Por Dr. Mercola
A aspirina tem uma longa história, que remonta há quase 4.000 anos, quando os sumérios escreveram sobre o uso da casca de salgueiro para aliviar a dor. Os antigos egípcios usavam casca de salgueiro para reduzir a temperatura corporal e a inflamação, e o médico grego Hipócrates o usava para ajudar a aliviar a dor e a febre. No início do século XIX, os europeus pesquisavam os efeitos do ácido salicílico e como determinar sua dosagem correta.
Em 1899, a Bayer começou a distribuir o pó, que passou a ser vendido em forma de comprimidos sem prescrição em 1915. Os médicos administravam aspirina a Alexi Nicholaevich Romanov, da Rússia, que tinha hemofilia. É provável que a aspirina tenha piorado o sangramento. Quando o místico da família, Grigori Rasputin, aconselhou interromper os tratamentos modernos e confiar na cura espiritual, o sangramento melhorou.
Em um artigo publicado em 2010 na CNN, um médico da Harvard Medical School recomendou a ingestão de um segundo medicamento — Omeprazol — para reduzir o risco de sangramento no estômago associado à aspirina.
Em 2012, a Food and Drug Administration dos EUA voltou atrás em sua recomendação, concluindo que os dados não sustentam a aspirina como um medicamento preventivo para aqueles que não tiveram um ataque cardíaco, derrame ou problemas cardiovasculares. Nessa população, o benefício não apenas não foi estabelecido como era considerável o risco de "sangramento perigoso no cérebro ou no estômago".
Salicilatos encontrados naturalmente em alguns alimentos
No mesmo ano em que a FDA voltou atrás em sua recomendação da ingestão diária de aspirina com a finalidade de reduzir o risco cardiovascular, uma metanálise foi publicada mostrando uma redução e mortalidade por câncer naqueles que tomavam aspirina diariamente em baixa dosagem. Os pesquisadores levantaram a hipótese de que o efeito era resultado da inibição "da cox-2 em lesões pré-neoplásicas".
Seus resultados foram sustentados por uma segunda metanálise publicada no mesmo ano, constatando uma redução nas mortes não vasculares e câncer naqueles que faziam uso da aspirina em baixa dosagem. Em outro estudo publicado em 2018, os pesquisadores descobriram dados sugerindo que a aspirina está associada a um menor risco de desenvolver vários tipos de câncer, incluindo os cânceres colorretal, esofágico, pancreático, ovariano e endometrial.
Como escreve o autor best-seller do New York Times e especialista em nutrição Dr. Michael Greger, os produtos de origem animal constituíam 5% ou menos da alimentação dos cidadãos japoneses antes de eles começarem a adotar uma dieta ocidental. Durante o mesmo período, houve uma grande diferença nas mortes por câncer entre os EUA e o Japão.
As taxas de mortalidade ajustadas por idade para câncer de cólon, mama, ovário e próstata foram cinco a 10 vezes menores no Japão, e as taxas de mortalidade por leucemia, linfoma e câncer de pâncreas foram três a quatro vezes menores. Em parte, essa proteção pode ter sido o resultado de fitonutrientes encontrados na alimentação à base de plantas, incluindo ácido salicílico, o ingrediente ativo da aspirina.
As maiores concentrações nas plantas são encontradas em ervas e especiarias, principalmente o cominho. Os pesquisadores descobriram que ingerir uma colher de chá de cominho aumenta os níveis de ácido salicílico no sangue em mesma medida que a ingestão de aspirina infantil. Greger cita um estudo que descreve a menor incidência de câncer colorretal em áreas onde as pessoas têm uma alimentação rica em ácido salicílico:
"A população da Índia rural, com uma das mais baixas incidências de câncer colorretal no mundo, tem uma dieta que pode ser extremamente rica em ácido salicílico. Esta contém quantidades substanciais de frutas, legumes e cereais condimentados com grandes quantidades de ervas e especiarias."
Em outra análise comparando vegetais orgânicos e não orgânicos, os cientistas descobriram que a sopa feita com vegetais orgânicos continha mais ácido salicílico. O ácido salicílico é produzido pelas plantas em resposta ao estresse, como quando elas são picadas por insetos. As plantas tratadas com pesticidas não sofrem esse tipo de estresse, e estudos mostram que contêm seis vezes menos ácido salicílico do que as cultivadas organicamente.
A aspirina é superestimada?
As evidências sustentam a afirmação de que uma alimentação rica em plantas oferece proteção contra certos tipos de câncer. A aspirina costumava ser recomendada para reduzir o tempo de coagulação e o risco de ataque cardíaco e derrame isquêmico, desencadeados por um coágulo no cérebro. No entanto, o uso prolongado de aspirina está associado a efeitos nocivos, incluindo acidente vascular cerebral hemorrágico ou sangramento no cérebro quando um coágulo não se forma.
Além dos efeitos colaterais da aspirina, os resultados de um trio de estudos publicados no New England Journal of Medicine demonstraram que a baixa dosagem diária de aspirina não teve benefícios mensuráveis significativos para a saúde de adultos mais velhos saudáveis. Em vez disso, os dados demonstraram que a aspirina não prolongou a sobrevida sem incapacidades e contribuiu para o aumento do risco de sangramento.
