Por Dr. Mercola
A canela é utilizada em sobremesas e como tempero em alguns pratos. As pessoas costumam apreciá-la com maçã. Mas você sabia que ela tem vários benefícios de saúde, algum dos quais pode modular a tempestade de citocina associada a casos severos de COVID-19?
O tempero é feito da casca interna desidratada da árvore da canela. As tiras da casca se enrolam durante o processo de desidratação. Os pedaços menores são transformados em pó ou no extrato de canela. As propriedades únicas desse tempero vem dos óleos essenciais e compostos químicos encontrados na canela, incluindo o cinamaldeído, que dá a ela seu sabor único.
O tipo mais comum de canela encontrado no mercado é a canela cassia, que vem do sul/sudoeste da Ásia e da China. Já a canela-de-ceilão, (Cinnamomum zeylanicum) é conhecida como canela-verdadeira e tem uma cor mais clara e um gosto mais ameno. A canela-de-ceilão é nativa do Sri Lanka, que antes era conhecido como Ceilão.
Outras variedades de canela incluem canela de Saigon, louro de cânfora e canela indonesia. Há uma diferença importante entre a canela cassia e a canela-de-ceilão. Essa diferença é o nível de cumarina encontrado em cada variação. A canela-de-ceilão tem muito menos cumarina, que pode ser um risco para a saúde caso seja ingerida com regularidade.
De acordo com um estudo do German Federal Institute for Risk Assessment, há 2.1 a 4.4 gramas de cumarina em um quilo de cassia. Esse valor está acima do padrão tolerado de ingestão da European Food Safety Authority.
Já a canela-de-ceilão tem uma porcentagem muito mais baixa de cumarina. A cumarina é uma substância que ocorre de forma natural na canela. A cumarina sintética costuma ser utilizada em cosméticos para dar a eles um odor agradável. Na área da saúde, ela pode ser usada para tratar edemas e tem propriedades anti-tumores. Porém, quando usada para esses fins e mesmo em baixas quantidades, ela pode causar danos ao fígado em curto prazo.
Extrato de canela-de-ceilão pode modular casos severos de COVID
Um estudo de 2021 publicado na Frontiers in Plant Science reavaliou a utilidade do lúpulo e da canela-de-ceilão. Embora seja muito mais fácil e barato comprar a canela cassia, o risco associado à cumarina impede que essa seja uma opção viável.
Vários compostos bioativos foram identificados no extrato de canela-de-ceilão, incluindo ácido cinâmico, trans-cinamaldeído, álcool cinamílico e ácido benzoico. A pesquisa demonstrou que a atividade sinérgica entre todos os compostos do extrato oferece maiores propriedades anti-inflamatórias do que as ações de compostos isolados.
Em um estudo com animais, o extrato de canela-de-ceilão demonstrou a capacidade de proteger a aorta contra aterosclerose. Durante a revisão de estudos anteriores, os cientistas encontraram evidências de que o cinamaldeído é um indutor de Nrf2 eficiente que provoca uma resposta antioxidante nas células do cólon humano testadas durante um estudo de laboratório.
O Nrf2 ajuda a regular a atividade antioxidante celular, ajudando a desintoxicar espécies reativas de oxigênio. O artigo então passou a reavaliar estudos clínicos anteriores usando canela-de-ceilão, muitas vezes administrada como um pó em forma de pílula.
Não houve estudos clínicos específicos avaliando a canela-de-ceilão quanto ao efeito que ela pode ter em uma tempestade de citocinas, mas foram descobertos 30 estudos clínicos que trataram dos efeitos anti-inflamatórios do composto em uma variedade de condições de saúde, incluindo diabetes, síndrome dos ovários policísticos e obesidade.
Referindo-se à tempestade de citocinas, os pesquisadores levantaram a hipótese de que "as fortes propriedades anti-inflamatórias da canela-de-ceilão podem mitigar essa complicação". Além disso, os escritores citam pesquisas anteriores que concluíram: “Nossos resultados não demonstram efeitos colaterais significativos e toxicidade da CZ [Cinnamomum zeylanicum], incluindo hepatotoxicidade e propriedades anticoagulantes”.
