Conectado para curar: Remapeando o cérebro para se recuperar de enfermidades crônicas e misteriosas

sistema límbico

Resumo da matéria -

  • A hiperatividade ou disfunção límbica parece ser um núcleo fundamental da disfunção e dos desafios associados com sensibilidade química múltipla (SQM), hipersensibilidade eletromagnética (HE), síndrome da fadiga crônica (SFC), fibromialgia (FM) e várias outras condições
  • Seu sistema límbico é a parte emocional e reativa de seu cérebro, responsável por filtrar informações sensoriais e emocionais, e organizar essas informações em duas categorias distintas: seguras ou inseguras
  • Quando os neurônios ao longo dessa rede neural são danificados ou têm seu funcionamento comprometido, seu sistema límbico pode começar a categorizar informações que normalmente não seriam consideradas perigosas como ameaças em potencial para sua vida; essencialmente, seu cérebro fica preso no mecanismo de luta-fuga-ou-congelamento
  • A reeducação límbica ajuda a treinar novamente seu sistema límbico para responder de maneira funcional, reduzindo assim esses sintomas
  • Lembre-se, entretanto que, mesmo que os seus sintomas sejam dissipados através do treinamento límbico, você ainda precisa mitigar as lesões celulares causadas por produtos químicos, mofos ou exposição à EMF

Por Dr. Mercola

Annie Hopper é uma especialista em reeducação límbica. Embora você possa nunca ter ouvido essa expressão, a hiperatividade ou disfunção límbica parece ser um dos núcleos fundamentais nas disfunções e desafios associados com a sensibilidade química múltipla (SQM), hipersensibilidade eletromagnética (HE), síndrome da fadiga crônica (SFC), fibromialgia (FM) e várias outras condições, e ao reeducar o seus sistema límbico para responder de maneira adequado, os sintomas podem diminuir ou desaparecer por completo.

Hopper se encontrou sem moradia por um certo período devido aos sintomas de sua HE, que a deixaram incapaz de tolerar ambientes modernos. Conheci Hopper recentemente no estande de campos eletromagnéticos (EMF, do inglês, electromagnetic field) de Peter Sullivan em uma conferência sobre autismo chamada Generation Rescue, organizada por Jenny McCarthy.

Sullivan financia projetos de saúde ambiental que focam em toxinas e segurança no uso de tecnologias sem fio. Sullivan também se beneficiou do trabalho de Hopper. Curioso, eu li o livro de Hopper, “Wired for Healing: Remapeando o cérebro para se recuperar de enfermidades crônicas e misteriosas,” que é uma ótima fonte de informações. (em Inglês)

O desenvolvimento da HE — Um depoimento pessoal

Hopper descreve os desafios que a levaram a escrever seu livro:

"Tudo começou em 2004. Eu trabalhava como conselheira epistemológica em Kelowna, British Columbia. Eu trabalhava em um escritório onde [havia] mofos ... [e] meu escritório ficava logo ao lado do almoxarifado do zelador, onde eram guardados todos os produtos químicos de limpeza do escritório, todos aqueles removedores industriais para limpeza pesada.

O que eu também não sabia era que o escritório que eu estava alugando, de fato, costumava fazer parte do almoxarifado. Eles apenas ergueram uma parede, criando um pequeno espaço usado como escritório. O lugar também não tinha ventilação adequada.

Trabalhei nesse escritório por aproximadamente cinco meses. Durante esse período, comecei a ficar doente progressivamente. Antes disso, [e] isso é o que chamamos de a tempestade perfeita para prejudicar o sistema límbico ... Sofri um acidente de carro onde acabei com uma pequena lesão no pescoço.

Esse foi provavelmente o meu quinto acidente de carro antes dessa exposição ao mofo e aos produtos químicos. Seja como for, durante os cinco meses que passei naquele prédio, comecei a desenvolver progressivamente sintomas como ansiedade, dores crônicas nos músculos e articulações, e essa sensibilidade cada vez maior à praticamente todos os itens de uso diário no meu ambiente, como perfumes e colônias.

Foi assim que começou ... Realmente me sentia como se estivesse sendo envenenada pela exposição a todos os tipos de produtos químicos. Eventualmente me mudei daquele prédio, porque compreendi que era o lugar em si que estava me deixando doente, mas naquele momento, já era tarde demais.

Os danos já tinham acontecido ... [Foi então que] Eu atingi que chamo de um ponto de inflexão. Eu estava andando por uma livraria e passei por uma prateleira com velas aromáticas em exposição. Outras pessoas podem ficar tranquilas com isso, mas ... naquele momento, algo aconteceu com o meu cérebro.

Passei dos limites em termos dessa resposta de luta-ou-fuga que simplesmente não parou. Naquele ponto, me senti como se estivesse tendo uma hemorragia cerebral ou algo assim. A luz machucava. Os sons machucavam.

