Por Dr. Mercola
Uma revisão da literatura publicada há pouco tempo descobriu que comer 18 gramas de qualquer tipo de cogumelo contribui para a redução do risco potencial de câncer. Os cogumelos não são plantas nem animais. Os cogumelos são os corpos frutíferos em forma de guarda-chuva de um fungo que cresce acima do solo.
Os cogumelos produzem milhões de esporos microscópicos que são espalhados por animais ou pelo vento. Após germinar na madeira ou no solo, eles enviam uma rede de fios de enraizamento chamados micélios que podem sobreviver por muitos anos. Os micélios digerem os nutrientes circundantes do lado de fora e, em seguida, os absorvem.
Os cientistas acreditam que muitas espécies de cogumelos ainda não foram identificadas. Eles também não concordam sobre quantas espécies pode haver, com estimativas variando de um mínimo de 45.000 espécies catalogadas em 2015 a um máximo de 1,5 milhão a 5,1 milhões ainda a serem descobertas e nomeadas. De acordo com um artigo publicado na American Society for Microbiology, em 2017 foram identificadas 120.000 espécies, que os pesquisadores estimaram estar entre 3% e 8% da população de cogumelos.
No antigo Egito, pensava-se que cogumelos traziam vida longa e eles têm sido usados há séculos pelos praticantes da medicina chinesa. O médico grego Hipócrates usava cogumelos Amadou para cauterizar feridas e como um anti-inflamatório poderoso. As primeiras pessoas que povoaram a América do Norte usaram cogumelos puffball para curar feridas.
Apesar de uma longa história de uso medicinal, a medicina ocidental apenas começou a explorar a profundidade dos benefícios desses fungos. Conforme os pesquisadores foram desenvolvendo métodos para testar componentes individuais, eles descobriram que “os cogumelos são fábricas farmacêuticas em miniatura da natureza, ricas em uma vasta gama de novos constituintes e abertas para exploração”.
Dois cogumelos por dia podem reduzir o risco de câncer
Pesquisadores da Pennsylvania State University realizaram uma revisão da literatura e uma meta-análise buscando avaliar uma associação entre o risco de qualquer tipo de câncer e a ingestão de cogumelos. Eles analisaram os dados coletados de 1º de janeiro de 1966 a 31 de outubro de 2020 e descobriram que 17 das 841 pesquisas identificadas atendiam aos critérios de inclusão.
A análise dos dados de mais de 19.500 pacientes com câncer revelou que os indivíduos com o maior consumo de cogumelos tinham os menores riscos de desenvolver qualquer tipo de câncer. É importante ressaltar que houve uma variedade substancial nos resultados entre os estudos.
No entanto, os pesquisadores também descobriram que o maior consumo de cogumelos foi associados a uma redução no risco em estudos de coorte e estudos de caso-controle quando comparados com aqueles que comeram o menor número de cogumelos.
Por incrível que pareça, os cientistas encontraram uma ligação específica entre alto consumo de cogumelos e menor risco de câncer de mama, que de acordo com eles, pode ser “devido ao pequeno número de pesquisas que examinaram associações de ingestão de cogumelos com outros tipos de câncer específicos do local”.
Os cientistas relataram em um comunicado à imprensa que aqueles que consumiram 18 gramas de cogumelos, ou cerca de 1/8 a 1/4 de xícara todos os dias tiveram um risco 45% menor de desenvolver câncer. John Richie, um autor e pesquisador do Penn State Cancer Institute, comentou sobre os resultados:
“No geral, essas descobertas fornecem evidências importantes dos efeitos protetores dos cogumelos contra o câncer. Ainda é necessário fazer mais pesquisas para identificar melhor os mecanismos envolvidos e os cânceres específicos que podem ser afetados.”
Outro pesquisador da equipe afirmou:
“Os cogumelos são a maior fonte dietética de ergotioneína, que é um antioxidante poderoso e protetor celular. Reabastecer antioxidantes no corpo pode ajudar a proteger contra o estresse oxidativo e reduzir o risco de câncer.”
A ergotioneína e a glutationa são antioxidantes poderosos
Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, as pessoas comem cerca de 3 quilos de cogumelos frescos em média todos os anos e 87% deles são cultivados em casa. Os cogumelos possuem alto teor de nutrientes e fornecem minerais essenciais como manganês, cobre, zinco, selênio, cálcio, magnésio e ferro.
Mesmo com seu tamanho e peso reduzido, eles são uma fonte muito rica de proteína e fibra. Eles têm uma alta concentração de potássio e enxofre, bem como muitas vitaminas do complexo B, incluindo riboflavina, niacina e ácido pantotênico.
Diversas variedades de cogumelos têm antioxidantes que outras plantas ou fungos não possuem, como a ergotioneína, sobre a qual um artigo na revista Molecules diz: "A ET [ergotioneína] está concentrada nas mitocôndrias, sugerindo um papel específico na proteção de componentes mitocondriais, como o DNA, do dano oxidativo."
Os cogumelos também contêm níveis elevados de glutationa, importante para a desintoxicação de metais pesados e outros contaminantes ela é chamada de “antioxidante mestre”, pois desempenha um papel poderoso na reativação de outros antioxidantes. Segundo o Guardian:
"… Cientistas acreditam que a ergotioneína e a glutationa podem proteger o corpo contra as doenças da velhice como câncer, doença arterial coronariana e mal de Alzheimer."
