Por Dr. Mercola
As cenouras (Daucus carota) são raízes tuberosas, e um dos ingredientes alimentares mais populares no mundo inteiro. Esse vegetal popular pode ser uma chave na luta contra a COVID-19, de acordo com descobertas feitas por pesquisadores.
Como é difícil identificar quando as cenouras selvagens foram cultivadas pela primeira vez e pelo fato de cenouras e pastinacas (também chamadas de chirivias ou cherovias) serem utilizadas de maneira semelhante, servindo como substitutas uma da outra, historiadores acreditam que a história da cenoura seja um tanto obscura.
Acredita-se que elas tenham se originado no antigo Egito, Irã e Afeganistão, e que a variedade de cenoura mais usada era roxa. Em 1609, os colonizadores trouxeram a cenoura moderna para Jamestown, Virginia, de onde se espalhou para a América do Sul e para a Austrália.
Variedades de cenouras silvestres aparecem em regiões temperadas ao redor do mundo, sendo nativas da Europa, do Norte da África e do Leste asiático. A cenoura moderna foi criada no século XVII, quando a seleção artificial reduziu o núcleo fibroso e amadeirado e aumentou o sabor adocicado.
Com 48,2% das vendas mundiais de cenouras e nabos, a China lidera o mercado de venda mundial dos dois vegetais. Espera-se que esse mercado continue a crescer 3,4% até 2025. A produção global em 2019 foi de 44,7 milhões de toneladas métricas. O maior desafio durante a pandemia de COVID-19 foi o impacto na cadeia de abastecimento, que aumentou de modo direto as vendas para o consumidor e atrasou as remessas.
Alguns componentes presentes na cenoura influenciam as proteínas do vírus SARS-CoV-2
Muitos cientistas começaram a estudar a relação entre a nutrição, o sistema imunológico e a infecção por COVID-19. Cientistas de uma instituição privada no México desenvolveram um estudo no qual analisaram o efeito do retinol RTN da cenoura nos aminoácidos que compõem o SARS-CoV-2, o vírus causador da COVID-19, uma vez que a cenoura é um alimento consumido no mundo inteiro.
O retinol, que é vitamina A pré-formada, vem apenas de produtos de origem animal, como o leitelho, o óleo de fígado de bacalhau, ovos e fígado. No entanto, a cenoura contém betacaroteno, que é convertido pelo corpo em vitamina A numa taxa que varia entre 3 para 1 até 28 para 1, dependendo de fatores como a função tireoidiana e os níveis de zinco.
Para avaliar os coeficientes de transferência de elétrons dos compostos nutricionais encontrados na cenoura e os aminoácidos do SARS-CoV-2, os pesquisadores utilizaram o programa de modelagem molecular HyperChem. O que eles descobriram foi que a interação entre o RTN da cenoura e os aminoácidos do vírus é estável, concluindo que os resultados de sua análise “podem indicar uma recomendação para aumentar o consumo de cenoura para mitigar os efeitos da COVID-19”.
Eles salientam que as cenouras são uma fonte rica das vitaminas C e A, bem como energia, fibras, cálcio e betacaroteno. No passado, pesquisadores demonstraram que as cenouras têm propriedades anti-inflamatórias, atividade anticâncer e atividade antioxidante ao eliminar os radicais livres, o que é essencial para o sistema imunológico.
O presente trabalho analisou a interação entre os aminoácidos no coronavírus, que é responsável pela COVID-19, e vários componentes encontrados nas cenouras. Usando a análise química quântica, eles descobriram que o RTN era a substância mais estável e funcionava como um agente antioxidante.
Os dados mostraram que o RTN, em conjunto com outros compostos químicos encontrados nas cenouras, trabalha para combater o SARS-CoV-2. De um modo curioso, quando compararam o poder do RTN com os medicamentos alopáticos de uso comum contra a COVID-19, incluindo remdesivir, ivermectina, aspirina e favipiravir, as substâncias naturais nas cenouras pareceram mais eficazes.
Retinoides e carotenoides auxiliam sua saúde imunológica
Embora os vegetais como a cenoura, que são ricos em betacaroteno, sejam úteis, você absorve mais vitamina A de produtos de origem animal. No entanto, John Stolarczyk, do World Carrot Museum, destaca que é mais fácil convencer as pessoas a comer cenouras do que fígado ou óleo de fígado de bacalhau:
“Quase todo mundo, em especial as crianças, gosta de cenoura, ao passo que o fígado é um gosto adquirido. As cenouras são muito baratas, fáceis de armazenar e exibidas de maneira atraente na maioria dos supermercados. Já o fígado tem uma aparência horrível."
