Por Dr. Mercola
Com o novo coronavírus COVID-19 espalhando-se rapidamente pelo mundo, as autoridades de saúde enfatizam a importância de lavar frequentemente as mãos. De fato, adotar estratégias apropriadas para a lavagem das mãos é uma das maneiras mais simples e eficazes de reduzir a propagação do vírus e o risco de doenças.
A higiene das mãos em aeroportos poderia reduzir significativamente os riscos de pandemia
Conforme observado em um estudo de dezembro de 2019 no Risk Analysis, que investigou os padrões de propagação de vírus semelhantes aos da gripe, os voos intercontinentais permitem que patógenos infecciosos se espalhem rapidamente pelo mundo.
Além da velocidade com que uma pessoa infectada pode viajar de um país para o outro, o risco de propagação das doenças pandêmicas é exacerbado ao viajar de avião pela simples razão de que eles aglomeram grandes grupos de pessoas em um espaço confinado, com poucas oportunidades para uma higiene adequada.
Se as pessoas lavassem as mãos com mais frequência durante a viagem, o risco de infecção pandêmica poderia ser reduzido significativamente — em até 69%, de acordo com este estudo — o que não é nada mal.
As superfícies frequentemente tocadas pelos passageiros e mais cheias de germes nos aeroportos e no interior das aeronaves incluem as telas de check-in de autoatendimento, apoios de braços das poltronas, grades, botões de bebedouros, maçanetas, assentos, bandejas e apoios nos banheiro. Os 10 aeroportos com as maiores taxa de disseminação de infecções, de acordo com este estudo, são:
LHR — London Heathrow |
LAX — Los Angeles International |
JFK — John F. Kennedy International |
CDG — Paris-Charles de Gaulle |
DXB — Dubai International |
FRA — Frankfurt International |
HKG — Hong Kong International |
PEK — Beijing Capital International |
SFO — San Francisco International |
AMS — Amsterdam Airport Schiphol |
Tocar no próprio rosto é um vetor para a transmissão de doenças
Se você pensa que suas mãos estão limpas simplesmente porque elas parecem limpas, está na hora de repensar isso. Os vírus e bactérias são microscópicos, e não há absolutamente nenhuma maneira de determinar se suas mãos estão livres de germes. Por isso, o ideal é sempre presumir que não estejam.
Lavar as mãos com frequência durante a temporada de gripe e outros surtos de pandemia é uma medida de segurança crucial, em grande parte porque a maioria das pessoas toca no rosto uma média de 23 vezes por hora.
Conforme observado no American Journal of Infection Control, o comum gesto de tocar no próprio rosto é um vetor para autoinoculação e transmissão de doenças infecciosas. Em outras palavras, toda vez que você encosta no seu rosto, corre o risco de introduzir patógenos causadores de doenças em seu corpo à medida que eles se transferem das suas mãos para a sua face.
A mensagem aqui é que tocar na boca, no nariz e nos olhos é um comportamento comum e frequentemente inconsciente pelo qual as doenças infecciosas são disseminadas. A solução nesse caso é procurar lavar as mãos regularmente, especialmente após certas atividades, como:
- Sempre que visitar um serviço de saúde, antes de entrar no quarto de um paciente e antes de sair do local, lave as mãos. Estima-se que 1 em cada 4 pacientes também saiam do hospital com bactérias resistentes a antibióticos, sugerindo que os pacientes também precisam aprender a lavar as mãos de forma consciente
- Logo antes de comer
- Depois de usar o banheiro, e após cada troca de fralda
- Antes e depois de cuidar de uma pessoa doente, e/ou tratar um corte ou ferida
Crie o hábito de limpar o seu celular também
Celulares, a propósito, são outro vetor significativo de doenças infecciosas. Mesmo se você lavar as mãos com frequência, assim que tocar no seu celular, você as contaminará novamente se ele não estiver limpo, e poderá transmitir esses germes para tudo no que tocar.
Portanto, criar o hábito de limpar regularmente o seu celular também seria interessante. Para obter instruções sobre como higienizar seu celular com segurança, veja o vídeo acima.
A PC Magazine sugere o uso de lenços umedecidos com álcool, normalmente usados para limpar lentes de câmeras. Além disso, lembre-se de limpar a capinha do celular, e preste atenção na parte traseira se você usar um leitor de impressão digital para desbloquear o aparelho.
