Por Dr. Mercola
Embora as armadilhas da privação do sono tenham sido bem documentadas, dormir demais, o que geralmente é definido como mais de nove horas por noite, também apresenta seus riscos. Especificamente, dormir em excesso, juntamente com longos cochilos ao meio-dia, pode aumentar o risco de AVC, de acordo com um estudo chinês envolvendo 31.750 pessoas.
Não está exatamente claro por que dormir em excesso aumenta o risco de AVC, mas é mais provável que o hábito aumente a circunferência da cintura e a ociosidade, ambos fatores de risco para o AVC. No entanto, outros mecanismos também podem estar em jogo, pois a relação entre dormir e a saúde cardiovascular é complexa e ainda está sendo estudada.
Dormir demais e tirar longos cochilos aumentam o risco de AVC em 85%
Em comparação com sete a oito horas dormidas por noite, aqueles que dormiam nove horas ou mais apresentaram um risco 23% maior de AVC, enquanto o sono mais curto (menos de seis horas por noite) não teve efeito significativo no risco de AVC. Aqueles que tiravam longos cochilos ao meio-dia por mais de 90 minutos também apresentaram um risco 25% maior de AVC do que aqueles que dormiam 30 minutos ou menos.
O maior risco de todos, no entanto, se deu entre aqueles que dormiam nove horas ou mais por noite e cochilavam mais de 90 minutos. Essa combinação excessiva aumentou o risco de AVC em 85% em comparação com aqueles que dormem e cochilam de forma moderada.
A qualidade do sono também é importante, e os pesquisadores descobriram que “em comparação com a boa qualidade do sono, aqueles com baixa qualidade do sono apresentaram um risco 29%, 28% e 56% maior de AVC total, isquêmico e hemorrágico, respectivamente". As pessoas que dormiam muitas horas por noite, mas com baixa qualidade do sono, apresentaram 82% mais chances de sofrer um AVC do que aquelas que dormiam moderadamente e tinham um sono de boa qualidade.
Além disso, até mudar a duração do sono de moderada para longa aumenta o risco de AVC. Aqueles que passaram de sete a nove horas dormidas por noite para nove horas ou mais apresentaram 44% mais chances de sofrer um AVC do que aqueles que dormiam moderadamente. Pesquisas anteriores também já haviam associado ao AVC o ato de dormir mais de oito horas por noite, principalmente em idosos e mulheres.
A relação entre a duração do sono e o AVC
Nos EUA, mais de 795.000 pessoas sofrem um AVC todos os anos, o que equivale a um AVC a cada 40 segundos. Embora o AVC seja a segunda principal causa de morte e uma das principais causas de incapacitação em todo o mundo, apenas recentemente é que sua relação com dormir se tornou mais amplamente reconhecida.
Na verdade, a maioria dos casos de AVC ocorre nas primeiras horas do dia, um período do sono em que os padrões da pressão arterial diminuem e aumentam pela manhã.
"Foi sugerido que esse aumento matinal da pressão arterial leva ao aumento de eventos cardiovasculares e cerebrovasculares pela manhã ao desregular as plaquetas vulneráveis, levando à ruptura e trombose", explicaram os pesquisadores no periódico Frontiers in Neurology.
A duração do sono também está associada ao aumento do risco de pressão alta, um fator de risco importante para o AVC. Um estudo revela, por exemplo, que dormir menos de sete horas ou mais de oito horas por noite está associado ao aumento no risco de pressão alta.
O sono interrompido, incluindo interrupções causadas pela apneia do sono ou por movimentos dos braços e pernas durante o sono, também pode aumentar o risco de AVC, conforme observado no Journal of Stroke, talvez por causar um estresse adicional ao sistema cardiovascular:
"Qualquer causa de redução ou fragmentação do sono, como restrição do sono, apneia do sono, insônia, movimentos periódicos de braços e pernas enquanto dorme e trabalho em turnos, não apenas prejudicam a restauração cardiovascular, mas também exerce um estresse no sistema cardiovascular. Foi relatado que os distúrbios do sono desempenham um papel no desenvolvimento de AVCs e outros distúrbios cardiovasculares."
Para reduzir o risco de AVC e outras condições crônicas, melhorar o sono é crucial — mas qual seria o "número mágico"? Os adultos precisam dormir em média de sete a nove horas por noite, sendo que oito horas funciona bem para a maioria.
Fatores de risco adicionais para o AVC
Além de dormir em excesso, existem vários fatores de risco para o AVC, muitos dos quais são de natureza física. Como mencionado, a pressão alta é o maior deles, aumentando o risco de AVC em duas a quatro vezes. Outras condições de saúde, incluindo doença cardíaca, diabetes, aterosclerose e obesidade também aumentam o risco, assim como o tabagismo e a inatividade física.
O uso de antibióticos por períodos prolongados pode aumentar os riscos de doenças cardiovasculares, incluindo acidente vascular cerebral e infartos, em mulheres de meia idade ou mais.
Entre os adultos mais jovens, em particular, os homens apresentam um risco maior de sofrer um AVC do que as mulheres, e os afro-americanos e hispânicos têm duas vezes mais chances de sofrer um AVC do que os caucasianos.