Já faz quase 100 anos que os cientistas identificaram a importância da vitamina A como um componente essencial para a capacidade do corpo de resistir a doenças infecciosas. No entanto, faz pouco tempo que os pesquisadores começaram a compreender o mecanismo que a vitamina A usa para regular a imunidade mediada por células e a resposta imunológica humoral.
Isso inclui a descoberta de que o ácido retinoico desempenha um papel importante na regulação celular da imunidade. O ácido retinoico ajuda a equilibrar as respostas regulatórias das células TH17 e T, além de ter um papel terapêutico nas doenças autoimunes. Os pesquisadores descobriram que a deficiência do ácido retinoico desempenha um papel importante no desenvolvimento de uma ampla gama de doenças autoimunes.
A pele é uma parte importante da sua saúde imunológica, funcionando como a linha de frente na defesa contra bactérias, vírus e outros patógenos. Os cientistas também sabem que a vitamina A desempenha um papel único e vital na formação e maturação das células epiteliais. Porém, isso não acontece apenas do lado de fora do seu corpo.
A vitamina A também desempenha um papel fundamental na produção da camada de muco que reveste os tratos respiratório e intestinal, e desempenha um papel importante na promoção da secreção de mucina. Essa é uma glicoproteína que desempenha um papel central na contenção de doenças infecciosas e na imunidade adaptativa.
Pesquisadores também identificaram o papel que ela desempenha na defesa da mucosa oral e na melhora da integridade da mucosa intestinal. Além de ser importante para proteger seu sistema imunológico, os pesquisadores, usando modelos animais, descobriram que uma deficiência de vitamina A (DVitA) pode resultar em:
“...defeito nas respostas imunológicas mediadas por células T e dependentes de anticorpos. A deficiência de vitamina A também pode inibir o processo normal de apoptose das células da medula óssea, o que leva a um aumento do número de células mieloides na medula óssea, baço e sangue periférico, indicando que a vitamina A está envolvida na regulação da homeostase da medula óssea.”
O betacaroteno pode ajudar a promover a homeostase do colesterol
O colesterol e o betacaroteno têm diversas propriedades similares, incluindo o transporte mediado pelas lipoproteínas e o uso do corpo como precursores dos hormônios. Embora o colesterol e o betacaroteno estejam presentes nas lesões da placa aterosclerótica, concentrações elevadas de betacaroteno estão associadas a uma menor incidência de doença cardiovascular aterosclerótica.
Em um estudo publicado no Journal of Nutrition, os pesquisadores acreditam que lançaram uma nova luz sobre a interação entre o betacaroteno e o metabolismo do colesterol, que disseram ter um “potencial decisivo”.
Após um estudo pré-clínico no qual eles compararam os efeitos no colesterol plasmático de camundongos deficientes em betacaroteno oxigenase 1 (BCO1) submetidos a uma dieta rica em betacaroteno durante 10 dias, a equipe de pesquisa teve como objetivo determinar se o mesmo locus de BCO1 poderia afetar concentrações séricas de colesterol em humanos.
Eles avaliaram uma coorte de candidatos de etnia mexicana na Investigação Multidisciplinar sobre Genética, Obesidade e Ambiente Social. A BCO1 é a enzima que converte betacaroteno em vitamina A.
A análise do estudo em animais mostrou que os camundongos sem BCO1 tinham concentrações plasmáticas elevadas de betacaroteno, pois não conseguiam convertê-lo em vitamina A. As concentrações mais altas foram associadas a um aumento no colesterol em comparação com o grupo de controle, composto por camundongos do tipo selvagem, que conseguia converter o betacaroteno em vitamina A e tinha níveis mais baixos de colesterol.
As alterações do colesterol ocorreram quase que de modo exclusivo no colesterol não HDL.
Mais benefícios das cenouras e do extrato de sementes para a saúde
Os flavonoides, vitaminas, minerais e carotenoides nas cenouras contribuem para vários outros benefícios à saúde. Dados demonstraram que os compostos encontrados nas cenouras têm propriedades que reduzem o risco de diabetes, doenças cardiovasculares, pressão alta e câncer.
Eles também são conhecidos por propriedades hepatoprotetoras, protetoras renais e anti-inflamatórias. Quando você desenvolve o hábito de incluir cenouras em sua rotina diária, desfruta de alguns benefícios importantes para a saúde.
