Os medicamentos anticolinérgicos aumentam o risco de demência

Fatos verificados
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Resumo da matéria -

  • Embora a demência e a doença de Alzheimer (a forma mais avançada, grave e letal de demência) sejam principalmente movidas pela alimentação e o estilo de vida, certos medicamentos também podem aumentar seu risco
  • Uma das classes de medicamentos que apresentam mais riscos a esse respeito é dos anticolinérgicos, prescritos para uma ampla variedade de condições, incluindo depressão, incontinência, insônia, alergias e epilepsia
  • Pesquisas recentes que avaliaram os efeitos de 56 anticolinérgicos encontraram associações estatisticamente significativas entre a demência e os antidepressivos anticolinérgicos, antiparkinsonianos, antipsicóticos, antimuscarínicos e antiepiléticos
  • No grupo de maior exposição (excesso de 1.095 doses diárias padronizadas nos últimos um a 11 anos antes do diagnóstico), a razão de chances de demência era de 44% a 54%, com média de 49%; enquanto os antipsicóticos anticolinérgicos apresentaram um aumento de 70% do risco
  • Uma revisão científica de 2009 constatou que todos, exceto dois dos 27 estudos, encontraram uma associação entre a atividade anticolinérgica dos medicamentos e delírio, comprometimento cognitivo ou demência

Por Dr. Mercola

Embora a demência e a doença de Alzheimer (a forma mais avançada, grave e letal de demência) sejam principalmente movidas pela alimentação e o estilo de vida, certos medicamentos também podem aumentar seu risco.

Uma das classes de medicamentos que apresentam mais riscos a esse respeito é dos anticolinérgicos, prescritos para uma ampla variedade de condições, incluindo depressão, incontinência, insônia, alergias e epilepsia. No site seniorlist.com, você encontra uma longa lista de medicamentos anticolinérgicos e as diferentes condições em que são usados.

Os medicamentos anticolinérgicos bloqueiam a acetilcolina, um neurotransmissor que desempenha funções importantes no sistema nervoso periférico e central, tanto como ativador quanto como inibidor.

Por exemplo, desencadeia contrações musculares e respostas à dor e está envolvido na regulagem do sistema endócrino e do ciclo do sono REM. De todos os neurotransmissores conhecidos, a acetilcolina é a mais abundante.

Conforme relatado pela CNN, um estudo observacional recente, que analisa o risco dos anticolinérgicos e demência, “sugere que o vínculo é mais forte para... antidepressivos como a paroxetina ou amitriptilina, antimuscarínicos como a oxibutinina ou tolterodina, antipsicóticos como clorpromazina ou olanzapina e antiepilticistas como a oxcarbazepina ou carbamazepina".

Estudo destaca os riscos dos medicamentos anticolinérgicos

A pesquisa, publicada on-line no JAMA Internal Medicine, em 24 de junho de 2019, avaliou dados de 58.769 pacientes acima de 55 anos diagnosticados com demência e 225.574 de pacientes de controle equivalentes.

No total, foram avaliados os resultados de 56 medicamentos anticolinérgicos diferentes, observando a exposição a "dosagens diárias padronizadas" dos medicamentos prescritos nos últimos um a 11 anos antes de o paciente receber um diagnóstico de demência.

Depois de controlar as variáveis de confusão que poderiam influenciar os resultados, os pesquisadores concluíram que "houve associação estatisticamente significativa do risco de demência com a exposição a antidepressivos anticolinérgicos, medicamentos antiparkinsonianos, antipsicóticos, antimuscarínicos e antiepiléticos".

Comparado àqueles que não usavam anticolinérgicos, os pacientes no grupo de menor exposição (tomando apenas de uma a 90 doses padronizadas nos últimos um a 11 anos), a razão de possibilidades ajustada para demência foi, em média, de 6%.

No grupo de maior exposição (excesso de 1.095 doses diárias padronizadas nos últimos um a 11 anos antes do diagnóstico), a taxa de chances de demência era de 44% a 54%, com média de 49%. Mesmo entre os diferentes tipos de anticolinérgicos, houve variações significativas no risco. Entre aqueles com maior exposição:

  • Os antidepressivos anticolinérgicos tiveram uma razão média ajustada de chances de demência de 29%
  • Os medicamentos antiepilépticos tiveram uma razão média ajustada de chances de 39%
  • Os medicamentos antiparkinsonianos de 52%
  • Os medicamentos antimuscarínicos (prescritos para hiperatividade da bexiga) de 65%
  • Os antipsicóticos de 70%

Os indivíduos de meia idade são incentivados a minimizar sua exposição

As associações mais fortes foram observadas naqueles diagnosticados com demência antes dos 80 anos. A razão de chances ajustada para aqueles no grupo de maior exposição, que foram diagnosticados com demência após os 80 anos, foi de 35%, enquanto as chances daqueles diagnosticados antes dos 80 anos foram de 81%. Não foram encontradas diferenças significativas entre os sexos. No geral, a demência vascular foi mais comum do que a doença de Alzheimer, com chances de 68% de demência vascular no grupo de maior exposição em comparação com 37% na doença de Alzheimer. Como observado pelos autores:

"A exposição a vários tipos de medicamentos anticolinérgicos fortes está associada ao aumento do risco de demência. Essas descobertas destacam a importância de reduzir a exposição a medicamentos anticolinérgicos em pessoas de meia-idade ou mais velhas."

