Por Dr. Mercola
A astaxantina é um carotenoide natural que possui uma ampla gama de usos nutracêuticos para o combate a doenças. Agora, dados evidenciam que a astaxantina promete ser um geroprotetor que ajuda a desacelerar o envelhecimento cerebral. É a astaxantina a responsável pela coloração rosada ou avermelhada do salmão, da truta, da lagosta e de outros frutos do mar.
Segundo a Science Direct, “quando a astaxantina é comparada a outros antioxidantes como o licopeno, a vitamina E e a vitamina A”, esta se destaca e costuma ser chamada de “rainha dos antioxidantes”. A astaxantina deriva-se de microalgas Haematococcus, que produzem a substância como uma forma de se proteger da luz ultravioleta (UV).
No corpo, ela atua como um antioxidante capaz de proteger contra a oxidação e as espécies reativas ao oxigênio. Tais processos têm seu papel no envelhecimento, nas doenças cardíacas e nos males de Alzheimer e Parkinson. Dados confirmam que a astaxantina é capaz de proteger a pele de dentro para fora contra danos provocados pelos radicais livres da luz UV.
Em uma apresentação da 66ª Conferência Internacional de Astronáutica em 2015, a NASA compartilhou informações explicando que o aprovisionamento de astaxantina a partir de fontes naturais seria capaz de prevenir a ação negativa da exposição aos raios ultravioleta, danos aos olhos e demais danos para a saúde com incidência notória nos astronautas que vão para o espaço.
Um antioxidante desacelera o envelhecimento cerebral
Escrevendo no periódico Marine Drugs, pesquisadores admitem o desafio que é conservar a função cerebral e o bem-estar à medida que a aumenta a expectativa de vida dos seres humanos. Estudos recentes em modelos experimentais analisaram a ação neuroprotetora que a astaxantina tem em preservar o envelhecimento do cérebro.
Durante uma revisão da literatura médica, cientistas detectaram diversas vias que a astaxantina é capaz de tomar para desacelerar o envelhecimento cerebral. Eles analisaram os resultados de ensaios clínicos que tinham doença e deficiência como desfecho.
Eles descobriram diversos estudos nos quais a astaxantina havia modulado mecanismos biológicos como fatores de transcrição e genes associados à longevidade. Um dos fatores mais relevantes que a astaxantina modula é o gene forkhead box 03 (FOXO3), que é um dos dois únicos genes que causam impacto considerável na longevidade do ser humano.
Nessa pesquisa na literatura médica, eles ainda chegaram à conclusão de que a astaxantina aumenta o fator neurotrófico derivado do cérebro (ou BDNF da sigla em inglês), podendo mitigar o dano oxidativo sobre o DNA, os lipídios e as proteínas.
Os cientistas então concluíram que a astaxantina é cpaz de promover a longevidade e desacelerar o ritmo do envelhecimento. Parece que a astaxantina deve suas propriedades de proteção cerebral à sua capacidade de diminuir o estresse oxidativo e a inflamação, além de melhorar a função mitocondrial e o desregulamento da expressão gênica que se sucede com o envelhecimento.
O envelhecimento cerebral afeta a função mental
Como o processo de envelhecimento neurológico está diretamente relacionado à função cognitiva, são de grande importância os dados que mostram que astaxantina é capaz de desacelerar o envelhecimento do cérebro. Mudanças cognitivas passíveis de ocorrer, mas que não são normais: dificuldade de recordar palavras ou nomes, dificuldade em realizar múltiplas tarefas ou mais dificuldade para prestar atenção.
Segundo o National Institute on Aging, algumas das alterações comumente passíveis de ocorrer no cérebro são: perda de volume cerebral, redução do fluxo sanguíneo, inflamação e menor eficiência de comunicação entre os neurônios. Todas essas mudanças infuenciam a função cognitiva.
Dados revelam que, depois dos 40 anos, o volume cerebral pode sofrer um declínio de 5% por década. Esse declínio pode aumentar a partir dos 70 anos. Não está claro qual é o principal fator para esse encolhimento, mas os cientistas sugerem a existência de uma diminuição no volume, não na quantidade de neurônios, e que pode estar relacionada com o gênero.
