Por Dr. Mercola
Muitas pessoas cometem o erro de acreditar que as bebidas e produtos adoçados artificialmente são mais saudáveis, pois têm menos calorias e zero açúcar. Ainda assim, um estudo revelou que tanto as bebidas adoçadas com açúcar quanto aquelas com adoçante são prejudiciais ao coração, mesmo que você beba apenas meia lata por dia.
O estudo foi conduzido por um grupo de cientistas da Sorbonne Paris Nord University e publicado no Journal of the American College of Cardiology, após anos de pesquisas associando as bebidas adoçadas com açúcar e adoçante com a obesidade, um fator de risco para as doenças cardiovasculares.
Muitos especialistas acreditam que as taxas crescentes de obesidade e doenças cardiovasculares podem ser atribuídas em grande parte ao "junk food", do qual as bebidas com açúcar e os refrigerantes são fatores contribuintes. De acordo com um relatório da Healthy Food America, a maioria das pessoas nos Estados Unidos ingere pelo menos uma bebida com açúcar por dia.
Embora o consumo tenha diminuído desde o pico em 2.000, os dados de vendas no setor não mostraram um declínio recente. Na data do relatório, quase metade de toda a adição de açúcares era proveniente de bebidas adoçadas.
No entanto, isso pode ter mudado recentemente com a COVID-19. Se o consumo de bebidas adoçadas estiver acompanhando o consumo de álcool durante a pandemia, os números estão aumentando, o que pode ter sérias implicações na saúde do coração, mesmo se as bebidas com açúcar forem trocadas pelas versões diet.
O refrigerante comum ou diet aumenta o risco de doenças cardiovasculares
Ao longo dos anos, tem havido um número crescente de estudos comprovando o risco dos adoçantes artificiais. Mas um estudo recente da França descobriu que cerca de meia lata de refrigerante, seja este adoçado com açúcar ou adoçante, aumenta o risco de um evento cardiovascular em comparação com a abstenção desse tipo de bebida.
Os pesquisadores ajustaram os fatores integrantes, incluindo ingestão de álcool, cereais integrais, legumes e contagem geral de calorias. A análise também levou em consideração outras comorbidades que afetam as doenças cardiovasculares, como pressão alta e diabetes tipo 2. O desfecho do estudo foram os primeiros casos de doenças cardiovasculares, como ataque cardíaco, derrame, síndrome coronariana aguda e um ataque isquêmico transitório.
Os dados revelaram que pessoas que beberam 185 ml ou mais por dia de refrigerante comum adoçado com açúcar tiveram um risco muito maior de eventos cardiovasculares ao longo de uma média de 6,6 anos de acompanhamento Aqueles que beberam 176 ml de bebidas adoçadas com adoçante por dia experimentaram de forma semelhante um aumento do risco de doenças cardiovasculares.
Pessoas que beberam 47 ml ou menos por dia não tiveram eventos negativos. Isso significa que as pessoas que bebem uma lata de refrigerante a cada oito dias não têm efeitos negativos, mas as pessoas que bebem uma ou mais latas a cada dois dias correm alto risco.
Havia 104.760 pessoas que se ofereceram para o estudo e mantiveram um registro alimentar de 24 horas a cada seis meses. Uma média de 5,7 registros foram coletados para cada pessoa durante o acompanhamento. Os cientistas reconheceram que havia limitações ao estudo, incluindo potenciais fatores de confusão que não foram incluídos nos ajustes.
Os refrigerantes aumentam o risco de mortalidade por todas as causas
Esses resultados foram semelhantes ao de outro estudo de 20 anos com 451.743 pessoas de 10 países europeus. Os dados revelaram que havia maior mortalidade por todas as causas em pessoas que bebiam dois ou mais copos de refrigerantes por dia, quer fossem adoçados com açúcar ou adoçantes.