Eles descobriram pesquisas adicionais que demonstraram que o extrato de canela pode inibir a endotelialite vascular, angiogênese e trombose, que desempenham um papel importante nas infecções graves por COVID-19. As evidências levantadas pela literatura sugerem que:
“Os extratos de canela-de-ceilão podem melhorar as complicações associadas a casos graves de COVID-19 e que testar ambos os extratos, isolados ou combinados, como um tratamento complementar a outros medicamentos, pode ser uma abordagem terapêutica promissora.”
O efeito anti-inflamatório que reduz a enxaqueca
Enxaquecas são dores de cabeça recorrentes que podem causar dores moderadas ou severas. Cerca de 25% das pessoas dizem sentir uma "aura" antes da dor de cabeça, que é uma alteração neurológica temporária que vai embora quando a dor começa. Enxaquecas podem causar náusea, fraqueza e sensibilidade à luz e sons.
Segundo alguns especialistas, pode haver uma predisposição genética para dores de cabeça que é disparada por causas ambientais específicas. Elas podem incluir estresse, ansiedade, hormônios, sons muito altos, medicamentos, etc.
Segundo a Migraine Research Foundation, em pelo menos 25% dos lares nos Estados Unidos há uma pessoa que sofre de enxaqueca. Estima-se que 18% das mulheres e 6% dos homens nos Estados Unidos tenham uma história de enxaqueca, que ocorre com mais frequência entre os 18 e os 44 anos.
Durante uma crise de enxaqueca, níveis aumentados de óxido nítrico, interleucina-6 e um peptídeo relacionado ao gene da calcitonina contribuem para a dor e o aumento da inflamação. Há várias opções de tratamento, que podem incluir medicação reativa ou preventiva.
A canela é um tratamento que protege o sistema neurológico e tem propriedades anti-inflamatórias. Um estudo publicado na Phytotherapy Research envolveu 50 participantes com histórico de enxaqueca. Eles foram divididos em dois grupos: O grupo de intervenção recebeu 1.800 miligramas (mg) de canela por dia e o grupo de controle recebeu 100 mg de amido de milho.
Durante dois meses, os pesquisadores aferiram a duração, frequência e severidade das crises de enxaqueca de cada grupo. Exames de sangue que verificam a interleucina-6, um peptídeo relacionado ao gene da calcitonina e ao óxido nítrico, também foram feitos e comparados entre os dois grupos.
O grupo de intervenção apresentou níveis muito mais mais baixos de interleucina-6 e óxido nítrico do que o grupo controle, mas os níveis do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina permaneceram inalterados. Os pesquisadores concluíram que a suplementação com canela pode ser tida como um "suplemento seguro, que alivia a dor e outras complicações da enxaqueca".
Estudos relacionam a depressão à inflamação
Segundo o National Institute of Mental Health, a depressão é uma das maiores doenças mentais nos Estados Unidos. Há uma estimativa de 17,3 milhões de adultos com mais de 18 anos que tiveram pelo menos um episódio em 2017. Isso dava 7,1% da população na época.
Embora homens e mulheres possam ser afetados pela depressão em qualquer idade, ela é mais comum em mulheres na faixa dos 32 anos. Um estudo encerrado em setembro de 2020 concluiu que os sintomas da depressão durante o mesmo ano foram três vezes mais prevalentes do que os do COVID.
A teoria inicial é que a depressão é causada por um desequilíbrio químico no cérebro. Essa teoria é a força motriz por trás do desenvolvimento e produção de vários remédios. Mas isso já está desacreditado nos dias de hoje, visto que dados mostram que o popular inibidor seletivo da recaptação da serotonina funciona tão "bem" quanto placebos para pessoas que sofrem com sintomas leves ou moderados de depressão.
Por outro lado, pesquisadores já encontraram uma ligação entre a depressão e a inflamação. Em um estudo sobre a segurança e eficiência de administrar agentes anti-inflamatórios em pessoas com depressão revelou uma queda nos sintomas quando comparados a um placebo. Resultados de uma grande revisão da literatura médica relevante encontrou resultados similares.
