Por Dr. Mercola
A gonorreia é uma doença sexualmente transmitida (DST) que infecta anualmente cerca de 78 milhões de pessoas no mundo todo, a maioria em idades entre 15 e 24 anos.
Causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae, a gonorreia é transmitida através de contato sexual, assim como da mãe para bebê durante o parto. Esta infecção bacteriana tem sido facilmente tratada durante muito tempo, porém a gonorreia está tornando-se incrivelmente resistente aos tratamentos com medicamentos disponíveis.
Por este motivo, ela está sendo descrita como questão de saúde pública de urgência. A Dra. Teodora Wi, diretora médica de reprodução humana da Organização Mundial de Saúde (OMS) informou: “A bactéria que provoca a gonorreia é particularmente inteligente.
Toda vez que usamos uma nova categoria de antibióticos para tratar a infecção, a bactéria evolui para tornar-se resistente a eles”. A gonorreia resistente a antibióticos surgiu pela primeira vez quando eu estava na faculdade de medicina no fim dos anos 1970.
Pelos anos 1980, os antibióticos penicilina e tetraciclina já não eram mais eficazes contra a doença. Em seguida, surgiu a gonorreia resistente aos antibióticos fluoroquinolonas, deixando apenas uma classe de medicamentos antibióticos para tratá-la, as cefalosporinas. Agora, como você já deve suspeitar, a gonorreia está se tornando resistente às cefalosporinas — o último antibiótico disponível para tratá-la.
Primeira Cepa de Gonorreia Super Resistente Reportada
Em 2013, o Centro Americano de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, mantendo a sigla em inglês) estimou que cerca de um terço dos casos de gonorreia era resistente a, pelo menos, um antibiótico. Eles atualizaram as diretrizes para tratamento naquele momento incluindo uma dose de antibiótico ceftriaxona juntamente com um segundo antibiótico.
A partir de 2018, o CDC ainda recomenda esta terapia dupla, especificamente uma dose única intramuscular de 250 miligramas (mg) de ceftriaxona e 1 grama (g) de azitromicina oral.
O tratamento duplo prolongado inicialmente parecia estar funcionando, reduzindo a taxa de resistência de 1,4% em 2011 para 0,4% em 2013. No entanto, de acordo com os dados do CDC publicados no JAMA, “as melhorias na suscetibilidade podem ter vida curta”. De acordo com o CDC:
“A gonorreia desenvolveu resistência a praticamente todos os antibióticos usados para seu tratamento. Estamos atualmente reduzidos a uma classe de antibióticos recomendada e efetiva, as cefalosporinas, para tratar esta infecção comum. Esta é uma ameaça à saúde pública urgente, porque o controle da gonorreia nos Estados Unidos, em grande parte, depende de nossa capacidade de tratar a infecção com sucesso.”
No Reino Unido, foi reportado o primeiro caso de gonorreia resistente tanto à ceftriaxona quanto à azitromicina. O homem foi diagnosticado no início de 2018 e acredita-se que tenha contraído a infecção via atividade sexual com uma pessoa do sudeste da Ásia cerca de um mês antes.
Gwenda Hughes, cientista consultora e chefe do departamento de infecções sexualmente transmissíveis na Saúde Pública da Inglaterra (PHE, mantendo a sigla em Inglês), declarou que “[A infecção]… é muito resistente à primeira linha de tratamento recomendada… Esta é a primeira vez que um caso mostrou nível tão alto de resistência a ambos os medicamentos e à maioria dos outros antibióticos comumente usados”.
O paciente está agora sendo tratado com um antibiótico intravenoso chamado ertapenem, que está relacionado à ceftriaxona. A infecção parece estar respondendo ao novo tratamento, porém oficiais estão planejando realizar um novo exame no paciente, em abril, para determinar se o tratamento foi bem-sucedido. “Estamos acompanhando este caso para garantir que a infecção foi tratada com eficácia com outras opções e que o risco de transmissão futura seja reduzido”, informou Hughes.
Quais São os Riscos Promovidos à Saúde pela Gonorreia?
Embora a gonorreia geralmente não promova sintomas, ela pode desencadear uma sensação de queima ou dor ao urinar, secreção branca, verde ou amarela do pênis, secreção vaginal elevada, testículos doloridos ou inchados em homens e sangramento vaginal entre os períodos de menstruação em mulheres.
Infecções no reto com gonorreia podem desencadear secreção anal, coceira, dor e sangramento ou evacuações doloridas.
