A glicina reprime o dano oxidativo ao inibir a produção de superóxido NOX e aumentando o NADPH

Fatos verificados
mulher sorrindo

Resumo da matéria -

  • A glicina é levemente adocicada, podendo ser usada como substituto do açúcar no chá ou café
  • A glicina e o colágeno (uma excelente fonte de glicina) inibem o consumo de NADPH, diminuindo a inflamação e os danos oxidativos
  • A NADPH oxidase é tipicamente abreviada como NOX. Inibir o NOX é uma forma eficaz de aumentar os seus níveis de NADPH e a capacidade das células de reduzir o estresse oxidativo
  • O NADPH, ou nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato, é usado como um reservatório redutor de elétrons para reabastecer os seus antioxidantes quando se oxidam. O NADPH também é necessário para o seu corpo produzir hormônios esteroides e gorduras
  • É possível prevenir muitas doenças crônicas ao se encontrar um meio de inibir ou modular o NOX. Tais estratégias incluem evitar a frutose processada, praticar cetose nutricional e suplementar a alimentação com espirulina, niacina, glicina e colágeno
  • A suplementação de glicina pode ser benéfica para a prevenção e/ou tratamento da síndrome metabólica, complicações do diabetes, hipertrofia cardíaca e distúrbios hepáticos, tanto de natureza alcoólica quanto não alcoólica

Por Dr. Mercola

Como você provavelmente já sabe, a inflamação e os danos oxidativos são os principais fatores responsáveis por grande parte das doenças crônicas. O que você talvez não saiba é a importância do nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato hidrogênio (NADPH) e da NADPH oxidase, normalmente abreviada como NOX, nesses processos.

Em um artigo recente, James DiNicolantonio, co-autor do meu último livro, "Superfuel”, Detalha a importância do colágeno e da glicina na inibição da quebra do NADPH. DiNicolantonio, que também publicou um novo livro com Jason Fung, chamado "A solução para a longevidade”, analisa em detalhes como o colágeno e a glicina podem ajudar a promover a longevidade.

Sem quantidades suficientes de NADPH, seu corpo não consegue recarregar a glutationa, uma vez oxidada. Como você já deve saber, a glutationa é crucial para a desintoxicação, e tanto o colágeno quanto a glicina aumentam o nível de NADPH ao inibir a enzima que o decompõe.

Considerando a importância do NADPH para a saúde e para a prevenção de doenças crônicas, essa é uma informação de grande importância, que pode fazer uma grande diferença para muitas pessoas, uma vez que o colágeno e a glicina podem ser facilmente obtidos e são relativamente baratos. Mas antes de nos aprofundarmos em como a glicina afeta o NOX e o NADPH, revisaremos alguns dos princípios básicos.

O que são o NADPH e o NOX?

O NADPH é a forma reduzida do NADP+. Ele é um agente redutor necessário para diversas reações anabólicas, incluindo a síntese de lipídios e ácidos nucleicos. Já o NOX é um complexo enzimático que está ligado à membrana celular, voltado para o espaço extracelular. Inibir o NOX é uma estratégia útil para aumentar o NADPH e a capacidade das células de combater o estresse oxidativo.

O NOX é ativado em diversas condições patológicas que geram um grande estresse oxidativo. De fato, de acordo com DiNicolantonio, a superatividade do NOX parece desempenhar um papel significativo em uma ampla gama de condições de saúde, incluindo, mas não se limitando a:

Doenças vasculares e complicações vasculares devido a outras doenças (diabetes, insuficiência renal, cegueira e doenças cardíacas, por exemplo)

Resistência à insulina

Doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson

Câncer

Glaucoma

Fibrose pulmonar

Disfunção erétil

Conforme explicado por DiNicolantonio em um artigo recente que detalha a capacidade da bilirrubina de inibir os complexos NOX e regular negativamente a atividade deste, e os benefícios da espirulina para tal fim:

"A ativação da NADPH oxidase [NOX] é um importante mediador da ativação microglial pró-inflamatória... O estresse oxidativo nos adipócitos, decorrente em grande parte da atividade da NADPH oxidase, parece desempenhar um papel fundamental na indução da resistência à insulina e na distorção da produção de adipocinas e citocinas em adipócitos hipertrofiados."