Embora os especialistas acreditem que, com a idade, há um declínio comum nas habilidades de pensar, eles também acreditam que a leitura, o vocabulário e o raciocínio verbal melhoram à medida que a pessoa envelhece. Já as mudanças anormais do envelhecimento podem levar a um comprometimento cognitivo grave que influencia a memória, a resolução de problemas e o comportamento, associados à demência.
O que faz da astaxantina tão única?
Apesar de ter uma relação com o betacaroteno, a luteína e a cantaxantina, a estrutura molecular da astaxantina é exclusiva e mais poderosa do que a de outros carotenoides. Uma de suas maiores diferenças é o superávit de elétrons que pode doar, dada a neutralização dos radicais livres.
É assim que os antioxidantes funcionam: eles doam um de seus elétrons a um radical livre no intuito de estabilizá-lo. Porém, quando doa um elétron, o antioxidante pode acabar ficando instável. Como a astaxantina possui um superávit de elétrons, ela é capaz de doar muitas vezes sem perder as estabilidade.
Uma de suas características mais únicas é sua capacidade de proteger as partes celulares que são solúveis em água assim como as que o são em gordura. É isso que deixa a astaxantina tão poderosa. Dados de um estudo que verificou a eficácia de diversos antioxidantes revelam que a astaxantina tem uma maior capacidade antioxidante do que o ácido alfa-lipóico, as catequinas do chá verdade, a CoQ10 e a vitamina C.
A maior parte dos carotenoides antioxidantes é solúvel em água ou em gordura, mas a astaxantina é capaz de atuar nesses dois meios, o que faz dela ainda mais eficaz. A astaxantina também é capaz de atravessar a barreira hematoencefálica, local onde pode exercer uma forte ação protetora na saúde neurológica.
Além disso, a astaxantina não é capaz de atuar como um pró-oxidante, isto é, moléculas que causam mais oxidação do que a combatem. Quando em concentrações suficientes, outros antioxidantes podem acabar se tornando pró-oxidantes, motivo pelo qual você não deve exagerar na suplementação de antioxidantes. Já a astaxantina, mesmo em grandes quantidades, não age como pró-oxidante.
A astaxantina traz benefícios para todo o corpo
Evidências revelam que a astaxantina faz bem para o corpo todo. Diversos estudos confirmam a ação benéfica que a astaxantina promove na saúde da pele e a proteção que proporciona contra os raios UV - ela aumenta a elasticidade da pele e diminui o aspecto das linhas finas. Diferente do filtro solar de uso tópico, a astaxantina não bloqueia os raios ultravioleta e, com isso, você também recebe o benefício de produzir vitamina D com a luz do sol.
A ação da astaxantina é tão poderosa que protege o corpo todo da irradiação e da evolução de queimaduras. Além de tamanha eficácia no tecido visível, a astaxantina também causa um impacto considerável nos órgãos e tecidos internos.
Em um estudo duplo-cego controlado por placebo, os participantes fizeram uso de 12 miligramas (mg) de astaxantina todos os dias, durante oito semanas, e apresentaram 20,7% de diminuição da proteína C-reativa, que é um marcador para doença cardíaca. Em outro estudo publicado no periódico Aterosclerose, os participantes foram distribuídos de forma aleatória entre diferentes grupos: os que tomariam placebo ou uma dose diária de 6 mg, 12 mg ou 18 mg de astaxantina por dia durante 12 semanas.
Antes e depois dos exames, os participantes que tomaram astaxantina apresentaram uma ação positiva no teor de triglicerídeos e HDL, os quais se correlacionaram com o aumento da adiponectina, uma proteína presente no tecido adiposo e que regula a glicose. A astaxantina apresenta uma forte ação no tratamento e prevenção da degeneração macular que está associada à idade e é a causa mais comum de cegueira entre os idosos.
