Por Dr. Mercola
Embora seja um nutriente essencial, a colina não costuma ser classificada como uma vitamina. Segundo o Biology Online, as vitaminas são “um composto orgânico de baixo peso molecular que é fundamental para o crescimento normal e os processos metabólicos, sendo necessárias em pequenas quantidades”. Uma vez que o organismo é capaz de produzir um pouco de colina no fígado, ela não é considerada uma vitamina.
Para funcionar como deve, o organismo requer tanto vitaminas solúveis em gordura como aquelas solúveis em água. No fígado e no tecido adiposo ficam armazenadas as vitaminas solúveis em gordura. Estas são as vitaminas A, D, E e K. Já as vitaminas solúveis em água não podem ser armazenadas com tanta facilidade e, portanto, seu excesso costuma ser removido do organismo através da urina. Aquelas solúveis em água são a vitamina C e todas as vitaminas do complexo B.
A colina está presente nos alimentos, em componentes que são solúveis em gordura e em água. A colina é liberada dos alimentos pelas enzimas no organismo, sendo depois absorvida no intestino delgado e conduzida até o fígado. Depois, a colina é distribuída por todo o organismo para auxiliar na formação das membranas celulares.
A verdade é que o organismo não produz colina em quantidades suficientes para suprir as necessidades de uma pessoa. Portanto, é preciso obter parte da colina através dos alimentos. Não é comum aferir o teor de colina nos exames de rotina, mas a maioria dos norte-americanos, por exemplo, ingere uma quantidade menor do que a recomendada para os alimentos ricos em colina.
Embora seja raro que crianças e adultos apresentem sintomas da deficiência de colina, essa condição pode estar relacionada a problemas de saúde como degeneração neurológica e doença do fígado. A ação da colina no organismo se sobrepõem a das vitaminas do complexo B, explicando, em parte, por que a colina era antes chamada de vitamina B4.
Antigamente, a colina era considerada uma vitamina
As primeiras informações das quais se tem registro acerca da colina datam de 1862, ano em que Adolph Strecker percebeu que a lecitina submetida ao aquecimento produzia outra substância química. A essa substância ele deu o nome de colina. Oscar Liebreich, três anos mais tarde, identificou uma nova molécula presente no cérebro dos seres humanos e a nomeou de “neurina”. Porém, esta acabou se mostrando igual à colina.
Eugene Kennedy em 1954, aproximadamente 100 anos depois, falava de uma via que o organismo utiliza para transformar a colina em fosfatidilcolina. À essa altura, os cientistas já haviam descoberto várias das vitaminas do complexo B.
Mas foi somente em 1998 que o Nutrition Board of the National Academies of Medicine reconheceu a colina como um nutriente essencial. Em meados de 2020, Elena Gagliardi, do departamento de serviços de nutrição ambulatorial do Centro Médico de Santa Clara Valley, explicou a um repórter do U.S. News & World Report que a colina não é uma vitamina.
Ao contrário, é um "componente químico fundamental para as diversas funções do organismo". A adenina está na composição química da flavina-adenina-dinucleotídeo (FAD) e auxilia na conversão da colina na matriz mitocondrial.
Existe uma estreita relação entre a adenina e a colina — tanto que algumas pessoas se referem à adenina como vitamina B4 ou alternam entre ambos os termos. Porém, o termo usado é irrelevante, o que importa é que a colina é um nutriente fundamental para a saúde e o bem-estar.
A colina é fundamental para a função cognitiva e a saúde hepática
Segundo um artigo da Nutrition Today, a ingestão recomendada de colina foi calculada quando seu teor na população era desconhecido. Ela foi calculada baseando-se num estudo com homens adultos que chegaram a desenvolver danos hepáticos pela deficiência de colina, não foi com base em experimentos ou estimativas de ingestão.
A recomendação para os demais foram estimados baseando-se no peso como referência padrão. Mas uma avaliação atual revela que cerca de 90% dos norte-americanos não ingere quantidades suficientes de alimentos ricos em colina. Como se não bastasse, as próprias orientações nutricionais de 2015-2020 para os norte-americanos não indicavam quantidades suficientes de alimentos com elevado teor de colina para suprir a necessidade do nutriente.
Os efeitos da deficiência de colina podem ter longo alcance. Um exemplo é que existem indícios de que a disfunção colinérgica influencia o desenvolvimento de demência. Estudos e revisões da literatura médica sustentam a hipótese de que a disfunção colinérgica contribui para o Alzheimer.
