Por Dr. Mercola
De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, o diabetes tipo 2 é um fator de risco nos casos graves de COVID-19. Além disso, pessoas com diabetes têm um risco muito maior de morrer na primeira semana de hospitalização por COVID-19 do que as pessoas que não têm diabetes. No entanto, os resultados de dados recentes de dois estudos que analisaram a associação entre o uso de estatinas, diabetes e gravidade da COVID-19 foram conflitantes.
Os pesquisadores acreditam que há uma relação entre as estatinas, o diabetes e um aumento no risco dos casos graves de COVID-19. Também havia uma relação entre o medicamento e o estado de saúde anterior à atual pandemia.
O uso de estatinas por diabéticos com COVID-19 aumenta a taxa de mortalidade
Desde o início da pandemia, especialistas reconhecem a existência de grupos de indivíduos com um maior risco de apresentar sintomas graves e vir a óbito. O CDC tem uma lista de problemas de saúde que aumentam ambos os riscos, a qual inclui: obesidade, diabetes tipo 2 e problemas cardíacos.
Muitos desses problemas de saúde também são fatores de risco para outras doenças infecciosas, pois afetam consideravelmente a resposta imunológica. Em março de 2020, um grupo de cientistas do Hospital Universitário de Nantes, na França, publicou um estudo de ensaios clínicos chamado COVID-19 e o Diabetes (CORONADO) que media a prevalência dos casos graves de COVID-19 em pacientes diabéticos que haviam sido hospitalizados.
O estudo envolvia crianças, adultos e idosos. Nos resultados iniciais, publicados no periódico Diabetes and Metabolism, os pesquisadores haviam analisado dados coletados de participantes em 68 hospitais na França que tiveram desfecho primário de intubação, morte em sete dias ou morte 28 dias após a admissão.
Os pesquisadores analisaram 2.449 pacientes com diabetes tipo 2, dos quais 48,7% faziam uso estatinas antes de serem internados. Sem considerar os fatores externos, os pacientes que tomavam estatinas tinham desfechos primários semelhantes aos daqueles que não tomavam o medicamento.
No entanto, os dados também mostraram que as taxas de mortalidade eram consideravelmente maiores em sete dias e 28 dias em comparação com pessoas que não tomavam estatinas. Os pesquisadores reconheceram que os indivíduos que faziam uso do medicamento eram mais velhos, mais frequentemente do sexo masculino e costumavam ter outras comorbidades, incluindo hipertensão, insuficiência cardíaca e complicações do diabetes.
Eles acharam os resultados surpreendentes, uma vez que outros estudos observacionais revelavam uma ação potencialmente benéfica das estatinas em pessoas que tiveram COVID-19. Segundo eles, uma possível explicação é que seu foco estava em pessoas com diabetes tipo 2, um fator de risco conhecido para doenças graves.
Além disso, os pacientes do estudo CORONADO que tomavam estatinas apresentaram mais comorbidades do que aqueles que não faziam uso desse medicamento. No entanto, apesar das limitações, os pesquisadores encontraram evidências suficientes nos mais de 2.400 participantes para concluir que:
“…Nossos resultados atuais não sustentam a hipótese do papel protetor do uso rotineiro das estatinas contra a COVID-19, pelo menos não em pacientes hospitalizados com DM2 (diabetes mellitus tipo 2).
De fato, os efeitos possivelmente negativos do tratamento de rotina com estatinas na mortalidade associada à COVID-19 exigem mais investigação e, como destacado recentemente, apenas ensaios controlados randomizados e devidamente elaborados serão capazes de abordar adequadamente essa importante questão.”
As estatinas, o diabetes e a COVID-19
Por outro lado, um segundo estudo observacional publicado no Journal of the American Heart Association encontrou resultados semelhantes aos de estudos anteriores, relacionando as estatinas com uma menor taxa de mortalidade em pessoas hospitalizadas com COVID-19.
