Por Dr. Mercola
O manganês é um oligoelemento que seu corpo não consegue produzir, então você precisa ingerir nos alimentos. No entanto, as plantas que sofreram modificação genética e são resistentes ao glifosato têm deficiência de manganês, o que se traduz em um suprimento alimentar deficiente em manganês, de acordo com as evidências encontradas.
O manganês é usado como cofator para muitas atividades enzimáticas envolvidas no metabolismo de carboidratos, na eliminação de espécies reativas ao oxigênio, na reprodução, na resposta do sistema imunológico e na formação óssea.
Seu corpo absorve manganês através do intestino delgado, depois disso, parte dele é armazenada no tecido. Cerca de 25% a 40% do manganês presente no seu corpo é armazenado nos ossos. Para manter as concentrações estáveis, seu corpo usa o controle regulatório por meio da absorção e da excreção.
Até 90% do manganês absorvido no trato intestinal pode ser excretado pelo trato intestinal na bile. Os níveis de manganês não são avaliados nos exames de rotina, além de derem difíceis de medir. No entanto, não é de se espantar que muito mais pessoas são ou estejam se tornando deficientes em manganês, visto que a maior parte do suprimento de alimentos é deficiente em manganês.
O glifosato cria deficiência de manganês no abastecimento alimentar
O glifosato vem sendo introduzido nas lavouras desde 1974, quando foi aprovado pela primeira vez nos EUA. No momento em que este artigo foi escrito, a Agência de Proteção Ambiental cita em seu site que “o uso atual de glifosato não apresenta riscos preocupantes para a saúde humana”. Ela também afirma que “não há indicação de que o glifosato seja um desregulador endócrino” e “nenhuma evidência de que o glifosato cause câncer em humanos”, apesar de pesquisadores independentes e declarações da Organização Mundial da Saúde contradizerem essas afirmações.
O glifosato limita a absorção de micronutrientes das plantas, como o manganês, de acordo com descobertas feitas por especialistas em agricultura. O glifosato quelata com o manganês, causando uma deficiência desse nutriente na planta e o amarelamento das folhas. Os produtores de soja estão familiarizados com o amarelamento de grãos tolerantes ao glifosato após a aplicação, também conhecido como "yellow flashing".
Para avaliar maneiras de reduzir o impacto no crescimento das plantas, os pesquisadores usaram experimentos de campo de 1999 a 2001, usando formulações líquidas de manganês. A adição de manganês à solução de herbicida reduziu o efeito do herbicida no controle de ervas daninhas, de acordo com as descobertas realizadas no primeiro estudo. Eles realizaram aplicações maiores para superar o controle reduzido.
O objetivo primário dessa pesquisa não é o efeito que o herbicida adicional possa ter no crescimento da planta ou na segurança da produção da soja, mas o controle das ervas daninhas. A adição de manganês reduziu o controle de ervas daninhas nessas pesquisas de campo, mas não influenciou a produtividade da soja.
Em 2007, outra pesquisa avaliou os métodos diferentes de aplicação de manganês em plantações, o que pode melhorar a produtividade e manter o controle de ervas daninhas em plantas resistentes ao glifosato. A aplicação de manganês melhorou o rendimento, de acordo com as descobertas feitas durante a pesquisa. A soja cultivada de modo convencional, sem aplicação de glifosato, não apresentou aumento da produtividade com a fertilização com manganês, por mais incrível que pareça.
Isso indicou que, sem a aplicação de glifosato, as plantas não se tornariam deficientes. Além disso, o rendimento da soja cultivada de forma convencional se mostrou maior do que o rendimento das plantas resistentes ao glifosato sem fertilizante de manganês, de acordo com descobertas realizadas pelos pesquisadores. A soja cultivada pelo método convencional teve um rendimento maior do que as plantas resistentes ao glifosato, em outras palavras.
Alimentos ricos em manganês costumam ser tratados com glifosato
O manganês está presente em diversos tipos de alimentos, incluindo frutos-do-mar, como amêijoas, ostras e mexilhões, de acordo com o National Institutes of Health. Soja, verduras, café, chá e cereais integrais são algumas das culturas agrícolas que podem ser ricas em manganês. Essa lista de culturas agrícolas costuma ser pulverizada com o herbicida glifosato.
O Grupo de Trabalho Ambiental (EWG) Dirty Dozen de 2021 inclui espinafre, couve, couve-galega e mostarda na lista de alimentos que contêm níveis mais elevados de pesticidas do que outros. Mais de 90% das amostras de verdura apresentou resultados positivos para dois ou mais pesticidas, de acordo com eles.