Mais tarde, foi descoberto que acetilcolina exerce um papel essencial no sistema nervoso e precisa de uma enzima que a sintetize da acetil-CoA e da colina. Essa enzima se chama acetiltransferase. Ao menos em parte, tal conexão explica a ação que os medicamentos anticolinérgicos provocam no dano cognitivo em idosos a curto prazo.
Esses medicamentos atuma na acetilcolina, cujas mensagens interferem na contração muscular e na parcela do cérebro responsável pela memória e aprendizado. 347 vítimas de AVC e participantes de um estudo tomaram citicolina por 12 meses. Trata-se de uma combinação da suplementação de colina com citidina.
Os pesquisadores chegaram à conclusão, ao final dos 12 meses, que a citicolina haviam melhorado o declínio cognitivo dos indivíduos e "parece ser promissora na melhora da recuperação após o AVC". A colina também é capaz de ser um fator essencial na doença hepática não-alcoólica (DHGNA).
A DHGNA é causada, em parte, pela obesidade e resistência à insulina. Segundo descoberto pelos cientistas, pode levar à fibrose e mais tarde à cirrose ou carcinoma hepatocelular. Essa doença tem duas formas não relacionadas à ingestão de álcool. A primeira é esteatose hepática simples ou doença hepática não-alcoólica (NAFL da sigla em inglês) e a segunda é a chamada esteato-hepatite não-alcoólica (EHNA).
A esteatose hepática causa pouca inflamação ou dano celular, mas a esteato-hepatite é capaz de levar à fibrose, cirrose ou carcinoma hepatocelular. Pesquisadores de um estudo publicado no Journal of Nutrition chegaram à conclusão de que mulheres de peso normal que consumiam mais colina através da alimentação apresentavam menor risco de desenvolver DHGNA.
A colina causa um impacto considerável em mais sistemas do organismo
Chris Masterjohn, Ph.D., afirma que deficiência de colina pode ser mais crucial no desenvolvimento de DHGNA do que o excesso de frutose. Formado em ciências nutricionais, ele acredita que o aumento da DHGNA é causada, em parte, pelas mudanças alimentares.
Ao revisar a literatura médica, Masterjohn descobriu uma relação entre a colina e a esteatose hepática, um fato descoberto a princípio em pesquisas acerca do diabetes tipo 1. Ele descreve essa relação da seguinte maneira:
“Em 1949, pesquisadores comprovaram que a sacarose e o etanol apresentavam o mesmo poder de causar esteatose hepática e seus resultantes danos inflamatórios, e que aumentar a ingestão de proteínas, metionina e colina evitaria isso por completo.
Em contrapartida, pesquisas bem mais atuais revelam que a sacarose é fundamental para o desenvolvimento da esteatose hepática em um modelo de deficiência de metionina e colina (MCD). O modelo MCD de esteatose hepática é o modelo nutricional mais antigo e amplamente utilizado.
O modelo MCD não leva apenas ao acúmulo de gordura no fígado, mas a uma enorme inflamação similar às piores formas de esteatose hepática observada em humanos. O que ninguém fala acerca dessa alimentação é que ela é composta, em grande parte, por sacarose, e a gordura é toda de óleo de milho!
A imagem que emerge com clareza de todos esses estudos é a de que a gordura, ou tudo aquilo que se transforma em gordura no fígado (como a frutose e o etanol), é responsável pelo desenvolvimento da esteatose hepática. Mas além desse mesmo fator — ao que tudo indica, a deficiência de colina — está a privação da capacidade do fígado de exportar essa gordura."
Pesquisadores de um estudo publicado no periódico Nutrition & Metabolism contaram com 866 pacientes recém-diagnosticados com câncer de fígado para avaliar as taxas de sobrevida em relação com o teor de colina sérica. Os dados revelaram que os indivíduos com teor mais alto de colina sérica apresentaram taxas melhores de sobrevivência ao carcinoma hepatocelular em comparação com aqueles que tinham um teor mais baixo.
A colina é fundamental para a formação de acetilcolina e fosfatidilcolina, que é componente das lipoproteínas de baixíssima densidade. O cérebro faz uso da fosfatidilcolina para a produção de acetilcolina, que tem o poder influenciar a função cognitiva. A fosfatidilcolina é utilizada também no tratamento de diversos problemas de saúde como as doenças da vesícula biliar, síndrome pré-menstrual e hepatite.
