A quercetina é uma alternativa mais segura à hidroxicloroquina?

Fatos verificados
benefícios da quercetina

Resumo da matéria -

  • Um estudo chinês comparando os resultados clínicos de pacientes com COVID-19 que foram tratados com o medicamento antimalárico hidroxicloroquina e aqueles que receberam somente o atendimento padrão relata resultados "decepcionantes"
  • O grupo da hidroxicloroquina teve apenas uma taxa de conversão negativa em 28 dias de 85,4% em comparação com a taxa de 81,3% do grupo de controle. Não foi observada nenhuma diferença no alívio dos sintomas entre os dois grupos
  • A quercetina é um ionóforo de zinco que ocorre naturalmente. Tomada com zinco, pode ser útil para prevenir e possivelmente tratar o COVID-19. Atualmente, pesquisas estão sendo realizadas para avaliar a eficácia da quercetina contra o COVID-19

Por Dr. Mercola

O debate sobre a eficácia do medicamento antimalárico hidroxicloroquina no tratamento do COVID-19 continua, enquanto um estudo chinês comparando os resultados clínicos de pacientes tratados com a droga o e aqueles que receberam somente o atendimento padrão relata resultados "decepcionantes".

Estudo sobre a hidroxicloroquina relata resultados decepcionantes

Setenta e cinco pacientes com COVID-19 em 16 centros de tratamento chineses receberam 1.200 miligramas de hidroxicloroquina, além do atendimento padrão nos primeiros três dias de tratamento, seguidos por uma dose de manutenção de 800 mg por dia durante duas semanas em casos leves a moderados e três semanas em casos graves. Outros 75 pacientes receberam somente o atendimento padrão.

O desfecho primário foi uma taxa de conversão negativa do SARS-CoV-2 em 28 dias (redução da carga viral). Os desfechos secundários incluíram uma taxa de melhora dos sintomas clínicos e a normalização da proteína C-reativa e da contagem de linfócitos no sangue em 28 dias.

De acordo com os autores, o grupo da hidroxicloroquina teve apenas uma taxa de conversão negativa em 28 dias de 85,4% em comparação com a taxa de 81,3% do grupo de controle. Não foi observada nenhuma diferença no alívio dos sintomas entre os dois grupos.

Os eventos adversos também foram maiores no grupo da hidroxicloroquina (30%) em comparação com o de controle (8,8%). Você encontra uma lista dos eventos adversos na Tabela 2 do estudo. O evento adverso mais comum, em 10%, foi a diarreia. Dito isto, os autores apontam que:

“Uma eficácia significativa da HCQ [hidroxicloroquina] no alívio dos sintomas foi observada quando as variáveis de confusão dos agentes antivirais foram removidas na análise post-hoc (Taxa de risco, 8,83, IC 95%, 1,09 a 71,3).

Isso também foi sustentado por uma redução significativamente maior da PCR (6.986 no AP [atendimento padrão] mais HCQ versus 2.723 no AP, miligrama/litro, P=0,045) conferida pela adição de HCQ, o que também levou a uma recuperação mais rápida da linfopenia, embora sem significância estatística.

Conclusões: A administração de HCQ não resultou em uma maior taxa de conversão negativa, mas em mais alívio dos sintomas clínicos do que o atendimento padrão sozinho em pacientes hospitalizados com COVID-19 sem receber tratamento antiviral, possivelmente por efeitos anti-inflamatórios. Os eventos adversos aumentaram significativamente nos receptores de HCQ, mas aparentemente nenhum aumento de eventos adversos graves."

AS limitações desse estudo

Vale ressaltar algumas coisas sobre esse estudo. Além de seu pequeno tamanho, os pacientes receberam uma dose muito mais alta de hidroxicloroquina do que normalmente usada nos EUA: 1.200 miligramas nos primeiros três dias, seguidos de 800 mg por dia durante duas a três semanas, em comparação com as dosagens sugeridos pela Food and Drug Administration dos EUA de 800 mg no dia 1, seguidas de 400 mg por dia por quatro a sete dias, dependendo da gravidade.

Em segundo lugar, a maioria dos pacientes apresentava doença leve com pouca hipoxemia e, em terceiro lugar, o tratamento foi administrado bastante tarde, em média 16 a 17 dias após o início da doença.

Esse estudo falhou quanto ao uso do zinco

Talvez o mais importante, no entanto, seja a ausência de zinco, o qual Fargas não menciona. Agora sabemos que a cloroquina e a hidroxicloroquina agem como ionóforos de zinco, o que significa que eles transportam zinco para as células, e o zinco parece ser um fator essencial nessa pandemia. Na verdade, a maioria dos sintomas do COVID-19 é quase indistinguível dos sintomas da deficiência de zinco.

Se administrado precocemente, o zinco juntamente com um ionóforo de zinco deve, pelo menos teoricamente, ajudar a diminuir a carga viral e impedir que o sistema imunológico fique sobrecarregado. Sem o zinco, a hidroxicloroquina pode ser mais ou menos inútil, pois o zinco parece ser o "ingrediente mágico" necessário para evitar a replicação viral.