Nesse estudo, houve uma associação entre os refrigerantes adoçados artificialmente e as doenças circulatórias, bem como uma relação entre as bebidas adoçadas com açúcar e as doenças digestivas. É importante salientar que, no estudo, um copo equivalia a 250 mililitros, uma quantidade menor do que a lata de refrigerante padrão no Brasil, que contém 350 ml.
Em outras palavras, uma lata de refrigerante equivale a quase uma porção e meia, e duas latas estariam bem além do que foi medido no estudo. Os resultados de ambos os estudos também sugerem que as políticas voltadas para o corte do consumo de açúcar por meio da reformulação de produtos com adoçantes artificiais pode ter consequências desastrosas.
Mais crianças estão apresentando esteatose hepática
Antes de 2006, a prevalência da esteatose hepática em crianças era relativamente desconhecida. Após uma revisão retrospectiva de 742 autópsias em crianças de 2 a 19 anos, os resultados revelaram a presença de esteatose hepática em 13% das crianças e a taxa mais elevada, de 38%, em crianças obesas. É possível que o consumo de bebidas adoçadas com açúcar esteja desempenhando um papel nesses aumentos.
A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) também é encontrada em adultos. Quando o excesso de gordura é armazenado no fígado, pode resultar em um dos dois tipos de DHGNA: a esteato-hepatite não-alcoólica, que é mais grave, e a esteatose hepática simples. Essas são duas condições diferentes, e as crianças normalmente têm uma ou outra.
Os especialistas estimam que, com o aumento da obesidade infantil, a DHGNA se tornou mais comum, e um estudo descobriu que 23% dos examinados tinham excesso de gordura no fígado. A condição pode ser encontrada em crianças de todas as raças e etnias, mas é mais comumente encontrada em crianças hispânicas e asiático-americanas.
Os fatores de risco incluem resistência à insulina, obesidade, diabetes ou pré-diabetes e níveis anormais de colesterol e triglicerídeos. Frequentemente, não há sintomas até que ocorram cicatrizes graves no fígado. A condição é reversível quando as pessoas alteram seu estilo de vida, incluindo o controle do peso e uma rotina de atividades físicas.
Nos EUA, a PepsiCo ocupa o segundo lugar em vendas, atrás da Coca-Cola Co., que conquistou 43,7% do mercado. Apesar de anos de evidências científicas demonstrando a relação entre o xarope de milho com alto teor de frutose, a obesidade e a DHGNA, a PepsiCo continua tentando justificar a presença do xarope de milho em seus produtos:
"Apesar do nome, o xarope de milho não é rico em frutose. O xarope de milho e o açúcar contêm aproximadamente a mesma quantidade de frutose, e nenhum dos dois demonstrou ser prejudicial quando consumido em níveis normais.
O xarope de milho e o açúcar têm as mesmas calorias e doçura, portanto a decisão de usar um ou outro é baseada em uma variedade de outros fatores. Por exemplo, o xarope de milho é um ingrediente mais fácil de trabalhar porque é líquido. Também custa menos do que o açúcar, o que nos ajuda a manter o custo de nossos produtos baixo para os consumidores."
Diante de uma epidemia de obesidade, documentos internos da Coca-Cola revelaram o esforço da empresa em alcançar os clientes adolescentes. O Washington Post relatou sobre a campanha de relações públicas chamada “Movimento é felicidade”, cujo objetivo era “aumentar as pontuações de saúde da marca Coca entre os adolescentes” e “consolidar a credibilidade no espaço de saúde e bem-estar”.
A informação foi produzida pela Deakin University da Austrália em colaboração com a US Right to Know (USRTK), um grupo de saúde pública sem fins lucrativos. Após uma revisão de milhares de páginas, Gary Ruskin, codiretor da USRTK, descobriu o surgimento de um tema.
