Qual é a chave para ter uma vida prolongada, como as dos centenários japoneses?

Fatos verificados
Centenários japoneses

Resumo da matéria -

  • Informações de um grupo de centenários com idade média de 107 anos, revelaram que a microbiota intestinal que inclui Odoribacteraceae, que produz de forma confiável um ácido biliar chamado ácido isoalolitocólico (isoalloLCA), importante para prevenir doenças
  • Um forte equilíbrio da microbiota intestinal, também pode ajudar na diminuição de inflamação crônica, que está associada a doenças como: aterosclerose, cardiovasculares, fragilidade e morte precoce
  • Consumir alimentos fermentados probióticos para estimular seu microbioma intestinal e alimentos prebióticos ricos em fibras insolúveis para nutrir as bactérias benéficas, é uma estratégia importante para o benefício de sua saúde e bem-estar
  • Outras maneiras de otimizar sua saúde intestinal são: eliminar o açúcar, implementar uma dieta cetogênica cíclica e utilizar antibióticos de maneira moderada. O jejum é outra estratégia que benéfica para essa questão, podendo ajudar a autofagia, aumentar o hormônio do crescimento e queimar calorias

Por Dr. Mercola

Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade Keio em Tóquio no Japão, divulgaram de maneira recente, dados após o estudo do microbioma intestinal de centenários que vivem no Japão. O que eles descobriram foi uma bactéria única que produzia um tipo de ácido biliar, que parecia ser comum à maioria dos participantes do estudo.

As pessoas procuram a “fonte da juventude” há anos. Dizem que Alexandre, o Grande, descobriu um rio do paraíso no século IV AC. Lendas semelhantes foram contadas na Inglaterra, Japão e Polinésia. É provável que um dos mais famosos seja o de Ponce de Leon, que recebeu um contrato do rei da Inglaterra para colonizar uma ilha chamada Bimini.

Em 1513, ele foi com três navios e ancorou na costa leste da Flórida. Após sua morte, ele foi relacionado à Fonte da Juventude. Em seus últimos anos, o autor Mark Twain observou que "a vida seria muito mais feliz se pudéssemos nascer aos 80 anos e progressivamente nos aproximarmos dos 18."

Através dos tempos, sempre houve esperanças de que uma cura para o envelhecimento fosse descoberta, seja através das águas mágicas da Fonte da Juventude ou por meio de pesquisas realizadas com células-tronco. Porém, como escrevi nos últimos anos, essa "fonte mágica" de certo modo está mais perto do que se imagina.

Centenários podem ter microbioma intestinal único

Os dados da equipe de pesquisa no Japão, foram publicados na revista Nature. Observaram que os centenários apresentavam uma menor suscetibilidade a doenças associadas aos idosos, sobretudo doenças infecciosas e inflamações crônicas.

Pesquisadores analisaram amostras fecais de 160 centenários que vivem em todo o Japão. Foi observada que a idade média dos indivíduos foi de 107 anos. Eles compararam o microbioma intestinal encontrado nas amostras fecais com o de outras 112 pessoas na faixa dos 80 anos e outros 47 participantes mais jovens.

O objetivo era procurar diferenças no microbioma intestinal que pudessem ajudar a explicar as diferenças na inflamação e na doença crônica observadas entre os grupos analisados. Os pesquisadores começaram compreendendo que os microbiomas intestinais de centenários de certo modo tinham uma maior diversidade de microbiota central, conforme encontrado em um estudo com residentes na Sardenha, Itália, que viveram mais de 100 anos.

Uma análise funcional da microbiota intestinal no estudo da Itália, mostrou uma alta capacidade de metabolismo central e uma microbiota intestinal que era "baixa em genes que codificam enzimas envolvidas na degradação de carboidratos."

O estudo recente do Japão analisou as diferenças nas espécies bacterianas presentes nos microbiomas intestinais de cada grupo e também o tipo de compostos produzidos pelo microbioma intestinal.

Os pesquisadores esperam que, ao identificar as comunidades bacterianas que apoiam a ideia de longevidade e o bem-estar, seja possível corrigir desequilíbrios que previnam doenças e melhorem a saúde de outras pessoas.

Também se trata de ácidos biliares

No entanto, também vale ressaltar de que o microbioma intestinal é complexo e sensível. Pesquisas anteriores, mostraram que mudanças nos alimentos que você consome podem alterar de maneira rápida a composição do seu microbioma intestinal. Porém, como você pode imaginar, não é comum atingir a idade superior a 100 anos, portanto, os dados coletados desses indivíduos podem auxiliar na identificação de práticas de saúde que reduzam doenças.

