A deficiência de glutationa pode estar associada à gravidade da COVID

Fatos verificados
Deficiência de glutationa

Resumo da matéria -

  • A glutationa atua contra a COVID-19 ao reduzir o estresse oxidativo e a inflamação que desencadeiam a falência de órgãos
  • A deficiência de glutationa é proeminente em muitas das comorbidades associadas à COVID-19 grave, incluindo obesidade, doença cardiovascular, diabetes tipo 2 e envelhecimento
  • A N-acetilcisteína (NAC) é um precursor da glutationa, que ao menos um grande hospital está estudando como um possível "medicamento" para ajudar a combater a COVID-19 e até reduzir a necessidade de ventilação e a admissão em CTI
  • Considere aumentar seus níveis de glutationa através de exercícios, alimentação e sono de boa qualidade

Por Dr. Mercola

Os sintomas da COVID-19 grave incluem hipercoagulabilidade ou uma tendência aumentada a produzir coágulos sanguíneos. Embora a fisiopatologia ainda não seja compreendida em sua totalidade, certas mudanças características já foram identificadas. Pesquisadores descobriram que a terapia anticoagulante ajuda a melhorar os resultados de saúde após a doença, que pode desencadear diversas de complicações tromboembólicas.

Os dados também mostram que indivíduos com deficiência de glutationa apresentam alguns dos sintomas mais graves. Um estudo publicado na Nature em janeiro de 2021 avaliou as diferenças no potencial protrombótico entre a COVID-19 e outras infecções virais respiratórias não desencadeadas por um coronavírus. As taxas trombóticas não diferiram entre os dois grupos na doença leve.

No entanto, a hipercoagulabilidade no COVID-19 se mostrou um processo dinâmico, e o maior risco ocorreu em pessoas muito doentes. As complicações da hipercoagulabilidade incluem falta de ar e complicações pulmonares graves por ela desencadeadas.

Em um estudo, os pacientes que foram admitidos por insuficiência respiratória aguda no Hospital Universitário de Padova, na Itália, apresentaram "perfis de tromboelastometria hipercoaguláveis", que estava "correlacionada com resultados piores".

Uma das diferenças entre indivíduos que manifestam a doenças de formas brandas ou graves pode estar relacionada à capacidade do corpo de reduzir a resposta hiperimune que leva a uma tempestade de citocinas e a hipercoagulabilidade que a acompanha. A glutationa desempenha um papel na luta contra a resposta inflamatória severa desencadeada pelo SARS-CoV-2.

A glutationa desempenha um papel crucial na COVID grave

Estudos publicados na ACS Infectious Disease and Antioxidants propuseram que a glutationa desempenha um papel crucial na luta do corpo contra a resposta inflamatória severa desencadeada pelo vírus SARS-CoV-2. O grupo de pesquisa no estudo ACS Infectious Disease chamou-o de "causa provável de manifestações graves e mortes em pacientes com COVID-19".

Nesse estudo, eles teorizaram que a taxa de infecção mais alta em indivíduos mais velhos e aqueles com comorbidades sugerem que esses grupos são mais sensíveis aos fatores ambientais. Determinadas condições médicas que aumentam o risco de manifestações graves de COVID-19 foram identificadas. Isso inclui doenças pulmonares crônicas, diabetes tipo 2, problemas de coração, obesidade e tabagismo.

Os pesquisadores se concentraram em uma homeostase redox prejudicada e estresse oxidativo concomitante em indivíduos de idade avançada e com comorbidades. A homeostase redox é um processo que ajuda a garantir uma resposta celular adequada aos estímulos.

Quando ela está desregulada, o estresse oxidativo pode levar à “morte celular e contribuir para o desenvolvimento de doenças”. A glutationa desempenha um papel crucial na resposta inflamatória, que os pesquisadores teorizam ser um meio viável no tratamento e prevenção de COVID-19. Eles escreveram:

“A hipótese de que a deficiência de glutationa é a explicação mais plausível para manifestações graves e morte em pacientes com COVID-19 foi proposta com base em análises e observações exaustivas da literatura.

A hipótese desvenda os mistérios dos dados epidemiológicos sobre os fatores de risco que determinam as manifestações graves da infecção de COVID-19 e o alto risco de morte, e abre oportunidades reais para o tratamento e prevenção eficazes da doença.”

