A depressão infantil está associada a níveis baixos das vitaminas D e B12

Fatos verificados
Depressão infantil

Resumo da matéria -

  • Os baixos níveis das vitaminas B12 e D, em conjunto com a homocisteína elevada, têm seu papel na depressão entre crianças e adolescentes
  • Embora não tenha havido diferença considerável nos níveis de folato entre o grupo de indivíduos com depressão e o grupo de controle, 11,23% dos participantes que sofriam de depressão tinham baixos níveis de folato
  • Para melhorar e muito a saúde mental e prevenir condições como a depressão, os jovens precisam de uma alimentação saudável, que seja rica em ácido fólico e vitamina B12, além de melhorar seus níveis de vitamina D

Por Dr. Mercola

A depressão afeta até 2,5% das crianças e 8,3% dos adolescentes, estando relacionada a consideráveis complicações mais à frente na vida, como o aumento do risco de suicídio, abuso de substâncias, doenças físicas e problemas de trabalho, função acadêmica e psicossocial.

Entre os motivos que levam uma criança a desenvolver depressão, podem estar presentes fatores genéticos e ambientais, e cada vez mais atenção é dada à influência dos fatores alimentares e de nutrientes como a vitamina D, que deve ser obtida, de preferência, por exposição solar.

Além disso, foi investigado o papel do metabolismo de um único carbono, que desempenham uma função em diversos processos biológicos e também para a homeostase celular, em distúrbios psiquiátricos, incluindo depressão em adultos, entre eles: vitamina B12, folato e homocisteína.

Após investigaram essa relação de modo mais aprofundado, pesquisadores da Ordu University da Turquia descobriram que os baixos níveis das vitaminas B12 e D, em conjunto com a homocisteína elevada, têm seu papel na depressão entre crianças e adolescentes.

A depressão infantil está associada a níveis reduzidos de vitamina B12 e talvez de folato

O estudo em questão contou com 89 crianças e adolescentes que sofriam de depressão, em conjunto com 43 indivíduos sem depressão que serviram de controle. Os participantes foram submetidos a testes de depressão e ansiedade infantil, e seus níveis de folato, vitamina B12, homocisteína e vitamina D foram aferidos.

Embora não tenha havido diferença considerável nos níveis de folato entre o grupo de indivíduos com depressão e o grupo de controle, 11,23% dos participantes que sofriam de depressão tinham baixos níveis de folato. Além disso, no grupo de indivíduos que sofriam de depressão, os níveis das vitaminas D e B12 estavam "muito mais baixos". Os pesquisadores explicam como isso pode contribuir para a depressão:

“O metabolismo do carbono único exerce um papel fundamental nos processos de metilação dos neurotransmissores, das proteínas e dos fosfolipídios na membrana. Além de ser necessário para a síntese do DNA.

A deficiência de vitamina B12 e folato prejudica os processos de metilação, levando à queda dos níveis de neurotransmissores. Existe também um aumento nos níveis do metabólito da homocisteína, que é muito neurotóxico, associado à deficiência de vitamina B12 e folato."

Tanto a vitamina B12 como o folato já haviam sido descritos como nutrientes antidepressivos. O folato, presente em verduras de cor escura como espinafre, no abacate e em outros vegetais frescos, está envolvido na produção pelo organismo de neurotransmissores responsáveis pela regulação do humor. Segundo um estudo, os indivíduos que consumiam mais folato apresentaram menor risco de depressão em comparação com aqueles cujo consumo era mínimo.

A vitamina B12 encontra-se presente apenas em alimentos de origem animal, como carne de animais terminados a pasto, ovos, laticínios e frutos do mar capturados na natureza. Portanto, os vegetarianos e veganos têm especial suscetibilidade à deficiência de vitamina B12. É provável que seja por isso que os vegetarianos possam ter quase o dobro de risco de depressão do que pessoas que comem carne, mesmo após ajuste de variáveis como situação profissional, histórico familiar e quantidade de filhos.

É de amplo conhecimento que pessoas com deficiência de vitamina B12 apresentam um aumento no risco de depressão, o que, em parte, pode se dever a modificações resultantes do nível de metilação do DNA no cérebro, o que leva ao comprometimento neurológico. A vitamina B12 também atua na regulação dos níveis de homocisteína, estando o aumento da homocisteína associado à deficiência de B12 e inclusive à depressão.

Folato e vitamina B12 são sugeridos para o tratamento da depressão

Pesquisadores do Laboratório de Pesquisa Neuropsiquiátrica MRC em Epsom, no Reino Unido, tomando por base a extensa pesquisa que relaciona aos baixos níveis de vitamina B12 e folato à depressão, indicam ambos deveriam considerados para o tratamento da depressão.

