Para onde foram seus hormônios?

Fatos verificados
Diruptores hormonais e fertilidade

Resumo da matéria -

  • Produtos químicos que afetam o sistema endócrino têm "sequestrado" os hormônios humanos, causando problemas reprodutivos e queda na contagem de espermatozoides
  • Os seres humanos já atingiram os cinco critérios que colocam uma espécie em perigo. Segundo Swam, os culpados são os "produtos químicos onipresentes" no ambiente
  • Hoje, os homens têm metade do esperma que seus avôs tinham, e grande parte da população pode não ser capaz de se reproduzir sem auxílio da tecnologia em 2050
  • Os diruptores endócrinos causam efeitos nos hormônios que podem persistir por gerações, mesmo entre homens que não sofreram exposição direta

Por Dr. Mercola

O plástico é uma parte enorme da vida moderna. Chega a ser difícil imaginar um mundo sem ele. Mas, na visão mais ampla das coisas, ele ainda é uma invenção nova. Como disse Pete Myers, presidente, fundador e cientista chefe do Environmental Health Sciences, há muito que ainda não sabemos sobre o plástico e a saúde.

Em particular, quando o assunto são os produtos químicos no plástico, já se sabe muito sobre seus riscos à saúde humana, incluindo problemas endócrinos que passam de geração a geração. "Isso é suficiente para me preocupar", diz Myers.

Os diruptores endócrinos, muito presentes em plásticos, são similares em estrutura aos hormônios sexuais como estrogênio e interferem em suas funções normais. De acordo com Myers, o futuro da humanidade pode estar em risco:

"Nossos hormônios estão sendo sequestrados. O corpo tem um sistema de sinalização muito calibrado. Ele controla tudo desde o peso e fertilidade até o humor. E esse sistema tem sido descalibrado por produtos químicos usados de várias formas em produtos que consumimos.

Esses sequestradores, conhecidos como produtos químicos diruptores endócrinos, estão ameaçando nossa existência como espécie. As empresas de produtos químicos pensam apenas em fazer plástico barato e atender às agências reguladoras".

A fertilidade masculina está em queda e pode chegar a zero até 2045

Myers fala sobre o livro "Count Down", escrito por Shanna Swan, epidemiologista reprodutiva da faculdade de medicina Mount Sinai. Em um estudo co-escrito por ela, descobriu-se que a contagem de esperma caiu 59% de 1973 a 2011.

As quedas mais significativas vieram de amostras da América do Norte, Europa, Austrália e Nova Zelândia, com concentrações abaixo de 40 milhões/ml, que é considerado um limiar no qual o homem já começa a ter dificuldades para fertilizar um óvulo. Em média, os homens desses países tiveram uma queda de 52,4% na concentração de esperma e uma queda total na contagem de 59% (a concentração de esperma multiplicado pelo volume total de uma ejaculação).

O livro fala sobre o que Swan descreve como uma crise de fertilidade. Junto com a baixa contagem de esperma, mudanças na postura relacionada ao sexo estão ameaçando a sobrevivência humana e, de acordo com Swan, "o estado reprodutivo atual não pode continuar por muito tempo sem ameaçar a sobrevivência da humanidade". Ela estima que, caso as projeções atuais se provem verdadeiras, as contagens de espermatozoides cheguem a zero em 2045.

A fertilidade global também está caindo, de 5.06 filhos em 1964 para 2.4 em 2018, que já está abaixo do nível de repopulação mundial, segundo o The Guardian.

Os seres humanos já atendem a três dos cinco critérios que colocam uma espécie em risco de extinção, segundo Swan. Embora haja vários fatores envolvidos, que incluem a contracepção e os custos de criar filhos, motivos biológicos como a queda na contagem de esperma, aumento de abortos e anormalidades genitais também contribuem muito para esse cenário.

Produtos químicos "onipresentes" no ambiente são os principais culpados, segundo ela. "Os produtos químicos em nosso ambiente e hábitos nada saudáveis do mundo moderno estão destruindo nosso equilíbrio hormonal e causando vários problemas reprodutivos".

A contagem regressiva para a infertilidade já começou?