O artigo publicado na Antioxidants também concluiu que um denominador comum parecia ser o sistema de homeostase redox prejudicado. Eles propuseram que a glutationa pode ser "crítica na extinção da inflamação exacerbada que desencadeia a falência de órgãos na COVID-19".

No artigo, os cientistas apresentaram uma revisão dos mecanismos bioquímicos que são contrabalançados pela glutationa e as vias que podem explicar a depleção da glutationa endógena em indivíduos mais velhos, bem como naqueles com comorbidades conhecidas por aumentar o risco de doenças graves.

A glutationa medeia a redução da inflamação pulmonar

Um estudante de medicina testou essa teoria quando sua mãe, de 48 anos, foi diagnosticada com pneumonia. Foram prescritas hidroxicloroquina e azitromicina, o que ajudou a melhorar alguns sintomas, mas não sua respiração. Quando ela teve problemas respiratórios graves, seu filho entrou em contato com o Dr. Richard Horowitz, um especialista que estava tratando a doença de Lyme na sua irmã.

Ele sugeriu adicionar glutationa para ajudar a reduzir a inflamação e proteger o tecido pulmonar. Os resultados foram drásticos. Uma hora após receber uma dose de 2.000 mg de glutationa, sua respiração melhorou. Ela continuou tomando glutationa por cinco dias e não teve recaídas. Horowitz publicou dois estudos de caso, documentando os resultados da glutationa oral e intravenosa.

Em maio de 2020, o Memorial Sloan-Kettering Cancer Center publicou um ensaio no ClinicalTrials.gov anunciando um estudo usando N-acetilcisteína (NAC) em pacientes com COVID-19. Esta foi uma pesquisa inédita.

A equipe planejou inscrever pacientes com doença grave e avaliar o uso de 6 gramas de NAC administrados por via intravenosa todos os dias, além de outros tratamentos. O estudo foi atualizado pela última vez em março de 2021. A equipe postulou que:

“… Um medicamento chamado N-acetilcisteína pode ajudar a combater o vírus COVID-19, estimulando um tipo de célula em seu sistema imunológico que ataca infecções. Ao ajudar o seu sistema imunológico a combater o vírus, os pesquisadores acreditam que a infecção irá melhorar, o que pode permitir que o paciente seja retirado da unidade de terapia intensiva ou respirador, ou impedi-lo de ir para uma unidade de terapia intensiva ou precisar de um ventilador.”

Quase ao mesmo tempo em que o estudo foi anunciado pelo Memorial Sloan Kettering, o Dr. Alexi Polinikov, da Universidade Médica Estatal de Kursk, na Rússia, publicou artigos sugerindo que a glutationa desempenha um papel crucial na capacidade de uma pessoa em responder a uma infecção por COVID-19 e na gravidade resultante da doença. Em um breve vídeo no YouTube, o pneumologista Dr. Roger Seheult explica a ciência por trás.

Além de usar glutationa durante a doença, Polonikov postula que a glutationa pode ser usada como agente preventivo. Com base na exaustiva análise que realizou na literatura médica, ele afirmou acreditar que a deficiência de glutationa é uma razão plausível para a manifestação grave da COVID-19, e explicou:

“(1)o estresse oxidativo contribui para a hiperinflamação do pulmão, levando a desfechos adversos da doença, como a síndrome do desconforto respiratório agudo, insuficiência múltipla dos órgãos e morte;

(2) a defesa antioxidante insuficiente devido à deficiência de glutationa endógena como resultado da diminuição da biossíntese e/ou aumento da depleção de GSH é a causa provável do aumento do dano oxidativo no pulmão, independe de quais fatores foram responsáveis por esse déficit, seja o envelhecimento, comorbidade por doença crônica, tabagismo ou outros."

Seheult e Polonikov explicam como o dano oxidativo desempenha um papel na manifestação grave da COVID-19. Em um segundo vídeo, Seheult explica como a COVID-19 "prepara o terreno" para um aumento significativo do estresse oxidativo, aumentando os níveis de superóxido, uma espécie reativa de oxigênio (ERO) muito prejudicial.