Técnica adequada de lavagem das mãos
Mesmo que as pessoas lavem as mãos regularmente, elas nem sempre fazem isso de forma correta, desperdiçando uma importante oportunidade de reduzir a propagação de germes. Para garantir que você está realmente eliminando os germes quando lava as mãos, siga as seguintes instruções:
- Use água morna
- Use um sabonete neutro
- Procure fazer bastante espuma, espalhando-a até os pulsos, e esfregando por pelo menos 20 segundos
- Certifique-se de lavar todas as áreas, incluindo as costas das mãos, pulsos, entre os dedos e sob as unhas
- Enxágue bem com água corrente
- Seque as mãos com uma toalha limpa ou deixe secar ao ar
- Em locais públicos, ao abrir a porta, use uma toalha de papel como proteção contra os germes que as maçanetas possam abrigar
Por que o sabonete é eficaz contra vírus
Idealmente, você também vai querer se certificar de que está usando os produtos mais eficazes. Ao contrário da crença popular, os sabonetes antibacterianos NÃO são ideais para matar os vírus causadores de doenças que estão presentes nas suas mãos. Assim como os antibióticos, o sabonete antibacteriano afeta apenas as bactérias, não vírus.
E, mesmo contra as bactérias, algumas pesquisas indicam que o sabonete antibacteriano não oferece nenhum benefício adicional em relação ao sabonete convencional.
Em se tratando de vírus, o sabonete comum funciona melhor. Conforme detalhado em uma série de publicações no Twitter do professor Palli Thordarson, especialista em nanomedicina e química bio-mimética, supramolecular e biofísica, o sabonete mata o vírus COVID-19 com muita eficácia, "assim como a maioria dos vírus".
A razão para isso é porque o vírus é "uma nanopartícula auto-fabricada, na qual o elo mais fraco é uma bicamada lipídica (gordurosa)". O sabonete dissolve essa membrana de gordura, fazendo com que o vírus se desfaça e tornando-o inofensivo. Nem mesmo o álcool é tão eficaz quanto o sabonete na inativação de um vírus, embora possa ser mais prático para superfícies que não sejam as mãos e o corpo.
A mecânica por trás do sabonete
A molécula do sabonete é capaz de fazer com que o óleo e a água se misturem, pois compartilha características de ambos. As moléculas do sabonete são anfipáticas, o que significa que têm propriedades polares e apolares, dando lhes a capacidade de dissolver a maioria dos tipos de moléculas.
Como observado por Thordarson, os anfifílicos (substâncias semelhantes à gordura) no sabonete são "estruturalmente muito semelhantes aos lipídios na membrana do vírus", de modo que "as moléculas de sabonete 'competem' com os lipídios na membrana do vírus". Em resumo, o sabonete dissolve a "cola" que mantém o vírus inteiro.
A alcalinidade do sabonete também cria uma carga elétrica que o torna hidrofílico ("gosta" de água). Os átomos de hidrogênio nas moléculas de água têm uma carga ligeiramente positiva; portanto, quando você molha as mãos e usa sabonete, essa molécula se liga rapidamente à molécula de água mais próxima. Portanto, quando você lava as mãos em água corrente, o vírus, agora desconstruído, é facilmente levado embora.
Usando antissépticos à base de álcool
Os Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA recomendam lavar as mãos com água e sabonete. Os antissépticos à base de álcool são recomendados somente quando não houver água e sabonete disponíveis. Conforme observado no site do CDC:
"Muitos estudos concluíram que os antissépticos com uma concentração de álcool entre 60% e 95% são mais eficazes para matar os germes do que aqueles com uma concentração mais baixa de álcool ou antissépticos para as mãos que não são à base de álcool.
Os antissépticos para as mãos sem álcool de 60% a 95% podem 1) não funcionar tão bem para muitos tipos de germes e 2) apenas reduzem o crescimento de germes, em vez de eliminá-los completamente.
Ao usar antissépticos para as mãos, aplique o produto na palma de uma das mãos (leia o rótulo para saber a quantidade correta) e esfregue o produto em toda a superfície até que as mãos estejam secas."
Como observado por Thordarson, a desvantagem do etanol e de outros álcoois é que eles não conseguem dissolver a membrana lipídica que mantém o vírus inteiro. E é justamente por isso que água e sabonete funcionam melhor.
Disto isso, uma revisão de 2017 no Journal of Hospital Infection constatou que as soluções de etanol a 80% eram "altamente eficazes" contra 21 tipos diferentes de vírus em 30 segundos, embora alguns vírus (poliovírus tipo 1, calicivírus, poliomavírus, vírus da hepatite A e vírus da febre aftosa) eram mais resistentes e necessitavam de uma solução a 95%.