O livro "Count Down" traz algumas descobertas pouco divulgadas aos holofotes, como o fato de que uma grande parcela da população global pode não conseguir se reproduzir sem auxílio tecnológico em 2050. O livro também explica que os homens de hoje só tem metade dos espermatozoides que seus avôs tinham.

"Sou metade do homem que meu avô era e meus netos serão metade do homem que eu sou. Em alguns países, metade dos casais que querem engravidar já precisam de ajuda médica", Myers escreve. Parece haver uma espécie de efeito sinérgico acontecendo, já que, segundo o livro, a contagem de esperma, a testosterona e a fertilidade estão diminuindo enquanto as ocorrências de câncer de testículo e os abortos estão aumentando em cerca de 1% ao ano.

Produtos químicos presentes no ambiente, em particular, os diruptores endócrinos, são uma ameaça comum e estão ligados à infertilidade masculina e feminina. "Estudos estão descobrindo a correlação entre a exposição a esses produtos, o aumento dos abortos espontâneos, defeitos de nascimento e uma queda na quantidade e qualidade dos óvulos. Is diruptores hormonais podem afetar um bebê no útero caso haja exposição durante a gravidez", diz a Sustainable pulse.

A exposição química durante a gravidez pode afetar a masculinização e a fertilidade de homens a longo prazo. Na natureza, peixes, sapos e répteis também nascem cada vez mais com ovários e testículos.

Os químicos que causam a queda de fertilidade

Vários produtos químicos ameaçam a fertilidade humana Os diruptores endócrinos podem afetar até mesmo as futuras gerações e homens que não foram expostos de forma direta a eles.

Uma pesquisa publicada na PLOS Genetics descobriu que ratos machos expostos a etinil estradiol, um hormônio sexual sintético encontrado em contraceptivos, causa problemas de desenvolvimento do trato reprodutivo, baixando a contagem de esperma (homens podem ser expostos a pílulas contraceptivas através da água e outras fontes). Os efeitos dos diruptores endócrinos também foram revelados. Segundo o Environmental Health:

"Foram observados efeitos adversos na primeira geração dos ratos, a qual foi exposta apenas muito pouco após o nascimento. Os impactos pioraram na segunda geração e a terceira já não era capaz de produzir esperma, segundo os cientistas.

Essa condição não foi observada nas primeiras duas gerações expostas. Detalhes desse experimento sugerem que várias gerações de exposição aumentam a sensitividade dos machos aos produtos químicos".

Apoiando a tese de que os produtos químicos estão envolvidos em quedas de fertilidade, uma pesquisa demonstrou que a qualidade do esperma dos cães que vivem com humanos caiu em 30% em um período de 26 anos.

Em um estudo com cães, os pesquisadores associaram produtos químicos presentes no ambiente com problemas relacionados ao esperma que podem ser responsáveis pela queda da qualidade dos espermatozoides dos humanos, uma tese apoiada por um estudo publicado na Scientific Reports.

Pesquisadores da Universidade de Nottingham usaram esperma de onze homens e nove cães da mesma região do Reino Unido. Eles expuseram os espermatozoides a dois tipos de produtos químicos presentes no ambiente: dietilhexil ftalato (DEHP) e bifenil policlorado 153 (PCB153). O resultado foi a redução da mobilidade do esperma e a fragmentação do DNA.

Os pesquisadores acreditam que os cães podem agir como "sentinelas" que chamam atenção para a queda da fertilidade humana e que os culpados são os produtos químicos muito disponíveis em lares e ambientes de trabalho. Um estudo anterior detectou esses produtos químicos no esperma e nos alimentos de cães.

Os maiores fontes de diruptores endócrinos

O Environmental Working Group elencou os 12 produtos químicos mais perigosos:

Bisfenol-A

Dioxina

Atrazina

Ftalatos

Perclorato

Retardantes de fogo

Chumbo

Mercúrio

Arsênico

Compostos perfluorados (PFCs)

Pesticidas organofosforados

Éteres de glicol

Tais químicos são onipresentes, encontrados em tudo desde os alimentos, a água, produtos para o lar e cuidados pessoais, materiais de limpeza, utensílios e plásticos. Outros como a atrazina, foram banidos da União Europeia, mas ainda são muito utilizados nos Estados Unidos.