Uma amostra de couve, couve-galega, mostarda e espinafre apresentou 1,8 vezes mais resíduos de pesticidas por peso do que as outras culturas testadas para até 20 pesticidas diferentes.
O glifosato, encontrado no Roundup e em outros herbicidas, é permitido na maioria das plantas vegetais, de acordo com University of Tennessee Extension. Aplicações de glifosato reduziram a concentração de cálcio, magnésio e manganês, principalmente em folhas jovens, de acordo com um experimento realizado em estufa pela Sabanci University, Turquia.
As concentrações de cálcio, magnésio, ferro e manganês nas sementes apresentaram redução significativa pelo glifosato na maturação da planta, o que sugere que o herbicida interfere na absorção e translocação dos minerais. Em última análise, isso afeta a qualidade da semente e, portante, as futuras safras.
É possível que até o café e o chá apresentem glifosato em testes. Plantações de café usam o herbicida para controlar ervas daninhas com frequência, e testes encontraram em folhas de chá também.
Cerca de 33% das plantações de trigo dos EUA já tiveram aplicação de glifosato, de acordo com a National Wheat Foundation. Ainda assim, mais de 95% das amostras de alimentos à base de aveia e todos os alimentos à base de trigo testados, incluindo massas secas e cereais, apresentam glifosato, de acordo com uma pesquisa realizada pelo EWG.
Uma lista de alimentos com a maior porcentagem de glifosato nas amostras testadas, em uma pesquisa no Canadá, inclui 90% das amostras de pizza, 84% de biscoitos, 73% de cuscuz e 67% de lentilhas.
A deficiência de manganês e a saúde
É muito difícil evitar o consumo de alimentos contaminados com o glifosato, a menos que você esteja procurando produtos cultivados de forma orgânica e de origem local, e evitando alimentos processados, visto que o uso desse pesticida é muito popular. O manganês é um nutriente necessário em pequenas quantidades para muitas funções essenciais no corpo humano, como foi mencionado acima.
Um jornal publicou uma pesquisa realizada com animais em que vacas foram alimentadas com ração Roundup Ready. Os animais desenvolveram uma deficiência grave de manganês sérico. A diminuição do crescimento e da função reprodutiva, a alteração do metabolismo de carboidratos e de lipídios, a diminuição da tolerância à glicose e anormalidades esqueléticas podem ser sinais de deficiência de manganês em animais.
O manganês tem um impacto significativo na fisiologia e na disbiose intestinal nos humanos. Ele também influencia neuropatologias como mal de Alzheimer, ansiedade, mal de Parkinson, depressão e doenças por príons, visto que é parte integrante de muitos processos fisiológicos.
A superexpressão de glutamato no sistema nervoso central pode ser explicada por uma deficiência de manganês em algumas neuropatologias, como autismo e mal de Alzheimer. O dano oxidativo e a disfunção mitocondrial podem acarretar redução da superóxido dismutase de manganês, que protege as mitocôndrias do dano oxidativo.
Visto que a síntese de sulfato de condroitina depende da presença de manganês, a deficiência de manganês também pode levar à osteoporose e osteomalacia. Bactérias benéficas para o microbioma intestinal, os lactobacilos, dependem do manganês para proteção antioxidante. A ansiedade, o autismo e síndrome da fadiga crônica estão relacionados à redução de lactobacilos no intestino.
A deficiência de manganês também pode afetar as taxas de infertilidade e deficiências congênitas, visto que a motilidade dos espermatozoides depende desse elemento essencial. No entanto, alguns pesquisadores acreditam que o glifosato pode promover o acúmulo de toxinas no tronco cerebral, o que, mesmo quando há níveis ideais de manganês no corpo, pode levar ao mal de Parkinson e outras doenças priônicas.
É possível ter uma superdosagem de manganês?
O manganês é um elemento essencial, mas o corpo requer um equilíbrio específico para a saúde ideal, como afirmado antes. Em outras palavras, você pode ter pouco demais ou excesso dessa substância no organismo. Em uma pesquisa de amostra populacional entre homens chineses saudáveis em seis províncias da China, aqueles que tinham um alto nível de manganês pareciam ter efeitos prejudiciais sobre a motilidade e morfologia de seus espermatozoides, de acordo com os pesquisadores.
As águas subterrâneas de diversas regiões do Canadá tinham níveis altos de manganês, o que levantou a questão de se esse elemento de potencial neurotóxico poderia afetar a cognição das crianças que vivem na área. Uma pesquisa com crianças que foram expostas a altas concentrações de manganês na água potável foi feita por uma equipe de pesquisa da Universidade de Quebec, em Montreal, Canadá.
