O selênio pode ajuda no combate à COVID

Fatos verificados
Deficiência de selênio

Resumo da matéria -

  • O selênio é um oligoelemento essencial, que compõe algumas dezenas de proteínas. Ele afeta as vias virais, podendo reduzir os sintomas graves das infecções virais como SARS, vírus Coxsackie, Ebola e HIV-1
  • Dados comprovam que existe uma relação positiva entre a taxa de sobrevivência de pessoas com infecções ativas por COVID-19 e seu teor de selênio
  • Como nutriente, o selênio é importante à saúde do coração, sendo necessário para a fertilidade. Também pode diminuir o dano oxidativo que levaria ao câncer e o possível risco de osteoporose
  • O excesso de exposição ao selênio presente no ambiente ou suplementos pode elevar o risco de mortalidade generalizada. Fontes de selênio são: castanha-do-pará, frango orgânico de criação livre, peru, ovos, cogumelos e sementes de girassol

Por Dr. Mercola

Organismo complexo, o corpo humano se utiliza de diversas vitaminas, minerais e elementos essenciais para manter a saúde ideal. Embora todos tenham sua importância, a integração de cada um em níveis adequados gera um ambiente no qual o corpo pode cuidar melhor de si mesmo. E o selênio é um desses elementos.

O selênio é importante para a saúde, pois atua na inibição da replicação do vírus de RNA e das mutações. Os autores de um artigo propuseram, tomando por base o papel que o selênio exerce na replicação do vírus de RNA, capaz de levar a graves danos aos tecidos, que a deficiência ou insuficiência de selênio pode ser um fator de vital importância para o desenvolvimento da síndrome respiratória aguda grave decorrente de uma infecção por COVID-19.

O selênio foi descoberto por Jöns Jacob Berzelius em 1817. É adicionado ao vidro em processos fabris, resultando numa cor vermelho profundo ou uma tonalidade bronze. Também é utilizado como pigmentos de tintas, plásticos e cerâmicas. O selênio pode ser acrescentado a painéis fotovoltaicos, painéis solares e fotocopiadoras.

Você talvez esteja mais familiarizado com a adição de selênio ao shampoo anti-caspa, por ser tóxico para o fungo malassezia, que causa a caspa. O teor de selênio presente em fontes alimentares depende do selênio encontrado no solo. As plantas acumulam selenitos e selenatos inorgânicos e os convertem em formas orgânicas.

São várias as formas de mensurar o teor de selênio: concentrações plasmáticas e séricas, excreção urinária e análise de cabelos e unhas. Quantificando as proteínas que usam o selênio, tais como a glutationa-peroxidase e selenoproteína P, é possível avaliar a medida funcional do ter do selênio.

O baixo teor de selênio pode induzir a sintomas respiratórios agudos em quadros de COVID

O combustível com o qual abastece seu corpo exerce um papel importante sobre a sua saúde e bem-estar, bem como à progressão de doenças infecciosas. O selênio é um oligoelemento essencial, que compõe algumas dezenas de proteínas importantes para a reprodução, função antioxidante e infecção.

Grande parte do selênio é obtida a partir dos alimentos, porém mesmo no ambiente natural esse oligoelemento não é distribuído de maneira uniforme. Um artigo publicado na Environmental Research cita um relatório da OMS que revela mais de 40 países cujo solo é deficiente em selênio. Entre os mais baixos estão a Nova Zelândia, Eslováquia, Finlândia e África Subsaariana.

Existe também uma área que se estende do nordeste ao centro-sul da China, cuja estimativa sugere que a ingestão diária de selênio pode ser de apenas 10 a 17 microgramas (μg), algo muito abaixo dos 55 μg diários recomendados. Isso é fundamental, visto que o selênio exerce um papel de importância para as funções antioxidantes, anti-inflamatórias e imunológicas.

A glutationa peroxidase é uma selenoenzimas e importante catalisadora da conversão de glutationa, a qual reduz o dano das espécies reativas ao oxigênio. O comprometimento da glutationa peroxidase resulta numa superprodução de citocinas capazes de provocar uma enxurrada de citocinas tal como observado nos quadros graves de infecção por COVID-19.

O teor de selênio está relacionado com a taxa de sobrevivência

O selênio influencia outras vias que interferem nas doenças virais. Os autores do Environmental Research salientam que as infecções por HIV-1 são muito maiores em regiões africanas nas quais o solo é pobre em selênio, e exames revelaram que as infecções por Ebola têm íntima relação com pacientes que apresentam grave deficiência de selênio.

O vírus de coxsackie é outro vírus de RNA analisado pelos autores. Embora costume provocar enfermidades leves, existe uma prevalência de infecções graves em regiões da China onde falta selênio. Em quadros graves, também causa lesão do miocárdio devido à doença de Keshan.