Embora os dois estudos pareçam encontrar evidências contraditórias, o Dr. Daniel Drucker do Hospital Mount Sinai, em Toronto, comentou que não é incomum que os dados revelem resultados diferentes em estudos observacionais, tornando um desafio encontrar inferências causais e significativas.
O segundo estudo, liderado pelo Dr. Omar Saeed do Montefiore Medical Center, em Nova York, reuniu dados de 4.252 pacientes com diagnóstico confirmado de COVID-19. Nesse estudo, apenas 53% dos pacientes tinham diabetes e 32% haviam sido tratados com estatinas, em comparação com 100% dos pacientes com diabetes no estudo CORONADO.
Os dados do estudo de Saeed mostraram que os pacientes que tomam estatinas têm 23% de chance de morrer no hospital, contra 27% daqueles que não tomam o medicamento. Os dados também mostraram que pessoas com diabetes que tomam estatinas têm 24% de risco de morte contra 39% dos diabéticos que não tomam o remédio.
Os dados do estudo CORONADO publicado no início do ano revelaram que 10% das pessoas com diabetes que foram hospitalizadas com COVID-19 morreram em uma semana e quase 33% necessitaram de ventilação mecânica. Os dados mostraram que:
“...o índice de massa corporal (IMC) estava independentemente associado com a morte ou intubação em 7 dias, enquanto o A1c e o uso de bloqueadores do sistema renina-angiotensina-aldosterona (RAAS) e inibidores da dipeptidil peptidase-4 não.”
Os cientistas do estudo CORONADO foram incentivados pelo fato de não haver mortes de pessoas com diabetes tipo 1 que tivessem menos de 65 anos. Um cientista da equipe, Dr. Samy Hadjadj, falou com o Medscape Medical News sobre os resultados:
“Antes do estudo CORONADO, era como se "todos os diabéticos fossem iguais". Agora certamente podemos precisar melhor o risco, considerando a idade, sexo, IMC, complicações e apneia obstrutiva do sono como situações de risco muito mais elevado.”
Ele ainda advertiu:
"...mesmo no caso do diabetes, cada aumento no IMC está associado a um aumento no risco de intubação e/ou morte nos 7 dias após a admissão hospitalar por COVID-19. Então, devemos pensar nessas pessoas como uma fatia da população que precisa manter ainda mais o distanciamento social e ficar alerta para evitar o vírus.”
As estatinas são um desperdício de dinheiro e recursos
Quer as estatinas aumentem ou não o risco de mortalidade dos casos graves de COVID-19, o fato é que elas não protegem contra doenças cardiovasculares e ainda aumentam o risco de outros problemas de saúde. Visto que existem estratégias que podem ser implementadas em casa para reduzir o risco de doenças graves e proteger a saúde, tomar estatinas costuma ser desnecessário e provavelmente perigoso.
Em 2014, Maryanne Demasi, Ph.D, produziu o documentário “Heart of The Matter: Dietary Villains” (em tradução livre: O centro da questão: os vilões nutricionais), que expunha o mito do colesterol e da gordura saturada que a indústria farmacêutica usa para aumentar a taxa de prescrição das estatina e as relações financeiras que sustentam a indústria farmacêutica.
A ABC TV parou de transmitir o documentário após ser pressionada pela Australian Heart Foundation e a Cholesterol Treatment Trialists Collaboration (CTT). A ABC impediu Maryanne de escrever artigos de opinião, conversar com jornalistas ou ir a conferências médicas. Em 2016, ela e seus colegas estavam desempregados.
Embora o colesterol e a gordura saturada tenham sido os vilões da doença cardíaca por quatro décadas, estudos não sustentam essa hipótese. Desde o lançamento do documentário, as evidências contra as estatinas e a teoria de que o colesterol não é a causa das doenças cardíacas só aumentaram.
Em uma recente revisão científica da literatura médica, publicada na revista BMJ Evidence-Based Medicine, os pesquisadores descobriram que reduzir o colesterol LDL não reduz o risco de doenças cardíacas e derrame, escrevendo: “Décadas de pesquisa não conseguiram demonstrar nenhum benefício consistente nessa abordagem”. Em outras palavras, bilhões de dólares são gastos em medicamentos ineficazes e potencialmente nocivos.