Eles avaliaram o funcionamento intelectual de crianças com alta exposição ao manganês. e os comparou com crianças que tinham menor exposição a ele. As crianças que bebiam água da torneira com concentrações superiores a 20% tinham testes de QI seis pontos abaixo daquelas que bebiam água com pouco ou nenhum manganês, de acordo com os resultados avaliados.
Como afirmam os pesquisadores: "Encontramos déficits significativos no quociente de inteligência (QI) de crianças expostas a uma concentração maior de manganês na água potável. As concentrações de manganês estavam bem abaixo das diretrizes atuais, no entanto."
O manganês não constava em listas de substâncias inorgânicas que testadas na água potável, até a publicação desse estudo em 2010. Alterações na homeostase do manganês podem alterar a fisiologia neurológica e a cognição, seja por superexposição ou insuficiência, de acordo com um artigo publicado há pouco no Journal of Biological Chemistry.
A menos que sua água potável esteja contaminada, é improvável que você tenha uma exposição excessiva ao manganês assim como as crianças em Quebec. Visto que o fígado é responsável por filtrar o excesso de manganês no corpo, outras superexposições podem vir do trabalho em minas e ambientes de soldagem, com anemia ferropriva ou doença hepática crônica.
O glifosato prejudica a saúde de diversas maneiras
Os eventos de 2020 nos ensinaram que devemos avaliar por completo as informações que recebemos pela grande mídia. Cada decisão pode ter um impacto na sua saúde e bem-estar, assim como na sua capacidade de suportar a COVID-19 ou as novas variantes consideradas em laboratórios do mundo inteiro. Uma dessas decisões é a exposição ao glifosato.
Os efeitos prejudiciais da desregulação endócrina que essa substância química onipresente em humanos e outros mamíferos, bem como o impacto que tem na saúde das plantas, no suprimento de alimentos e no seu futuro foram evidenciados pela ciência.
Discuti o papel crítico que o glifosato desempenhou nos últimos anos na saúde geral e durante a atual pandemia global em minha entrevista com a pesquisadora sênior Stephanie Seneff. A maneira como seu corpo às vezes pode substituir o glifosato por glicina na construção de proteínas é um dos problemas.
Isso leva a proteínas que não funcionam. O glifosato se acumula em uma variedade de tecidos de acordo com a própria pesquisa da Monsanto, datada do final da década de 1980, embora outros afirmem que não. O pesquisador propõe que "uma porção significativa da radioatividade total da amostra foi incorporada às proteínas", em vez disso. O resultado é uma proteína distorcida que não funciona como deveria.
O deutério é outra substância do corpo que se assemelha ao manganês, isto é, embora essencial na quantidade certa, é tóxico em quantidades excessivas. As células mitocondriais ajudam a remover o deutério, que é um isótopo natural do hidrogênio, na fisiologia normal.
Mas as mitocôndrias são incapazes de eliminar o deutério adequadamente quando são danificadas pelo glifosato. O deutério pode prejudicar a produção de energia, causar disfunção mitocondrial e contribuir para o desenvolvimento de doenças crônicas quando seu corpo não tem água estruturada suficiente para reter o deutério e suas mitocôndrias estão danificadas.
Dicas para reduzir a exposição ao glifosato
Seneff e eu discutimos várias maneiras como o glifosato pode afetar sua saúde e o funcionamento do seu corpo. A resposta é comer alimentos orgânicos certificados ou cultivados de forma biodinâmica sempre que possível para reduzir o risco potencial de deficiência de manganês e os danos neurológicos resultantes dela.
Seneff relatou na entrevista que viu melhorias na saúde desde que ela e sua família começaram a comprar apenas alimentos orgânicos certificados e se comprometeram com isso. Outras recomendações nutricionais para ajudar a mitigar o risco de toxicidade por glifosato consistem em comer ou beber mais:
Alimentos que contêm enxofre, como ovos orgânicos e frutos-do-mar pescados na natureza |
Manteiga e leite orgânicos de vacas terminadas a pasto. A manteiga é um dos alimentos disponíveis com menor teor de deutério |
Água de geleiras, é pobre em deutério |
Gorduras animais, que também têm baixo teor de deutério |
Hidrogênio molecular |
Alimentos fermentados como chucrute e vinagre de maçã, que são ricos em probióticos |
É possível tomar um suplemento de glicina para ajudar a “empurrar” o glifosato para fora do seu corpo e mitigar sua toxicidade. Eu tomo de 5 a 10 gramas por dia. Esse suplemento costuma ter um sabor suave e doce, podendo ser usado como adoçante.