Tudo indica que medicamentos anti-inflamatórios reduzem os sintomas de depressão quando utilizados isoladamente e comparados a um placebo. Um terceiro estudo demonstrou que pacientes com depressão que foram tratados com imunoterapêuticos para um distúrbio inflamatório tiveram alívio sintomático não foi associado a mudanças relacionadas ao tratamento e à sua saúde física.
A ligação entre a depressão e a inflamação indicam que o uso de substâncias anti-inflamatórias pode desencadear uma atividade anti-depressiva. Essa teoria nasceu de um estudo com animais feito em 2017. Os pesquisadores usaram óleo essencial de canela e concluíram que ele pode representar uma terapia adjuntiva para depressão e ansiedade.
Pesquisadores acreditam que os resultados se devam em parte ao aumento de fatores neurotrópicos como BDNF, que ocorrem na administração da canela. Esse aumento pode ter um efeito positivo no tratamento de transtornos depressivos.
Em um estudo com animais de 2020, pesquisadores descobriram que o extrato de canela "tem capacidades anti-depressivas que inibem o processo inflamatório do hipocampo, melhorando os níveis de serotonina na área".
Outros benefícios associados à canela
Além dos efeitos anti-inflamatórios que impactam o tratamento de casos graves de COVID-19, enxaquecas e depressão, a canela tem ainda mais benefícios para a saúde. Por exemplo, ela contém vários polifenóis, incluindo rutina, catequina e quercetina. A canela é uma clara vencedora em uma competição de ação antioxidante contra outras plantas da mesma família.
Esses antioxidantes podem estar por trás de dados que demonstram que a canela pode melhorar a função cognitiva. As informações apresentadas à Association for Chemoreception Sciences demonstraram que, seja inalada ou ingerida, a canela aumenta as pontuações dos participantes “em tarefas relacionadas a processos que envolvem atenção, memória de reconhecimento virtual, memória de trabalho e velocidade de resposta viso-motora”.
Isso também pode afetar o desempenho. Por exemplo, os resultados de um estudo da Wheeling Jesuit University em Wheeling, West Virginia, demonstraram que inalar canela ou hortelã-pimenta enquanto dirige pode mantê-lo mais alerta, reduzir sua frustração e diminuir a demanda do lobo temporal.
A canela também auxilia a saúde do cérebro. Dois compostos presentes na canela, o cinamaldeído e a epicatequina, podem inibir a agregação de uma proteína chamada tau. Essa proteína tem um papel significativo na estrutura e função dos neurônios.
Embora essa proteína seja normal nas estruturas celulares, se a tau se acumular, ela pode desenvolver "emaranhados neurofibrilares", que são uma marca registrada da doença de Alzheimer. Foi comprovado que o cinamaldeído e a epicatequina impede que a tau causa danos por oxidação.
A canela também impacta de forma positiva pessoas que têm diabetes tipo 2. Dados demonstram que ela diminui níveis de açúcar no sangue, peso e massa gorda.
Usando canela em casa
Como mencionado, existem dois tipos principais de canela: cassia e canela-de-ceilão. A cassia é mais escura, tem um gosto mais forte e é pode ser encontrada com mais facilidade em mercados. A canela-de-ceilão é mais cara e difícil de encontrar. Sua cor é mais clara e seu sabor, mais delicado.
Usar cassia como tempero não causa problemas significativos na saúde. Porém, seu uso em grandes doses não é recomendado, de modo que é melhor comprar canela-de-ceilão para esse propósito, visto que ela tem muito menos cumarina.
Há várias formas de incluir canela em sua vida, incluindo no chá, como tempero para alimentos, através de suplementação ou de um óleo essencial. Caso queira incluir a canela em sua vida na forma de tempero, óleo ou suplemento, use a canela-de-ceilão.
Uma xícara de chá é uma forma agradável e relaxante de incluir a canela em sua dieta. Basta ferver dois palitos de canela em água. Tente adicionar mel, gengibre ou casca de maçã orgânica. Vale lembrar que a canela não é uma cura milagrosa, que substitui uma dieta balanceada e exercícios. Porém, sua adição na dieta é um passo na direção certa.