Como um sono adequado combate infecções

Mulher dormindo

Resumo da matéria -

  • Pesquisas revelam que o sono aumenta a eficiência da resposta das células-T, permitindo que seu sistema imunológico elimine invasores, como os vírus, com maior facilidade
  • Agonistas de receptores acoplados a Ga(s), como os da adrenalina e prostaglandina — que diminuem durante o sono — impedem que as células imunológicas ativem uma proteína chamada integrina, que permite que a célula T se ligue ao alvo viral
  • Níveis mais altos de moléculas inibidoras da ativação da integrina também são encontrados durante doenças como a malária e o câncer, por exemplo, o que sugere que essa via também pode contribuir para a imunossupressão associada a essas patologias
  • Indivíduos que despertam durante o primeiro ciclo de sono também tendem a ter níveis mais baixos de células NK (do inglês, Natural Killer, ou células exterminadoras naturais), e o sono profundo demonstrou ser capaz de fortalecer a memória imunológica de patógenos já conhecidos
  • Pesquisas anteriores descobriram que os relógios circadianos de camundongos controlam um gene essencial do sistema imunológico que ajuda seus corpos a perceber e eliminar bactérias e vírus

Por Dr. Mercola

Pesquisas mostraram que a privação de sono tem efeito semelhante ao estresse físico no sistema imunológico. Quando voluntários permaneceram acordados por 29 horas ininterruptas, a contagem de células brancas no sangue aumentou significativamente ao longo do período de privação de sono.

Esse tipo de resposta é o mesmo observado normalmente quando se está doente ou estressado. Em suma, se você está fisicamente estressado, doente ou com privação de sono, seu sistema imunológico se torna hiperativo e começa a produzir células brancas — a primeira linha de defesa do corpo contra invasores, como agentes infecciosos.

Níveis elevados de glóbulos brancos são tipicamente um sinal de doença. Em outras palavras, seu corpo reage à privação do sono da mesma maneira que reage à doença. Seu sistema imunológico, por sua vez, desempenha um papel fundamental no controle da inflamação em seu corpo, e se este não estiver funcionando no melhor de sua capacidade, sua habilidade de combater as infecções será prejudicada. Como relatado pelo Science Daily:

“O sono aumenta a habilidade que certas células do sistema imunológico possuem de se ligar aos seus alvos… O estudo, liderado por Stoyan Dimitrov e Luciana Besedovsky, da Universidade de Tübingen, ajuda a explicar como o sono pode combater uma infecção, ao passo que outras condições, como o estresse crônico por exemplo, podem tornar o corpo mais suscetível a doenças.”

Quando agonistas de receptores acoplados a Ga(s) são ativados, a função imunológica cai

Quando o sistema imunológico detecta um invasor, como um vírus, por exemplo, células brancas do sangue conhecidas como células-T (entre outras) são enviadas. Proteínas chamadas integrinas permitem que as células-T se conectem ao alvo e o matem.

Dimitrov e sua equipe decidiram investigar os efeitos de moléculas sinalizadoras chamadas de agonistas de receptores acoplados a Ga(s). Embora essas moléculas sinalizadoras sejam conhecidas por terem efeitos imunossupressores, não se sabia se elas poderiam inibir especificamente a ativação de integrinas em células-T, que é a resposta que eles buscavam.

O que eles descobriram foi que certos agonistas de receptor acoplados a Ga(s) de fato impediam que as células-T ativassem as integrinas após a identificação do alvo. Agonistas de receptores acoplados a Ga(s) que apresentaram esta característica incluem:

  • Adrenalina e noradrenalina (hormônios)
  • Prostaglandina E2 e D2 (moléculas pro-inflamatórias)
  • Adenosina (neuromodulador)

Dormir ajuda o corpo a combater infecções

Sabe-se que os níveis de adrenalina e prostaglandina diminuem durante o sono, e ambos demonstraram suprimir a ativação da integrina, então a equipe continuou a investigação comparando as células-T obtidas dos voluntários durante o sono e durante a privação do sono (quando os voluntários foram mantidos acordados durante a noite).

Todos os voluntários foram infectados com citomegalovírus, um vírus geralmente benigno, pois tendem a ter uma maior quantidades de células-T específicas ao antígeno. Como se suspeitava, as células-T apresentaram uma ativação da integrina consideravelmente maior durante o sono do que durante a vigília.

