Por Dr. Mercola
A obesidade é definida por um acúmulo acentuado e excessivo de gordura. Geralmente, indivíduos que sofrem de obesidade correm maior risco de desenvolver complicações potencialmente fatais e diversas doenças crônicas. Estatísticas recentes dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA indicam que mais de 630.000 pessoas foram diagnosticadas com câncer relacionado à obesidade apenas nos EUA.
Embora os termos sobrepeso e obesidade sejam frequentemente usados como sinônimos, eles não têm o mesmo significado. A classificação do índice de massa corporal (IMC) relaciona o sobrepeso a um IMC entre 25 e 29,9 e obesidade a um IMC maior que 30.
Um aumento da carga nas articulações também pode ter um efeito prejudicial sobre joelhos, quadris e mãos. Essas áreas são usadas repetidamente na realização de tarefas ou na prática de esportes, e são as mais afetadas pela osteoartrite.
A obesidade, inatividade, aumento da idade, fraqueza muscular e postura inadequada são fatores de risco associados ao desenvolvimento de osteoartrite. Pesquisas recentes demonstram que a inflamação e a dor associadas à osteoartrite também podem estar relacionadas a problemas de saúde intestinal.
Curar seu intestino pode reduzir danos às articulações
Artrite e dores nas articulações são comuns em indivíduos com sobrepeso ou obesos. Os pesquisadores já sabem que a inflamação generalizada pelo corpo causada pelo microbioma intestinal pode ser a raiz da dor associada à osteoartrite. Fundamentalmente, isso pode ser causado por uma dieta desequilibrada, que posteriormente desequilibra o microbioma intestinal.
A conexão entre seu intestino e osteoartrite associada à obesidade foi examinada por pesquisadores da University of Rochester Medical Center usando um modelo animal. Com 5 semanas de idade, metade dos camundongos teve acesso a uma dieta com baixo teor de gordura e a outra metade a uma dieta com alto teor de gordura. Aqueles que seguiram a dieta rica em gordura ganharam mais peso e se tornaram obesos.
Como um adendo, eu gostaria de enfatizar que dietas ricas em gorduras saudáveis não estão necessariamente associadas ao ganho de peso, desde que sejam pobres em carboidratos líquidos.
Pesquisas também demonstram que as dietas ricas em gorduras saudáveis, ou seja, dietas cetogênicas, na verdade melhoram o microbioma intestinal. Por outro lado, pesquisas também confirmam que indivíduos obesos têm maiores quantidades de bactérias intestinais nocivas do que indivíduos magros, e isso é precisamente o que foi confirmado também neste estudo.
Os pesquisadores foram capazes de alterar o microbioma dos ratos obesos usando oligofrutose, um suplemento prebiótico, que posteriormente reduziu a inflamação e reverteu completamente os sintomas da osteoartrite.
O prebiótico tornou o microbioma intestinal e as articulações dos ratos obesos indistinguíveis dos magros, levando os pesquisadores a concluir que os prebióticos podem ter um papel no tratamento da osteoartrite em indivíduos obesos.
Bifidobactérias ausentes no intestino de camundongos obesos
Os pesquisadores ficaram surpresos ao descobrir que os efeitos da obesidade nas bactérias intestinais, inflamação e osteoartrite foram evitados quando a dieta rica em gordura foi suplementada com oligofrutose. Colônias de bifidobactérias cresceram e eliminaram as bactérias pró-inflamatórias. Por sua vez, isso diminuiu a inflamação sistêmica e retardou a degradação da cartilagem.
No entanto, embora a oligofrutose tenha reduzido a resistência à insulina em ratos obesos, ela não alterou seu peso corporal. As articulações continuavam a suportar a mesma carga, mas pareciam mais saudáveis e sem tanta degeneração. Os pesquisadores acreditam que isso apoia a hipótese de que a inflamação, e não as forças biomecânicas, desencadeiem a osteoartrite e a degeneração articular.
Os pesquisadores agora estão colaborando com os do Microbioma Militar e Veterano: Consórcio para Pesquisa e Educação do Departamento de Assuntos de Veteranos dos Estados Unidos para avaliar veteranos com osteoartrite relacionada à obesidade a fim de identificar ainda mais as conexões entre o microbioma intestinal e a saúde das articulações.
O que é oligofrutose?
Os pesquisadores usaram a oligofrutose como prebiótico para impactar o microbioma intestinal dos ratos obesos. A oligofrutose é um subgrupo da inulina, uma fibra solúvel de matéria vegetal feita de moléculas de frutose unidas de tal forma que não podem ser digeridas.
