Obesógenos criam uma verdadeira batalha no controle de peso

Fatos verificados
Obesógenos

Resumo da matéria -

  • O termo obesógeno é usado para designar desreguladores endócrinos que desencadeiam mudanças permanentes, e às vezes transgeracionais, nas células de gordura
  • Em estudos com animais, alterações devidas a obesógenos que reduzem a taxa metabólica e aumentam o armazenamento de gordura ainda podem ser encontradas após até quatro gerações
  • A porcentagem de crianças obesas com menos de 24 meses cresceu significativamente durante o tempo em que os obesógenos se tornaram comuns no ambiente
  • Produtos químicos obesógenos podem ser encontrados em casa e no trabalho, mas você pode reduzir a exposição usando filtros de água, comendo alimentos integrais, jogando fora produtos antiaderentes e evitando plásticos e alimentos industrializados

Por Dr. Mercola

Obesógenos são substâncias químicas que exercem efeitos negativos sobre as células. Você pode encontrar muitos em uma lista que inclui o bisfenol-A (BPA), parabenos, retardadores de chama e pesticidas. A maioria são produtos reconhecidamente desreguladores endócrinos (DEs) que podem estar sabotando seus esforços para perder peso.

Outros obesógenos incluem os PFASs, comumente encontrados em embalagens de alimentos, produtos de limpeza doméstica, panelas antiaderentes, espuma de combate a incêndios e carpetes, tapetes e móveis resistentes a manchas.

A exposição a esses compostos químicos pode ocorrer por meio da comida, do ar e da poeira em ambientes internos, da água potável e de produtos usados em casa e no trabalho. Além de ser um obesógeno, de acordo com a Toxic-Free Culture, o PFAS também está relacionado à toxicidade hepática e renal, toxicidade reprodutiva e de desenvolvimento e câncer. Este é apenas um único composto químico em uma longa lista de compostos utilizados em diversos produtos cotidianos.

Apesar do reconhecimento global de que a obesidade é uma pandemia, e de inúmeras campanhas de saúde sendo realizadas para enfrentar este desafio, os números ainda estão aumentando continuamente. Em 1960, pouco menos de 15% da população era obesa, comparado com 35% em 2005. Esse número subiu para 39,8% em 2016.

Obesógenos: Fatores ambientais que contribuem para a obesidade

A professora emérita Philippa D. Darbre, da Universidade de Reading, Reino Unido, é especialista em DEs. Em seu livro, “Endocrine Disorders and Human Health” (Distúrbios endócrinos e saúde humana), ela descreve as ações desses produtos químicos que afetam sua capacidade de manter ou perder peso.

Ela explica que os produtos aumentam o acúmulo de gordura e promovem o crescimento das células de gordura. Eles também aumentam o número e o tamanho das células adiposas, além de alterarem os hormônios que regulam o apetite. Além disso, os obesógenos alteram sua taxa metabólica e favorecem o armazenamento de calorias, em vez de queimá-las.

A ideia foi publicada pela primeira vez em 2002 por um pesquisador da Escócia em um jornal pouco conhecido, mas chamou a atenção de alguns cientistas. A pesquisa começou a crescer depois que um comentário sobre o estudo foi publicado em um jornal de toxicologia bastante popular.

Jerrold Heindel, Ph.D., do National Institute of Environmental Health Sciences (NIEHS), focou no fato de que testes de toxicidade para produtos químicos foram conduzidos para ver se ela estava relacionada à perda de peso, que é considerada um efeito de toxicidade.

Mas, conforme relatado pela Newsweek, os pesquisadores "negligenciaram casos em que os produtos químicos causaram ganho de peso" - o que, como Heindel observou, é importante, uma vez que "vários produtos químicos causaram ganho de peso - mesmo em doses baixas", como a quantidade à qual um feto ou bebê estaria exposto.

Heindel também observou que a pesquisa mostrou que expor certas células a produtos químicos, incluindo o BPA, em um tubo de ensaio, pode estimular o crescimento das células de gordura. Ele escreveu que, se isso também pudesse acontecer em um organismo vivo, "o resultado seria um animal com tendência a se tornar obeso".

Apenas dois anos depois, os responsáveis por um estudo com animais demonstraram que ratos recém-nascidos expostos a um composto que imita hormônio tinham 36% mais gordura corporal e eram 20% mais pesados do que os ratos usados no controle, disse a Newsweek.

De fato, os resultados de estudos mais recentes continuaram a apoiar a hipótese dos obesógenos. Um problema adicional é a mistura de compostos DE a que você está exposto ao longo da vida. É aí que anos de mapeamento do genoma humano podem ser benéficos.