Em uma conferência de imprensa após a publicação de um artigo na Food Chemistry, Robert Beelman, professor emérito de ciência alimentar e diretor do Penn State Center for Plant and Mushroom Products for Health, disse:
“O que descobrimos é que, sem dúvida, os cogumelos são a maior fonte alimentar desses dois antioxidantes [ergotioneína e glutationa] tomados em conjunto, e que alguns tipos são embalados com os dois.
A teoria dos radicais livres, que existe há muito tempo, que diz que, quando oxidamos nossos alimentos para produzir energia, há uma série de radicais livres produzidos que são subprodutos dessa ação, e muitos deles são bastante tóxicos.
O corpo tem mecanismos para controlar a maioria deles, incluindo a ergotioneína e glutationa, mas eles acabam se acumulando o suficiente para causar danos associados a muitas das doenças do envelhecimento como câncer, doença arterial coronariana e Alzheimer."
A pesquisa atual analisou a potencial relação entre cogumelos e o câncer. No entanto, Beelman se concentrou na relação com as condições neurodegenerativas, apontando que em países como França e Itália, onde as pessoas têm mais ergotioneína na dieta, elas:
“… Têm menor incidência de doenças neurodegenerativas, enquanto pessoas em países como os Estados Unidos, que tem baixa quantidade de ergotioneína na dieta, têm maior probabilidade de desenvolver doenças como mal de Parkinson e mal de Alzheimer.
Agora, se isso é apenas uma correlação ou causa, não sabemos. Mas, é algo que precisa ser estudado, sobretudo porque a diferença entre os países com baixas taxas de doenças neurodegenerativas é de cerca de 3 miligramas por dia, o que equivale a cerca de cinco cogumelos por dia."
Cogumelos Shiitake Ricos em Lentinano e β-Glucanos
Os cogumelos Shiitake são populares e versáteis e são usados diversos pratos. Eles têm um sabor amanteigado rico, que se aproxima do sabor de defumado quando os cogumelos são secos. Eles são carregados com vitaminas, minerais e compostos que são muito benéficos para a saúde, embora sejam compostos por cerca de 90% de água.
Quando secos, os cogumelos oferecem o maior valor nutricional, por serem mais concentrados. Um nutriente é o lentinano, que é um polissacarídeo ativo que parece aumentar a função das células T auxiliares e estimular o interferon, a interleucina e as células assassinas normais.
Uma pesquisa realizada em 2015 revelou que cogumelos shiitake secos inteiros podem melhorar a função imunológica humana. Os pesquisadores estudaram 52 adultos saudáveis que comeram até 10 gramas de cogumelos por dia durante quatro semanas.
No final da pesquisa, os cientistas observaram um aumento na proliferação de células T e células assassinas naturais e uma maior capacidade de ativar receptores. Biomarcadores sugerem que os cogumelos melhoraram a imunidade intestinal e reduzem a inflamação. Foi observado que os compostos dos cogumelos shiitake tratam ou protegem contra o câncer, doenças infecciosas, inflamação e problemas cardíacos e hepáticos com eficácia.
Vários beta-glucanos e lentinanos presentes no shitake exibiram uma "atividade anticancerígena pronunciada, efeitos que estimulam a imunidade, além da participação em processos fisiológicos relacionados ao metabolismo de gorduras no corpo humano", relatou outra pesquisa.
Os cogumelos ajudam a prevenir o declínio cognitivo
Incluir cogumelos em sua dieta diária também pode ajudar a manter seu funcionamento cognitivo intacto. Uma pesquisa publicada no Journal of Alzheimer's Disease revelou que adultos que comiam duas porções ou mais de cogumelos por semana reduziram suas chances de comprometimento cognitivo menor em 43%.
Independente de fatores de confusão, como doenças cardíacas, pressão alta, idade e consumo de álcool e cigarro. Os pesquisadores definiram uma porção como três quartos de uma xícara de cogumelos cozidos. Isso foi feito como uma diretriz, pois os resultados demonstraram que mesmo uma pequena porção a cada semana pode ser benéfica.
Em última análise, os pesquisadores acreditam que a razão pela qual os participantes que comeram duas porções de cogumelos por semana tiveram uma redução no comprometimento cognitivo leve foi o resultado dos efeitos da ergotioneína, encontrada em cada uma das variedades de cogumelos incluídas no estudo.
Compre ou cultive cogumelos orgânicos
Eu recomendo adicionar cogumelos à sua dieta, pois eles são um excelente complemento para qualquer salada e combinam com todos os tipos de carne de animais terminados a pasto e peixes selvagens. Também é importante escolher cogumelos orgânicos, já que os fungos absorvem os contaminantes do ar e do solo com facilidade. Cultivar seus próprios cogumelos é uma excelente opção e uma alternativa muito mais segura do que procurar por cogumelos selvagens.
Embora coletar cogumelos possa parecer divertido, é importante reconhecer a necessidade de cautela. Não há regras simples para distinguir a diferença entre cogumelos tóxicos e comestíveis. E, em mais de 95% dos casos em que toxicidades foram relatadas, os caçadores amadores de cogumelos identificaram um cogumelo venenoso de maneira errada.
A gravidade de um envenenamento por cogumelos pode variar, mas os mais tóxicos são os cogumelos que contêm Amanita phalloides. Não há antídoto para o envenenamento por amatoxina, portanto, é essencial não aguardar por sintomas caso acredite que alguém ingeriu um cogumelo com esse composto, é preciso procurar a emergência o quanto antes.
Alguns medicamentos podem diminuir a gravidade do veneno, mas nem sempre são eficientes. O mais famoso dos cogumelos letais da família Amanita é chamado de cicuta verde, que pode matar mais pessoas por ano do que qualquer outro tipo de cogumelo.