"Não foram encontrados aumentos significativos no risco" de demência para anti-histamínicos anticolinérgicos, relaxantes musculares, antiespasmódicos (prescritos para problemas gastrointestinais), antiarrítmicos e broncodilatadores antimuscarínicos.

Evitar os anticolinérgicos pode melhorar a cognição, diz estudo do JAMA

Embora os autores do estudo em destaque apontem que não se pode provar a relação de causalidade, esse não é o primeiro estudo a encontrar essa relação. Existem muitos deles na literatura médica, que você pode encontrar pesquisando no site PubMed.gov, a biblioteca on-line gratuita de medicina administrada pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA.

Entre eles, você encontrará o artigo de 2009, "The Cognitive Impact of Anticholinergics: A Clinical Review", que analisou os resultados de 27 estudos nos quais "a atividade anticolinérgica foi sistematicamente medida e correlacionada com as medidas padrão do desempenho cognitivo".

Segundo os autores, "todos, exceto dois estudos, encontraram uma associação entre a atividade anticolinérgica dos medicamentos e o delírio, comprometimento cognitivo ou demência", o que levou à conclusão de que:

"Os medicamentos com atividade anticolinérgica afetam negativamente o desempenho cognitivo de adultos mais velhos. O reconhecimento da atividade anticolinérgica de certos medicamentos pode representar uma possível ferramenta para melhorar a cognição."

Alguns anticolinérgicos claramente são piores do que outros

Um estudo de caso-controle publicado em 2018 no BMJ — que, assim como o estudo em destaque do JAMA, analisou os efeitos de várias classes de anticolinérgicos — também descobriu que os medicamentos antidepressivos, urológicos e antiparkinsonianos apresentavam o maior risco. Como observado pelos autores:

"Sabe-se que os anticolinérgicos afetam a cognição, e as diretrizes sugerem que eles devem ser evitados entre idosos frágeis. O uso de medicamentos anticolinérgicos entre pessoas com demência é reconhecido como inapropriado pelos critérios de Beers e da ferramenta de triagem de prescrições potencialmente inapropriadas (STOPP) do Screening Tool of Older Persons.

Na última década, a exposição prolongada a medicamentos anticolinérgicos esteve associada ao declínio cognitivo a longo prazo ou à incidência de demência entre coortes da comunidade e moradores de casas de repouso."

Aqui, os pesquisadores incluíram 40.770 pacientes recém-diagnosticados com demência e compararam seus resultados com o uso de medicamentos anticolinérgicos quatro a 20 anos antes do diagnóstico.

Cada paciente foi comparado a sete indivíduos de controle equivalentes que não apresentavam demência. A idade média no diagnóstico foi de 83, e o período médio de exposição ao medicamento foi de 7,1 anos. O estudo tinha três objetivos declarados:

  1. Avaliar o efeito do uso crônico de anticolinérgicos na incidência de demência
  2. Explorar se os efeitos observados são restritos a qualquer classe de medicamentos em particular. Os medicamentos foram divididos em três grupos com base na escala de "carga anticolinérgica cognitiva (ACB)", em que uma pontuação 3 significa que o medicamento tem "atividade anticolinérgica definida" e é conhecido por aumentar consideravelmente o risco de comprometimento cognitivo
  3. Testar como o risco pode variar com base na quantidade de exposição a qualquer classe de medicamentos e no tempo de uso

A análise primária encontrou “uma associação positiva e significativa” entre os anticolinérgicos e a demência, independentemente da pontuação ACB. Aqueles com uma pontuação ACB de 1 e 2 tiveram uma razão de chances de 10%, e os medicamentos com uma pontuação ACB de 3 tiveram uma razão de chances de 11%.

A principal diferença entre as classes ACB foi o efeito dosagem-resposta. Os medicamentos com pontuação ACB de 2 ou 3 tiveram uma clara resposta de dependência da dosagem, enquanto os medicamentos com pontuação 1 não tiveram. Quanto ao objetivo 2, os pesquisadores descobriram:

"Quando analisados por classe, houve uma associação significativa entre a incidência de demência e qualquer prescrição de medicamentos antidepressivos, antiparkinsonianos ou urológicos com pontuação ACB de 3, mas nenhuma associação com antiespasmódicos, antipsicóticos, anti-histamínicos ou outros medicamentos com pontuação ACB de 3.