Os prebióticos são alimentos necessários para muitos dos microrganismos que vivem em seu intestino. Eles auxiliam a saúde digestiva ao nutrir bactérias benéficas, que por sua vez convertem a inulina e a oligofrutose em ácidos graxos de cadeia curta que nutrem as células do cólon e fornecem uma variedade de outros benefícios à saúde.
Nem a oligofrutose nem a inulina são digeridas no trato gastrointestinal superior, e possuem muito pouco valor calórico. No entanto, ambas estimulam o crescimento de bifidobactérias intestinais, um agente bacteriano benéfico fundamental ao seu microbioma. Fontes naturais de inulina podem ser encontradas nos aspargos, raiz de chicória, alho, jícama e cebola.
A oligofrutose é produzida pela remoção de uma molécula mais longa da inulina, e também é conhecida como frutooligossacarídeo, uma fibra insolúvel. Enquanto a inulina é uma fibra relativamente insípida, a oligofrutose é ligeiramente doce. O produto é de 30 a 50% tão doce quanto a sacarose.
Embora usado como suplemento de fibras, seu efeito nutricional mais conhecido é a ação de estimular o crescimento de Bifidobactérias no intestino. Estudos em humanos demonstraram mudanças positivas drásticas na composição da microflora em doses suplementares entre 5 e 20 gramas de inulina ou oligofrutose por dia durante 15 dias.
É improvável que a osteoartrite seja causada devido ao desgaste
Em um estudo que avaliou os restos mortais de mais de 2.500 pessoas que viveram em um período de mais de 6.000 anos, os pesquisadores analisaram as grandes articulações do quadril e joelhos buscando alterações relacionadas à osteoartrite. Esses dados coletados foram então combinados com informações de outras equipes de pesquisa, cobrindo os tempos pré-históricos, o início da era industrial e a era pós-industrial moderna.
De acordo com o autor sênior do estudo, Daniel Lieberman, Ph.D., paleontólogo e professor de ciências biológicas na Universidade de Harvard: "Usando métodos estatísticos cuidadosos, podemos dizer que, se nasceu após a Segunda Guerra Mundial, você tem aproximadamente o dobro da probabilidade de ter osteoartrite do joelho a uma dada idade ou IMC do que se você tivesse nascido antes."
Os pesquisadores não foram capazes de explicar esse aumento com base na elevação da expectativa de vida ou crescimento meteórico da obesidade. Mesmo controlando a idade e o IMC, eles encontraram um aumento significativo no número de pessoas que sofriam de osteoartrite.
Eles avaliaram restos mortais de indivíduos com mais de 50 anos, analisando mais de 1.500 pessoas que morreram entre 1905 e 1940, e mais 819 que morreram entre 1976 e 2015.
A osteoartrite no joelho era 2,5 vezes mais comum para quem nasceu na era pós-industrial do que para os nascidos no final do século XIX. Eles também descobriram que a taxa de osteoartrite em ambos os joelhos na era pós-industrial era 1,4 vezes maior do que na era pré-industrial.
Os pesquisadores só puderam levantar teorias sobre as diferenças de estilo de vida que criaram tal variabilidade em seus resultados. Lieberman especula que um dos principais fatores pode ser a inatividade.
O equilíbrio das gorduras ômega pode reduzir os sintomas
Outro fator importante no desenvolvimento da cartilagem danificada é a deficiência de gorduras ômega-3. Modelos animais usando cobaias com tendência à artrite demonstraram que dietas ricas em ômega-3 não apenas ajudam a prevenir a doença, mas também podem reduzir os sintomas em indivíduos já afetados.
Em outros experimentos em humanos, houve uma redução na inflamação e nos sintomas quando o óleo de krill, suplemento de ômega-3 de origem animal, foi administrado. Tanto os animais quanto as plantas podem conter gorduras ômega-3, mas apenas as fontes de origem animal fornecem o ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA), que são componentes essenciais de todas as células do corpo.
Como orientação geral, você só precisa de 1 a 2 gramas de ácido linoleico (ômega-6) por dia, de preferência proveniente de sementes e oleaginosas, enquanto os níveis ideais de gorduras ômega-3 marinhas são em torno de 3 a 4 gramas por dia.
No entanto, uma dieta ocidental padrão geralmente fornece muito mais gorduras ômega-6 do que ômega-3. A maneira mais fácil de equilibrar essas duas gorduras é limitar a ingestão de alimentos processados e adicionar mais alimentos ricos em ômega-3 de origem animal, como anchovas, sardinhas, arenque e salmão selvagem do Alasca. Eu também recomendo realizar um teste de índice de ômega-3 anualmente para garantir que você não tenha uma deficiência. Para a saúde ideal, seu índice deve ser superior a 8%.