Os cheiros machucavam. Tudo me causava dor ... Quando acordei na manhã seguinte ... Eu não conseguia mais usar as mesmas roupas que usava antes, porque meu cérebro agora estava interpretando mesmo as menores quantidades de resíduos químicos dos detergentes de lavanderia como potenciais ameaças à minha vida.

Isso deu início a um tipo muito bizarro de mundo de ficção científica, onde eu realmente tinha que navegar o meu caminho pela vida. Se eu caminhasse por alguma rua onde por acaso alguém estava lavando roupas, e a exaustão de ar de sua secadora de roupas soprasse na minha direção, eu poderia entrar em convulsão se tivesse contato com esse material.

Foi algo muito sério, extremamente debilitante. Tive que pedir demissão do meu emprego. Tive que parar de socializar. Fiquei praticamente isolada em casa e comecei a entrar em depressão. E justo quando eu achava que as coisas não podiam ficar piores, elas pioraram. No que me pareceu de um dia para o outro, desenvolvi HE (hipersensibilidade eletromagnética).

Nesse ponto, eu já tinha desenvolvido sensibilidades à diversos produtos químicos. Também tive fibromialgia. Eu estava sofrendo com ansiedade, insônia e uma série de outras condições, e por cima disso desenvolvi então essa sensibilidade a EMF (campos eletromagnéticos, do inglês, electromagnetic fields). O significado disso foi que meu corpo se tornou capaz de detectar campos eletromagnéticos."

Sensibilidades químicas e HE com frequência atacam juntas

É um fato conhecido que muitas pessoas que lidam com sensibilidades químicas estão sob um risco maior de apresentar HE, e essa com certeza foi a experiência de Hopper. Além da sensação de queimadura na pele, que é um sintoma muito comum da HE, ela também perdeu a habilidade de falar, que segundo ela é um sintoma grave associado com ambas, as sensibilidades químicas e a HE.

"Quando voltei a falar, eu dizia coisas que realmente não faziam nenhum sentido. As palavras não eram de fato o que eu estava pensado." diz ela. "Cognitivamente, também tinha algo completamente fora do eixo. Eu tinha muita confusão mental e simplesmente não era capaz de me concentrar, tinha uma inabilidade para me articular, para ordenar pensamentos coerentes, para montar uma frase inteira, tinha tudo isso."

Para sobreviver, ela teve que fugir de todos esses gatilhos químicos e eletromagnéticos. Nessa época ela morava com seu marido, James, em um condomínio em Kelowna, British Columbia. Era impossível escapar da radiação emitida por dispositivos sem fio. No final, ela teve que optar por acampar. 

O papel do seu sistema límbico na HE

Como resultado, Hopper começou a pesquisar o sistema límbico, que é a porção emocional e reativa do seu cérebro, responsável por filtrar informações sensoriais e emocionais, e categorizar essas informações em duas categorias distintas: seguras ou inseguras.

"É fácil imaginar que, se quaisquer neurônios na extensão dessa rede neuronal sofram danos ou não estejam operando de maneira funcional por qualquer motivo, isso pode levar o cérebro a categorizar informações que normalmente seriam consideradas inofensivas como ameaças reais à sua vida.", diz Hopper.

Claro que isso é uma resposta totalmente inconsciente. Essencialmente, o cérebro fica travado no mecanismo de luta-fuga-congelamento. Ela também pesquisou a neuroplasticidade, que é a habilidade do seu cérebro para se auto-modificar.

Ela descobriu que existiam muitas pesquisas demonstrando que a super-ativação do sistema límbico é um denominador comum em muitas enfermidades, incluindo a SFC, fibromialgia, sensibilidades químicas, depressão e ansiedade. Ao ler o livro "The Brain That Changes Itself" (em tradução livre, "O Cérebro Que Se Auto-Modifica"), do Dr. Norman Doidge, ela teve uma revelação repentina.

Schwartz mapeava os cérebros de seus pacientes para observar o funcionamento do cérebro durante ataques de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Ele então deu aos pacientes uma série de exercícios auto-orientados de neuroplasticidade para serem feitos em casa, e observou seus cérebros novamente com um scanner após um certo período de tempo.

O que ele descobriu foi que os cérebros dos pacientes estavam de fato formando novas conexões. Quanto mais eles praticavam os exercícios, mas seus cérebros se modificavam, atingindo um ponto em que eles realmente revertiam as mudanças que ocorriam durante as crises de TOC. Como resultado, eles foram capazes de funcionar normalmente de novo.

O que causa prejuízos ao sistema límbico?

Então, o que, em primeiro lugar, realmente causa esses danos ao sistema límbico? Como ressaltado por Hopper, isso pode ocorrer devido a uma série de motivos diferentes, incluindo fatores virais, bacterianos, emocionais, ou estresse psicológico. Poderia ser lesão química, mofos ou exposição excessiva a EMF. "Geralmente é uma combinação de tudo isso que leva ao que chamamos de a tempestade perfeita. Esses tipos de estresse são cumulativos", diz ela.