Em última análise, as descobertas revelam que, quando você dorme, a ativação do receptor acoplado a Ga(s) é inibida, e esse é um mecanismo importante através do qual o sono ajuda seu corpo a combater a inflamação. Segundo Besedovsky:

“Nossas descobertas mostram que dormir tem o potencial de aumentar a eficiência da resposta das células-T, o que é particularmente relevante devido à alta prevalência de distúrbios do sono e condições que possuem como característica o sono prejudicado, como depressão, estresse crônico, envelhecimento e trabalho em turnos.”

O Dr. Louis DePalo, professor de medicina pulmonar, cuidados intensivos e medicina do sono da Icahn School of Medicine at Mount Sinai (ISMMS), na cidade de Nova York, que não esteve envolvido no estudo, disse à Reuters:

“Diversos estudos clínicos demonstram que indivíduos que não conseguem qualidade ou dormir o suficiente apresentam maior probabilidade de adoecer após serem expostos a algum vírus. Este estudo demonstra outro caminho molecular através do qual a boa qualidade e quantidade de dormir podem levar a efeitos de apoio imunológico através das células imunes chamadas células T.”

Dormir também possui um papel importante no combate ao câncer

Dimitrov também aponta que muitas condições patológicas, incluindo malária e câncer, têm como característica níveis elevados de moléculas que inibem a ativação da integrina, o que sugere que “esta via poderia contribuir para a imunossupressão associada a essas patologias”.

Certamente, sabemos que o crescimento do tumor acelera quando você é privado de sono. Isso já foi atribuído à supressão da melatonina, um poderoso antioxidante capaz de ajudar no combate ao câncer. Conforme observado na revisão clínica “Melatonina, Distúrbio do Sono e Risco de Câncer”, publicado em 2009:

“O hormônio pineal melatonina está envolvido na regulação circadiana e na facilitação do sono, na inibição do desenvolvimento e crescimento do câncer e no aumento da função imunológica. Indivíduos, como trabalhadores noturnos, que são expostos à luz durante a noite frequentemente exibem um rompimento do ritmo biológico (ciclo circadiano), incluindo mudanças de fase circadiana, supressão noturna da melatonina e distúrbios do sono.

Além disso, esses indivíduos não somente são imunossuprimidos, mas também apresentam maior risco de desenvolver vários tipos de câncer. Existe uma interação e regulação recíprocas entre o sono e o sistema imunológico, independente da melatonina.

Os distúrbios do sono podem levar à imunossupressão e à predominância de citocinas estimuladoras do câncer. Alguns estudos sugerem que uma duração curta do sono noturno está associada a um maior risco de desenvolvimento de câncer de mama…

O reforço mútuo dos ritmos circadianos de produção de melatonina, o ciclo sono/vigília e a função imunológica podem indicar um novo papel para o sono imperturbado e de alta qualidade, e talvez ainda mais importante, da escuridão ininterrupta, como um mecanismo endógeno de prevenção do câncer não reconhecido anteriormente.”

A ligação sono-estresse-resposta imunológica

Outras pesquisas também demonstraram o quão íntima e direta é a conexão entre o sono e a função imunológica. Um estudo de 1998, por exemplo, descobriu que indivíduos com maior probabilidade de despertar durante o primeiro ciclo de sono também tendem a ter níveis mais baixos de células NK (Natural Killer).

No geral, a idade do paciente foi o principal determinante para os níveis de células NK, mas os distúrbios do sono foram responsáveis por cerca de 12% da variância.

Sabe-se que o estresse interfere na função do sistema imunológico, aumenta a suscetibilidade ao resfriado comum e torna a cicatrização de feridas mais lenta. A falta de sono causa a liberação de hormônios do estresse, e este foi um dos primeiros estudos a fornecer evidências diretas conectando o sono à relação estresse-imunidade.

Outras pesquisas sugerem que o sono profundo fortalece a memória imunológica de patógenos já conhecidos, permitindo que o sistema imunológico monte uma resposta muito mais rápida e eficaz quando um antígeno é encontrado pela segunda vez.

Seu ciclo circadiano está intimamente ligado à sua função imunológica

Outro estudo, publicado em 2012, descobriu que os relógios circadianos de camundongos controlam um gene essencial do sistema imunológico, que ajuda o corpo a detectar e afastar bactérias e vírus. Quando os níveis desse gene em particular, chamado receptor do tipo Toll 9 (TLR9, do inglês Toll-Like Receptor 9), estavam no auge, a capacidade dos ratos de resistir a infecções aumentava.

Curiosamente, quando os pesquisadores induziram sepse, a gravidade da doença dependeu do tempo da indução, estando diretamente correlacionada com alterações cíclicas no TLR9.