“Tomando por base os dados vigentes, recomendamos a experimentação de doses de ácido fólico (800 mcg por dia) e vitamina B12 (1.000 mcg por dia) por via oral no intuito de melhorar o desfecho no tratamento da depressão", observaram.

Versão sintética do folato, ou vitamina B9, o ácido fólico pode até ser útil no tratamento da depressão, mas a melhor forma é elevar o teor de folato através de alimentos ricos nesse nutriente: aspargos, abacate, couve-de-bruxelas, brócolis e espinafre. Os pesquisadores explicam por que o folato e a vitamina B12 são tão importantes para a saúde mental:

“O folato e a vitamina B12 são os maiores determinantes do metabolismo do carbono único, quando é formada a S-adenosil-L-metionina (SAMe). A SAMe doa grupos metil que são fundamentais para a função neurológica. Um marcador funcional da deficiência de folato e de vitamina B12 é o aumento da homocisteína no plasma. Em pacientes com depressão, estão presentes níveis elevados de homocisteína."

Crianças com depressão apresentam níveis "altos" de homocisteína

É notória a relação entre um nível baixo de vitamina B12 e o aumento dos níveis de homocisteína. E o estudo em destaque encontrou níveis “altos” de homocisteína em crianças e adolescentes que sofrem de depressão.

“O aumento da homocisteína eleva o fluxo de cálcio nas células por meio da via de ativação do receptor NMDA [ácido N-metil D-aspártico]. O estresse oxidativo aumenta, e há ativação dos sinais apoptóticos no interior das células. O aumento da homocisteína provoca danos no DNA, disfunção mitocondrial e estresse no retículo endoplasmático", conforme observaram os pesquisadores, indicando que este talvez seja o mecanismo por trás da conexão entre a homocisteína e a depressão.

Da mesma forma, pesquisas isoladas em Taiwan encontraram uma relação entre os níveis elevados de homocisteína e taxas maiores de depressão e ansiedade em meninos de 12 e 13 anos. A elevação dos níveis de homocisteína, em conjunto com níveis baixos das vitaminas D e B12, também apresenta relação com outras condições da saúde mental, tais como o transtorno obsessivo-compulsivo, do qual talvez seja a principal responsável.

Presente no organismo e sangue, a homocisteína é um aminoácido obtido, em sua maior parte, do consumo de carnes. As vitaminas B6, B9 e B12 auxiliam na conversão da homocisteína em metionina, para a construção das proteínas. Quando não ingere tais vitaminas em quantidades suficientes, ocorre um prejuízo desse processo de conversão, resultando na elevação da homocisteína. Em contrapartida, quando ingestão das vitaminas B6, B12 e folato aumenta, o nível de homocisteína cai.

Portanto, uma excelente maneira de identificar uma deficiência das vitaminas B6, B12 e ácido fólico é verificar como anda sua homocisteína. No que compete à depressão de jovens, as “a relação causa e efeito das deficiências vitamínicas e a elevação da homocisteína precisam ser investigadas", observam os pesquisadores, ainda mais porque a depressão pode levar à falta de apetite e tornar os hábitos alimentares irregulares.

Jovens deprimidos também apresentam níveis baixos de vitamina D

Os pesquisadores da Ordu University também descobriram que crianças e adolescentes que sofrem de depressão apresentam níveis baixos de vitamina D, e essa relação já havia sido identificada no passado. Nesse estudo, o grupo de participantes com depressão apresentou um nível médio de 11 ng/ml de vitamina D, em comparação com 24,85 ng/ml no grupo de controle. Esses dois valores são baixos, mas 11 ng/ml é também um nível perigoso que eleva de modo radical o risco de raquitismo.

Vale salientar que, visando a melhor saúde e a prevenção de doenças, o ideal estaria entre 60 e 80 ng/mL (150 a 200 nm/L). Portanto, todos os participantes do estudo, segundo essa medida, estavam abaixo do desejável. No cérebro humano, existem receptores da vitamina D, e isso sugere a importância da vitamina para a saúde mental e emocional.

Conforme se acredita, a vitamina D regula mais de 200 genes diferentes que se ligam a seus receptores, sendo responsável então pela condução de uma série de processos biológicos. A verdade é que os baixos níveis de vitamina D estão relacionados a uma série de distúrbios psicológicos, tais como ansiedade, depressão e esquizofrenia.

São várias as maneiras como ela influencia a saúde psicológica, tais como a modulação da inflamação, regulagem das proteínas que combatem os radicais livres e aumento da síntese do fator neurotrófico derivado do cérebro, podendo exercer um papel na esquizofrenia.