Pesquisadores experimentais e epidemiologistas estão analisando os níveis de exposição a produtos químicos únicos e múltiplos usando estudos de expossoma. De acordo com o CDC, uma expossoma é "definido como a medida de todas as exposições de um indivíduo ao longo da vida, e como essas exposições se relacionam com a saúde".

Exposição precoce a traços químicos e obesidade infantil

Bruce Blumberg, Ph.D., estava na Universidade da Califórnia Irvine quando leu o artigo publicado em 2002. Ele não ficou impressionado com a hipótese, mas decidiu conduzir seus próprios experimentos. Em 2006, ele projetou e executou um estudo em animais no qual camundongas grávidas foram alimentados com uma substância química desreguladora do sistema endócrino conhecida por entrar na cadeia alimentar e na água potável.

As ninhadas nasceram com mais células de gordura e, na idade adulta, eram até 20% mais pesados do que os não expostos. Por meio de testes genéticos, ele descobriu que a substância química ativava um receptor para mudar a direção do desenvolvimento de fibroblastos. A mudança era tão confiável que Blumberg cunhou o termo “obesógeno” para descrever o efeito.

Isso desafia a crença de longa data de que o ganho e a perda de peso baseiam-se exclusivamente nas calorias ingeridas e queimadas. Mas, como o jejum intermitente e os planos de nutrição cetogênica demonstram, há uma diferença na eficiência da queima de calorias.

Em outra demonstração de fatores que afetam a perda e o ganho de peso, os resultados de um estudo com animais mostraram o que a maioria dos trabalhadores de turnos noturnos provavelmente sabe instintivamente: que comer durante a noite causa mais ganho de peso do que comer a mesma quantidade durante o dia.

Os autores de uma revisão da literatura publicada em 2018 analisaram pesquisas existentes e estudos com animais e descobriram que "as fontes mais importantes de exposição a obesógenos em ambientes fechados são a dieta, poeira doméstica e produtos de uso diário, como produtos químicos de limpeza, utensílios de cozinha ou cosméticos".

Esse padrão de exposição onipresente está no cerne da exposição pré-natal e de bebês a produtos químicos com a capacidade de alterar a função celular e reduzir as taxas metabólicas. A população infantil nas últimas décadas começou a crescer.

Os dados do CDC mostram que, de 1971 a 1974, à medida que os plásticos se tornaram mais populares e o uso de produtos químicos desreguladores endócrinos crescia, apenas 6,7% dos bebês com idades entre 12 e 24 meses eram obesos. Nos anos seguintes, o percentual de crianças obesas com idades entre 6 e 24 meses teve uma trajetória ascendente.

Embora a taxa de crescimento tenha variado, em 2000, 10,4% dos bebês eram obesos, e em 2016 esse número era de 9,9%. Em uma revisão de gráficos retrospectivos dos padrões de crescimento infantil, os pesquisadores descobriram que havia padrões significativamente diferentes que se tornam evidentes com apenas 2 a 6 meses. Os dados mostraram uma correlação entre os valores do índice de massa corporal em 4 meses e 5 anos.

Posteriormente, o apoio a essas descobertas veio da Universidade da Virgínia, que mostrou que os bebês que nascem acima do peso provavelmente continuarão acima do peso. Outras descobertas de pesquisas com animais indicam que as diferenças de peso desencadeadas por produtos químicos obesógenos podem aumentar o potencial de obesidade nas quatro gerações seguintes.

O desafio crescente do controle de peso

O desafio da obesidade e controle de peso representa um fardo mental, emocional e financeiro. Estar acima do peso ou ser obeso pode aumentar o risco de um número significativo de problemas de saúde, incluindo certos tipos de câncer, apneia do sono, doença cardíaca e diabetes tipo 2. Durante a gravidez, ela pode aumentar o açúcar no sangue e a pressão arterial, resultando em um risco aumentado de parto com cesariana.

Os efeitos podem ser duradouros em indivíduos e comunidades. Em pessoas com menos de 70 anos, apenas o tabaco é responsável por um número maior número de mortes ano a ano. Indivíduos com sobrepeso ou obesos também podem sofrer discriminação, piorar a qualidade de vida e aumentar o risco de depressão.

Usando dados de diferentes estados dos EUA, uma equipe de pesquisa estima que o percentual de gastos com saúde dedicado à obesidade aumentou de 6,13% em 2001 para 7,91% em 2015. Isso representa um aumento de 29% nos gastos com problemas de saúde relacionados à obesidade.

Usar o IMC para avaliar os riscos para a saúde pode não fornecer todas as informações de que você precisa para fazer escolhas de vida seguras. O principal defeito do IMC é que ele usa o peso total para determinar se você está acima do peso, quando a quantidade total de gordura corporal é o que representa o maior risco para sua saúde.

