Por Dr. Mercola
O Conselho de Prática Odontológica do Maine pode estar envolvido em violações antitruste, de acordo com uma petição apresentada ao Federal Trade Commission por três entidades sem fins lucrativos: Consumers for Dental Choice, Organic Consumers Association e Mercury Policy Project. O que está em questão é aquilo que a denúncia chama de duas facções competitivas que dividiram os dentistas modernos: os que usam mercúrio e os que não usam.
"As diferenças são tão distintas", observa a petição, "que podem ser classificadas em submercados competitivos". Mas a denúncia alega que o Conselho de Prática Odontológica do Maine "está indiscutivelmente de um lado — trabalhando para direcionar os fundos públicos para essa facção de dentistas, sem forçar a distribuição da ficha técnica do Maine sobre o amálgama, conforme exigido por lei".
O Conselho Estadual de Odontologia é acusado de violar leis referentes ao mercúrio
A lei estadual exige que os dentistas que usam amálgama ou obturações de mercúrio (também conhecidas, enganosamente, como obturações de "prata") forneçam aos pacientes uma ficha aprovada pelo estado, cujo objetivo é explicar as "vantagens ou desvantagens" do uso de mercúrio, amálgamas de mercúrio e outros materiais utilizados para obturações.
A ficha técnica do Maine foi criada porque os dentistas que usavam amálgamas se referiam a eles como obturações de prata, uma declaração enganosa que colocava os pacientes em risco. Segundo a petição, apenas 11% dos dentistas dizem a seus pacientes que o amálgama contém mercúrio.
Além disso, os pacientes afro-americanos têm uma probabilidade três vezes menor de serem informados de que o amálgama contém mercúrio, assim como os pacientes que ganham menos de US$ 50.000 por ano. De acordo com a petição:
"Consciente de que os dentistas estão escondendo dos pacientes o mercúrio do amálgama — e/ou chamando-os de obturações de prata — o Legislativo do Maine promulgou um estatuto aplicável apenas aos que usam amálgama, instruindo o Diretor de Saúde a escrever uma ficha informativa sobre o teor, os riscos e as alternativas ao amálgama, e orientando que os dentistas que ainda usam amálgama a entreguem aos pacientes e a coloquem numa parede da clínica."
No entanto, a petição alega que o conselho odontológico do Maine está se envolvendo numa série de ações para evitar o cumprimento dessa exigência. Um comunicado de imprensa declara:
"Por exemplo, o conselho odontológico orienta aos dentistas que o cumprimento dessa exigência é opcional (embora seja obrigatório) e realizou uma votação secreta para aliar-se à Associação Odontológica do Maine no intuito de derrotar uma lei estadual que mudaria o MaineCare para uma forma de odontologia livre de mercúrio.
O conselho odontológico propôs uma regra referente à divulgação, mas nem sequer menciona a lei da ficha técnica do Maine ou a ficha oficial…"
A petição resume: "O conselho continua suas combinações para manter o público desinformado, a lei da ficha técnica não aplicada e os dentistas que usam amálgama protegidos da obrigação estatutária de publicar a ficha prescrita pelo estado e a entregar a pacientes e pais/responsáveis".
O Conselho Odontológico do Maine "não está acima da lei"
A petição peque a Federal Trade Comission investigue o Conselho de Prática Odontológica do Maine para revelar se estão aplicando e cumprindo a lei — e sugere que, caso não estejam, o governador nomeie um novo conselho odontológico. Como observado por Katherine Paul, da Organic Consumers Association, "o Conselho Odontológico do Maine não está acima da lei".
Charlie Brown, da Consumers for Dental Choice, antigo especialista em direito antitruste, explicou ainda: "O comportamento do Conselho Odontológico do Maine levanta sérias questões antitruste, pois está protegendo a renda dos dentistas a favor do uso de mercúrio. Esse conselho deve redirecionar sua lealdade da proteção das vendas de amálgama para a proteção das famílias e consumidores do Maine".