A Dra. Joy Weydert do departamento de pediatria do Centro Médico da Universidade de Kansas, escrevendo no periódico Children, explica: “A deficiência de vitamina D reduz a expressão da enzima catecol-O-metiltransferase (COMT), que é necessária para o metabolismo da dopamina e da serotonina”. Além disso, a suplementação de vitamina D pode melhorar os sintomas de depressão em adolescentes que têm baixos níveis de vitamina D.

É “muito comum” a deficiência de vitamina D em crianças, e elas, assim como os adultos, devem se submeter à exposição regular ao sol ou à suplementação de vitamina D3 para assegurar que seus níveis estejam na faixa ideal. É importante salientar o equilíbrio entre a suplementação de vitamina D com outros nutrientes, tais como a vitamina K2 (para evitar complicações da calcificação excessiva nas artérias), cálcio e magnésio.

A melhor maneira de avaliar se você precisa de suplementação, e do quanto necessita, é realizando um exame periódico. O ideal é que seja duas vezes por ano, ao término do inverno ou logo no início da primavera ou outono, momento em que seus níveis estão, de forma respectiva, nos pontos mínimo e máximo. Uma maneira simples de melhor sua saúde mental de forma considerável é otimizar seus níveis de vitamina D. Como se observa no periódico Issues in Mental Health Nursing:

“A eficaz identificação e tratamento das deficiências de vitamina D em indivíduos que sofrem de depressão e de outros transtornos mentais podem ser uma fácil e econômica terapia, capaz de melhorar a longo prazo os desfechos na saúde e a qualidade de vida do paciente.”

Uma vez realizado o exame de vitamina D, você pode usar a calculadora desenvolvida pelo GrassRootsHealth no intuito de identificar sua dosagem ideal da vitamina.

A má alimentação está associada à depressão, mas uma alimentação saudável pode corrigir isso

Muitas vezes já foi provado que aquilo que você come influencia sua saúde mental, e isso com certeza é válido para os adolescentes. Pesquisadores da Universidade do Alabama em Birmingham avaliaram a função exercita por dois fatores nutricionais nos sintomas da depressão entre adolescentes afro-americanos, que apresentam maiores riscos de ter depressão e uma alimentação insalubre.

Foi examinada a excreção de sódio e potássio pela urina de 84 adolescentes de baixa renda que residiam em áreas urbanas. Um maior teor de sódio na urina pode ser indício de uma alimentação rica em sódio, como é o caso de fast-foods processados e salgadinhos. Em contrapartida, os baixos níveis de potássio apontam para uma alimentação deficiente em frutas, vegetais e outros alimentos saudáveis que são ricos em potássio. Trata-se de medidas objetivas acerca do consumo de alimentos.

Como esperado, em um acompanhamento após um ano e meio, a excreção elevada de sódio em conjunto com baixos níveis de potássio mostrou relação com os sintomas mais frequentes da depressão. A relação entre alimentação e depressão também foi comprovada em estudos anteriores entre crianças e adolescentes.

Durante a revisão sistemática de 12 estudos com crianças e adolescentes, os pesquisadores descobriram uma relação entre a alimentação insalubre e a precariedade da saúde mental, bem como entre da boa alimentação com qualidade para uma melhor saúde mental.

Pesquisadores da Universidade Macquarie, na Austrália, conduziram um estudo com 76 estudantes de idades entre 17 e 35 anos, que se alimentavam de forma inadequada e apresentavam sintomas de depressão em níveis de moderados a altos. Foi solicitado a um grupo de participantes que melhorassem suas alimentações, cortando os carboidratos e açúcares refinados, as carnes processadas e os refrigerantes, além de consumirem mais vegetais, frutas, laticínios, nozes, sementes, gorduras saudáveis e especiarias anti-inflamatórias como o açafrão e a canela.

Em apenas três semanas de alimentação saudável, os participantes desse grupo apresentaram melhoras consideráveis no humor, e suas pontuações de depressão alcançaram níveis normais. Embora as escolhas alimentares saudáveis nem sempre sejam o forte de adolescentes e jovens adultos, esse é um período da vida muito importante para o estabelecimento de padrões alimentares saudáveis.

Para melhorar e muito a saúde mental e prevenir condições como a depressão, os jovens precisam de uma alimentação saudável, que seja rica em folato e vitamina B12, além de melhorar seus níveis de vitamina D.

Para crianças e adolescentes que já sofrem de depressão, comer comida de verdade é de igual importância. É preciso incentivar o consumo de alimentos ricos em ômega-3, tais como sardinha e salmão selvagem, além de limitar a ingestão de alimentos processados, fast-foods e doces, inclusive bebidas que levam adição de açúcares.