Portanto, na minha opinião, duvido que esse estudo mereça tanto crédito, vendo que não houve administração de zinco como suplemento. Conforme observado na pré-publicação, “A suplementação de zinco aumenta a eficácia clínica da cloroquina/hidroxicloroquina para vencer a batalha da atualidade contra o COVID-19?", publicado em 8 de abril de 2020:

"Além dos efeitos antivirais diretos, a CQ/HCQ [cloroquina e hidroxicloroquina] direciona especificamente o zinco extracelular para os lisossomos intracelulares, onde interfere na atividade da RNA polimerase dependente de RNA e na replicação do coronavírus.

Como a deficiência de zinco ocorre com frequência em pacientes idosos e naqueles com doença cardiovascular, doença pulmonar crônica ou diabetes, nossa hipótese é que a suplementação de zinco com CQ/HCQ pode ser mais eficaz na redução da morbidade e mortalidade por COVID-19 do que a CQ ou HCQ em monoterapia. Portanto, a CQ/HCQ em combinação com zinco deve ser considerada como um ramo adicional de estudo para ensaios clínicos com COVID-19."

Quercetina: Uma alternativa mais segura à hidroxicloroquina?

Considerando os riscos da cloroquina e da hidroxicloroquina e as evidências sugerindo que o motivo pelo qual esses medicamentos funcionam para o COVID-19 é porque agem como ionóforos de zinco, vale a pena questionar se outros ionóforos de zinco mais naturais podem ser usados.

Um ótimo exemplo seria a quercetina, que é um ionóforo de zinco que ocorre naturalmente. Conforme relatado pelo Green Stars Project, "os pesquisadores do Oak Ridge National Lab usaram o supercomputador mais poderoso do mundo, o SUMMIT, para procurar pequenas moléculas capazes de inibir a proteína "spike" do COVID-19 de modo que não interaja com as células humanas e, curiosamente, a quercetina figura em quinto lugar nessa lista."

A quercetina é um dos únicos três produtos naturais encontrados que são capazes de inibir a proteína spike do SARS-CoV-2. O único produto natural considerado um pouco mais eficaz é a luteolina, um polifenol encontrado na radicchio, pimentão verde, pimenta serrano e chili verde, chicória, aipo e muitos outros alimentos.

A quercetina é outro flavonoide encontrado em uma variedade de alimentos, incluindo maçãs, vegetais do gênero Brassica, alcaparras, cebolas, chá e tomates, apenas para citar alguns. Também está contido em produtos medicinais como Ginkgo Biloba, Erva-de-são-joão (Hypericumperforatum) e sabugueiro (Sambucuscanadensis).

Pesquisas já demonstraram que a quercetina é um poderoso reforço imunológico e antiviral de amplo espectro. Como observado em um estudo de 2016 do periódico Nutrients, os mecanismos de ação da quercetina incluem a inibição da produção do fator de necrose tumoral α (TNF-α) induzida por lipopolissacarídeo (LPS) em macrófagos.

O TNF-α é uma citocina envolvida na inflamação sistêmica, secretada por macrófagos ativados, um tipo de célula imunológica que digere substâncias estranhas, micróbios e outros componentes nocivos ou danificados. A quercetina também inibe a liberação de citocinas pró-inflamatórias e histamina, modulando o influxo de cálcio na célula.

De acordo com esse artigo, a quercetina também estabiliza os mastócitos e tem "um efeito regulador direto nas propriedades funcionais básicas das células imunológicas", o que lhe permite inibir "uma enorme panóplia de alvos moleculares em uma faixa de concentração micromolar, regulando para baixo ou suprimindo muitas vias e funções inflamatórias."

Outro estudo de 2016 concluiu que a quercetina ajuda a modular o inflamassoma NLRP3, um componente do sistema imunológico envolvido na liberação descontrolada de citocinas pró-inflamatórias que ocorre durante uma enxurrada de citocinas.

Estudos in vitro demonstraram que a quercetina exerce atividade antiviral contra o SARS-CoV, e resultados preliminares sugerem que ela também pode inibir a principal protease do SARS-CoV-2. Você pode obter ainda mais detalhes sobre os poderes anti-inflamatórios e antivirais da quercetina no artigo "A quercetina reduz o risco de doenças virais".

A quercetina é estudada para uso contra o COVID-19

A boa notícia é que os pesquisadores estão, de fato, planejando estudar o uso da quercetina contra o COVID-19. Conforme relatado pela Maclean, os pesquisadores canadenses Michel Chrétien e Majambu Mbikay começaram a investigar a quercetina após a epidemia de SARS que eclodiu em 26 países em 2003.