É essencial que as pessoas estejam cientes da verdadeira composição das obturações de "prata", pois são compostas por aproximadamente 50% de mercúrio. O mercúrio é um metal pesado tóxico, que pode causar efeitos nocivos ao sistema nervoso, digestivo, respiratório e imunológico. É conhecido por danificar os rins e os pulmões em seres humanos.
A Organização Mundial da Saúde observa que os efeitos à saúde da exposição ao mercúrio incluem tremores, danos à visão e audição, instabilidade emocional, paralisia, insônia e déficits no desenvolvimento durante o desenvolvimento fetal.
A exposição ao mercúrio também está associada a déficit de atenção e atrasos no desenvolvimento durante a infância. Tanto que a OMS observa: "O mercúrio pode não ter um limiar abaixo do qual alguns efeitos adversos não ocorrem". Em outras palavras, mesmo quantidades muito pequenas de mercúrio podem ser prejudiciais. É por esse motivo que, em 2018, a União Europeia proibiu o uso de amálgama em crianças abaixo dos 15 anos, bem como em grávidas e lactantes.
Será que a FDA finalmente colocará um fim no amálgama para crianças?
A Food and Drug Administration dos EUA é preguiçosa quando se trata de agir contra as restaurações dentárias de mercúrio. A União Européia, com suas 28 nações, se posicionou em 2018 e eliminou o uso de mercúrio dental em grávidas, lactantes e crianças abaixo dos 15 anos.
Então, Charlie Brown lançou uma campanha em 2018 para trazer o exemplo da União Europeia para o outro lado do Atlântico. Como Charlie declarou em uma entrevista comigo:
"A União Européia, há mais de um ano, pôs fim ao uso do amálgama para crianças abaixo dos 15 anos, grávidas e lactantes. Eles exigiram que cada Estado membro — e atualmente existem 28 países na UE — apresentasse um plano de ação.
Estamos dizendo à FDA: "Por que ficar tão atrás da Europa? Por que você não presta atenção no próprio tratado que os Estados Unidos não só assinaram, mas foi o primeiro país do mundo a ratificar?"
Como eu disse, a coisa está esquentando. Achamos que vamos mudar, mas eles continuam muito próximos dos dentistas que são a favor do uso de mercúrio. Não há questionamento. Essa é a American Dental Association. No entanto, a ADA não tem a mesma influência que costumava ter, pois seus próprios membros estão partindo.
Seus próprios membros estão dizendo: "Por que devo usar amálgama só porque você quer que eu use? Eu não quero. Meus pacientes não querem. Eu não quero deixar meus pacientes doentes."
Agora tenho notícias de Washington que podem mudar as coisas na FDA. Brown e sua competente equipe tiveram uma série de reuniões com a FDA em 2018 e 2019.
Então — para seu próprio crédito — o diretor do Centro de Dispositivos e Saúde Radiológica, Jeff Shuren, reuniu um painel de consultores científicos para considerar se a ciência merece uma nova política da FDA sobre amálgama. Essas audiências foram realizadas em 13 e 14 de novembro de 2019. Brown levou oradores públicos incrivelmente talentosos e diversificados para testemunhar, incluindo:
Dr. Mark A. Mitchell, co-presidente da Comissão de Saúde Ambiental da Associação Médica Nacional dos EUA |
Eric Uram da Declaração de Chicago para o fim do uso de mercúrio na odontologia |
Reuben Warren, diretor do Centro Nacional de Bioética da Universidade de Tuskegee (conhecida historicamente como a "Harvard negra") |
Karen Howard, da Associação para a Saúde Natural e Orgânica |
Sharon Lewis da Coalizão de Connecticut para a Justiça Ambiental |
Kristie Trousdale, vice-diretora da Rede para a Saúde Ambiental das Crianças |
Rochelle Diver do Conselho Internacional do Tratado da Índia |
Jacquelynn Hawthorne, comissária de Los Angeles |
Mary Starrett, Condado de Yamhill, Oregon, comissária |
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O comitê científico, por consenso, pediu que a FDA desse fim a seu silêncio sobre o amálgama e começasse a obter informações sobre os riscos do amálgama para os pacientes americanos, especialmente para as populações mais vulneráveis. Mas testemunhamos duas décadas de inação da FDA quanto ao amálgama, e eis surge uma grande pergunta: Será que a FDA vai ignorar até seus próprios corpos científicos?
