Ferritina sérica e GGT — dois fortes indicadores de saúde que você precisa conhecer

Fatos verificados
Monitorar ferritina sérica

Resumo da matéria -

  • Ao monitorar seus níveis séricos de ferritina (ferro armazenado) e GGT (gamaglutamiltransferase), tomando medidas para reduzi-los, caso os mesmos estejam muito elevados, você poderá evitar problemas graves de saúde
  • A maioria dos homens adultos e mulheres na pós-menopausa correm o risco de ter excesso de ferro devido à excreção ineficiente do mesmo. Se não for tratado, pode causar danos em seus órgãos e contribuir para o aparecimento de câncer, doenças cardíacas, diabetes, doenças neurodegenerativas e muitos outros problemas relacionados a saúde
  • A GGT é uma enzima hepática envolvida no metabolismo da glutationa e no transporte de aminoácidos e peptídeos. GGT pode ser utilizada como um marcador de separação para o excesso de ferro livre, sendo um potente fator que ajuda a prever mortalidade

Por Dr. Mercola

Embora muitos exames de saúde e testes laboratoriais sejam superestimados ou desnecessários, alguns são considerados cruciais, como vitamina D. Eu recomendo verificar seus níveis de vitamina D, no mínimo duas vezes ao ano.

Dois outros testes importantes são a ferritina sérica (que mede o ferro armazenado) e a gama-glutamil transpeptidase ou, às vezes, chamada de gama-glutamiltransferase (GGT; uma enzima hepática correlacionada com a toxicidade do ferro, risco de doença e mortalidade devido a diversas as causas). Ao monitorar seus níveis séricos de ferritina (ferro armazenado) e GGT (gamaglutamiltransferase), tomando medidas para reduzi-los, caso os mesmos estejam muito elevados, você poderá evitar problemas graves de saúde.

Eu recomendo para os adultos, que façam um teste de ferritina sérica e GGT todo ano. Acredito que o excesso de ferro pode ser tão perigoso para sua saúde quanto a deficiência de vitamina D.

O excesso de ferro é mais comum do que a falta do mesmo

O ferro é um dos suplementos nutricionais mais comuns. Você não só pode obtê-lo como um suplemento isolado, mas também pode ser adicionado à maioria dos multivitamínicos. Muitos alimentos processados também são fortificados com ferro. Embora o ferro seja necessário para a função biológica, quando você o consome de maneira excessiva, pode ocorrer danos severos.

Infelizmente, a primeira coisa que as pessoas pensam quando o assunto é sobre "ferro" é anemia, ou deficiência do mesmo, sem perceber que o excesso de ferro é, na verdade, um problema mais comum e bem mais perigoso. Infelizmente, muitos médicos não entendem ou não se atentam para a importância de verificar o excesso de ferro.

A maioria dos homens adultos e mulheres na pós-menopausa correm o risco de excesso de ferro devido à excreção ineficiente do mesmo, visto que não perdem sangue de maneira regular. A perda de sangue é a principal forma de reduzir o excesso de ferro, já que o corpo não possui mecanismos ativos de excreção. Outra causa comum é o consumo regular de álcool, que pode aumentar a absorção de ferro.

Por exemplo, caso acompanhe sua carne vermelha com um vinho, provavelmente irá absorver mais ferro do que o necessário. Há também uma doença hereditária, a hemocromatose, que faz com que seu corpo acumule níveis excessivos e perigosamente prejudiciais de ferro.

Quando não tratado, pode danificar seus órgãos e contribuir para o câncer, doenças relacionadas ao coração, diabetes, doenças neurodegenerativas, entre outros diversos problemas de saúde. Em um pequeno estudo, foi observado que 100% dos pacientes alcançaram redução acentuada nos ataques ou remissão completa, após a flebotomia ter sido utilizada na remoção de ferro, reduzindo os níveis do mesmo — "o menor estoque de ferro corporal compatível com eritropoiese normal e, portanto, ausência de anemia."