Pesquisas posteriores revelam que a deficiência de selênio pode alterar a morfologia das células epiteliais que cobrem o trato respiratório, elevando a suscetibilidade a infecções virais.

No primeiro surto de SARS em 2003, os pesquisadores chegaram à descoberta de que a deficiência de selênio era significativa para que os pacientes apresentassem pneumonia atípica. Estudos envolvendo animais também comprovaram uma taxa de sobrevivência maior quando havia selênio.

Os autores sugerem que cada uma dessas vias interfere na reação do paciente a uma infecção por COVID-19. O estresse oxidativo provocado pelo vírus de RNA modifica as defesas das células e a glutationa peroxidase. Segundo a teoria levantada, a suplementação no período de uma infecção ativa pode reduzir os danos às células endoteliais.

Dados comprovam que existe uma relação positiva entre a taxa de sobrevivência de pessoas com infecções ativas por COVID-19 na China e o teor de selênio aferido do cabelo humano. Resultados semelhantes se deram em pacientes com COVID-19 na Alemanha, com sobrevivência daqueles que tinham teores mais elevados que os pacientes que vieram a óbito pela infecção.

Na Índia, um estudo exploratório investigou os níveis séricos de selênio de 60 pacientes, 30 dos quais aparentavam ser saudáveis e 30 haviam contraído COVID-19. Os pacientes com níveis mais baixos de selênio tinham maior propensão a ser infectados.

Pesquisadores de outro artigo levantaram a teoria de que a suplementação com selenito de sódio poderia prevenir infecções e fortalecer o sistema imunológico. Propuseram também o uso de selenito de sódio como anticoagulante, após pesquisas comprovando que "a formação de microcoágulos é uma causa considerável de morte em pacientes com COVID-19".

Os nutrientes que são importantes para a saúde imunológica

Como minha conversa com James DiNicolantonio e Siim Land, o sistema imunológico é a primeira linha de defesa contra as doenças infecciosas. Quatro são os nutrientes mais importantes para manter a função do sistema imunológico, entre eles o selênio.

Mas a vitamina D pode ser o mais importante desses. Segundo DiNicolantonio, a vitamina D ativa mais de 2.000 genes e auxilia o corpo na produção de poderosos peptídeos antimicrobianos e antivirais. Para converter a vitamina D para uma forma que seja ativa, o organismo precisa também de magnésio. Isso se faz necessário também para a função das células imunológicas. DiNicolantonio aponta:

“Pessoas que, por motivos genéticos, apresentam baixo teor de magnésio em suas células exterminadoras naturais (NK) e em suas células CD8 T-killer... têm um sistema imunológico reduzido. Sofrem de ativação crônica de Epstein-Barr, com o qual 95% de nós estamos infectados, e correm um risco muito maior de linfoma.”

No livro de DiNicolantonio e Land, intitulado "The Immunity Fix: Strengthen Your Immune System, Fight Off Infections, Reverse Chronic Disease and Live a Healthier Life", mas ainda sem tradução para o português, ambos discutem sobre como a deficiência de um nutriente tem a capacidade de elevar o risco de imunodeficiência e por que as deficiências de nutrientes podem acarretar muitos desfechos ruins associados à COVID-19.

Os demais nutrientes importantes são o zinco e o selênio. Pesquisas comprovam que tomar zinco no início dos sintomas de um resfriado pode diminuir a duração deste, mas DiNicolantonio observa também que esse mineral deve ser administrado da forma correta. Ele explica:

“Se for tomar pastilhas, é preciso fazê-lo a cada duas horas. Você deve tomá-las dentro de 24 horas após o início dos sintomas. É preciso tomar cerca de 18 miligramas por dose, ultrapassando a dose diária total de 75 miligramas."

DiNicolantonio diz sobre o selênio:

“Se observar outros vírus de RNA que não são virulentos, como o vírus de coxsackie, que pode causar a doença de mão-pé-boca. Se você tem deficiência de selênio, esse vírus leva à doença de Keshan, que é uma cardiomiopatia. Portanto, a deficiência de selênio pode pegar um vírus de RNA não virulento e torná-lo virulento, induzindo a uma cardiomiopatia, e esses pacientes são tratados apenas com selênio.

Portanto, creio que o selênio é importante, mas não apenas dessa perspectiva, visto que muitos estudos mostram que a maioria dos pacientes com COVID têm deficiência em vitamina C e D, selênio e zinco.

Essencial para a saúde do coração, também mitiga os riscos de câncer

Mark Whitacre, em entrevista comigo, observa a relação entre a exposição aos danos provocados pelos radicais livres e desenvolvimento de câncer. O selênio exerce papéis de importância que possuem uma inter-relacionação ao nível celular para o desenvolvimento da glutationa peroxidase e a proteção contra espécies reativas ao oxigênio, promovendo a redução do risco de câncer.