Da mesma forma, assumir que você está saudável por estar dentro dos limites normais de IMC, pode não ser uma avaliação precisa. Por exemplo, um atleta e um indivíduo fora de forma podem ter o mesmo IMC, e uma pessoa muito musculosa pode ser classificada como com sobrepeso ou obesidade quando as únicas medidas utilizadas são o peso e a altura.

Em vez disso, a proporção cintura-quadril é um indicador mais confiável do seu risco futuro de doença. Uma relação mais alta sugere um maior acúmulo de gordura visceral - a que se acumula ao redor dos sues órgãos internos - o que é muito mais prejudicial para a saúde do que a gordura subcutânea, localizada diretamente sob a pele.

Para determinar a sua relação cintura-quadril, pegue uma fita métrica e verifique a circunferência da sua cintura e do seu quadril. Em seguida, divida a circunferência da cintura pela circunferência do quadril, e compare o resultado com os valores na tabela a seguir.

Relação cintura-quadril Homens Mulheres

Ideal

0.8

0.7

Baixo risco

<0.95

<0.8

Risco moderado

0,96 - 0,99

0,81 - 0,84

Alto risco

> 1,0

> 0,85

Onde os obesógenos estão na sua casa?

O número crescente de produtos químicos no nosso ambiente e dieta provavelmente está contribuindo para a epidemia de obesidade. Há alguns lugares comuns onde você pode encontrá-los em sua casa, incluindo:

  • Água da torneira — Alguns pesticidas chegam à água da torneira, o principal dos quais é atrazina. Embora tenha sido proibido na Europa, ele continua a ser utilizado nos Estados Unidos. Outro é o tributilestanho (TBT), um fungicida que estimula a produção de células de gordura. Ele é encontrado em produtos de vinil e é usado como conservante em tecidos e carpetes.
  • BPA e seus substitutos — Estes produtos são infundidos em plásticos e revestimentos de muitas latas. Eles podem aumentar a resistência à insulina.
  • Revestimentos antiaderentes — Os PFOAs são usados para criar uma barreira antiaderente em malas, carpetes, teflon, mochilas e roupas. Também é encontrado em embalagens de alimentos, como sacos de pipoca para micro-ondas.
  • Produtos químicos retardadores de chama — Alguns, como os PCBs, foram proibidos nos Estados Unidos, mas ainda aparecem nos alimentos. Substâncias químicas substitutas, como os PBDEs, têm efeitos semelhantes no sistema endócrino. Eles podem ser encontrados em carpetes, móveis e produtos têxteis tratados, além de eletrônicos e automóveis.

Utilize o bom senso para reduzir seu risco

Infelizmente, o número de lugares onde você pode estar exposto a obesógenos continua a crescer. No entanto, embora seja problemático, você pode tomar medidas específicas de bom senso para reduzir o risco de exposição, como já mencionei em vários artigos anteriores. Observe que alguns desreguladores endócrinos não são estritamente obesógenos, mas afetam sua capacidade de controlar o peso.

Evite pesticidas — Coma produtos orgânicos e não transgênicos, carnes e laticínios de animais terminados a pasto. Não use pesticidas no seu jardim, e sempre tire os sapatos ao entrar em casa.

Livre-se de todos os produtos químicos antiaderentes e retardadores de fogo — Panelas antiaderentes liberam produtos químicos quando aquecidas. Em vez disso, cozinhe em recipientes de cerâmica ou vidro. Compre colchões, carpetes e móveis que não sejam tratados com produtos químicos retardadores de fogo.

Evite alimentos industrializados — Elimine produtos alimentícios enlatados, pipoca de micro-ondas e recipientes para viagem. Evite comprar alimentos processados e industrializados, pois eles podem conter xarope de milho com alto teor de frutose, adoçantes artificiais, pesticidas e outros obesógenos. Adoçantes artificiais também podem ser encontrados em chicletes, refrigerantes e xaropes para panquecas.

Evite vinil e plástico — Use uma cortina chuveiro de pano que possa ser lavada na máquina. Elas ficam mais limpas e duram mais do que as de vinil. Troque suas malas e mochilas por aquelas fabricadas de lona mista orgânica. Use recipientes de vidro para guardar sua comida, e use sacolas reutilizáveis para trazer os produtos do mercado para casa.

Filtre sua água — O número de toxinas na água da torneira torna a filtragem uma necessidade.

Use o mínimo possível de antibióticos — Você pode evitar a maioria dos motivos para se tomar antibióticos ao promover bactérias intestinais saudáveis e usar remédios naturais. Antibióticos alteram seu microbioma intestinal, o que influencia o controle do peso em adultos e crianças.