Alimento como medicamento - A resposta para a crise de saúde mundial

Fatos verificados
Alimento como remédio

Resumo da matéria -

  • Apesar da medicina moderna tratar problemas agudos com sucesso, não tem nada a oferecer no caso de doenças crônicas, que dependem de uma boa alimentação para a reversão do quadro
  • Comida de verdade é o melhor medicamento. Alimentos processados são veneno e não há remédio capaz de desfazer os danos que eles causam
  • A indústria de alimentos consegue ganhar dinheiro vendendo alimentos de verdade. O principal obstáculo é o subsídio de ingredientes de junk food (açúcar, milho, trigo e soja)

Por Dr. Mercola

O Dr. Robert Lustig, endocrinologista pediátrico e professor emérito da Universidade da Califórnia, em San Francisco, escreveu vários livros excelentes sobre saúde. Em sua obra mais recente, "Metabolical: The Lure and the Lies of Processed Food, Nutrition, and Modern Medicine" ele detalha a forma pela qual a mudança no suprimento de alimentos tem danificado nossa saúde metabólica. (Em inglês "metabolical" é um termo cunhado juntando as palavras "metabólico" e "diabólico").

"Eu escrevi isso porque nada mais funcionou", disse Lustig. "Parte do problema envolve uma questão complicada. Há muitas partes interessadas e é preciso encontrar um método que deixe todos felizes. Até isso acontecer, não temos como resolver.

Existe uma maneira de resolver a situação, mas todas as partes interessadas, seja o paciente, o médico, a empresa de alimentos, a indústria de seguros, os médicos, Wall Street e o Congresso... todos precisam chegar à mesma compreensão. Todos precisam trabalhar com os mesmos fatos. Você sabe o que acontece quando cada um opera com um conjunto diferente de fatores.

Meu trabalho foi compilar toda a informação em um volume para que todo mundo tenha acesso a ela e construa algo com isso. Exponho no livro qual é a discussão necessária consertar todo o sistema alimentar e como todos podem se beneficiar disso, até mesmo a indústria de alimentos."

Os dois grandes princípios

Em suma, trata-se de duas grandes questões. A primeira é que a instituição médica não quer que você saiba que os medicamentos nunca foram concebidos ou projetados para tratar a causa fundamental das doenças crônicas. Eles tratam apenas os sintomas.

"No livro, deixo muito claro que a medicina moderna tem duas facções, dois paradigmas," Lustig diz. "Uma é o tratamento de doenças agudas, que entende a situação melhor, em sua maioria. Sou parte desse sistema por 40 anos e estou confortável com isso.

Mas para doenças crônicas, diabetes tipo 2, hipertensão, problemas lipídicos, doenças cardiovasculares, câncer, demência, esteatose hepática não alcoólica, doença ovariana policística, não temos nada a oferecer. Nada além de alívio dos sintomas.

Nós temos agentes que baixam o LDL, mas ele NÃO é o problema. O LDL é um sintoma do problema. É a manifestação de uma disfunção metabólica. O mesmo vale para hipoglicemia.

E hipertensão. E osteoporose. E doenças auto-imunes. Para tudo isso, tratamos apenas sintomas. Não curamos ou revertemos a doença. Com isso, a doença piora.

Como eu descrevo em meu livro, é como dar aspirina a um paciente com tumor cerebral porque ele está com dores de cabeça. Pode funcionar hoje, mas não vai resolver o problema. É isso que a medicina moderna está fazendo com pessoas com doenças crônicas."

O outro problema é que a indústria de alimentos não quer que você saiba que quase todos os alimentos são bons para você até que sejam processados, e os processados constituem a maioria dos alimentos que as pessoas comem.

Como Lustig aponta:

"O que eu explico no meu livro é que processar comida não faz dela um alimento. O nome alimento processado sugere um subgênero de alimento. Michael Pollan chama os alimentos processados de substâncias palatáveis que parecem com comida. O fato é que alimentos processados são veneno. Alimentos orgânicos são medicamentos, e a medicina não pode fazer nada por quem se envenena com comida processada."

Na verdade, ao compreender as vias moleculares, os fatores de transcrição, os mecanismos reais de ação de várias doenças e os vários medicamentos usados para tratá-las, você pode ver com facilidade que a medicina moderna não trata o problema subjacente. E é por isso que as pessoas não melhoram.

"O que estou tentando fazer neste livro é separar a comida de verdade dos alimentos processados e explicar que os alimentos processados são o problema, e não resolveremos a crise da saúde ou ambiental até que esse problema seja resolvido", Lustig diz.

Os rótulos e porque você não devia focar tanto neles

Hoje, você já se treinou para conferir os rótulos dos alimentos. O problema é que o rótulo não diz o que foi feito com o alimento no interior da embalagem. "Um dos motivos pelos quais as pessoas não melhoram de saúde é porque não há nada nos rótulos que possa ajudar com isso", Lustig diz. De acordo com Lustig, um alimento é saudável quando atende a dois critérios:

  1. Proteger o fígado
  2. Nutrir o intestino

Qualquer alimento que não faça essas duas coisas é veneno. Alimentos que fazem apenas uma das coisas estão em uma zona cinzenta. Comida de verdade tem fibras, que protegem e nutrem o intestino. Alimentos processados não têm fibras, pois elas reduzem o prazo de validade. Ao remover a fibra dos alimentos isso previne que eles estraguem, mas também impede que sejam saudáveis.

