Os comprimido digitais são o futuro?

Fatos verificados
Comprimido digital

Resumo da matéria -

  • A FDA aprovou o comprimido digital Abilify MyCite para tratar esquizofrenia, depressão e transtorno bipolar em novembro de 2017; um suprimento para um mês custa US $1.500, algo muito fora da faixa de preço para o número desproporcional de pessoas sem teto com esquizofrenia
  • Algumas pessoas questionam se essa tecnologia pode ser uma invasão de privacidade e se os pacientes podem se sentir pressionadas com os médicos monitorando sua medicação
  • Alguns de seus usos podem ser: lembrar os idosos de tomar seus remédios, monitorar o uso de opioides, participação em testes clínicos, seguradoras incentivando medicamentos, uma condição para liberdade condicional ou liberação de uma instalação psiquiátrica
  • Tente fazer mudanças no estilo de vida e na alimentação que tenham um impacto significativo, em vez de depender de medicamentos para tratar problemas de saúde

Por Dr. Mercola

Parece ficção científica: tome um comprimido em casa e seu médico recebe uma notificação. No entanto, esse pode ser o futuro da medicina e foi aprovado pela FDA (Food and Drug Administration) dos EUA.

Em 13 de novembro de 2017, a FDA anunciou a aprovação do primeiro comprimido digital - Abilify MyCite - para o tratamento da esquizofrenia, transtorno bipolar e depressão.

O comprimido foi criado para monitorar de modo digital se você tomou seus remédios e, em seguida, enviar uma mensagem de confirmação para seu smartphone e até para o seu médico se você der sua aprovação. Três anos depois, o medicamento digital custa bem mais de US$ 1.500 para um suprimento suficiente para 30 dias, mesmo por meio do fornecedor de medicamentos com desconto GoodRx.

Isso é quase 30 vezes o custo de um suprimento de 30 dias do comprimido genérico. Uma metanálise de 31 estudos com 51.925 pessoas sem teto descobriu que há uma prevalência muito maior de esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme e transtorno esquizoafetivo nessa população, apesar de a esquizofrenia afetar cerca de 1% da população.

Todos os transtornos psicóticos na população de rua foi de 21,21%, e da esquizofrenia isolada foi de 10,29%, de acordo com a estimativa. Mesmo estando comprovado que o comprimido digital ajuda a controlar a esquizofrenia de uma pessoa e melhorar sua adesão, o custo da tecnologia pode estar longe do alcance de quem mais precisa, uma vez que o número de indivíduos sem teto com doenças mentais graves tem aumentado desde os anos 1970.

O futuro dos medicamentos pode chegar em breve: comprimidos digitais

O primeiro sistema de comprimidos digitais aprovado em 2017 exigia que o paciente usasse um aplicativo de celular e um sensor. O sistema foi concebido há mais de 200 anos, de acordo com o Dr. George Savage, cofundador da Proteus Digital Health, fabricante do primeiro comprimido digital.

Existe um sensor no comprimido digital que contém cobre e magnésio e opera de forma semelhante a uma bateria desenvolvida há 200 anos. As substâncias na pílula geram uma corrente que aciona um chip de silício. Este envia um sinal simples para o adesivo que você usa no estômago.

O sistema gera uma corrente que dura três minutos, tempo suficiente para enviar o sinal e para que o sensor possa coletar os dados necessários. As informações sobre o horário em que você tomou o medicamento e seu nível de atividade são enviadas para um aplicativo de smartphone e encaminhadas para o seu médico, mediante sua permissão.

Impulsionado pela tecnologia e pretendendo melhorar a adesão ao medicamento na época em que foi concebido e desenvolvido, mesmo que o sistema fosse único, não havia evidências que comprovassem que a adesão ao medicamento aumentasse.

Mais de três anos depois e sob a nova liderança da EtectRx, que adquiriu a Proteus quando esta entrou em falência, há um foco renovado em determinar se melhora a adesão do paciente. A tecnologia agora chamada de “ID Cap System” foi desenvolvida para permitir que os médicos possam fazer “intervenções em tempo real” com seus pacientes e facilitar o monitoramento remoto do paciente.