Se não tratada (ou se a doença progredir devido à resistência ao tratamento), a gonorreia pode desencadear doença inflamatória pélvica (DIP) em mulheres, o que pode provocar:
- Formação de tecido cicatricial nas trompas de falópio
- Gravidez ectópica
- Infertilidade
- Dor pélvica e abdominal de longo prazo
Em homens, a gonorreia pode desencadear dor nos tubos anexos aos testículos, podendo levar à infertilidade. Ademais, se a gonorreia propagar-se pelo sangue ou articulações, ela pode tornar-se ameaçadora à vida e também aumentar os riscos de contração do vírus HIV.
Se você está grávida e transmitir gonorreia a seu bebê durante o parto, a doença pode desencadear cegueira, infecção nas articulações ou infecção sanguínea ameaçadora à vida do bebê.
Gonorreia Resistente a Medicamentos Está Aumentando
De 2013 a 2014 o número de casos de gonorreia resistente a antibióticos dobrou, com taxas chegando a 0,8%. A OMS reconhece a gonorreia resistente a medicamentos como “emergencial”, sendo que diversos países, incluindo Austrália, França, Japão, Noruega, Suécia e Reino Unido têm experimentado aumento nos casos de infecção.
Ademais, em um estudo realizado em 77 países, a OMS relatou propagação da resistência à ciprofloxacina, sendo que 97% dos países relataram cepas resistentes a medicamentos e aumento na resistência à azitromicina, com 81% dos países relatando resistência.
Além disso, 66% dos países perceberam cepas de gonorreia resistentes aos últimos recursos de tratamento de espectro estendido realizados com cefalosporinas (ESCs), cefixima oral ou ceftriaxona injetável.
De acordo com a OMS “Atualmente, na maioria dos países, ESCs são os únicos antibióticos ainda eficazes no tratamento da gonorreia. Porém, resistência à cefixima — e mais raramente à ceftriaxona — tem sido reportada em mais de 50 países”.
Além disso, informou Wi da OMS, “Estes casos podem ser somente a ponta do iceberg, uma vez que há falta de sistemas de diagnóstico e relato de infecções não tratáveis em países de mais baixa renda onde a gonorreia é, na verdade, mais comum”. Em adição a este problema, os medicamentos em fase de desenvolvimento para tratamento de gonorreia resistente a antibióticos são poucos e dispersos.
Somente três novos medicamentos candidatos estão em diversos estágios de desenvolvimento. A OMS continua:
“O Desenvolvimento de novos antibióticos não é muito atraente para as companhias farmacêuticas comerciais. Os tratamentos são realizados por períodos curtos de tempo (diferente dos medicamentos para doenças crônicas) e eles tornam-se menos eficazes conforme a resistência vai se desenvolvendo, o que significa que o suprimento de novos medicamentos constantemente necessita de reposição.”
Como doença sexualmente transmissível, a gonorreia pode ser evitada através de práticas sexuais seguras, como relacionamento monogâmico mútuo com um parceiro que não tenha gonorreia, assim como o uso de preservativos.
“É melhor evitar contrair ou transmitir gonorreia em primeiro lugar e todos podem significativamente reduzir seu próprio risco usando preservativo regularmente e corretamente com parceiros novos e casuais”, observou Hughes da PHE. Refrear a propagação mundial da doença resistente a antibióticos, no entanto, é muito mais complicado.
Diversos Tipos de Doenças Resistentes a Antibióticos Estão Aparecendo
Bactérias são, em sua essência, difíceis de adaptar-se a ameaças como antibióticos e, em um determinado momento quando elas adaptam-se a resistir a eles, infecções que eram anteriormente facilmente tratadas, sem dúvida, voltarão com força renovada.
Temos visto o aumento no uso excessivo e no uso inapropriado de antibióticos nos EUA como um grande responsável pela crise de superbactérias que enfrentamos hoje.
O disseminado uso indevido de antibióticos por parte da indústria agrícola desempenha função significante, pois a agricultura contabiliza cerca de 80% de todos os antibióticos usados. As operações CAFOs (operações de alimentação confinada de animais), em particular, são focos de reprodução de bactérias resistentes a antibióticos, devido à contínua administração de pequenas doses de antibióticos nos animais, o que permite a sobrevivência, adaptação e finalmente o desenvolvimento de patógenos.
O Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) julgou que a resistência a antibióticos é a principal ameaça à saúde pública mundial e a causa primária para esta epidemia desenvolvida por humanos é o amplo uso indevido de antibióticos.
Entre 2000 e 2015, o consumo humano de antibióticos aumentou 65%, alcançando 42 bilhões de doses por ano, de acordo com pesquisa publicada nos Procedimentos da Academia Nacional de Ciências (Proceedings of the National Academy of Sciences).