Em última instância, sua experiência e pesquisas a levaram a desenvolver o curso Sistema Dinâmico de Reeducação Neuronal (DNRS, do inglês, Dynamic Neural Retraining System), que agora é oferecido como um programa de treinamento interativo de cinco dias em localidades na América do Norte e Europa. O programa também está disponível online em uma série de DVDs com 14 horas de conteúdo. (Apenas em inglês).

Não é um processo rápido. Podem ser necessários vários meses de trabalho com disciplina, mas os resultados finais claramente valem o esforço. Hopper recomenda praticar o programa diariamente por pelo menos seis meses.

"Leva algum tempo para modificar essas redes neuronais. Embora as pessoas comecem a perceber mudanças dentro de alguns dias, algumas semanas, ou alguns meses, você realmente precisa repetir esses exercícios regularmente para criar mudanças permanentes no cérebro", diz ela.

O acrônimo IMAGINE

Hopper criou o acrônimo chamado "IMAGINE" (do verbo em inglês para "imaginar") para encapsular a estratégia do programa:

I significa 'intenção' — A intenção sendo o fortalecimento do circuito neuronal alternativo e distanciar o foco sobre os sintomas para modificar a resposta de fuga-luta-congelamento e normalizar o funcionamento do sistema límbico.

M para 'motivação' — Esse não é um reparo rápido que acontece de um dia para o outro, então você precisa encontrar motivação para fazer os exercícios diariamente.

A para 'atenção' e associação — Você precisa estar ciente de como os danos ao seu sistema límbico afetam seus pensamentos, emoções e comportamentos. Quando se encontrar tendo esses pensamentos, emoções e comportamentos, você quer redirecionar seu cérebro naquele momento para uma rota alternativa de modo que eles não prossigam pelas vias neuronais associadas com danos.

Você também precisa ficar de olho em suas associações. Que tipo de associações você criou com estímulos que podem ativar continuamente os centros de percepção de ameaças em seu cérebro, e como você pode modificar essas associações?

G significa 'ganho' — É importante reconhecer os ganhos que você obtém através do processo de reeducação. "Isso é interessante porque todos nós temos uma tendência natural para a negatividade, o que significa que iremos reparar no que está acontecendo de errado antes de notar o que está acontecendo da forma correta", diz Hopper.

"Se o seu sistema límbico estiver danificado, essa tendência para a negatividade pode ser ampliada graças a esses danos."

I é para treinamento 'incremental' — Essa é uma forma de modelamento neuronal que ajuda a fortalecer circuitos neuronais alternativos se expondo a pequenas quantidades de estímulos para ajudar na reeducação do seu cérebro para que ele responda de maneira diferente.

N indica ensaios 'neuronais' e emocionais — "Há uma parte do programa onde usamos nossa imaginação e habilidade de visualização", Hopper diz. "Um ótimo aspecto da nossa imaginação é que o cérebro não sabe diferenciar entre o que é real e o que nós imaginamos. Não há limites nas maneiras como podemos usar nossa imaginação para reeducar o cérebro."

Usando visualização guiada, você consegue alterar sua química neuronal. Ao entrar em um estado de resposta de luta-fuga-congelamento, uma grande quantidade de cortisol, adrenalina e norepinefrina são liberadas em seu corpo. Usando a técnica de visualização guiada você consegue interromper a produção dos hormônios do estresse e aumentar a produção de hormônios do bem-estar, tais como a dopamina, oxitocina, serotonina e endorfinas.

E significa estar ciente do seu ambiente (do inglês, 'environmental' awareness) — Por último, mas não menos importante, você precisa avaliar o ambiente do seu dia-a-dia e criar para si mesmo o ambiente de cura mais imaculado e bonito possível.

Mais informações

Enquanto o programa parece ser bastante eficiente, você realmente precisa de motivação para praticá-lo. Estar sob um alto grau de estresse também pode reduzir os resultados. Estar sem moradia pode ser um bom exemplo aqui. "Mas de qualquer maneira, tente o seu melhor. Você pode não obter os resultados que gostaria tão rapidamente como desejado, mas isso de maneira alguma significa que você não irá observar resultados", diz Hopper.

Dito isso, ela não recomenda o programa para certas condições mentais, tais como a esquizofrenia, ou se você está atualmente enfrentando estresse circunstancial extremo, como por exemplo, se estiver passando por processos judiciais ou sofrendo a perda de alguma pessoa querida.

Enfermidades mentais graves e estresse extremo à parte, se você tem sofrido por muito tempo com alguma doença crônica e misteriosa, seja a SFC, a fibromialgia, sensibilidades químicas ou qualquer tipo de outros malefícios difíceis de diagnosticar, considere tentar a reeducação límbica.