Desde o início da comercialização das estatinas no final dos anos 80 (a lovastatina foi a primeira a ser aprovada em 1987), as vendas totais chegaram a quase US$ 1 trilhão. O Lipitor (atorvastatina), que é apenas um dos vários tipos de estatinas, foi eleito o medicamento mais lucrativo da história da medicina até hoje.
No entanto, essas drogas não fizeram nada para impedir a tendência crescente de doenças cardíacas, que continuam sendo a maior causa de morte no mundo. Os autores do estudo publicado no BMJ argumentam que, uma vez que dezenas de ensaios clínicos randomizados que analisam a redução do colesterol LDL "não conseguiram demonstrar um benefício consistente, devemos questionar a validade dessa teoria", passando a dizer:
"Na maioria dos campos da ciência, a existência de evidências contraditórias geralmente leva a uma mudança de paradigma ou modificação da teoria em questão, mas, neste caso, a evidência contraditória foi amplamente ignorada, simplesmente porque não se encaixa no paradigma prevalente."
Eles concluíram que:
“Os resultados negativos de vários ensaios clínicos randomizados para a redução do colesterol questionam a validade do uso da lipoproteína de baixa densidade como um alvo substituto para a prevenção das doenças cardiovasculares.”
As estatinas sabotam a saúde e aumentam o risco de diabetes
Além de não ajudar na prevenção ou adiamento dos ataques cardíacos e derrames, as estatinas são perigosas para a saúde a longo prazo. Uma impressionante revisão feita em 2015 sobre estudos envolvendo estatinas constatou que, nos testes de prevenção primária, o prolongamento médio da vida era de 3,2 dias.
O estudo descobriu que, em indivíduos que usam estatinas para prevenção secundária e redução do risco de um segundo ataque cardíaco, o adiamento médio da morte era de 4,1 dias. Embora tomar um remédio para possivelmente prolongar a vida em três a quatro dias já pareça questionável, aqueles que tomam estatinas também apresentam um aumento no risco de:
Diabetes |
Demência, doenças neurodegenerativas e problemas psiquiátricos como depressão, ansiedade e agressão |
Distúrbios músculo-esqueléticos |
Osteoporose |
Catarata |
Doenças cardíacas |
Danos ao fígado |
|
Experimente algumas mudanças na alimentação e no estilo de vida
Algumas estratégias simples e caseiras podem ajudar a normalizar seus níveis de colesterol e açúcar no sangue. Acredito que a taxa de colesterol total tenha poucos benefícios na avaliação do risco de doença cardíaca, a menos que o resultado esteja acima de 300.
Em alguns casos, o colesterol alto pode indicar um problema quando seu LDL ou triglicerídeos estão altos, mas o HDL está baixo. Você poderá avaliar melhor o seu risco observando as duas proporções abaixo, em combinação com outros fatores do estilo de vida como o teor de ferro e a alimentação.
- Relação HDL/colesterol — Divida seu HDL pelo seu colesterol. Idealmente, a proporção deve estar acima de 24%
- Relação triglicerídeo/HDL — Divida seus triglicérides pelo seu HDL. Idealmente, essa proporção deve ficar abaixo de 2
Você pode diminuir o risco de doenças cardíacas seguindo sugestões que afetam seu estilo de vida e sua exposição às toxinas ambientais.
É difícil controlar o diabetes tipo 2 quando você depende exclusivamente de um medicamento e não faz nenhuma alteração nos fatores do seu estilo de vida que causam o problema. Quendo devidamente tratado, o diabetes tipo 2 pode ser totalmente reversível para a maioria das pessoas.
O motivo por trás disso é que o diabetes tipo 2 é um problema derivado da alimentação, que está enraizado na resistência à insulina e na deficiência de leptina. Por causa disso, a doença pode ser tratada e revertida com eficácia por meio de mudanças na alimentação e no estilo de vida.