Seis maneiras de inibir o NOX e aumentar o NADPH

O NADPH funciona como um reservatório redutor de elétrons para antioxidantes que se tornam oxidados e, portanto, não funcionais. Ele também é necessário na produção de gorduras e hormônios esteroides. Quando os seus níveis estão baixos, é possível que você esteja com um problemão.

Isto posto, o NADPH parece ser um composto químico que pode ser útil ou prejudicial, dependendo da quantidade circulando no momento. Portanto, ele deve ser cuidadosamente regulado pelo seu corpo. Por exemplo, embora o NOX reduza os níveis de NADPH, ele também desempenha um papel importante auxiliando o sistema imunológico a combater bactérias e ajuda as células T a funcionar corretamente.

Segue-se então que a prevenção de muitas doenças crônicas exigiria encontrar um meio de inibir ou modular o NOX. A boa notícia é que existem várias maneiras de fazer isso, que não são caras ou complicadas, incluindo as seguintes:

Espirulina — Por ser uma fonte de ficocianobilina, a espirulina pode ser bastante benéfica, pois a ficocianobilina é um parente próximo da bilirrubina, que inibe o NOX. Foi demonstrado que os extratos de ficobilina inibem a atividade de NOX no endotélio da aorta humana, em músculos lisos aórticos e em culturas de células renais. A bilirrubina também protege contra a nefropatia diabética por meio de regulação negativa do NOX em ratos.

Niacina — Tomar precursores da nicotinamida ribosídeo (NAD), como a niacina de liberação não-controlada, também pode ajudar a aumentar seu nível de NADPH.

Diminuir seus níveis de glicose e evitar a frutose — O excesso de glicose é convertido em frutose e reduz o seu NAD+. Portanto, manter a glicose baixa e evitar a frutose é parte da equação.

Cetose nutricional — O metabolismo das cetonas aumenta o potencial redox negativo da família de moléculas redox da coenzima NAD, o que ajuda a controlar os danos oxidativos, aumentando o NADPH e promovendo a transcrição de enzimas das vias antioxidantes através da ativação do FOXO3a.

Glicina e colágeno — Conforme detalhado no artigo mencionado, a glicina e o colágeno (que também contém glicina) têm efeitos inibidores do NOX, aumentando assim seu nível de NADPH.

Um dos motivos pelos quais a glicina inibe a produção do superóxido NOX é o fato de levar cloreto para as células, o que reduz a capacidade da célula de eliminar íons cloretos (já que vai contra um gradiente mais alto de cloreto). Os íons cloretos são necessários para trazer elétrons a fim de gerar superóxido. Portanto, ao minimizar os íons cloretos, a glicina ajuda a reduzir o estresse oxidativo.

A glicina regula positivamente o NADPH, além de apresentar atividades anticancerígenas

De acordo com o artigo mencionado, a suplementação de glicina pode ajudar na “prevenção e controle da aterosclerose, insuficiência cardíaca, angiogênese associada a câncer ou distúrbios da retina e diversas síndromes causadas por inflamação, incluindo síndrome metabólica”. A glicina também pode ser um excelente complemento para a espirulina, pois ambos suprimem o NOX.

O artigo também detalha a atividade antiangiogênica da glicina, referente à sua capacidade de inibir o crescimento de vasos sanguíneos que alimentam os tumores. Estudos em animais, por exemplo, mostraram que camundongos com câncer alimentados com glicina exibem angiogênese e crescimento tumoral suprimidos, mesmo que a glicina não afete diretamente a proliferação de células cancerígenas.

DiNicolantonio e sua equipe levantam a hipótese de que uma das razões para esse efeito antitumoral esteja relacionada ao fato de a glicina aumentar o nível de cloreto nas células endoteliais, limitando assim o transporte de cloreto do endossoma. Isso, por sua vez, inibe a ativação do NOX, que possui atividade pró-angiogênica (o que significa que promove o crescimento de vasos sanguíneos nos tumores).

