Por Dr. Mercola
A febre do suco de aipo costuma ser atribuída a Anthony William, que se considera o criador do Global Celery Juice Movement (Movimento Global do Suco de Aipo). O movimento ganhou a atenção das mídias sociais e dos principais meios de comunicação norte-americanos no New York Times e no LA Times, entre outros.
Você pode cultivar seu próprio aipo orgânico em casa com um solo de qualidade e irrigação constante, num ambiente fresco. É importante dar preferência ao aipo orgânico, pois esse é um dos vegetais mais contaminados do mercado.
Dê preferência ao aipo orgânico
Todos os anos, o Grupo de Trabalho Ambiental (EWG), uma organização sem fins lucrativos destinada a proteger a saúde e o meio ambiente, publica um guia sobre os pesticidas nos cultivos. O documento se chama "The Dirty Dozen", e o aipo geralmente aparece na lista.
Em 2012, ficou em 2º lugar da lista e era o mais passível de conter diversos pesticidas, com 96% das amostras positivas e quase 90% retendo mais de um pesticida. Em 2019, o aipo caiu para a 11ª posição, tendo sido ultrapassado pelo morango, espinafre e couve.
Antes de serem submetidos aos testes, as frutas e os legumes eram lavados e descascados, como se espera que os consumidores façam em casa. O Guia do Comprador, publicado pelo EWG desde 2004, classifica a contaminação de 47 frutas e vegetais com base em mais de 40.900 amostras. Carla Burns, analista de pesquisa do EWG, comentou:
“A principal via de exposição aos pesticidas para a maioria dos norte-americanos que não vivem nem trabalham em plantações ou em suas proximidades se dá através da alimentação. Estudos mostraram que comer frutas e vegetais livres de pesticidas faz bem para a saúde, e isso é especialmente importante para crianças e grávidas.”
A Academia Americana de Pediatria enfatiza que a exposição das crianças aos pesticidas deve ser limitada. A exposição aos pesticidas está associada ao desenvolvimento mental inferior, distúrbios generalizados do desenvolvimento e transtorno de déficit de atenção com hiperatividade. Os dados também sugerem uma associação com as doenças congênitas, morte fetal e efeitos no desenvolvimento neurológico.
O EWG avaliou os testes do Departamento de Agricultura dos EUA, que encontraram 225 pesticidas diferentes em frutas e legumes. O Dr. Philip Landrigan é diretor da Iniciativa Global de Saúde Pública no Boston College e um dos autores do estudo da Academia Nacional de Ciências de 1993, "Pesticidas na alimentação de bebês e crianças".
Ele ressalta as implicações da exposição aos pesticidas e salienta que, quando possível, é preciso tomar medidas para diminuir a exposição de uma criança aos pesticidas, enquanto se continua a oferecer uma alimentação cheia de frutas, verduras e legumes frescos.
Os perigos da exposição aos pesticidas continuam na idade adulta. A Pesticide Action Network relata que toxicidade a longo prazo em doses baixas foi associada à doença de Parkinson, depressão, ansiedade, asma e certos tipos de câncer.
A moda do suco de aipo: o aumento do custo é a gota d'água
Michael Karsch é CEO de uma cadeia de sucos de Nova York, a Juice Press, e acompanha as tendências no consumo de sucos. Em 2018, ele observou um aumento no interesse pelo suco de aipo e decidiu disponibilizar um suco de 340 ml, com um único ingrediente por US$ 7. Karsch falou ao New York Times sobre a escassez do aipo e sua opinião sobre o futuro, dizendo:
“Em poucos dias, era a terceira bebida mais vendida, o que é surpreendente para um suco de apenas um ingrediente. Nunca me deixei impressionar pelo aipo. Não tem cor intensa. Tem um monte de água e um monte de fibras... Três meses atrás, não conseguimos fornecer suco de aipo suficiente por 4 dias... Há cinco anos, eram as amêndoas orgânicas, há uns 7 anos devia ser a couve crespa. O que geralmente acontece é que a tendência passa."
Para Vandana Sheth, porta-voz da Academia de Nutrição e Dietética, essas tendências costumam surgir nas mídias sociais e, segundo ela, podem ser atraentes porque muitas pessoas estão procurando uma solução rápida para a saúde.
Ela observou que ficar seguindo essas tendências pode ser perigoso, e acrescentou: “No meu trabalho, tenho visto muito mais formas de alimentação desordenada. Isso não é sustentável a longo prazo".
Sammy Duda, vice-presidente sênior da Duda Farm Fresh Foods, um dos maiores produtores de aipo do mundo, falou ao New York Times sobre a familiaridade de sua família com a questão da oferta e demanda quando as celebridades aprovam um tipo específico de suco de vegetais. Dos 10 itens listados na página de produtos da marca, três são formas processadas de aipo e um é o aipo fresco.
O custo não é afetado apenas pela demanda da tendência dos sucos, mas também pelo clima. O New York Times relata que o outono quente e seco em Palm Beach, Flórida, onde parte do aipo é cultivado, e o inverno frio e úmido na costa oeste, onde estão localizados outros campos, afetaram o crescimento e a colheita do aipo.
A colheita na Duda Farm também foi afetada por uma doença transmitida pelo solo, o que resultou em uma oferta menor do que o normal num ambiente com uma demanda maior que a habitual.