O ferro causa danos consideráveis, sendo o principal motivo devido o mesmo ser responsável por catalisar uma reação dentro da membrana mitocondrial. Quando o ferro reage com o peróxido de hidrogênio, são formados radicais livres de hidroxila. Estes estão entre os radicais livres mais prejudiciais ao organismo, pois causam uma disfunção mitocondrial grave, que, por sua vez, é a raiz da maioria das doenças degenerativas crônicas.

GGT é um potente fator para prever mortalidade

A GGT é uma enzima hepática envolvida no metabolismo da glutationa e no transporte de aminoácidos e peptídeos. O teste GGT não só vai dizer se você tem danos ao fígado, mas também pode ser usado como um marcador de triagem para excesso de ferro livre e é um ótimo indicador do risco de morte cardíaca súbita.

Nos últimos anos, os cientistas descobriram que a GGT é interativa com o ferro, e quando a ferritina sérica e a GGT estão em níveis elevados, você corre um risco bem maior de desenvolver problemas crônicos de saúde, pois você terá uma combinação de ferro livre, sendo muito tóxico e armazenamento do mesmo para manter essa toxicidade.

Níveis ideais de GGT e de ferro

Como acontece com muitos outros testes laboratoriais, os intervalos "normais" para ferritina sérica estão longe de serem ideais. Caso esteja "normal", é quase certo que desenvolverá algum tipo de problema de saúde. Com base na recomendação de Gerry, testei meu GGT mês passado e ele estava em 17, o que é considerado saudável, sobretudo porque meu nível de ferritina é 37. Você de fato precisa dos dois testes para confirmar a falta de toxicidade do ferro, como ele explica na entrevista completa.

Nível GGT Ideal, unidades por litro (U/L) Nível médio, acima do qual seu risco de doenças crônicas aumentam de maneira significativa Nível de GGT "normal"
Homens Abaixo de 16 U/L 25 U/L Até 70 U/L
Mulheres Abaixo de 9 U/L 18 U/L Até 45 U/L

Conforme Koenig, mulheres com níveis de GGT acima de 30 U/L possuem maior risco de desenvolver câncer e doenças autoimunes. É curioso que, enquanto para a maioria dos outros testes o intervalo entre o que é considerado saudável e o que é arriscado tende a ser bem amplo, no caso do GGT, o intervalo entre estar saudável ou doente é bem pequeno.

Se tratando de ferritina sérica, um nível de 200 a 300 nanogramas por mililitro (ng/mL) está na faixa normal para mulheres e homens, respectivamente, o que é MUITO alto para uma saúde ideal. Um nível ideal para homens adultos e mulheres que não estejam menstruadas é algo entre 30 e 60 ng/mL.

É importante que não esteja abaixo de 20 ng/mL ou acima de 80 ng/mL. O limite mais comum, usado para a falta de ferro em estudos clínicos é de 12 a 15 ng/mL. Manter um nível saudável de ferro também é importante durante a gravidez. A faixa de 60 a 70 ng/mL está associada a maiores chances de resultados ruins na gravidez. Dito isso, a deficiência de ferro durante a gravidez pode ser um problema, então tenha certeza de realizar o teste.

Por último, mas não menos importante, uma vez que a ferritina e o GGT são interativos, os baixos níveis de GGT tende a ser benéfico se tratando de níveis altos de ferritina. Portanto, se seu GGT estiver baixo, você estará bem protegido, mesmo que sua ferritina seja um pouco mais alta do que o ideal. Mesmo assim, seria sensato tomar medidas para reduzir a ferritina para um nível mais aceitável. Dito isso, mesmo se sua ferritina estiver baixa, possuir níveis elevados de GGT é motivo de preocupação, e isso precisa ser tratado.

Quando um teste de saturação de transferrina pode ser útil?

Caso você seja magro, com um índice de massa corporal (IMC) abaixo de 22 ou 23, Koenig sugere fazer um teste de transferrina também, que fornece um nível de saturação percentual. Um nível de 25% a 35% é de maneira geral considerado saudável. Na década de 1970, o teste de saturação de transferrina foi utilizado como uma forma de marcador para morte precoce. Possuir uma porcentagem de saturação de transferrina de mais de 55, indica um aumento de 60% no risco de morte prematura.