Uma pesquisa de Tyrone Hayes, PhD e biólogo da Universidade da Califórnia, Berkeley, tem uma hipótese de que a atrazina se transforma em uma enzima (aromatase) que faz com que a testosterona seja convertida em estrogênio. Isso quer dizer que homens expostos param de produzir esperma e começam a produzir estrogênio.

De acordo com o que Hayes e seus colegas publicaram na Nature em 2002, a exposição a atrazina através da contaminação da água causou "anormalidades nas gonadas, como hermafroditismo e retardo no desenvolvimento" em 10 a 92% dos sapos leopardo selvagens machos. Hayes publicou outro estudo em 2010 na Proceedings of the National Academy of Sciences relatando resultados similares.

Os ftalatos, outro tipo de produto químico presente na lista, está associado mudanças hormonais e pode disparar "'sinais de indução à morte' de células testiculares, fazendo com que elas morram mais cedo do que deveriam", diz o EWG. E esse é apenas um dos efeitos tóxicos (que também incluem desenvolvimento irregular do cérebro, causando dificuldade de aprendizado em crianças, problemas comportamentais e de atenção).

É importante se lembrar que tudo entre antidepressivos, inatividade, escolhas dietéticas e pulsos eletro magnéticos podem afetar sua fertilidade. Eu já falei em outro momento sobre algumas dicas para aumentar a contagem de espermatozoides.

Assim como reduzir sua exposição a ftalatos e outros diruptores hormonais que podem "sequestrar seus hormônios", causando consequências desastrosas para a fertilidade, você pode encontrar mais dicas aqui.

Evite recipientes e embalagens de plástico para alimentos e produtos de higiene pessoal. Em vez disso, armazene alimentos e bebidas em recipientes de vidro.

Evite brinquedos de plástico. Use brinquedos feitos de substâncias naturais, como madeira e materiais orgânicos.

Leia os rótulos de seus cosméticos e evite aqueles que contenham ftalatos.

Evite produtos rotulados com "fragrância", incluindo purificadores de ar, pois esse termo abrangente pode incluir ftalatos usados para estabilizar fragrâncias e estender a vida útil do produto.

Leia os rótulos à procura de produtos sem PVC, incluindo lancheiras infantis, mochilas e recipientes de armazenamento.

Não leve ao micro-ondas alimentos em recipientes de plástico ou cobertos com filme plástico.

Aspire e tire o pó com frequência de salas com cortinas de vinil, papel de parede, piso e móveis que possam conter ftalatos, pois a substância se acumula na poeira e é ingerida com facilidade por crianças.

Pergunte na sua farmácia de manipulação se os seus comprimidos são revestidos, uma vez que o revestimento pode conter ftalatos.

Consuma alimentos frescos e in natura. As embalagens podem ser uma fonte frequente de ftalatos.

Use mamadeiras de vidro em vez de plástico. Dê de mamar apenas no peito durante o primeiro ano do bebê e, se puder, evite chupetas e mamadeiras de plástico.

Retire as frutas e vegetais dos sacos plásticos logo após retornar do supermercado e lave-os antes de guardá-los. Uma alternativa é usar sacolas de pano.

Os recibos da caixa registradora são impressos a quente e costumam conter BPA. Manuseie o recibo o mínimo possível e peça que os estabelecimentos mudem para recibos sem BPA.

Use produtos de limpeza naturais ou caseiros.

Troque produtos de higiene feminina por alternativas mais seguras.

Evite amaciantes de roupas ou faça o seu próprio produto para reduzir a aderência estática.

Verifique se há contaminantes na água da torneira da sua casa e sempre filtre a água.

Ensine seus filhos a não tomar água da mangueira de jardim, pois muitas contêm plastificantes como ftalatos.

Use sacolas reutilizáveis no supermercado.

Leve seu próprio recipiente não-plástico para guardar suas sobras nos restaurantes. Evite utensílios e canudos descartáveis.

Carregue sua própria xícara de café e leve água de casa em garrafas de vidro, em vez de comprar na rua.

Troque suas escovas de dente por outras feitas de bambu e escove os dentes com óleo de coco e bicarbonato de sódio para evitar as embalagens de plástico das pastas de dentes.