública.
A vacina contra a gripe é ineficaz e aumenta a disseminação dos vírus
Os Centros para Prevenção e Controle de Doenças dos EUA relatam que, durante a temporada de gripe 2019-2020, 51,8% das pessoas com 6 meses ou mais foram vacinadas contra a gripe, o que representa um crescimento de 3,1% à temporada passada. Segundo as estimativas provisórias, a eficácia geral ajustada da vacina da gripe na temporada de 2018-2019 contra infecções relacionadas a doenças respiratórias agudas e que exigem intervenção médica foi de 47%.
As mesmas estatísticas da vacinação de 2019-2020 revelam 45% de eficácia. Colocando em outros termos, a vacina contra a gripe fracassou em oferecer alguma proteção em mais da metade das vezes em que foi administrada.
Para o grupo mais vulnerável à gripe grave, isto é, adultos acima dos 50 anos, a taxa de eficácia da vacinação de 2018-2019 foi de apenas 24% contra todos os tipos de gripe e 8% contra a Influenza A, que é o tipo mais contagioso.
Apesar de maior eficácia da vacina contra a gripe 2019-2020 para indivíduos acima dos 50 anos, essa taxa caiu para 25% em adultos entre 18 a 49 anos. Tal vacina cpntém três ou quatro cepas de vírus tipo A ou B. Mesmo que tais cepas venham a ser uma combinação perfeita aos vírus circulantes em determinada temporada de gripe, a vacina não previne inúmeras outras infecções respiratórias.
Além do baixo desempenho da vacina, as pessoas vacinadas com regularidade liberam no ar uma quantidade 6,3 vezes maior do vírus. Pesquisadores de um estudo da Universidade de Maryland observam que as vacinações repetidas aumentam a quantidade de vírus liberada a cada expiração:
“Pouco se sabe acerca do nível de infecciosidade do vírus da gripe expelido pelo ar que é exalado. Isso contribui para a incerteza acerca da importância da transmissão da gripe pelo ar. Para a aerossolização do vírus da gripe, nós mostramos que os espirros não são importantes — nem é necessário tosse."
A importância disso reside no fato de que, mesmo sem espirrar ou tossis, uma pessoa é capaz de transmitir o vírus da gripe para as demais. Uma pessoa que tomou uma vacina contra a gripe do tipo LAIV (vírus vivo, mas enfraquecido) também pode acabar eliminando e transmitindo o vírus de forma ativa.
Há poucas evidências de que se vacinar todos os anos é uma boa forma de combate à gripe.
Estratégias caseiras para diminuir o risco de infecções virais
Existem estratégias caseiras que você pode experimentar para prevenir e tratar a gripe em caso de contágio. Além da proteção contra a gripe, aumentar seu nível de vitamina D eleva sua proteção contra a COVID-19. Estudos comprovam de forma repetida o histórico da vitamina D na prevenção das infecções respiratórias. Existe até uma revisão científica de 25 ensaios clínicos randomizados de 2017 que conclui:
“A suplementação de vitamina D se mostra segura e protege contra a infecção geral aguda do trato respiratório. Apresentaram os maiores benefícios pacientes com elevada deficiência de vitamina D e aqueles que não receberam doses em bolus".
Conforme discuti antes, não tenho sombra de dúvidas de que a nebulização com água oxigenada é o meio mais seguro e eficaz para tratar uma infecção aguda do trato respiratório superior.
A primeira vez que escrevi sobre isso foi no boletim informativo de abril de 2020 e, desde então, venho recebendo depoimentos impressionantes de amigos e conhecidos que recorreram a esse tratamento quando ficaram doentes. Você pode assistir a uma entrevista com o Dr. David Brownstein, que tem uma clínica nos arredores de Detroit, no link para o artigo.
Na época da entrevista, ele havia tratado com sucesso mais de 100 pacientes através da nebulização com água oxigenada, um de seus pacientes chegou a ser hospitalizado, mas nenhum veio a óbito. Esse tratamento costuma melhorar os sintomas em questão de horas.
Além da nebulização com água oxigenada ao primeiro sinal de infecção respiratória, eu também começaria a tomar quercetina e zinco para auxiliar no combate ao vírus fora do tecido pulmonar. Quanto mais cedo você começa a tomar quercetina e zinco, mais eficaz é o tratamento, visto a ineficácia na inibição da replicação viral nos estágios mais avançados da doença.
O segredo é ter em mãos tudo o que precisa antes mesmo da temporada da gripe. Prevenir é melhor que remediar.