Além disso, de acordo com o Dr. Lee H. Schwamm, diretor do centro de acidentes vasculares cerebrais do Massachusetts General Hospital e Dr. Lawrence R. Wechsler, presidente do departamento de neurologia da Universidade de Pittsburgh, os fatores de risco do AVC entre pacientes abaixo de 50 anos diferem daqueles entre idosos e incluem:
Dissecção arterial que causa um coágulo sanguíneo — A dissecção arterial, que é quando o revestimento de uma artéria se rasga, pode ocorrer durante movimentos súbitos do pescoço, incluindo lesões esportivas no pescoço e solavancos que podem ocorrer ao andar numa montanha-russa |
Sopro no coração — Estima-se que 1 em cada 4 pessoas tenha essa condição que aumenta as chances de um AVC, pois permite que o coágulo atravesse o coração e chegue ao cérebro |
Coágulos sanguíneos |
Defeitos no coração ou perturbações no ritmo cardíaco |
Estreitamento das artérias causado por estimulantes ou drogas, gerando uma súbita falta de oxigênio no cérebro |
Aneurisma ou malformação arteriovenosa |
Exercitar-se diminui o risco de AVC
Pior do que dormir em excesso é combinar isso com a inatividade física e passar muitas horas sentado. Na verdade, um estudo constatou que “...a inatividade física, permanecer sentado por períodos prolongados e/ou dormir em excesso... tiveram as associações mais fortes com a mortalidade geral".
A boa notícia é que o exercício é muito eficaz, tanto para melhorar a qualidade do sono como para reduzir o risco de AVC, mesmo em pequenas quantidades. Menos de uma hora de musculação por semana pode reduzir o risco de ataques cardíacos e derrames em 40% a 70%. E também reduziu o risco de síndrome metabólica, o que aumenta em 29% seu risco de diabetes tipo 2, doenças cardíacas e AVC.
As caminhadas diárias também podem ter um efeito protetor, principalmente na redução da gravidade do AVC, caso venha a ocorrer. Os adultos que praticam atividades físicas leves a moderadas podem ter AVC de menor gravidade do que aqueles que são fisicamente inativos, e os pesquisadores recomendam pelo menos quatro horas de caminhada ou de duas a três horas de natação por semana como uma possível forma de reduzir a gravidade de um AVC.
Uma razão pela qual o exercício protege contra o AVC é porque a elevação da temperatura central por meio de exercícios, banhos quentes ou sauna ajuda a otimizar as proteínas do choque térmico (PCT) dentro das células, o que limita o dano celular, facilita a recuperação celular e melhora o desdobramento e reparo das proteínas.
O acúmulo de PCT danificado pode levar à formação de placas no cérebro ou no sistema cardiovascular, elevando o risco de AVC ou doença cardiovascular. Para esse fim, os pesquisadores também associaram o uso de sauna à redução do risco de AVC e pressão alta, pois a prática aumenta as proteínas do choque térmico.
A maioria dos AVC deve-se a fatores relacionados ao estilo de vida
Considerando que maioria dos casos de AVC está relacionada ao estilo de vida, eu recomendo que você assuma o controle da sua saúde para reduzir seus riscos e saiba mais sobre estas estratégias de prevenção ao AVC. Se você estiver dormindo demais, procure as causas subjacentes e trate a raiz do problema.
Porém, no geral, muitos dos mesmos fatores de risco que aumentam o risco de doenças cardíacas — como obesidade, tabagismo e inatividade — também aumentam o risco de AVC. Deficiências comuns de nutrientes, como vitamina D e magnésio, também aumentam seu risco.
O ideal é aferir seus níveis de vitamina D duas vezes ao ano para garantir valores entre 60 e 80 ng/ml (150 and 200 nmol/L) o ano todo, seja por suplementação oral, exposição consciente ao sol ou ambos. Para aumentar seus níveis de magnésio, consuma alimentos ricos nesse mineral e/ou tome um suplemento equilibrado com vitaminas D3, K2 e cálcio. Outras estratégias de prevenção ao AVC incluem:
- Coma a alimentos de verdade — A alimentação à base de alimentos in natura, não processados ou minimamente processados, pobre em carboidratos líquidos e rica em gorduras saudáveis e alimentos fermentados protege o coração e a saúde cardiovascular.
- Controle seu estresse — O estresse está associado a um alto risco de AVC e, embora o estresse seja inevitável, a forma como você lida com ele faz toda a diferença no quanto ele afeta sua saúde. Minha opção favorita para controle do estresse são as Técnicas de Libertação Emocional (EFT).
Em caso de AVC, haja rápido
Se você ou um ente querido estiver tendo um AVC, uma medicação de emergência pode dissolver o coágulo que está bloqueando o fluxo sanguíneo no cérebro. O importante é agir rápido. Para que esse tratamento funcione, ele deve ser administrado dentro de três horas. Quanto mais cedo, melhor.
A maioria dos casos de AVC ocorre sem aviso. Portanto, conhecer os seguintes sintomas e ligar para a emergência imediatamente pode ser a diferença entre a vida, uma incapacidade ou a morte.
- Tontura súbita ou fraqueza no rosto, braço ou perna, especialmente quando ocorre apenas de um lado do corpo
- Confusão súbita. Dificuldades para falar ou entender a fala de alguém
- Dificuldades para enxergar em um dos dois olhos ou visão dobrada
- Dificuldade repentina para andar, tontura, perda de equilíbrio ou coordenação
- Dores de cabeça súbitas e intensas sem motivo aparente, náusea ou vômito
Mesmo que os sintomas sejam breves e desapareçam, pode ter ocorrido um mini derrame, por isso procure um atendimento emergencial se você ou um ente querido tiver algum desses sintomas. Uma sigla simples de memorizar é RFFA:
R — Rosto caído
F — Fraqueza no braço
F — Fala prejudicada
A — Ambulância!
Após um AVC, os exercícios de neuroplasticidade também podem ajudar na recuperação da função perdida se implementados imediatamente. O livro "Stroke of Luck: Master Neuroplasticity for Recovery and Growth After Stroke" de Bob Dennis e sua versão encurtada, "Stroke of Luck: NOW! Fast and Free Exercises to Immediately Begin Mastering Neuroplasticity Following a Stroke" são excelentes livros de referência para ajudar na recuperação após um AVC.