Enquanto alguns participantes exibiram baixos níveis de inflamação, o ScienceAlert relata que os pesquisadores escreveram que "a maioria dos centenários estava livre de doenças crônicas, como: obesidade, diabetes, hipertensão(pressão alta) e câncer."

Ao longo de dois anos, enquanto as amostras fecais foram coletadas, o tipo de comunidade bacteriana nos centenários permaneceu estável. No entanto, o estudo não analisou outros fatores de estilo de vida, como dieta, por exemplo. Em uma análise mais aprofundada, os pesquisadores descobriram que os centenários tinham um grupo de bactérias (Odoribacteraceae) responsáveis por produzir de forma confiável um ácido biliar chamado ácido isoallo-litocólico (isoalloLCA).

A equipe de pesquisa também fez outros experimentos, que mostraram que o ácido biliar produzido por Odoribacteraceae poderia inibir o crescimento de Clostridium difficile (C. difficile) observados em laboratório. Através de um estudo realizado em animais, eles também observaram que a mesma cepa de bactérias produtoras de bile poderia reduzir a quantidade de C. difficile (Clostridium difficile) observado em ratos infectados, que difundiram abaixo dos níveis detectáveis.

Isso sugeriu aos pesquisadores, que essa cepa de bactérias poderia ser benéfica contra uma infecção por C. difficile. Cientistas estão descobrindo que os ácidos biliares podem ser uma nova classe de hormônios intestinais que além de auxiliar na ingestão, podem ter mais benefícios.

A fisiologista de pesquisa Kim Barrett, da UC San Diego, não foi envolvido no estudo. Ela acredita que esse trabalho revelou mais correlação do que causalidade, porém também disse: "É de certo modo concebível que a manipulação de concentrações de ácidos biliares específicos, sejam microbianos ou administrados de modo direto, possa promover benefícios para a saúde."

Envelhecimento e Inflamação

A inflamação é responsável por muitas condições negativas de saúde. Incluindo: aterosclerose, doença cardiovascular, multimorbidade e fragilidade. Os pesquisadores chamam isso agora de inflamação, sendo "uma condição caracterizada por níveis elevados de marcadores inflamatórios no sangue, responsáveis por carregar uma alta suscetibilidade à morbidade crônica, incapacidade, fragilidade e morte prematura."

A inflamação afeta pessoas de todas as idades. Por exemplo, adultos com obesidade, além de crianças com alergias cutâneas e respiratórias lutam com altos graus de inflamação no organismo. Os pesquisadores entendem que o envelhecimento é complexo e a informação crônica é uma característica disseminada entre os idosos.

A inflamação representa um fator significativo de risco de mortalidade e morbidade. Até mesmo a inflamação de baixo grau observada no envelhecimento pode resultar em desregulação do sistema imunológico inato e morte celular.

A inflamação também está relacionada à sua saúde mental. Em um estudo, os pesquisadores conectaram sintomas depressivos e distúrbios comportamentais com a inflamação crônica. Os chamados monócitos, que são glóbulos brancos, expressam genes pró-inflamatórios que causam a secreção de citocinas em quadros de depressão melancólica, transtorno bipolar e depressão pós-parto.

Enquanto isso, ocorre uma diminuição da sensibilidade ao cortisol, sendo que o mesmo um hormônio responsável pelo estresse, que protege contra a inflamação. Esses agentes inflamatórios, em conjunto, transmitem informações ao sistema nervoso, estimulando o nervo vago, que conecta o intestino ao cérebro.

Alimentos prebióticos e probióticos podem auxiliar na nutrição de seu intestino

Os alimentos prebióticos são os nutrientes que as bactérias benéficas necessitam. Eles são encontrados sobretudo em alimentos ricos em fibras, sendo isso perfeito, pois suas bactérias intestinais prosperam em fibras não digeríveis. Em pesquisas realizadas em animais, dados mostraram que os prebióticos dietéticos causaram um efeito significativo nos ciclos de sono de movimento rápido dos olhos (REM) e não-REM (não-REM).

Isso pode afetar de maneira positiva a qualidade do seu sono. Pesquisadores que estudam o efeito dos probióticos na saúde intestinal e no sono REM, descobriram que os animais que consumiram os prebióticos tiveram um aumento nas bactérias intestinais benéficas e excretaram metabólitos favoráveis para a saúde do cérebro.

Os alimentos prebióticos incluem aqueles ricos em fibras indigeríveis, como aspargos, castanha de caju, bulbo de erva-doce, alho-poró e ervilhas. Embora eu recomendo obter a maioria de seus nutrientes de alimentos saudáveis, os suplementos probióticos podem ser úteis quando você não consegue consumir alimentos fermentados.