O óleo de krill sustenta os níveis de colina e o desempenho físico
Donald Layman, Ph.D., do departamento de ciência alimentares e nutrição humana da Universidade de Illinois, explica a relação entre o desempenho nos exercícios e a colina:
"O exercício aumenta o gasto energético, auxilia na manutenção da composição corporal e controla o peso. É de conhecimento de todos que se exercitar diariamente é de grande importância, porém é comum nos esquecermos de que a boa escolha nutricional é crucial para o desempenho muscular.
A colina compõe a acetilcolina, um neurotransmissor que promove a contração muscular, sustentando o movimento e desempenho dos músculos. Também se sabe que, após uma hora de exercícios como uma longa corrida, ciclismo ou uma partida de tênis, ocorre a perda de colina."
A colina exerce seu papel para manter a função muscular. Durante o exercício de alta intensidade, pode haver um declínio nas concentrações séricas de colina. Em um estudo com 47 triatletas de 25 a 61 anos que participavam de triatlos olímpicos e de circuitos Ironman, os pesquisadores fizeram a seguinte divisão: 24 participantes passaram a tomar um suplemento de óleo de krill todos os dias, por cinco semanas antes da corrida, e 23 ingeriram um placebo com uma mistura de óleos vegetais todos os dias.
Os atletas foram submetidos a um exame de sangue antes da corrida, logo após a corrida e no dia seguinte. Os pesquisadores queriam avaliar os níveis séricos de colina e seus metabólitos. Os dados revelam uma diminuição das concentrações séricas em todas as etnias, mas os participantes que tomaram o óleo de krill preservaram mais colina do que aqueles que ingeriram o placebo.
Na avaliação laboratorial, os pesquisadores descobriram 69 fosfolipídios com colina no óleo de krill, reafirmando “a complexidade da composição fosfolipídica do óleo de krill”. A forma de colina presente no óleo de krill é mais biodisponível, tendo em vista o “indício a perda de 60% da colina presente nos sais inorgânicos através da conversão desta em trimetilamina (TMA) pelas bactérias no intestino."
Depois, as enzimas podem transformar a TMA em N-óxido de trimetilamina (TMAO), um possível biomarcador da resistência à insulina e de problemas cardíacos Como os pesquisadores observaram: “a colina na forma de fosfatidilcolina é muito menos convertida em TMA, como revela um estudo de dosagem única com o óleo de krill, o que resultou no potencial de uma liberação mais eficiente da colina”.
Evidências indicam que a suplementação de óleo de krill por 28 dias eleva o teor de colina em adultos jovens e saudáveis. Os pesquisadores do estudo ainda salientam: “não foi encontrado nenhum efeito adverso nos níveis plasmáticos de TMAO e carnitina".
Como ingerir mais colina
Um estudo que comparava a fosfatidilcolina encontrada no óleo de krill com o bitartarato de colina revela que o óleo de krill, em relação a outras fontes de colina, elevou o teor de betaína e dimetilglicina (DMG), que são importantes metabólitos, além de diminuir o teor de TMAO, que poderia levar a problemas de saúde.
O óleo de krill contém mais nutrientes, como é o caso do ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosaexaenoico (DHA), que fazem bem para a saúde do coração, além de melhorar a pressão, reduzir a inflamação generalizada e os efeitos da artrite reumatoide e da depressão, auxiliando no retardo do avanço do mal de Alzheimer.
O ovo é outra excelente fonte de colina. Cerca de 57% dos indivíduos que consomem ovos alcançam os devidos níveis de ingestão de colina em comparação com somente 2,4% dos indivíduos que não consomem ovos.
Os pesquisadores desse mesmo estudo chegaram à conclusão de que é “extremamente difícil” ingerir colina suficiente sem o consumo de ovos ou de suplementos, mas é sempre preferível obter os nutrientes através da alimentação quando possível. Outras fontes alimentares de colina são:
Fígado de boi terminado a pasto |
Frango orgânico de criação livre |
Salmão selvagem do Alasca |
Ovas de peixe |
Bacalhau do atlântico |
Feijão |
Quinoa |
Couve-de-bruxelas |
Brócolis |
Cogumelo shiitake |
Couve-flor |
Sementes de girassol |