Naquela época, estima-se que 2,6% da população dos Estados Unidos tinha percentuais de saturação de transferrina bastante elevados. Hoje em dia, esse número foi reduzido pela metade, em grande parte devido ao aumento da obesidade, que "dilui" o percentual de saturação, e o teste da transferrina não é mais utilizado como um marcador de morte precoce. No entanto, caso seja muito magro, ainda pode ser um teste válido.

Por que o excesso de ferro é tão perigoso

Seu organismo cria energia passando os elétrons dos carboidratos e gordura para o oxigênio através da cadeia de transporte de elétrons na mitocôndria, produzindo trifosfato de adenosina (ATP). Noventa e cinco por cento do tempo, o oxigênio é convertido em água. Mas 0,5% a 5% do tempo, espécies reativas de oxigênio (ERO) são criadas. As ROS não são todas ruins, pois são moléculas importantes de sinalização biológica, porém o excesso da mesma provoca danos e disfunções mitocondriais.

O ferro pode reagir com a água oxigenada na membrana mitocondrial interna. Esta é uma parte normal da respiração aeróbica celular. Mas quando você tem ferro em excesso, ele catalisa a formação de radicais livres a partir da água oxigenada, que dizimam o DNA mitocondrial, as proteínas mitocondriais de transporte de elétrons e as membranas celulares. É assim que o excesso de ferro acelera as doenças crônicas.

Caso você consuma níveis excessivos de carboidratos líquidos (carboidratos totais menos fibras), a situação é ainda mais grave, já que a queima de carboidratos como combustível primário pode adicionar outros 30% a 40% a mais de ERO em cima dos radicais livres gerados pela presença do alto teor de ferro.

Infelizmente, a maioria das pessoas que está lendo isso está queimando carboidratos como combustível principal. Caso você tenha qualquer tipo de problema de saúde crônico, tenha excesso de ferro e segue uma dieta rica em carboidratos líquidos, normalize seu nível de ferro (explicado abaixo) e implemente uma dieta cetogênica, conforme descrito em meu livro, "Gordura para Combustível", pode ajudar muito na melhora da sua saúde.

Tomar antioxidantes extras para suprimir as ERO geradas apenas pelo alto teor de ferro ou em combinação com uma dieta rica em açúcar é desaconselhável, pois as ERO também atuam como moléculas importantes de sinalização. Elas não são de todo ruins. Eles causam danos apenas quando produzidas em excesso.

O melhor método é diminuir a produção de ROS. Uma das formas mais fáceis e eficientes de fazer isso é seguir uma dieta rica em gorduras saudáveis, adequada em proteínas e pobre em carboidratos líquidos. Consumir gorduras saudáveis pode fazer uma diferença maior do que você pensa, sobretudo se você possuir alto teor de ferro.

Como abaixar os níveis de ferro

A boa notícia é que é fácil reduzir os níveis de ferro, caso estejam muito elevados. Um dos modos mais fáceis é apenas realizando doação de sangue duas ou três vezes ao ano. Se você tiver uma sobrecarga intensa, pode ser necessário realizar flebotomias de forma regular. Dois anos atrás, minha ferritina correspondia a 150 ng/mL. Eu implementei a auto flebotomia, onde tirava de 2 (57 gramas) a 6 onças (170 gramas) de sangue em um curto intervalo de tempo, o que deixava meus níveis abaixo de 100 ng/mL.

Parei a flebotomia quando comecei uma estratégia abrangente de desintoxicação, envolvendo sauna infravermelho próximo e distante e, apesar do fato de eu não estar mais tirando sangue, minha ferritina continuou a diminuir nos nove meses seguintes. Agora, caiu para 37, muito mais baixo do que jamais fui capaz de chegar com flebotomias terapêuticas e, como mencionei antes, possuo um nível de GGT de 17, o que é considerado saudável.