Em um estudo, os autores descobriram que as pessoas infectadas por helicobacter pylori (H. pylori) e faziam uso da aspirina em baixa dosagem apresentavam um risco maior de sangramento gastrointestinal em comparação com aqueles que tomavam aspirina, mas não tinham a infecção.
Em outro estudo, os pesquisadores descobriram que aqueles que faziam uso regular da aspirina, definido como pelo menos uma vez por semana durante um ano, apresentavam um aumento no risco de degeneração neovascular macular relacionada à idade (AMD). Os resultados de um estudo separado também apontam para uma conexão entre o uso frequente de aspirina e a AMD, relacionando o aumento da frequência de uso a um risco maior.
Nattokinase: uma alternativa à aspirina sem efeitos colaterais
A doença cardiovascular é a principal causa de morte em pessoas da maioria dos grupos raciais e étnicos na América. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças relatam que uma pessoa morre a cada 37 segundos de doença cardíaca, e as mortes cardiovasculares representam 25% de todas as mortes relatadas.
O uso de aspirina para reduzir o risco de formação de coágulos tem um risco considerável. Uma alternativa melhor é a nattoquinase, produzida pela bactéria bacillus subtilis quando a soja é fermentada para produzir o natto. O natto é um produto fermentado de soja, muito tradicional no Japão há milhares de anos.
Sem o uso de medicamentos convencionais, a nattoquinase demonstrou a capacidade de reduzir a rinossinusite crônica e dissolver o excesso de fibrina nos vasos sanguíneos, o que melhora a circulação e reduz o risco de formação de coágulos graves. Outro benefício é a capacidade de diminuir a viscosidade do sangue e melhorar o fluxo sanguíneo, o que consequentemente diminui a pressão arterial.
Os dados também mostraram que o consumo de nattoquinase diminuiu a pressão arterial sistólica e diastólica, e demonstrou eficácia na redução da trombose venosa profunda naqueles que estavam em viagens prolongadas de avião ou veículos terrestres. Estudos demonstraram que a administração de uma dose única pode melhorar a quebra do coágulo e a anticoagulação.
Cada um desses fatores afeta sua saúde cardiovascular a longo prazo e o risco de doença cardíaca. Em um estudo, os pesquisadores escreveram que a nattoquinase é um "composto natural único que possui vários efeitos cardiovasculares benéficos que são importantes para pacientes com DCV e, portanto, é um candidato ideal para a prevenção e tratamento da DCV".
Será que as minhocas guardam o segredo da saúde do coração?
Uma das desvantagens das intervenções farmacológicas, incluindo o uso de trombolíticos, antiplaquetários e anticoagulantes, é que elas interferem no sistema de anticoagulação e trazem o risco de sangramento intenso. A lumbroquinase é uma opção secundária que funciona como uma enzima fibrinolítica, ativando o sistema plasminogênio e a fibrinólise direta.
Esse composto também atua indiretamente sobre a anticoagulação através da inibição da função plaquetária. Além disso, a lumbroquinase possui uma enzima que se opõe ao sistema de coagulação. Pesquisas demonstraram que ela promove a fibrinólise, mas também a fibrinogênese, o que significa que pode ter um sistema de equilíbrio interno que contribui para a segurança.
Curiosamente, essa enzima complexa é extraída das minhocas, sendo às vezes chamada de hidrolisados enzimáticos de minhoca. A medicina oriental usa minhocas há milhares de anos, e os médicos chineses acreditam que elas possuem propriedades para "revigorar o sangue, resolver a estase e desbloquear os meridianos e canais do corpo".
Elas são comumente encontradas em uma fórmula tradicional com ervas, que é usada para tratar condições isquêmicas ou tromboembólicas. Até o momento, as formulações que produzem lumbroquinase não podem alegar nenhuma propriedade terapêutica. Os estudos disponíveis demonstraram segurança e eficácia no tratamento de acidente vascular cerebral isquêmico agudo e resultados impressionantes no tratamento de doença arterial coronariana, incluindo casos com angina instável.
A lumbroquinase também foi avaliada como um agente antimetastático e antitumoral, com evidências demonstrando um potencial uso em anticoagulação para limitar o crescimento e a metástase do câncer. Os autores de dois artigos de revisão encontraram taxas adversas de 0,7% a 3%, com a maioria dos sintomas sendo uma leve dor de cabeça, náusea, tontura e constipação, que desapareceram quando a enzima foi descontinuada.
Nenhuma das revisões encontrou evidências de que a enzima desencadeasse sangramento ou efeitos adversos nos rins ou fígado. Tanto a nattoquinase quanto a lumbroquinase têm um perfil de efeito colateral mais baixo do que a aspirina e fornecem muitos dos mesmos benefícios ao sistema cardiovascular. Embora a aspirina não seja mais recomendada universalmente, tente conversar com seu médico para incluir a nattoquinase ou lumbroquinase na rotinas de cuidados com a sua saúde cardíaca.