Eles descobriram que um derivado da quercetina oferecia uma proteção de amplo espectro contra uma ampla variedade de vírus, incluindo a SARS. O surto de Ebola em 2014 ofereceu outra chance de investigar os poderes antivirais da quercetina e, também aqui, eles descobriram que ela prevenia com a eficácia a infecção em ratos, "mesmo quando administrada apenas alguns minutos antes da infecção".

Assim, quando o surto de COVID-19 foi anunciado na cidade de Wuhan, na China, no final de dezembro de 2019, Chrétien entrou em contato com colegas na China com uma oferta de colaboração. Em fevereiro de 2020, Chrétien e sua equipe receberam um convite oficial para iniciar os testes clínicos.

As recomendações de dosagem para quercetina e zinco

Com a pandemia de COVID-19 em pleno andamento — e para qualquer futura temporada de gripe — a suplementação com quercetina e zinco pode ser uma boa ideia para muitos, na finalidade de aumentar a capacidade inata do sistema imunológico de evitar doenças infecciosas. Quanto à dosagem, aqui estão algumas recomendações básicas:

Quercetina — De acordo com uma pesquisa da Appalachian State University, na Carolina do Norte, o consumo de 500 mg a 1.000 mg de quercetina por dia durante 12 semanas resulta em "aumentos grandes, mas altamente variáveis, na quercetina plasmática... não relacionados a fatores demográficos ou de estilo de vida".

Zinco (e cobre) — Em se tratando do zinco, mais nem sempre é necessariamente melhor. De fato, pode sair pela culatra. Ao tomar zinco, você também precisa manter uma proporção saudável entre zinco e cobre. Como observado por Chris Masterjohn, que é Ph.D. em ciências nutricionais, num artigo e uma série de postagens no Twitter:

"Em um estudo, 300 mg/dia de zinco em duas dosagens divididas de 150 mg de sulfato de zinco, diminuíram marcadores importantes da função imunológica, como a capacidade das células imunológicas, conhecidas como leucócitos polimorfonucleares, de migrar até as bactérias e consumi-las.

O efeito mais preocupante no contexto do COVID-19 é que ele reduziu em 3 vezes o índice de estímulo dos linfócitos. Essa é uma medida da capacidade das células T de aumentarem seus números em resposta a uma ameaça percebida. A razão pela qual isso é tão preocupante no contexto do COVID-19 é que desfechos ruins estão associados à baixa contagem de linfócitos...

O efeito negativo na proliferação dos linfócitos com 300 mg/dia e a aparente segurança de 150 mg/dia sugerem que o potencial de ferir o sistema imunológico pode começar em algum lugar entre 150-300 mg/dia…

É bem possível que o efeito prejudicial das 300 mg/dia de zinco no índice de estímulo dos linfócitos seja mediado principalmente ou completamente pela indução da deficiência de cobre…

O efeito negativo do zinco no status do cobre foi demonstrado com menos de 60 mg/dia de zinco. Essa ingestão diminui a atividade da superóxido dismutase, uma enzima importante para a defesa antioxidante e a função imunológica que depende do zinco e do cobre…

Um estudo realizado com uma ingestão relativamente baixa de zinco sugeriu que proporções aceitáveis de zinco para cobre variam de 2:1 a 15:1 em favor do zinco. O cobre parece seguro para consumo até no máximo de 10 mg/dia.

Curiosamente, a quantidade máxima de zinco que se pode consumir sem sair da faixa aceitável das proporções de zinco para cobre e também permanecendo dentro do limite máximo de cobre é de 150 mg/dia."

De quanto de zinco você precisa?

Em seu artigo sobre o zinco, Chris Masterjohn entra em detalhes ainda maiores, discutindo taxas máximas de absorção e muito mais. Em resumo, ele recomenda tomar de 7 a 15 mg de zinco quatro vezes ao dia, de preferência com o estômago vazio ou com alimentos sem fitato.

A ingestão diária recomendada nos EUA é de 11 mg para homens adultos e 8 mg para mulheres adultas, com doses ligeiramente mais altas recomendadas para grávidas e lactantes. Portanto, não estamos falando em tomar dosagens significativamente mais altas.

Além disso, você pode tomar uma pastilha de acetato de zinco por dia, o que fornecerá 18 mg adicionais de zinco. Se você estiver exposto ao vírus, tome uma pastilha adicional antes e depois da exposição.

Masterjohn enfatiza que você deve manter sua ingestão total de zinco abaixo de 150 mg por dia para evitar efeitos negativos em seu sistema imunológico. Ele também recomenda ingerir pelo menos 1 mg de cobre a partir de alimentos e suplementos para cada 15 mg de zinco que você tomar.

Lembre-se de que existem muitas fontes alimentares de zinco; portanto, pode não ser necessário tomar um suplemento. Eu como cerca de meio quilo carne moída de bisão ou cordeiro por dia, que têm 20 mg de zinco. Pessoalmente, não tomo nenhum suplemento de zinco além do que obtenho através da comida, o que provavelmente é a forma ideal para maximizar a absorção no mineral.

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