• Câncer — Dados mostram que fumantes que comem cenouras mais de uma vez por semana têm um risco menor de câncer de pulmão, e uma dieta rica em betacaroteno pode ajudar a proteger contra o câncer de próstata e de cólon, e reduzir o risco de câncer gástrico.
As cenouras também contêm falcarinol, uma toxina natural que usam contra doenças fúngicas, capaz de estimular os mecanismos de combate ao câncer no seu corpo e reduzir o risco de tumores em ratos.
• Visão — Há muito que as cenouras são associadas à boa visão. A deficiência de vitamina A pode acelerar a deterioração dos fotorreceptores dos olhos, levando a problemas de visão e cegueira noturna. As cenouras também podem reduzir o risco de catarata e degeneração macular relacionada à idade.
Ambas são doenças oculares que tendem a piorar com o tempo e podem levar à cegueira. Além disso, os dados mostraram que as mulheres podem apresentar uma redução do risco de glaucoma de até 64% ao comerem mais de duas porções de cenouras por semana.
• Síndrome metabólica — As cenouras contêm betacaroteno e licopeno, ambos associados a uma menor incidência de síndrome metabólica em homens de meia-idade e idosos. A síndrome metabólica está associada ao diabetes tipo 2, doenças cardíacas e derrame.
• Saúde do cérebro — Dados mostram que homens e mulheres de meia-idade que comem um grande número de raízes tuberosas, como cenouras, apresentam uma redução no declínio cognitivo. O extrato de cenoura também demonstrou um efeito positivo no controle da disfunção cognitiva.
• Efeito anti-envelhecimento — As cenouras estão repletas de antioxidantes que ajudam a reduzir os danos causados pelos radicais livres. As sementes de cenoura também têm propriedades anti-inflamatórias significativas, mesmo quando comparadas com medicamentos como aspirina, ibuprofeno e naproxeno.
Os vegetais ricos em betacaroteno também ajudam a prevenir o envelhecimento precoce da pele. Dados também mostram que as pessoas com esclerodermia, um distúrbio do tecido conjuntivo, costumam ter baixos níveis de betacaroteno.
Escolha suas cenouras com cuidado
A demanda por cenouras baby nos Estados Unidos continua a crescer à medida que mais e mais pessoas passam a escolhê-las para seus lanches em vez de comer porcarias. As cenouras baby são feitas de cenouras inteiras, descascadas e modeladas. Bolthouse Farms e Grimmway Farms são os dois produtores líderes que se concentraram em campanhas publicitárias e embalagens para melhorar as vendas como petiscos.
No entanto, parte do processo de fabricação de cenouras baby inclui um banho de cloro. Grimmway Farms relata que eles usam cloro em todas as cenouras para prevenir a intoxicação alimentar. O cloro também pode ser usado para estender a validade das cenouras baby.
O polimento e o processamento aumentam a taxa na qual as cenouras começam a se deteriorar e desenvolver uma coloração pálida no exterior à medida que o vegetal começa a secar. Embora a quantidade de cloro em cada cenoura baby individual seja mínima, elas têm um valor aditivo para sua carga tóxica geral.
Além disso, não é o cloro que causa a maioria dos problemas, mas sim os subprodutos da desinfecção produzidos quando o cloro interage com a matéria orgânica. Neste caso, o termo orgânico significa um composto à base de carbono.
Os subprodutos da desinfecção são muito mais tóxicos do que o cloro, e acabam surgindo em todas as cenouras baby, independente se pesticidas tóxicos foram utilizados no processo de cultivo ou não. Os efeitos da exposição a longo prazo incluem a formação excessiva de radicais livres, o que acelera o envelhecimento e a vulnerabilidade à mutação genética e ao câncer.
Os cientistas estão apenas começando a entender o impacto a longo e curto prazo dos produtos químicos à base de cloro. A sua opção mais saudável é cultivar suas próprias cenouras ou comprar cenouras inteiras, não processadas, de preferência orgânicas e, em seguida, lavá-las, descascá-las e cortá-las você mesmo.
As cenouras podem se manter frescas na parte mais fria da geladeira por cerca de duas semanas, se embrulhadas em um papel toalha ou colocadas em um saco selado. Evite armazená-las perto de maçãs, peras ou batatas, pois o gás etileno liberado desses vegetais e frutas pode dar um sabor amargo às suas cenouras.
Se as cenouras ainda tiverem a rama, remova-as antes de guardá-las na geladeira, pois ela faz com que as cenouras murchem mais rápido. No entanto, as ramas das cenouras são nutritivas e saborosas, podendo ser adicionadas com facilidade ao suco de vegetais frescos ou à sua salada.