Um programa de desintoxicação eficaz também pode ajudar na redução dos níveis de ferro. Embora tenha sido uma surpresa para mim, Koenig confirma que isso foi de fato documentado pelo Dr. F.S. Facchini em algumas de suas pesquisas a respeito do ferro. Embora venha recomendando há muito tempo a doação de sangue como solução para o excesso de ferro no organismo, hoje, acredito que uma abordagem equilibrada utilizando flebotomia, desintoxicação e redução de ferro na dieta, sobretudo carne, é a melhor maneira.

Lembre-se de que tentar controlar altos níveis de ferro apenas por meio da dieta, pode ser arriscado, pois você também irá renunciar a muitos nutrientes crucias para uma boa saúde. Dito isso, também é possível limitar sua absorção de ferro evitando consumir alimentos ricos em ferro em conjunto com alimentos ou bebidas ricas em vitamina C, já que a vitamina C ajuda na absorção de ferro. Caso necessário, também é possível ingerir um suplemento de cúrcuma. A cúrcuma age como um forte quelante do ferro e pode ser um suplemento útil se seu ferro estiver elevado.

Como reduzir seus níveis de GGT

A GGT está relacionada de maneira inversa à glutationa, um potente antioxidante produzido pelo organismo. Conforme seus níveis de GGT aumenta, sua glutationa é reduzida. Isso faz parte da equação que explica como o GGT elevado pode danificar sua saúde. Ao elevar seu nível de glutationa, você reduzirá seu GGT. O aminoácido cisteína, encontrado na proteína do soro do leite, aves e ovos, é muito importante para a produção de glutationa pelo seu corpo.

Carnes vermelhas, que não contêm cisteína, tendem a aumentar o GGT, assim como o álcool, de forma que ambos devem ser evitados. A pesquisa também sugere que consumir pelo menos 10 porções de frutas e vegetais ricos em vitamina C, fibra, beta-caroteno, antocianinas e ácido fólico por semana pode ajudar na redução da GGT. Os exemplos incluem cenoura, alface, espinafre, batata-doce, damasco e tomate.

Alguns medicamentos também podem aumentar os níveis de GGT. Caso esse seja o caso, consulte seu médico para determinar se você pode interromper a medicação ou mudar para outro, e evitar medicamentos sem prescrição, incluindo ibuprofeno e aspirina, que podem causar danos ao seu fígado.

A desintoxicação geral é outro componente importante caso seu GGT esteja elevado, pois a remoção das toxinas do corpo é o trabalho do seu fígado. O fato de que seu GGT está elevado significa que seu fígado está sob estresse.

Doações de sangue levam à redução radical da doença

Vários estudos epidemiológicos também documentaram uma redução significativa nas doenças crônicas entre as pessoas que doam sangue de duas ou três vezes ao ano. Descobertas que sustentam a ideia de que o excesso de ferro é prevalente e contribui para doenças crônicas. Em alguns casos, as doenças cardíacas e o câncer foram reduzidos em até 50%, aponta Koenig.

Infelizmente, muitos médicos ainda não sabem da importância de verificar o excesso de ferro (com base nos níveis ideais e não no que é considerado normal), podendo deixar de realizar o teste GGT também.

Para resumir, caso esteja preocupado em manter uma boa saúde e prevenir doenças crônicas, eu recomendo que você realize um teste de ferritina e GGT de maneira regular e, se necessário, implemente as estratégias discutidas acima para colocá-los a níveis ideais.

Ferritina sérica e GGT são marcadores de toxicidade de ferro, um dos principais contribuintes não reconhecidos para doenças cardíacas, câncer, diabetes, doenças relacionadas ao fígado e diversas outras. Altos níveis de ferro podem aumentar o risco de infecções. Conforme observado por Koenig, você de fato não deseja precisar de ir em um hospital devido a altos níveis de ferro, pois o risco de contrair uma infecção adquirida nesse local será muito maior. A boa notícia é que é muito fácil reparar esse problema, reduzindo o risco de maneira drástica.