Convenção de Minamata incentiva ações contra o amálgama
Em uma intensa campanha de três anos (2010 a 2013), a entidade global fundada pela Consumers for Dental Choice, a Aliança Mundial para Odontologia sem Mercúrio, conseguiu garantir um forte plano para o amálgama nesse tratado. A Convenção de Minamata sobre Mercúrio entrou em vigor em 2017, desencadeando conferências das partes para sua implementação em todo o mundo.
Na primeira Conferência das Partes da Convenção de Minamata, realizada em Genebra em outubro passado, Brown desafiou o mundo a igualar ou exceder a nova política da UE para o amálgama, lançando a campanha "Make Dental Amalgam History" (Deixe o Amálgama Dentário na História).
Brown concluiu seu discurso com estas palavras inspiradoras para um público composto por delegados de mais de 100 nações: "Sua nação deve dar fim ao uso de amálgama para crianças, pois os filhos de seu país são tão importantes quantos os filhos da Europa". A campanha mundial para acabar com uso de amálgama em crianças — como um ponto de partida para o fim de seu uso — continua.
Alternativas sem mercúrio já se encontram disponíveis
Uma das alternativas mais populares ao amálgama é o composto de resina, feito de um tipo de plástico reforçado com vidro em pó. Já é comum nos EUA e no resto do mundo desenvolvido, oferecendo melhoras notáveis em relação ao amálgama, pois, segundo a Consumers for Dental Choice, ele:
- É ambientalmente seguro — o composto, que não contém mercúrio, não polui o meio ambiente. Isso evita que os contribuintes paguem os custos da limpeza da poluição odontológica por mercúrio em nossa água, ar e terra — e os custos dos problemas de saúde associados à poluição por mercúrio.
- Preserva a estrutura dentária saudável, porque, diferentemente da amálgama, não requer a remoção de quantidades significativas de material dentário saudável. A longo prazo, o composto preserva a estrutura dentária saudável e, na verdade, fortalece os dentes, levando a uma melhor saúde bucal e a um trabalho odontológico menos extenso a longo prazo.
- É duradouro — Embora alguns afirmem que as obturações de amálgama duram mais do que os compostos, a ciência revela que essa afirmação é infundada. Os estudos mais recentes mostram que o composto não só dura tanto tempo quanto o amálgama, como na verdade tem uma taxa de sobrevivência geral mais alta.
Infelizmente, muitos planos odontológico particulares não cobrem as obturações sem mercúrio para todos os dentes. Portanto, leia as letras miúdas se estiver pensando em um novo plano.
Escolha um dentista que não usa mercúrio
Se o seu dentista ainda estiver usando mercúrio em sua clínica — mesmo que ele também ofereça opções sem mercúrio — procure um dentista que ofereça apenas obturações sem mercúrio para todos os pacientes. E não se esqueça de informar ao seu dentista o motivo de escolher outro profissional. Um lugar para procurar é site do Consumers for Dental Choice: www.toxicteeth.org: (deslize a página inicial e clique em "Encontrar um dentista que não usa mercúrio")
Para quem tem obturações de mercúrio, recomendo procurar a orientação de um dentista qualificado para removê-las. Se a resposta for sim, vá APENAS a um dentista biológico competente, que siga os protocolos profissionais para remoção de amálgama. No entanto, não remova as obturações durante a gravidez, pois isso a exporá a maiores quantidades de vapores de mercúrio.