Em suma, "na tentativa de tentar aumentar a disponibilidade, diminuir o desperdício, viramos todo o nosso suprimento de alimentos de cabeça para baixo para criar commodities em vez de disponibilizar alimentos", diz Lustig.

Então, na década de 1970, Richard Nixon disse ao secretário da Agricultura dos Estados Unidos, Earl Butts, para propor um plano que diminuísse os preços dos alimentos, já que a flutuação dos preços dos alimentos estava causando agitação política. O resultado foi o início da monocultura e uso de aditivos químicos.

"Agora, temos uma enxurrada de nitrogênio destruindo nosso meio ambiente e antibióticos na ração para manter os animais vivos, matando suas próprias bactérias e as nossas, criando doenças crônicas e destruindo o meio ambiente.

Isso tudo foi criado no sistema de alimentação ocidental. Não vamos resolver a crise de saúde, a economia ou os problemas ambientais até reconhecermos isso," explica Lustig.

O refinamento piora ainda mais a situação

Embora Lustig acredite que o refinamento dos carboidratos seja o principal culpado que torna os alimentos processados tão ruins para a saúde, acho que as gorduras processadas podem contribuir ainda mais.

O omega-6 ácido linoleico (LA), em particular, é um veneno metabólico pernicioso. Em 1850, sua concentração total na dieta era de cerca de 2%. Hoje, está entre 20% e 30%. Embora o corpo precise de algum ômega-6, já que não o produz, estamos ingerindo uma quantidade absurda.

"Eu concordo que o ômega-6 é um problema", Lustig diz. "Ele é pró-inflamatório e tem ligações duplas insaturadas o suficiente para se tornar gordura trans caso seja aquecido o suficiente. Esse é o problema de todas as gorduras poli-insaturadas. Elas não devem ser aquecidas acima do ponto de queima, mas é o que fazemos."

Além disso, as gorduras poli-insaturadas como o LA são muito suscetíveis à oxidação e, à medida que a gordura se oxida, ela se divide em subcomponentes prejudiciais, como produtos finais de oxidação lipídica avançada (ALES) e metabólitos LA oxidados (OXLAMS). Ambos causam danos sérios à saúde.

Um tipo de produto final de oxidação lipídica avançada (ALE) é o 4HNE, um mutagênico conhecido por causar danos ao DNA. Estudos já demonstraram uma correlação definitiva entre níveis elevados de 4HNE e a insuficiência cardíaca. O LA se decompõe em 4HNE ainda mais rápido quando o óleo é aquecido, motivo pelo qual os cardiologistas recomendam evitar frituras. A ingestão de LA, que produz ALES e OXLAMS, também tem um papel relevante no câncer.

HNE e outros ALES são muito prejudiciais, mesmo em quantidades muito pequenas. Embora o excesso de açúcar seja prejudicial à saúde e deva ser limitado a 25 gramas por dia ou menos, acredito que LA é muito mais prejudicial no geral. Lustig explica:

"Nós temos uma carga metabólica de espécies reativas de oxigênio (ROS) que vão causar danos se não forem neutralizadas. É por isso que temos antioxidantes no corpo como glutationa e vitamina E, que lidam com as espécies reativas de oxigênio. O fato é que nossas mitocôndrias produzem ROS a cada minuto que passa.

Esse é um bioproduto normal do metabolismo. A questão é que nós devíamos ser capazes de lidar com isso. E isso só é possível através dos antioxidantes.

O problema é que, assim que você remove o germe do núcleo do grão, reduz o consumo de antioxidantes em dez vezes. Assim, não temos antioxidantes suficientes devido ao processamento de alimentos, o que nos deixa vulneráveis à devastação por ROS de várias fontes, incluindo nossas próprias mitocôndrias".

Alimentos de verdade são a saída

A chave é consumir alimentos orgânicos, ricos em fibra e pobres em açúcar. Só para constar, os radicais livres não são de todo mal. Eles também são moléculas de sinalização biológica, e se você os suprimir de forma indiscriminada, que é o perigo que enfrenta ao usar quantidades muito altas de suplementos antioxidantes, o tiro pode sair pela culatra.

A melhor saída é ingerir seus antioxidantes através da alimentação, e alimentos reais não apenas oferecem os antioxidantes, mas não criam ROS em excesso. Sobre o tipo de dieta, qualquer uma pode funcionar desde que seja boa para seu metabolismo. A única que não é boa para ninguém é a que envolve alimentos processados.

Soluções

Agora que entendemos o problema, que soluções, Lustig sugere? Para começar, conscientização não é suficiente, ele diz. Precisamos de conscientização e implementação. E isso requer envolvimento social.

"A forma como eu descrevo é que há intervenção pessoal, que, por falta de palavra melhor, podemos chamar de reabilitação, intervenção social ou legislação. Reabilitação e leis para todas as substâncias nocivas. Precisamos das duas coisas".

O primeiro passo de qualquer intervenção é entender qual é a doença. "E não pergunte ao seu médico porque ele não sabe como descobrir", diz Lustig. No capítulo 9 de seu livro, ele lista dicas que podem auxiliá-lo a se auto-diagnosticar.

Em termos de lidar com seus problemas de saúde, seu "tratamento" principal será fazer mudanças significativas que vão da compra dos alimentos até a alimentação. No geral, se um alimento tem rótulo, não compre. Comida de verdade não precisa de rótulo.