Os adoçantes alteram as bactérias intestinais
As bactérias intestinais são importantes para a saúde geral, incluindo o sistema imunológico. Alterar negativamente o microbioma intestinal também pode aumentar o risco de obesidade. É através desse mecanismo que as bebidas adoçadas com açúcar ou adoçante aumentam sua circunferência abdominal.
Os riscos associados a doenças metabólicas e cardiovasculares são, em parte, mediados pelo microbioma intestinal. A composição e a funcionalidade da microbiota intestinal são afetadas pela ingestão alimentar. Estudos demonstraram que uma alta ingestão de açúcar aumenta a presença de proteobactérias e diminui as populações de Bacteroidetes.
Essa alteração cria um desequilíbrio na microbiota e aumenta a resposta inflamatória, diminuindo a regulação da integridade epitelial, levando à permeabilidade intestinal. Ao modular a microbiota, o açúcar cria inflamação sistêmica e desregulação metabólica.
Pesquisas também demonstraram que os adoçantes artificiais que foram aprovados e considerados seguros pela Food and Drug Administration dos EUA causam danos ao DNA e interferem na atividade normal e saudável da microbiota intestinal.
Como relatado pela Business Insider, a equipe de pesquisa concluiu que todos esses adoçantes "causam efeitos tóxicos e estressantes, dificultando o crescimento e reprodução da microbiota intestinal". Embora os autores não tenham afirmado diretamente que os adoçantes causam efeitos antibióticos, quando alguma coisa mata as bactérias, essencialmente é isso que está acontecendo. Os adoçantes artificiais testados incluíram:
Adoçante artificial |
Nome comercial |
Aspartame |
NutraSweet, Spoonful, Canderel, Equal, NatraTaste Blue |
Sucralose |
Splenda, Zerocal, Sukrana, SucraPlus, Candys, Cukren e Nevella |
Sacarina |
Sweet 'N Low, Sweet Twin, Sugar Twin, Necta Sweet |
Neotame |
Newtame |
Advantame |
(Sem nomes comerciais) |
Acessulfame-k |
Sunnette, Sweet One, ACE, ACE K, Sweet 'N Safe |
Zero calorias não significa zero impacto para a saúde
O encanto dos adoçantes artificiais começou com a redução das calorias. No entanto, anos de exposição a eles demonstraram que não teve um impacto positivo na epidemia de obesidade. Na verdade, o impacto foi decididamente o oposto.
Desde a década de 1980, a prevalência da obesidade continuou aumentando entre os adultos. Os dados do relatório de 2019 do State of Obesity mostraram que, em 2012, nenhum estado nos EUA tinha uma taxa de obesidade superior a 35%, embora as estatísticas mais recentes revelassem que existem atualmente nove estados com taxas de obesidade acima de 35% e apenas um estado onde a taxa de obesidade é inferior a 25%.
Em um esforço para reduzir a quantidade de bebidas adoçadas com açúcar ou adoçante que são comercializadas na Filadélfia, um imposto especial sobre o consumo de bebidas passou a ser cobrado em 2017. Um estudo comparou as mudanças nos preços e vendas após o imposto em comparação com Baltimore, que serviu como uma cidade de controle, sem impostos.
Eles descobriram que o imposto estava associado a um declínio substancial no número de bebidas vendidas. No entanto, esse volume foi parcialmente compensado pelo aumento das vendas nas áreas vizinhas. Um segundo estudo demonstrou o impacto positivo que os empregadores poderiam ter ao proibir as vendas de bebidas adoçadas com açúcar no local de trabalho.
O estudo antes e depois com 214 adultos revelou uma redução na circunferência abdominal sem uma mudança na massa corporal ou sensibilidade à insulina. No entanto, a proibição existia apenas durante o horário de trabalho, e os funcionários podiam beber o quanto quisessem fora do trabalho. Isso significa que reduzir o consumo de bebidas adoçadas com açúcar por oito a 10 horas, cinco dias por semana, foi o suficiente para impactar a circunferência abdominal dos funcionários.