Tal aumento foi impulsionado por países de renda baixa a média e, se não houver alterações na política, estima-se que o consumo global aumente em até 200% até 2030, aumentando o problema. Mundialmente, 700.000 pessoas morrem todos os anos devido a doenças resistentes a antibióticos e estima-se que pessoas serão mais afetadas por elas do que pelo câncer até 2050.
Além da gonorreia resistente a medicamentos, que é classificada como ameaça urgente, uma das ameaças à saúde mais urgentes com relação à resistência a antibióticos é a Enterobacteriaceae (CRE) resistente a carbapenemas, que são resistentes à classe de antibióticos chamada carbapenemas.
A clostridium difficile (C. difficile) resistente a medicamentos é outra ameaça urgente que provoca diarreia ameaçadora à vida.
Como Prevenir-se Contra Doenças Resistentes a Medicamentos
Quanto mais fortes suas defesas imunológicas, menor chance um micróbio – resistente a antibiótico ou não – terá de conquistar lugar em alguma parte de seu organismo.
Abaixo estão algumas estratégias básicas para alimentar seu sistema imunológico. Ademais, em uma época em que estamos enfrentando o fim potencial dos antibióticos da forma como os conhecemos, é importante que todos façam ouvir suas vozes no que se refere ao desenfreado sobreuso de antibióticos em operações CAFO apoiando somente as fazendas que não estão perpetuando o problema.
Incentivo-o (a) a comprar seus produtos animais diretamente de uma fazenda confiável ou procurar por fazendas que seguem as normas e tenham certificado de alimentação de seus animais no pasto.
Melhore sua dieta. Evite alimentos que afetem seu sistema imunológico, tais como gorduras trans, alimentos fritos, alimentos processados, açúcar e grãos; reduza o consumo de carboidratos líquidos (açúcar, grãos, frutose) e proteína, substituindo-os por gorduras de alta qualidade. |
A maior parte de sua dieta deve ser proveniente de alimentos frescos, integrais, como legumes orgânicos e carnes e derivados de leite provenientes de animais alimentados no pasto, e gorduras benéficas, como manteiga crua proveniente de animal alimentado com grama e derivados de leite fermentados provenientes de animais alimentos no pasto, queijo, gemas de ovos e abacates. Grande parte do sistema imunológico reside em seu trato GI, o qual depende de uma flora intestinal saudável e equilibrada. |
Uma das melhores formas de fazer isto é incorporando alimentos naturalmente fermentados na dieta, em torno de 113 a 170 gramas por dia. Uma porção grande de vários gramas de alimentos fermentados pode fornecer cerca de 10 trilhões de bactérias benéficas, o que significa em torno de 10% da população de seu intestino. Você pode consumir um suplemento probiótico de alta qualidade, porém os alimentos fermentados reais oferecem o maior benefício. Você pode também querer considerar uma dieta cetogênica. |
Pratique exercícios regularmente. O exercício melhora a circulação das células imunológicas no sangue. Quanto melhor tais células circulam, mais eficiente será o sistema imunológico com relação à localização e eliminação dos patógenos no sangue. Certifique-se de que seu plano de exercícios físicos incorpore treinamento de peso, exercícios intervalados de alta intensidade, alongamento e exercícios localizados e faça bastante movimento de não exercício diariamente (esforce-se para permanecer sentado(a) por menos de três horas por dia). |
Tenha um bom sono restaurador. A privação do sono tem o mesmo efeito sobre o sistema imunológico que o estresse físico ou doença, e é por isso que você pode sentir-se doente depois de uma noite de sono ruim. |
Obtenha bons dispositivos de escape de estresse. Altos níveis de hormônios do estresse podem reduzir sua imunidade, portanto certifique-se de implantar alguns tipos de gerenciamento de estresse. Meditação, oração, ioga e Técnicas de Liberdade Emocional (EFT) são todas excelentes estratégias para gerenciar o estresse, porém você será capaz de encontrar a melhor solução para você mesmo(a). |
Melhore seus níveis de vitamina D. Estudos realizados mostraram que um nível inadequado de vitamina D pode aumentar os riscos de desenvolvimento de MRSA e outras infecções. A melhor fonte de vitamina D é a exposição da pele ao sol. |
Monitore seus níveis de vitamina D para confirmar se estão na faixa terapêutica indicada, 60 a 80 ng/ml. Se você não consegue expor-se ao sol regularmente, considere o consumo de um suplemento de vitamina D3 oral. Apenas lembre-se de que se consumir uma dose alta de vitamina D, você pode também precisar aumentar o consumo de cálcio, magnésio e vitamina K2 para manter equilíbrio adequado. |