Os fitonutrientes trazem benefícios para a saúde
Embora tenha se tentado promover o aipo como a cura de muitas enfermidades diferentes, as evidências científicas sustentam um número mais limitado. Uma xícara de aipo cru contém 40% do valor diário recomendado de vitamina K. Além disso, contém 11% do valor diário recomendado de molibdênio, um mineral que o corpo usa para eliminar metais pesados.
Os metais pesados mais perigosos são cádmio, mercúrio, arsênico e chumbo. A exposição a longo prazo pode resultar em danos neurológicos, câncer de pele, danos nos rins e fraturas ósseas.
A toxicidade depende de vários fatores, incluindo a via de exposição e sua duração. Para saber mais sobre como o molibdênio atua na eliminação dos metais pesados, leia o meu artigo anterior, "Os três pilares para a desintoxicação dos metais pesados".
O aipo também contém quantidades consideráveis de folato, potássio e vitamina B2. O talo do aipo é uma excelente fonte de antioxidantes, fitoesteróis, flavanóis e flavonas, muitos dos quais oferecem benefícios anti-inflamatórios. Porém, uma das substâncias mais benéficas do aipo pode ser a apigenina, que tem despertado o interesse por seu potencial no combate ao câncer.
A apigenina é um flavonoide encontrado em várias frutas e vegetais, e em algumas plantas medicinais chinesas. Tem fortes propriedades anti-inflamatórias, antibacterianas e antivirais, e agora tem-se relato de que suprime diferentes formas de câncer. Isso foi comprovado in vitro e in vivo por meio da apoptose e da autofagia, além de estimular uma resposta imunológica.
A apigenina está associada ao estímulo do crescimento das células nervosas. Um estudo com animais demonstrou melhora na aprendizagem e na memória quando a apigenina foi injetada ou administrada por via oral. Estudos também associaram a apigenina à proteína quinase ativada por AMP (AMPK) em células da pele humana.
Os resultados sugerem que "um dos mecanismos pelos quais a apigenina exerce sua ação quimioprotetora pode ser a ativação da AMPK e a indução da autofagia nos queratinócitos humanos". Em outro estudo publicado, os cientistas analisaram as propriedades anticarcinogênicas na regulação do estresse oxidativo e do dano ao DNA. Eles escreveram:
“Um dos mecanismos mais reconhecidos da apigenina é sua capacidade de promover a interrupção do ciclo celular e a indução de apoptose por meio da via p53. Outro papel da apigenina na quimioprevenção se dá pela indução da autofagia em várias linhas celulares do câncer humano.”
Grandes quantidades podem prejudicar a função renal
Embora não seja rico em oxalatos, o aipo tem entre 11 e 20 mg para cada 100 gramas do vegetal. Os oxalatos são encontrados em alimentos de origem vegetal e animal, sendo que as fontes com maior concentração incluem o espinafre, a amêndoa e a beterraba. Os oxalatos estão associados à formação de cálculos renais e absorção de cálcio.
As bactérias intestinais desempenham um papel importante na disponibilidade do oxalato para absorção. A combinação de alimentos que contêm ou não oxalato também afeta a quantidade de oxalato solúvel que é absorvido pelo trato digestivo.
Os tipos mais comuns de pedras nos rins são aquelas de oxalato de cálcio. No entanto, não são as altas quantidades de cálcio que causam as pedras, mas de oxalato. Os oxalatos são compostos que protegem as plantas dos predadores. O ácido oxálico se liga ao cálcio para torná-lo menos biodisponível e insolúvel, aumentando o risco de pedras nos rins.
Os oxalatos são decompostos pelas bactérias intestinais, mas quando a microbiota está comprometida, os compostos entram na corrente sanguínea e são armazenados nos rins. Embora 11 a 20 mg de oxalato numa porção de 100 gramas de aipo não seja muito, beber 500 ml de suco desse vegetal todos os dias é outra história.
Um copo de 500 ml de suco de aipo pede um maço grande de aipo, que geralmente contém 10 talos e pesa cerca de 450 gramas ou mais. Beber isso tudo de aipo equivale a ingerir aproximadamente 90 mg de oxalato por dia. Além de outros alimentos, incluindo chocolate, frutas, nozes, legumes e grãos, isso pode aumentar o risco de pedras nos rins.
Chá calmante de camomila: Uma alternativa com benefícios semelhantes
Os chás são uma rica fonte de polifenóis e flavonoides, além de apresentarem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Um dos mais calmantes é o chá de camomila. Ele pertencente à família Asteraceae, que contém um grande número de ervas, arbustos e árvores.
Além de ser usada como chá, a camomila traz muitos benefícios para a saúde, incluindo aqueles proporcionados pelos óleos essenciais extraídosdas flores. Um dos principais constituintes da flor é a apigenina, encontrada principalmente como glicosídeo.
Os adultos podem usar os óleos essenciais da flor de camomila no banho, como creme para a pele ressecada, como tintura ou por inalação para aliviar as cólicas menstruais e melhorar o sono. Para mais informações sobre os benefícios da camomila e como fazer sua própria tintura em casa, consulte meu artigo anterior, "Quais são os benefícios da camomila?"