Em estudos laboratoriais, a astaxantina também se mostrou capaz de proteger as células da retina contra o estresse oxidativo. Segundo uma revisão da literatura médica, a astaxantina mostra indícios de eficácia para prevenir e tratar diversas doenças oculares, "incluindo retinopatia diabética, degeneração macular relacionada à idade, glaucoma e catarata".
Há também estudos que analisam a ação da astaxantina contra o câncer. Ela apresentou ação antitumoral pré-clínica in vivo e in vitro para diversos modelos de câncer. Segundo um estudo publicado em 2015, a astaxantina:
"…desempenha sua ação anti-proliferativa, anti-apoptose e anti-invasão através de diferentes moléculas e vias, como o transdutor de sinal e ativador de transcrição 3 (STAT3), o fator nuclear potenciador da cadeia leve kappa de células B ativadas (NF-κB ) e receptor ativado por proliferadores de peroxissoma do tipo gama (PPARγ). Portanto, a astaxantina se mostra uma grande promessa como agente quimioterápico no câncer."
Antioxidante que acalma a enxurrada de citocinas
Ainda está para ser descoberta toda a extensão de benefícios desse poderoso antioxidante. Na recente pandemia de COVID-19, pesquisadores descobriram indícios que justificam a possibilidade de combinar a astaxantina natural com demais tratamentos de pessoas com COVID-19.
Um artigo há pouco publicado no site da biblioteca de pesquisa SSRN revela que, graças à sua estrutura molecular exclusiva, a astaxantina consegue penetrar nas membranas celulares e destruir as espécies reativas ao oxigênio e os radicais livres nas camadas interna e externa das membranas. Com isso, oferece uma proteção de nível superior contra o estresse oxidativo. Os cientistas escreveram:
“Clinicamente, a astaxantina natural apresentou capacidade para diversos benefícios com excelente segurança e provou bloquear o dano oxidativo ao DNA, a redução da proteína C-reativa (CRP) e de outros biomarcadores da inflamação. Estudos anteriores comprovam que a astaxantina natural desempenha uma ação positiva para o alívio da enxurrada de citocinas, da lesão pulmonar aguda, da síndrome respiratória aguda, etc...
A compreensão atual com base nas evidências reunidas indicam que o SARS-CoV-2 leva uma possível resposta inflamatória amplificada às consequências decorrentes de LPA [lesão pulmonar aguda], SARA [síndrome da angústia respiratória aguda] e até mesmo uma desastrosa e potencialmente fatal consequência de choque séptico com elevação da expressão dos genes relacionados à inflamação e infecções secundárias inevitáveis, em vez de aumento da carga viral…
...a atenuação da enxurrada de citocinas, direcionando as principais etapas do processo, pode proporcionar desfechos melhores... Shi et al. sugeriu uma abordagem em duas etapas para possíveis tratamentos de pacientes com COVID-19: a primeira etapa de proteção se baseia na defesa imunológica em casos não graves de COVID-19, e a segunda se norteia pelos danos causados pela inflamação em pacientes com quadros graves de COVID-19."
De acordo com os autores, a astaxantina pode se mostrar particularmente compatível com a missão de proteger as células contra a SARS-CoV-2. Os cientistas citam diversas vias de atuação da astaxantina e pelas quais poderia inibir uma enxurrada de citocinas em casos graves de COVID-19.
“…com sua provada ação anti-inflamatória e antioxidante sustentada por diversos ensaios pré-clínicos e com seres humanos, e o extraordinário perfil de segurança, a astaxantina é capaz de ser um dos mais promissores candidatos a teste contra a COVID-19.
Em conjunto, especulamos que as implicações da astaxantina como contramedida complementar no tratamento de COVID-19 podem servir a um duplo propósito, tanto como antioxidante quanto anti-inflamatório, proporcionando desfechos benéficos na redução da fatalidade e recuperação mais rápida..."
Resumindo, a astaxantina possui muitas características importantes quando se trata de COVID-19, incluindo a regulagem da resposta imunológica e o aprimoramento das respostas imunológicas humorais e mediadas pelas células. Você pode saber mais no meu artigo intitulado "A astaxantina ajuda a aliviar a enxurrada de citocinas".