Segundo os autores, "o espectro da atividade virucida do etanol a 95%... cobre a maioria dos vírus clinicamente relevantes". Acredita-se também que um antisséptico para as mãos com pelo menos 60% de álcool seja capaz de eliminar o vírus COVID-19.
Só tenha em mente que o uso frequente de produtos à base de álcool faz mal para a pele, podendo ressecá-la. De fato, isso poderia até mesmo piorar as coisas, pois uma pele com fissuras se torna mais suscetível a infecções, pois fornece aos germes uma via de entrada perfeita.
O sabonete em barra contém germes?
Outro equívoco comum é pensar que o sabonete líquido seja mais higiênico do que o sabonete em barra, pois a barra passa por muitas mãos diferentes. No entanto, o medo de que o sabonete em barra possa abrigar germes é infundado. Embora estudos ocasionais tenham documentado a presença de bactérias ambientais nas barras de sabonete, nenhum estudo demonstrou que o sabonete em barra possa ser uma fonte de infecção.
O primeiro estudo rigoroso a analisar essa questão foi publicado em 1965. Pesquisadores contaminaram intencionalmente suas mãos com quase 5 bilhões de bactérias, incluindo variedades causadoras de doenças, como estafilococos e E. coli.
Eles então lavaram as mãos com o sabonete em barra, seguidos de outra pessoa que lavou as mãos com a mesma barra de sabonete. Foi feita uma cultura a partir de amostras das mãos da segunda pessoa, e observou-se que as bactérias não foram transferidas. Os pesquisadores concluíram:
- Os sabonetes em barra não favorecem o crescimento de bactérias sob condições normais de uso
- Os sabonetes em barra são inerentemente antibacterianos devido às suas características físico-químicas
- O nível de bactérias que podem ocorrer no sabão em barra, mesmo sob condições extremas de uso (uso intenso ou saboneteiras mal projetadas que não escoam a água), não constitui um risco à saúde
Secar ao ar ou com toalhas: O que é melhor?
Muitos também acreditam que é melhor usar um secador de mãos do que toalhas de papel nos banheiros públicos. Por mais surpreendente que possa parecer, os secadores de ar podem espalhar MUITO mais germes do que as toalhas de papel.
No artigo de 2017 “Limpeza contextualizada: Reconciliando a higiene com uma perspectiva microbiana moderna”, os ecologistas microbianos da Universidade de Oregon examinaram diferentes métodos de secagem das mãos, observando que "a maioria das pesquisas mostrou que os secadores de ar quente podem aumentar o número de bactérias nas mãos após o uso". Acredita-se que o motivo do aumento da carga bacteriana se deva a:
- Bactérias dentro do mecanismo do secador que são expelidas durante o uso
- Ar repleto de bactérias sendo re-circulado
- Bactérias encontradas nas camadas mais profundas da pele sendo liberadas ao se esfregar as mãos sob a corrente de ar quente
- Alguma combinação dos itens acima
Um outro estudo descobriu que os secadores a jato pulverizam 1.300 vezes mais material viral no ambiente do que as toalhas de papel, dispersando a carga viral a até 3 metros de distância do secador.
A mensagem nesse caso é que, ao usar um banheiro público, é melhor você ignorar os secadores de ar e usar toalhas de papel. Certifique-se de descartá-la corretamente na lixeira, e use uma toalha de papel limpa para abrir a porta ao sair.
Evite toalhas de pano durante pandemias
As toalhas de pano são a alternativa menos higiênica durante a temporada de gripe ou pandemias, pois apresentam o maior risco de contaminação cruzada. De acordo com um estudo de 2014 da Universidade do Arizona, as toalhas podem ser o item com a maior quantidade de germes da sua casa.
Os testes revelaram que 89% dos panos de prato e quase 26% das toalhas de banho estavam contaminadas com bactérias coliformes, que estão associadas à intoxicação alimentar e diarreia. O grande motivo para isso é a retenção de umidade, que serve como um terreno fértil para as bactérias.
Toalhas e panos úmidos também são locais hospitaleiros para os vírus. Conforme observado em um estudo de 2012 no Applied and Environmental Microbiology, os tecidos podem espalhar vírus facilmente entre as superfícies.
Portanto, ao higienizar sua casa (o que é aconselhável, especialmente se alguém na casa estiver doente), o ideal é usar toalhas de papel. Uma vez que o risco imediato de infecção tenha passado, você poderá voltar a usar panos reutilizáveis para a limpeza diária.