Como funciona a glutationa: um "antioxidante mestre"?

Esse aumento de superóxido ocorre em pessoas que apresentam níveis elevados devido a doenças crônicas que são comorbidades para a COVID-19. Isto inclui doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e hipertensão.

Como o vírus utiliza a enzima ACE2, ele gera angiotensina II, que, por sua vez, gera mais superóxido. Essas EROs podem ser reduzidas com a glutationa peroxidase, pois ela oxida a glutationa no processo de redução do H2O2 em água. A deficiência de glutationa gera um aumento de EROs, conforme descreve Polonikov.

A poderosa função antioxidante da glutationa lhe rendeu o apelido de “antioxidante mestre”. Os antioxidantes ajudam a impedir a oxidação de outras moléculas. A maioria das proteínas é construída a partir de um conjunto de 20 aminoácidos. O arranjo preciso e a sequência destes resultam na atividade biológica específica associada a essa proteína.

No entanto, a glutationa é criada a partir de três aminoácidos - glutamato, glicina e cisteína - para formar a molécula de glutationa. Uma das funções da glutationa é reciclar outros antioxidantes. Isso ajuda a aumentar a sua eficácia e reutilizar as moléculas. Por outro lado, a deficiência de certas vitaminas, como C, E e A, pode causar deficiência de glutationa.

Os fatores de risco comórbidos associados à deficiência de glutationa

Em uma revisão da literatura avaliando o efeito de doenças pulmonares na COVID-19, os pesquisadores escreveram que, em 2002, os dados mostraram que a glutationa protegia contra a inflamação crônica durante uma doença respiratória. Eles postularam que o aumento direto dos níveis de glutationa nos pulmões “seria uma abordagem lógica para a proteção contra a inflamação crônica e lesão mediada por oxidante na doença pulmonar”.

Além de proteger o tecido pulmonar, a glutationa foi estudada em muitas das comorbidades associadas à COVID-19 grave. Por mais de uma década, os pesquisadores notaram que indivíduos com obesidade, doenças cardíacas e diabetes tipo 2, ou pessoas idosas, têm uma incidência maior de deficiência de glutationa associada a essas condições.

Estudos anteriores também descobriram que ela pode reduzir a replicação viral, incluindo do vírus da gripe. É importante ressaltar que a NAC também ajuda a neutralizar a hipercoagulação, pois tem propriedades anticoagulantes e inibidoras de plaquetas. Isso se deve, em grande parte, ao enxofre presente na NAC, que reduz as ligações dissulfeto intercadeias por fatores de Von Willebrand que contribuem para a formação do coágulo.

Visto que as ligações de enxofre do fator de Von Willebrand são quebradas, o coágulo começa a se dissolver e os vasos sanguíneos se abrem, permitindo a troca de oxigênio e dióxido de carbono.

Segundo os autores de um artigo, “A NAC é uma alternativa eficaz e segura aos agentes antitrombóticos disponíveis hoje para restaurar a permeabilidade dos vasos após a oclusão arterial”. Dois artigos adicionais mostram o mesmo.

Estratégias para melhorar seus níveis de glutationa

Como discutido no vídeo, Seheult acredita que os danos causados pelo COVID-19 não se devem apenas ao estresse oxidativo. Ele ressalta que os coágulos removidos de pacientes com COVID-19 confirmada são ricos em plaquetas, indicando outro mecanismo envolvendo as ligações dissulfeto. Ele explica:

“Como já falamos, a N-acetilcisteína e a redução da glutationa quebrarão essas ligações dissulfeto e aliviarão a obstrução e a hipoxemia na COVID-19. Isso é apenas uma hipótese, mas tudo parece se encaixar."

Os alimentos que tiveram um impacto positivo na produção de glutationa incluem vegetais crucíferos como o brócolis, chá-verde, curcumina, alecrim e cardo de leite. Ter um sono de qualidade também pode ajudar.

Diferentes tipos de exercício podem influenciar os níveis de glutationa. Em um estudo, os pesquisadores avaliaram 80 voluntários saudáveis, porém sedentários, para medir os efeitos de diferentes tipos de exercício. Eles descobriram que o treino aeróbico em combinação com a musculação em circuito mostrou o maior benefício.

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