Os benefícios de um microbioma intestinal saudável
Equilibrar o microbioma intestinal é importante para a sua saúde mental e física. O perfil do seu microbioma é afetado pelos alimentos que você ingere, pelo ambiente e pelos exercícios. Outros fatores que afetam a saúde intestinal incluem estresse, exposição a antibióticos e outras drogas, e consumo de álcool. A idade é o único fator que afeta seu intestino sobre o qual você não tem controle.
A sua saúde intestinal pode afetar tudo, desde o seu nível de energia e função cognitiva até a força muscular e imunidade. Um microbioma intestinal saudável pode até mesmo afetar a maneira como você envelhece. Embora uma superabundância de algumas bactérias tenha sido associada a doenças, outras parecem estar ativamente envolvidas na prevenção.
O microbioma intestinal tem influência na redução da inflamação, e pode ser um fator subjacente na iniciação e progressão de alguns tipos de câncer. As bactérias intestinais também podem ajudar a melhorar a eficácia do tratamento do câncer, ativando o sistema imunológico e permitindo que ele funcione com mais eficiência.
Conforme mencionado anteriormente, a pesquisa também relacionou certas bactérias intestinais a um risco aumentado de obesidade. Ao erradicar quatro espécies de bactérias em animais de laboratório, os pesquisadores foram capazes de desencadear mudanças metabólicas que levaram à obesidade.
Os alimentos conhecidos por produzir disfunção metabólica e a resistência à insulina, como alimentos processados, frutose, açúcar e adoçantes artificiais, também dizimam bactérias intestinais benéficas e podem ser o mecanismo pelo qual esses alimentos promovem o ganho de peso. A exposição a produtos químicos encontrados nos alimentos também pode alterar o microbioma intestinal e contribuir para o desenvolvimento de disfunção metabólica e ganho de peso.
Busque alternativas naturais para o alívio da dor
Como demonstrado no estudo apresentado, o microbioma intestinal desempenha um papel significativo no processo inflamatório em seu corpo, contribuindo para a dor e o desconforto. Cuidar do intestino por meio de medidas alimentares adequadas para reduzir a inflamação e ajudar o microbioma pode oferecer um alívio natural para a dor.
Além de tratar da saúde intestinal - que é uma estratégia de longo prazo - os seguintes também podem ajudar a controlar a dor associada à osteoartrite:
Astaxantina — Um dos antioxidantes solúveis em óleo mais eficazes conhecidos, a astaxantina tem propriedades anti-inflamatórias muito poderosas. Para obter o efeito analgésico, podem ser necessárias doses elevadas, e você pode precisar de 8 mg ou mais por dia para obter esse benefício. |
Arnica — Esse popular remédio homeopático é utilizado para controle da dor. Ela está disponível por via oral e tópica, mas há precauções importantes a serem consideradas antes de usá-la, que são abordadas no meu artigo "Arnica: esta erva poderosa promove vários tipos de cura". |
Boswellia — Essa erva contém poderosas propriedades anti-inflamatórias. Ela é utilizada há milhares de anos e obteve bons resultados em estudos. |
Bromelaína — Essa enzima encontrada no abacaxi é um anti-inflamatório natural que pode ser tomado como suplemento, mas também é encontrada em quantidade suficiente no abacaxi, de forma que comer a fruta fresca também pode ser útil. Está disponível como suplemento oral ou creme. |
Creme de caiena — Também chamado de capsaicina, este creme é derivado de pimentas secas. Ajuda a aliviar a dor, em parte por esgotar o suprimento de substância P do seu corpo, um componente químico das células nervosas que está envolvido na transmissão de sinais de dor ao cérebro. |
Curcumina — A curcumina é o principal composto terapêutico identificado na cúrcuma. Em um estudo com pacientes com osteoartrite, indivíduos que adicionaram apenas 200 mg de curcumina por dia ao seu plano de tratamento apresentaram redução da dor e aumento da mobilidade. |
Alimentação — Os alimentos que você ingere são as chaves para a redução da inflamação que provoca dor e doenças. A alimentação pode prevenir ou desencadear a inflamação, portanto, você deve adicionar alguns alimentos à sua alimentação diária, enquanto remove outros. |
Técnicas de libertação emocional (EFT) — Essa é uma ferramenta terapêutica não invasiva que pode ajudar a reduzir o impacto da dor na sua saúde emocional. Como o estresse também aumenta a inflamação e sua percepção da dor, a EFT pode ajudar a controlar sua dor ao longo do dia sem intervenção farmacológica. |
Gengibre — essa planta possui uma poderosa capacidade anti-inflamatória e oferece alívio estomacal e da dor. O gengibre fresco funciona bem como chá ou como ingrediente de um suco de vegetais. |