Desde 1980 que pesquisadores estudam a relação entre o selênio e o câncer. Whitaker relata como foi seu último ano na Universidade Cornell, quando teve início um estudo de 10 anos para avaliar a suplementação com selênio e o subsequente desenvolvimento de câncer.

O funcionamento ideal de uma célula depende também do teor de selênio e de coenzima Q10 que lhes estão disponíveis. Um estudo de intervenção com 443 participantes da região rural da Suécia sobre o selênio e a CoQ10 como suplemento nutricional mostrou uma redução na mortalidade cardiovascular pelo uso de selênio e CoQ10 no decorrer de quatro anos.

Após acompanhamento por 12 anos, os pesquisadores descobriram que os participantes originais continuavam experimentando uma diminuição na mortalidade cardiovascular, no risco de hipertensão, no comprometimento da capacidade cardíaca funcional, doença cardíaca isquêmica e diabetes. Os líderes do estudo advertiram que se trata de um pequeno estudo que deve ser utilizado para gerar hipóteses e não conclusões.

Outro estudo contou com indivíduos que apresentavam piora dos sintomas de insuficiência cardíaca no intuito de avaliar as concentrações séricas de selênio. Descobriu-se que a deficiência de selênio tinha relação com a taxa mais alta de mortalidade generalizada como desfecho primário e hospitalização por insuficiência cardíaca, estando a deficiência "associada de forma independente com a diminuição da tolerância e uma taxa de mortalidade 50% mais alta... ”

Mais benefícios à saúde associados ao selênio

Os pesquisadores reconhecem cada vez mais como um risco à saúde a relação da deficiência de selênio com diversas doenças. Um exemplo é um estudo publicado no BMC Musculoskeletal Disorders, em que os pesquisadores examinaram a correlação entre o selênio e a osteoporose. No estudo que contou com 6.267 participantes, os pesquisadores chegaram à descoberta da existência de uma taxa maior de osteoporose em pessoas que apresentavam níveis mais baixos de selênio.

Tais resultados foram replicados num segundo estudo que visava examinar os níveis de selênio em relação à densidade mineral óssea. Mesmo considerando fatores de confusão, tais como índice de massa corporal, tabagismo, desempenho físico e uso de medicamentos, os resultados continuaram significativos em termos de estatística.

Há muito anos que a ciência reconhece a importância do selênio para a fertilidade masculina. Um estudo revela que a suplementação de selênio foi capaz de aumentar em 56% a motilidade do esperma em um grupo de intervenção com indivíduos que apresentavam baixos níveis de selênio. Informações mais recentes revelam uma função essencial na fertilidade feminina. Como comenta o pesquisador de um estudo que avaliou os níveis de selênio e a reprodução:

“Nossas descobertas se fazem importantes, pois revelam que os níveis de selênio e selenoproteínas se encontram elevados em folículos ovarianos grandes e saudáveis. Suspeitamos de sua função essencial como antioxidante durante os estágios finais do desenvolvimento do folículo, promovendo um ambiente saudável para o óvulo.

A infertilidade é um problema considerável da nossa sociedade. É preciso conduzir mais pesquisas para entender como melhorar os níveis de selênio visando auxiliar nas chances de concepção. Além disso, o excesso de selênio pode ser tóxico, então não é questão de tomar muito suplemento."

Considere as fontes alimentares para melhorar seus níveis de selênio

Pesquisadores de um estudo que contou com 491 idosos dinamarqueses descobriram que a suplementação com 300 μg de selênio no decorrer de cinco anos elevou as taxas de mortalidade generalizada, comprovando o risco de se presumir que quanto mais, melhor. Tal abordagem pode acabar saindo pela culatra em se tratando de suplementos e mesmo alimentos.

Embora seja difícil consumir selênio demais através dos alimentos, o mesmo não pode ser dito dos suplementos. A toxicidade por selênio é um risco para a saúde, sendo provocada pela ingestão de selênio em excesso, que resulta em náuseas e vômitos, dor abdominal, irritabilidade, aumento da frequência cardíaca e lesões pulmonares. A exposição crônica pode resultar em calvície, excesso de cáries, falta de agilidade mental, fadiga e fraqueza.

Como regra geral, consumir variados alimentos in natura e não processados pode melhorar seus níveis de selênio de forma natural, além de outros nutrientes importantes. A castanha-de-caju pe uma fonte excelente de selênio, contendo, em média, de 68 a 91 µg por unidade. Outras fontes de selênio são: carne de peru e frango orgânico de criação livre, ovos caipiras, cogumelos e sardinha.