Comprimidos digitais programados para atualização

Valerie Sullivan falou como CEO da etectRx sobre as diferenças entre a etectRx, Proteus e outras empresas do mercado. Incluindo branding e testes clínicos, Sullivan reiterou que sua empresa se difere por seu foco ser quase que exclusivo na adesão do paciente, afirmando:

“O interesse pela telessaúde em geral aumentou nassa era de pandemia em que vivemos. O monitoramento remoto do paciente que o sistema ID-Cap permite eliminar a não adesão entre os pacientes, possibilitar a intervenção em tempo real com eles e reduzir os custos dos testes clínicos.”

O MedCity News informou que a etectRx se uniu à Pear Therapeutics para desenvolver produtos combinando a tecnologia de ambas as empresas no início de janeiro de 2021. O projeto inicial será dedicado a medicamentos relacionados à saúde mental, de acordo com seu comunicado. Sullivan comentou sobre o “valor de fazer os pacientes verem por experiência própria e se sentirem fortalecidos para que, ao tomarem seus medicamentos, se sintam melhor", em uma entrevista dada por telefone ao MedCity News.

Esses comprimidos digitais também conterão sensores sem fio integrados na medicação para se comunicarem com um dispositivo em cordão, contrastado com um adesivo colado no estômago. A Pear e a etectRx ainda não consolidaram a parceria com empresas farmacêuticas para produzir a tecnologia em medicamentos já existentes.

A medicina digital pode ser um remédio difícil de engolir

Sullivan acredita que pacientes, médicos e até mesmo fabricantes de remédios podem oferecer alguma resistência. A Digital Commerce informou que a consultoria britânica L.E.K. Consulting descobriu que a tecnologia pode não ser tão bem aceita quanto as fabricantes de comprimidos digitais esperam.

Especialistas preveem que levará quase dez anos para que a tecnologia passe a ser usada de forma habitual ​​na prestação de cuidados de saúde, embora os defensores acreditem que possa melhorar os desfechos, oferecendo informações precisas sobre o uso de um paciente.

A L.E.K. acredita que os fabricantes de medicamentos e os médicos estão entre os maiores obstáculos. Harsha Madannavar, diretor administrativo e parceiro da L.E.K., escreveu no relatório, como foi relatado pelo Digital Commerce:

“Há um certo ceticismo entre alguns médicos e as empresas farmacêuticas. As empresas farmacêuticas podem ser muito lentas para integrar tecnologias ou plataformas inovadoras, assim como outras grandes organizações.

Em especial, os médicos que trabalham em grandes sistemas hospitalares mal têm tempo suficiente para lidar com os pacientes e ainda menos tempo para se adaptar a novos modelos de prestação de cuidados ou novos paradigmas de tomada de decisão.”

Ameet Sarpatwari, da Harvard Medical School expressou sua preocupação com a tecnologia, dizendo que "tem o potencial de melhorar a saúde pública, [mas] se usada de modo indevido, pode gerar mais desconfiança, em vez de confiança" em entrevista para um jornalista do New York Times.

Os pacientes poderão decidir se o médico e até outras quatro pessoas terão acesso aos dados que informam quando os comprimidos são tomados. Os pacientes também terão acesso a um aplicativo para smartphone que permite mudar de ideia e até bloquear os destinatários.

Mas alguns questionam se os pacientes podem se sentir pressionados a permitir que os médicos monitorem seus medicamentos e se essa tecnologia também pode ser uma invasão da privacidade. A tecnologia digital pode ser ética para um "paciente totalmente competente", mas questiona se um medicamento digital pode se tornar uma "ferramenta coercitiva" de acordo com o Dr. Peter Kramer, psiquiatra e autor.

Alguns especialistas acreditam que os idosos podem gostar desses dispositivos, por talvez desejarem ter ajuda para lembrar de tomar seus remédios. Esse tipo de tecnologia pode ter outros usos incentivados por seguradoras para monitorar o uso de opioides e participantes de ensaios clínicos, ou como uma condição para liberdade condicional ou liberação de uma instituição psiquiátrica.

Em 2019, a Proteus anunciou, em outra nota, testes para um comprimido digital para quimioterapia de pacientes com câncer colorretal. A ideia, mais uma vez, é melhorar os resultados garantindo a adesão aos medicamentos. A diferença entre esse comprimido e aquele para esquizofrenia é que, como o sensor está integrado à cápsula, o comprimido para quimioterapia não precisa passar por uma rodada de aprovação regulatória com base na forma.