A glicina também melhora a saúde vascular

A ativação do NOX também desempenha um papel importante nas doenças cardíacas e, ao inibir o NOX (que aumenta o NADPH), a glicina também pode oferecer proteção contra problemas cardiovasculares. DiNicolantonio e sua equipe explicam:

"O papel da ativação do complexo [NOX] na promoção do comportamento pró-inflamatório do endotélio vascular está bem documentado; em particular, o [NOX] endotelial desempenha um papel mediador na aterogênese. Parece razoável sugerir que uma proporção elevada da ativação [do NOX] ocorra nos endossomas e seja suscetível à modulação pelo nível citosólico de cloreto.

Nesse caso, seria de se esperar que a glicina plasmática elevada, por meio da estimulação dos canais de cloreto ativados pela própria glicina, suprimisse a inflamação endotelial, opondo-se à atividade endossômica [do NOX].

Além disso, o impacto hiperpolarizante da glicina no endotélio também pode promover a saúde vascular, aumentando a entrada de cálcio nas células endoteliais, elevando assim a atividade protetora da óxido nítrico sintase endotelial.

Também não parece improvável, dado o impacto documentado da glicina nos macrófagos, que a glicina suplementada possa se opor à aterogênese e à instabilidade das placas de ateroma por meio de efeitos anti-inflamatórios nos macrófagos intimais e células espumosas...

A glicina também pode fornecer proteção antioxidante ao músculo cardíaco... Além disso, em camundongos submetidos a sobrecarga de pressão cardíaca ou administração de angiotensina II, a suplementação de glicina diminui a hipertrofia cardíaca resultante."

A suplementação de glicina pode melhorar a sua saúde de várias formas

Considerando o quão importante é minimizar a inflamação e o estresse oxidativo, e o papel que NOX e NADPH desempenham nesses processos, a suplementação de glicina parece promissora como uma opção simples e barata de tratamento e prevenção a doenças. Eu, pessoalmente, tomo um quarto de colher de chá (cerca de 1 grama) duas vezes por dia.

Como a glicina é levemente adocicada, você pode utilizá-la como um substituto saudável para o açúcar no chá ou no café. Conforme observado por DiNicolantonio, "ingestões de 31 gramas por dia se mostraram seguras. Portanto, ela é ideal para a incorporação em alimentos e bebidas funcionais". O artigo também cita diversos estudos indicando que a suplementação de glicina pode ser benéfica para a prevenção e/ou tratamento de:

  • Síndrome metabólica — Como observado no artigo de DiNicolantonio, "em humanos com síndrome metabólica suplementados com 15 gramas de glicina por dia (5 gramas três vezes ao dia), os marcadores plasmáticos do estresse oxidativo diminuíram 25% em relação ao placebo"
  • Complicações relacionadas ao diabetes
  • Distúrbios hepáticos alcoólicos e não alcoólicos
  • Hipertrofia cardíaca

A suplementação de glicina também pode:

Melhorar o sono

Manter a integridade das cartilagens

Controlar os efeitos metabólicos adversos de uma alimentação com alto teor de frutose

Melhorar a síntese de glutationa, especialmente quando em combinação com um suplemento de N-acetilcisteína (NAC)

Melhorar a atividade de limpeza de oxidantes convertendo-os em piruvato, que é um limpador direto de peróxido de hidrogênio e inibe a formação dos produtos da glicação em idades avançadas

Possui efeitos antioxidantes, aumentando a síntese de heme e bilirrubina, embora as evidências ainda sejam insuficientes, e o efeito provavelmente modesto

Auxiliar na desintoxicação do glifosato — O glifosato é um análogo do aminoácido glicina. Ele se fixa em locais onde você precisa de glicina. É importante ressaltar que a glicina é utilizada no processo de desintoxicação, de forma que muitos de nós não temos glicina suficiente para uma desintoxicação eficiente.

Para eliminar o glifosato, você precisa saturar seu corpo com glicina. O Dr. Dietrich Klinghardt, especialista em toxicidade de metais e sua conexão com infecções crônicas, recomenda tomar 1 colher de chá (4 gramas) de glicina em pó duas vezes ao dia por algumas semanas, e depois diminuir a dose para um quarto de colher de chá (1 grama) duas vezes por dia. Isso força o glifosato para fora do seu sistema, permitindo que ele seja eliminado pela urina.

Embora a glicina em pó seja uma opção barata, o colágeno é outra alternativa extremamente rica em glicina. Caso opte por essa via, recomendo procurar por um colágeno orgânico, de fontes animais terminados a pasto.