As prescrições para medicamentos com pontuação ACB igual a 2 eram relativamente raras e, portanto, os resultados são imprecisos nesse grupo, mas existem evidências de uma associação entre a incidência de demência e a prescrição de medicamentos antiparkinsonianos.

Encontramos associações positivas entre os medicamentos antidepressivos com pontuação ACB de 1 e o aumento do risco de demência, mas não com outros medicamentos com pontuação ACB de 1."

Por fim, o momento da exposição ao medicamento foi avaliado, observando-se três séries diferentes de intervalos de tempo: quatro a 10 anos, 10 a 15 anos e 15 a 20 anos de uso antes do diagnóstico de demência. Para medicamentos com pontuação ACB de 3, o risco foi "consistente" nos três períodos de exposição, embora a associação mais forte tenha sido observada para os medicamentos de classe 3 usados por 15 a 20 anos antes do diagnóstico. Para esse grupo, o razão de chances para demência ficou entre 10% e 24%, com média de 17%.

Os antidepressivos e medicamentos urológicos com pontuação ACB de 3 "permaneceram consistente e significativamente associados à incidência de demência", tendo os antidepressivos uma razão de chances média de 19% e os medicamentos urológicos de 27%. Para os medicamentos com pontuação ACB de 1 e 2, os riscos se tornaram mais aparentes mais perto da data do diagnóstico. Como observado pelos autores:

“Para os antidepressivos com pontuação ACB de 1, a associação com a demência aumentou para prescrições dadas em períodos mais próximos ao diagnóstico de demência. Da mesma forma, a associação negativa entre os medicamentos gastrointestinais e a demência não foi observada nas exposições de 15 a 20 anos antes da data do índice."

As alterações comportamentais podem ser um sinal precoce da demência

Como pode ver, mesmo dentro de uma única classe de medicamentos, neste caso, os medicamentos amplamente classificados como anticolinérgicos, você encontra todos os tipos de fatores que podem aumentar ou diminuir seus riscos para qualquer indivíduo.

No entanto, em termos gerais, os anticolinérgicos como um grupo são arriscados, e o risco de demência aumenta quanto mais tempo você fizer uso deles. Mesmo que o medicamento em questão tenha uma pontuação baixa no ACB, se você estiver fazendo uso dele há décadas, o risco de demência aumenta. Seria sensato que todos estivessem atentos aos sinais precoces de demência, principalmente se estiverem usando um medicamento anticolinérgico.

A demência não é uma doença em si; é um termo usado para descrever várias doenças cerebrais diferentes que podem afetar sua memória, pensamento, comportamento e capacidade de realizar atividades diárias. Muitas pessoas associam a demência à perda de memória — e isso é sinal de alerta — no entanto, nem todos os problemas de memória são causados por demência ou Alzheimer.

Conforme observado pela Alzheimer's Association, algumas causas de sintomas semelhantes à demência (incluindo perda de memória), como aquelas relacionadas a problemas de tireoide e deficiências de vitaminas, são reversíveis com o tratamento adequado.

Antes que os problemas de memória e pensamento se tornem óbvios, as pessoas com demência geralmente apresentam mudanças de humor e comportamento. Uma pessoa pode, por exemplo, parar de fazer algo que sempre amou, seja cozinhar um prato para seu aniversário ou assistir ao noticiário da noite.

A apatia é outro sinal comum, embora algumas pessoas possam exibir mudanças mais alarmantes, como de repente tornar-se sexualmente promíscuas ou desenvolver o hábito de roubar comida dos pratos de outras pessoas.

É esquecimento relacionado à idade ou algo mais sério?

Além disso, a Alzheimer's Association também compilou uma lista de sinais e sintomas precoces da doença de Alzheimer, além de sugestões de como determinar se você está lidando com alterações típicas relacionadas à idade ou algo mais sério:

Sinais de Alzheimer ou demência Alterações típicas relacionadas à idade

Julgamento ruim e tomada de decisão ruim

Tomar uma decisão ruim de vez em quando

Incapacidade de gerenciar um orçamento

Esquecer de pagar uma conta

Perder noção da data ou estação

Esquecer que dia é hoje e lembrar depois

Dificuldade em conversar

Esquecer qual palavra usar de vez em quando

Perder as coisas e não conseguir refazer as etapas para encontrá-las

Perder coisas de tempos em tempos

Como mencionado no início, a doença de Alzheimer é principalmente movida pela alimentação e o estilo de vida. De fato, compartilha muitos fatores de risco com doenças cardíacas, incluindo resistência à insulina e diabetes. Para uma lista de estratégias alimentares e orientações gerais sobre o estilo de vida que podem ajudar a prevenir a doença de Alzheimer, consulte o artigo "Fortalece-se a relação entre o açúcar e a doença de Alzheimer".

Para saber mais sobre a doença de Alzheimer e os testes que podem ajudar a diagnosticar a doença precocemente, consulte minha entrevista com o Dr. Dale Bredesen, autor de "The End of Alzheimer’s: The First Program to Prevent and Reverse Cognitive Decline".