Para que os probióticos realizem sua função, você precisa também otimizar as condições em que eles florescem, o que significa consumir muitos alimentos prebióticos. Em outras palavras, se você ingerir um suplemento probiótico e continuar com uma dieta muito processada e com adição de açúcares, estará apenas alimentando as bactérias potencialmente patogênicas em seu intestino, pois elas adoram o açúcar.

Por outro lado, os micróbios patogênicos não prosperam na presença de alimentos ricos em fibras ou de gorduras saudáveis, proteínas e carboidratos complexos. Um microbioma intestinal desequilibrado pode afetar o sistema imunológico, a saúde mental, o humor e até a função cerebral. Em outras palavras, pode elevar o nível de inflamação crônica em seu organismo e acelerar o processo de envelhecimento.

Mais maneiras de otimizar a saúde intestinal

A seguir, estão diversos componentes principais da dieta que o ajudarão a nutrir o microbioma intestinal, protegendo-se assim contra uma série de doenças crônicas:

Elimine açúcares e alimentos processados da sua dieta, já que o açúcar alimenta micróbios conhecidos por ter uma influência negativa em sua saúde.

Implemente uma dieta cetogênica cíclica Por mais que a cetose nutricional inicialmente melhore o microbioma intestinal devido à eliminação do excesso de açúcares, a longo prazo, a cetose contínua pode ser problemática. Para otimizar sua saúde intestinal, certifique-se de consumir muitos vegetais ricos em fibras (consulte a próxima seção) e implemente uma dieta cetogênica cíclica, em que, uma ou duas vezes por semana, você aumenta a quantidade de carboidratos líquidos (quantidade total de carboidratos, menos quantidade de fibras).

Consuma muitos alimentos ricos em fibras/prebióticos. Existem dois tipos principais de fibras alimentares: as solúveis e as insolúveis. O ideal é que você consuma ambas com regularidade. A fibra solúvel, encontrada em pepinos, mirtilos, feijões e nozes, se dissolve em uma textura semelhante à de um gel, ajudando a desacelerar sua digestão.

As fibras insolúveis são encontradas em alimentos como vegetais folhosos verde-escuros, vagem, aipo e cenouras. Esse tipo de fibra não se dissolve, e ajuda a aumentar o volume das fezes. Ela faz com que os alimentos se movam pelo trato digestivo de modo mais rápido, promovendo uma evacuação mais saudável.

Eles são encontrados sobretudo em alimentos ricos em fibras, sendo isso perfeito, pois suas bactérias intestinais prosperam em fibras não digeríveis. Inulina é um tipo de fibra solúvel em água, que ajuda a nutrir as bactérias benéficas em seu intestino, ela pode ser encontrada em alimentos como: cebola, alho, alho-poró e aspargos.

Consuma de maneira regular alimentos tradicionalmente fermentados e cultivados, carregados com uma grande variedade de bactérias saudáveis vivas. Escolhas saudáveis incluem lassi (uma bebida indiana à base de iogurte), leite orgânico fermentado de vacas alimentadas com capim, kefir, soja fermentada ou natto e diferentes tipos de fermentações em conserva, como repolhos, nabos, berinjela, pepino, cebola, abóbora e cenoura.

Considere um suplemento probiótico à base de esporos, sobretudo ao realizar um tratamento feito com antibióticos. Esporobióticos fazem parte de um grupo de derivados microbianos denominados bacilos. Esse gênero possui centenas de subespécies, sendo a mais importante a Bacillus subtilis.

Os esporobióticos consistem na parede celular dos esporos do bacilo, sendo uma ferramenta primária responsável por aumentar sua tolerância imunológica. Devido aos esporobióticos não conter cepas vivas de Bacillus, apenas seus esporos, a casca protetora ao redor do DNA e o mecanismo de trabalho desse DNA não são afetados por antibióticos.

Os antibióticos eliminam de maneira indiscriminada as bactérias intestinais, boas e ruins, sendo esse o motivo pelo qual as infecções secundárias e diminuição da função imunológica são efeitos colaterais comuns vistos no consumo de antibióticos.

A exposição crônica a antibióticos através da alimentação, mesmo que em baixa dosagens, também causa danos para o microbioma intestinal, resultando em doenças crônicas e elevação do risco de resistência a medicamentos. Por eles não serem destruídos por antibióticos, os esporobióticos podem auxiliar de maneira mais eficaz a restabelecer seu microbioma intestinal.