De acordo com os autores, isso pode ajudar a explicar por que pacientes sépticos correm maior risco de morrer entre as 2 horas e 6 horas da manhã. De acordo com o autor do estudo, Dr. Erol Fikrig, professor de epidemiologia na Escola de Medicina de Yale:

"Essas descobertas não apenas revelam um novo elo molecular direto entre os ritmos circadianos e o sistema imunológico, mas também abrem um novo paradigma na biologia da resposta imune geral com importantes implicações para a prevenção e o tratamento da doença.

Além disso, os pacientes na UTI frequentemente apresentam padrões de sono alterados, devido a ruído, exposição à luz noturna e medicamentos. Será importante investigar como esses fatores influenciam os níveis de expressão do TLR9 e a resposta imunológica."

Outras consequências do sono insuficiente

Considerando o papel fundamental desempenhado pelo sono em sua função imunológica, é fácil perceber como um sono ruim pode causar um efeito cascata, afetando uma ampla variedade de condições de saúde. Mas isso não é tudo. O sono também afeta a expressão gênica, regulação hormonal e desintoxicação do cérebro, entre outros, o que reforça ainda mais a sua importância.

Além de diminuir sua função imunológica, tornando-o mais suscetível a infecções e câncer, outros problemas de saúde ligados ao sono insuficiente incluem:

Um risco maior de problemas neurológicos, variando de depressão a demência e doença de Alzheimer — Sua barreira hematoencefálica se torna mais permeável com a idade, permitindo a entrada de mais toxinas. Isto, em conjunto com a redução da eficiência do sistema glinfático devido à falta de sono, permite que ocorram danos mais rápidos ao seu cérebro, e acredita-se que essa deterioração tenha um papel considerável no desenvolvimento da doença de Alzheimer.

Um risco maior de diabetes tipo 2 — Em um estudo, a “sonolência diurna excessiva” aumentou o risco de Diabetes tipo 2 em 56%.

Aumento do risco de obesidade.

Um risco maior de pressão alta, ataques cardíacos e doenças cardiovasculares — Pesquisas demonstraram que mulheres com menos de quatro horas de sono por noite têm risco dobrado de morte por doenças cardíacas. Em outro estudo, adultos que dormiam menos de cinco horas por noite apresentaram 50% mais cálcio nas coronárias, indicando risco doença cardíaca, do que aqueles que dormiam sete horas regularmente.

Um risco maior de osteoporose.

Um risco maior de dor e condições relacionadas à dor, como a fibromialgia — Em um estudo, o sono ruim ou insuficiente foi o principal preditor de dor em adultos com mais de 50 anos.

Aumento na propensão a úlceras estomacais.

Comprometimento da função sexual.

Aumento do risco de depressão e ansiedade (incluindo transtorno de estresse pós-traumático), esquizofrenia e suicídio — Na verdade, os pesquisadores têm sido incapazes de encontrar uma única condição psiquiátrica sequer que não seja afetada pela qualidade do sono.

Envelhecimento precoce, por interferir na produção de hormônios do crescimento, normalmente liberados pela glândula pituitária durante o sono profundo.

Aumento do risco de morte por qualquer causa — Em comparação com pessoas sem insônia, a taxa de risco de mortalidade por todas as causas entre aqueles com insônia crônica foi 300% maior.

Otimizar o seu sono pode ajudar a evitar problemas crônicos de saúde

Não há dúvida de que dormir precisa ser uma prioridade se você pretende viver uma vida longa e saudável. Qualquer pessoa que esteja lutando contra uma doença crônica — o que representa pelo menos metade da população norte-americana adulta — deveria levar a o sono a sério, já que ele pode ter um impacto significativo na qualidade de vida.

Dormir mal muitas vezes não somente contribui para o problema, mas também pode neutralizar outras estratégias envolvendo um estilo de vida saudável que você possa vir a utilizar para lidar com ele.

De modo geral, procure dormir cerca de oito horas todas as noites. Qualquer tempo abaixo de sete horas começa a afetar sua saúde (se você for um adulto). Para muitos, isso significa renunciar às tendências noturnas e ir dormir em um horário razoável. Se precisar estar acordado às 6 da manhã, você deve se preparar para dormir entre 9h30 ou 22h, dependendo do tempo que costuma levar para adormecer.

Felizmente, existem muitas maneiras de melhorar suas chances de dormir bem, mesmo que você tenha dificuldades. Eu listei minhas principais sugestões, obtidas através de pesquisa e de diversos especialistas do sono em "33 dicas para otimizar sua rotina de sono" e "Sono — por que você precisa dele e 50 maneiras de melhorá-lo".