A tecnologia destinada a fornecer uma resposta para fins de conformidade

Na esperança de que isso ajudasse a economizar, melhorando os resultados dos pacientes, o medicamento quimioterápico foi administrado por meio dos Serviços de Saúde de Fairview em Minnesota com pagamento à Proteus. O contrato estabelecia que Fairview deveria pagar ao paciente com câncer que tomasse o medicamento quimioterápico 80% das vezes conforme prescrito pelo médico.

A empresa do comprimido digital não recebia o pagamento quando os pacientes não atingiam o limite. A visão da Proteus chegou ao fim com sua falência, apesar de os planos de se tornar um fabricante de medicamentos genéricos de alta tecnologia — a falha foi por parte da empresa, não pela falha da tecnologia, de acordo com alguns especialistas.

De acordo com o fundo de risco digital de saúde e o grupo de pesquisa Rock Health, a Proteus pode ter pago o preço pela escolha tática de uma "área terapêutica com um grau de dificuldade que é de oito ou nove em cada 10". Ainda assim, pode não ser uma direção responsável em termos orçamentários, enquanto as empresas dos comprimidos digitais procuram a aceitação do medicamento.

A baixa adesão pode resultar em complicações de saúde e aumento de custos se a medicação for a única intervenção. Isso significa que os desafios para a saúde que o sistema quer superar são a adesão à medicação e a adesão do paciente.

Algumas das razões pelas quais os idosos não cumprem seu cronograma de medicação são a falta de comunicação significativa com os profissionais de saúde, o custo, o medo do vício, o declínio cognitivo e os efeitos colaterais dos medicamentos, de acordo com os dados. Doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, asma e depressão exigem mudanças constantes no estilo de vida e na alimentação para controle das condições.

A não adesão ao medicamento afeta os resultados dos pacientes em uma proporção que pode variar de 10% a 92% entre os estudos. Cerca de 50% da não adesão é intencional, e os outros 50% ocorre quando os pacientes não sabem que não estão tomando o medicamento conforme a prescrição, de acordo com os dados.

No entanto, embora a adesão à medicação seja um problema na medicina ocidental, não é o único e é “apenas o terceiro tipo mais frequente de problema relacionado à medicação”, como acredita uma equipe de médicos e profissionais da área. Um farmacêutico defende que a ciência não deve ter apenas a adesão em mente, mas, sim, a adesão como um segmento de otimização para a medicação.

A adesão e uma série de outros fatores que afetam os custos posteriores, como reações adversas a medicamentos, interações medicamentosas, falha na terapia e problemas de dosagem estão vinculados de modo direto.

Procure a raiz do seu problema de saúde

Muitas doenças são afetadas pelo estilo de vida e escolhas alimentares. Dados mostram que pessoas com esquizofrenia com baixo teor de vitamina D, ácido fólico e vitamina B12 têm sintomas mais graves, por exemplo. Resumindo, existem intervenções nutracêuticas que ajudam a reduzir os sintomas de esquizofrenia, depressão, ansiedade e muitos outros problemas de saúde.

Procure corrigir a raiz do problema de saúde antes de correr o risco de sofrer de polifarmácia, isto é, o uso de vários medicamentos de modo simultâneo para tratar uma doença e os efeitos colaterais. Há mudanças no estilo de vida e na alimentação que você pode fazer e que têm impacto significativo na sua saúde geral e nos sintomas ou no tratamento de sua doença.

Muitas vezes, os médicos prescrevem um segundo medicamento para tratar os efeitos colaterais do primeiro medicamento prescrito. No entanto, os medicamentos não tratam a condição subjacente, eles apenas mascaram os sintomas e acabam criando um ciclo vicioso.

A complexidade química envolvida em seu corpo quando você está tomando vários medicamentos dificulta as tentativas de evitar reações adversas, mesmo que haja muitos programas capazes de alertar sobre interações entre os medicamentos.

Não existem soluções mágicas — digitais ou não — que corrijam os sintomas ou problemas de saúde. É necessário fazer mudanças no estilo de vida e nos hábitos alimentares para combater a doença e restaurar o vigor. Aqui estão vários artigos para ajudar a alcançar seus objetivos de saúde: