O cardo mariano promove o funcionamento do fígado

Fatos verificados
Cardo mariano

Resumo da matéria -

  • O principal composto bioativo no cardo mariano é um grupo de flavonolignanos chamados silimarina, que possui propriedades hepatoprotetoras muito conhecidas, incluindo contra o mortal cogumelo cicuta verde
  • A silimarina pode reduzir as alterações fibróticas do fígado que levam a uma forma avançada de doença hepática gordurosa não-alcoólica (DHGNA), chamada cirrose, que está associada à esteato-hepatite não alcoólica
  • Propriedades anticâncer, neuroprotetoras e anti-osteoclásticas são alguns dos benefícios da silimarina. É uma planta invasiva e de elevada toxicidade para o gado
  • Formulações nas quais ela é combinada com fosfolipídios, como a fosfatidilcolina, melhoram sua biodisponibilidade e eficiência terapêutica

Por Dr. Mercola

O cardo mariano (Silybum marianum) é uma planta herbácea perene, que é nativa do sul da Europa e da Ásia e também membro da família Asteraceae. É uma planta que pode chegar a metro e meio e que gosta de ambientes ensolarados. Ela possui flores com cores profundas de roxo e rosa, e floresce entre os meses de Julho e Agosto.

Ao longo da história, para tratar doenças hepáticas, as pessoas usaram as frutas e as sementes dessa planta. Outros nomes dessa planta são: cardo leiteiro, cardo santo e serralha-de-folhas.

A flor pode ser torrada e usada para substituir o café, mas é tradicional que suas folhas sejam ser usadas em saladas. No entanto, os efeitos benéficos para a saúde estão nas sementes.

O uso mais antigo registrado da planta foi por Dioscorides, que acreditava que ela poderia ser usada como um tratamento para picadas de cobra, de acordo com o Instituto de Saúde Norte-Americano. Ela era usada como antídoto para toxinas do fígado na Idade Média, e, em 1898, os médicos a usavam para tratar doenças do fígado, dos rins e do baço.

Hoje em dia, o cardo mariano está listado pela Comissão E Alemã como indicado para tratar doenças hepáticas inflamatórias crônicas e no tratamento de cirrose hepática e danos ao fígado induzidos por toxinas.

O cardo mariano protege a saúde do fígado

Um grupo de flavonolignanos chamados silimarina é o principal composto bioativo no cardo mariano. Os flavonolignanos são um grupo de flavonoides com conhecidas propriedades hepatoprotetoras. A silibina tem a maior concentração e efeito biológico dos sete flavonolignanos diferentes que compõem a silimarina. A silimarina está na forma de silibina A e silibina B, que compõem cerca de 70% da silimarina.

Embora os termos cardo mariano e silimarina tenham sido usados ​​de forma indiscriminada, não é tudo a mesma coisa: a silimarina é uma substância que pode ser isolada a partir das sementes de cardo mariano. A silimarina pode ajudar a proteger o fígado e costuma ser usada em indivíduos com danos no fígado causados pela doença hepática gordurosa não-alcoólica, hepatite e câncer de fígado, de acordo com diversos estudos.

A silimarina também tem um efeito protetor contra uma toxina mortal chamada amatoxina, que é produzida pelo cogumelo cicuta verde. A cicuta verde é responsável por quase 90% das fatalidades por cogumelos em todo o mundo. Os sintomas se manifestam entre seis e oito horas após a ingestão e são seguidos por insuficiência renal e hepática.

Pesquisadores encontraram cerca de 1.500 casos documentados com mortalidade inferior a 10% em pacientes tratados com Legalon® SIL, um composto farmacêutico de silibinina, em um trabalho de revisão da literatura médica. Médicos trataram com sucesso dois pacientes que ingeriram acidentalmente a cicuta verde usando uma combinação de n-acetilcisteína, cimetidina, silibinina e penicilina em altas dosagens, de acordo com um relato de caso.

As propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e anti-fibróticas do composto provavelmente são responsáveis pelos benefícios da silimarina para a saúde do fígado. Reduzir os danos ao fígado relacionados a vírus, além de um efeito antiviral direto quando administrada por via intravenosa em pacientes com hepatite C, são alguns dos benefícios da silimarina.

A silimarina tem um efeito positivo no tratamento de uma forma avançada de doença hepática gordurosa não-alcoólica, a esteato-hepatite não-alcoólica. As alterações fibróticas que levam à cirrose hepática também sofrem uma redução pela ação do composto. Pesquisadores descobriram que a silimarina ajuda a melhorar as funções do fígado em combinação com a vitamina E, e pode ser:

"... uma opção terapêutica válida, principalmente quando outros medicamentos não são indicados ou falham, ou como um tratamento complementar associado a outros programas terapêuticos".

Seu fígado: O grande desintoxicante

O fígado é um dos maiores órgãos do corpo por um bom motivo. Ele ajuda a converter substâncias tóxicas em substâncias inofensivas antes de serem liberadas do seu corpo e, além disso, executa muitas funções metabólicas e desintoxicantes.

O fígado está logo abaixo do diafragma direito, na cavidade abdominal superior, onde fica acima do estômago. Um fígado adulto saudável normal é composto por dois lóbulos conectados por uma faixa de tecido conjuntivo e pesa cerca de 1,3 kg.

A vesícula biliar, onde seu corpo armazena a bile, fica na cavidade abaixo do fígado. Seu fígado retém cerca de 13% do suprimento de sangue de seu corpo, o qual filtra, e excreta de 800 mililitros a 1.000 mililitros de toxinas na bile todos os dias. Isso é depositado na vesícula biliar.

O fígado produz algumas das proteínas do plasma sanguíneo, converte o excesso de açúcar em glicogênio e ajuda a equilibrar a produção de glicose, além de desintoxicar o sangue. O fígado também é responsável por eliminar a bilirrubina que é formada quando a hemoglobina se quebra, regular os mecanismos de coagulação do sangue e ajudar na resistência a infecções.

Além da capacidade de aumentar a glutationa, que é um poderoso antioxidante crucial para a desintoxicação do fígado, a silimarina possui muitos benefícios hepáticos. Ela pode ajudar as células do fígado a se regenerarem, dando suporte ao único órgão do corpo capaz de se regenerar, de acordo com os pesquisadores.

Aumenta a incidência de doenças do fígado

A lesão hepática afeta essas funções e muitas outras coisas, como pode imaginar. Cerca de 100 milhões de pessoas sofrem de doença hepática gordurosa não-alcoólica (DHGNA), que está associada à obesidade, embora as pessoas tendam a atribuir a doença hepática à ingestão alcoólica. A incidência de DHGNA aumentou nos EUA junto com as taxas de obesidade. A prevalência de obesidade ajustada por idade nos EUA foi de 42,4% dos adultos em 2017-2018.

A obesidade, diabetes, níveis elevados de triglicerídeos e hábitos alimentares inadequados são fatores de risco para doença hepática gordurosa não-alcoólica. Como é possível não sentir nenhum sintoma, e muitas pessoas podem conviver com a doença sem desenvolver mais danos ao fígado, ela costuma ser chamada de doença silenciosa. A esteato-hepatite não-alcoólica se desenvolve quando a DHGNA progride com sinais de inflamação e dano celular.

O tipo mais comum de doença hepática em crianças é a DHGNA. Dados divulgados de uma grande coorte do Reino Unido em janeiro de 2020 revelam que 20% dos jovens adultos têm DHGNA.

Os pesquisadores descobriram que mais de 20% tinham evidências de DHGNA e 2,5% desenvolveram fibrose, quando ampliaram o conjunto de dados. Destrinchando mais os dados, eles descobriram que, aos 17 anos, 2,5% tinham níveis moderados a graves, mas, aos 24, haviam subido para 13%.

A silimarina reduz a inflamação celular

A capacidade do composto de ajudar a reduzir a inflamação celular é responsável por muitos dos benefícios para a saúde atribuídos à silimarina. A silimarina possui um processo de duas fases semelhante ao usado por outros compostos naturais, como a curcumina e o galato de epigalocatequina encontrado no chá verde, de acordo com a pesquisa.

Houve um rápido aumento na expressão genética que está ligada ao estresse celular, durante a primeira fase. Segue-se uma depressão prolongada da expressão genética que está ligada à inflamação, após isso. De acordo com um estudo do National Center for Complementary and Integrative Health, a silimarina:

  • Induziu o estresse do retículo endoplasmático.
  • Ativou o fator de transcrição de ativação 4 (ATF-4) e proteína quinase ativada por AMP (AMPK) e inibiu a proteína alvo da rapamicina em mamíferos (mTOR).
  • Modulou as ações de muitos tipos de metabólitos.
  • Após um período prolongado (de 24 horas, nesse estudo), inibiu as vias de sinalização inflamatória.

A ativação da proteína quinase ativada por AMP (AMPK) é um fator importante nessas etapas. Por vezes chamada de "interruptor mestre do metabolismo", essa enzima é muito importante para a regulagem do metabolismo. A AMPK regula as atividades biológicas para normalizar os desequilíbrios de energia de acordo com o Natural Medicine Journal. Além disso:

"A AMPK ajuda a coordenar as respostas a esses estressores, enviando energia para o reparo e manutenção celular, ou para um retorno à homeostase, aumentando as chances de sobrevivência. Os hormônios leptina e adiponectina ativam a AMPK. Em outras palavras, ativar a AMPK pode produzir os mesmos benefícios que exercícios físicos, dietas e perda de peso - mudanças de hábitos consideradas benéficas para uma grande quantidade de doenças."

Mais benefícios do cardo mariano

O cardo mariano oferece diversos benefícios, de acordo com esses fatores. Tanto em laboratório quanto em testes químicos, extratos de cardo mariano tiveram suas ações anticâncer testadas sobre o câncer de próstata. "Extratos enriquecidos com isosilibina B, ou a isosilibina pura, podem ter potência aprimorada na prevenção e tratamento do câncer de próstata", de acordo com uma pesquisa.

A planta tem sido usada no tratamento da doença de Alzheimer e Parkinson na sociedade moderna e em doenças neurológicas como a isquemia cerebral há mais de 2.000 anos devido a seus efeitos neuroprotetores. Ela ajuda a prevenir o declínio da função cerebral com a idade devido a suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, que podem contribuir para os efeitos neuroprotetores.

Os pesquisadores usaram a silimarina para reduzir o estresse oxidativo e a inflamação em um modelo animal, o que ajudou a reduzir o potencial de demência em animais obesos, em uma pesquisa anterior. A capacidade do cardo mariano de reduzir as placas amiloides em modelos animais, associados à doença de Alzheimer, também foi documentada em outras pesquisas.

"Devido à interação direta com Erbeta [um receptor de estrogênio beta-isoforma] ou o aumento dos parâmetros de formação óssea incluindo cálcio, fósforo, osteocalcina e PTH", a silimarina também demonstrou atividade antiosteoclástica, fazendo com que uma equipe de pesquisa concluísse que ela pode prevenir a perda óssea, de acordo com pesquisas realizadas com animais.

O cardo mariano tem sido usado por centenas de anos para aumentar o suprimento de leite das mulheres, e é bastante eficaz quando ingerido com feno-grego, de acordo com a American Pregnancy Association.

A suplementação oral diária com 420 miligramas de silimarina aumentou a produção de leite em 85,94% em comparação com as mulheres que tomaram um placebo, cujo suprimento de leite aumentou 32,09%, de acordo com um estudo publicado com 50 mulheres saudáveis ​​em lactação. Ninguém relatou nenhum efeito colateral indesejado, e ninguém desistiu do estudo.

Considerações antes de plantar cardo mariano em casa

Existem algumas coisas que precisam ser consideradas antes de se plantar cardo mariano no seu jardim ou tomar um suplemento de cardo mariano. A silibinina é mal absorvida, pois tem baixa solubilidade em água, de acordo com uma pesquisa. Os pesquisadores foram capazes de melhorar a solubilidade e a biodisponibilidade da silibinina, o que melhorou de modo considerável a eficiência terapêutica, utilizando uma fórmula inovadora com silibinina e fosfatidilcolina.

Leve em consideração que essa planta é altamente invasiva e se espalha rapidamente, caso pretenda cultivar suas próprias plantas em seu quintal e colher para fazer chá ou saladas. Ela não respeita os limites do seu vizinho e provavelmente vai acabar no quintal dele também, então isso é algo a se considerar, mesmo que você não ligue que ela tome seu quintal inteiro.

Se você tiver animais pastando, é importante não plantá-lo, pois ele é muito tóxico para o gado. O cardo mariano se adaptou ao solo de baixa qualidade. Ele adora o sol, e assim que as flores começam a secar, elas estão prontas para serem colhidas.

Para que elas sequem, colha as flores e as coloque em um saco de papel, e guarde-as em um lugar seco. Para separar as sementes, que podem ser mantida em um recipiente fechado, balance o saco assim que toda a umidade tenha sido removida.

É possível colocar as sementes moídas em sucos, vitaminas, no café ou nas saladas.

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